Franz Liszt (1811-1886): Coleção Claudio Arrau parte 2 de 2

Nesta segunda parte das interpretações que Claudio Arrau (1903-1991) faz das peças de Liszt (1811-1886) ouvimos o grande pianista usando e abusando da sua excelente técnica, perspicaz penetrante, domínio interpretativo e tom brilhante. Na minha opinião, obviamente esta técnica significa a capacidade de produzir sons pianísticos expressivos, sensíveis ao contexto e não apenas pressões rápidas dos tons certos (ai vira uma máquina de escrever!).

 

CD4 (1973-1978)
Esta é a gravação que mais gosto da Sonata de Liszt. O som da gravação é excelente e a apresentação do Cláudio Arrau não é exagerada ou bombada – pelo contrário, muito poética. Claro que há Horowitz, Zimmermann, Bolet, Argerich, Richter, Guilels, Brendel e outros gigantes, mas Arrau está sublime. Este álbum parece reunir uma espécie de quintessência das composições mais bonitas ou das mais profundas ou virtuosas (principalmente nos estudos de concerto e em certas passagens da sonata). Aqui domina os temas poderosos e a evolução do discurso, a narração da história, contada com o timbre do piano que Claudio Arrau domina tão bem. Ele toca cada nota audivelmente, nenhuma é deixada sumir debaixo da onda sonora dos “glissandi” (gosto muito do Horowitz mas ele peca nesse ponto). Acho que a emoção da música se manifesta de maneira mais reveladora e espetacular nesse tipo de versão do que nas performances abertamente ousadas. Sua visão nas três peças da “Harmonies poetiques et religieuses “ é ampla, percebe todos os pequenos detalhes que podem contribuir para a impressão geral de uma magnífica obra para piano, que é ao mesmo tempo revelada como uma das obras supremas da arte musical da era romântica. Tem uma historinha legal a respeito da Sonata: num recital de Liszt, na Corte de Weimar, em meio a apresentação da dita Sonata o compositor J. Brahms deu uma cochilada bonita, com direito a ronco e baba. Quando acordou teve que justificar polidamente que estava exausto de viajar (uma testemunha ocular relatou, num extenso fórum a respeito do tema no PQPBach Convention Center, que ele namorou demais a Clara e foi ao recital logo em seguida. Convenhamos: ai ninguém aguenta, da soninho mesmo). O resultado foi que Liszt teria ficado magoado com o belo e talentoso Johannes e nunca mais quis saber do compositor.

01 – Liszt – Sonate Klavier h-moll 1. Lento assai
02 – Liszt – Sonate Klavier h-moll 2. Grandioso
03 – Liszt – Sonate Klavier h-moll 3. Andante sostenuto
04 – Liszt – Sonate Klavier h-moll 4. Allegro energico
05 – Liszt – Harmonies poetiques et religieuses Nr.3 5. Moderato
06 – Liszt – Harmonies poetiques et religieuses Nr.3 6. Andante
07 – Liszt – Harmonies poetiques et religieuses Nr.3 7. Quasi Preludio
08 – Liszt – Estude S144 R5 Trois etudes de concert1. Il lamento
09 – Liszt – Estude S144 R5 Trois etudes de concert2. La leggierezza
10 – Liszt – Estude S144 R5 Trois etudes de concert3. Un sospiro

Piano: Claudio Arrau

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CD5 (1969)
Este quinto CD contém trechos de “Années de pèlerinage” e dois Estudos de Concerto são peças que tem seu brilho próprio. Ao longo da elaboração dos três livros do ciclo “Années de pèlerinage” Liszt teve muita influência. Ele estudou diversos estilos de música ao longo dos anos das viagens. O problema com Liszt é que ele foi em muitas direções melódicas. Há Liszt, o virtuoso, Liszt, o compositor germânico, Liszt, o húngaro, e Liszt, o compositor francês, e de alguma forma, nesses três livros, temos um pouco de tudo isso. Além disso, é incrivelmente romântico, no sentido de que tudo é influenciado pela poesia, pelo que ele estava lendo. Os três livros retratam as descobertas musicais enquanto ele viajava pela Suíça e Itália. Arrau neste CD interpreta de forma lógica, orgânica e, acima de tudo, com bastante emoção. Absolutamente recomendado.

01 – Liszt – Sonetto 104 del Petrarca
02 – Liszt – Ballade Nr.2 h-moll
03 – Liszt – Sonetto 123 de Petrarca
04 – Liszt – Vallee d’Obermann
05 – Liszt – Valse oubliee Nr.1 Fis-dur
06 – Liszt – Les jeux d’eaux р la villa d’Este
07 – Liszt – Konzert-Studie Nr.1 Waldesrauschen – Murmures de la foret
08 – Liszt – Konzert-Studie Nr.2 Gnomenreigen – Ronde des lutins

Piano: Claudio Arrau

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CD6 (1976-1979)
Sobre o Concerto número um de Liszt, Béla Bartók descreveu-a como “a primeira realização perfeita da forma de sonata cíclica, com temas comuns sendo tratados com base no princípio da variação”. Os principais temas do primeiro concerto são do garoto Liszt de dezenove anos (1830) ele foi revisando até a versão estreada em Weimar em 1855, com o compositor ao piano e Hector Berlioz na regência. Liszt fez ainda mais alterações antes da publicação em 1856. Esta gravação que Arrau fez dos concertos para piano datam do final de 1979 – no início das gravações digitais da Philips. Os três Estudos de concerto foram gravados antes dos dois concertos para piano, no final de 1976. A interpretação de Claudio Arrau dessas obras de Liszt é poderosa, nos leva para outra dimensão, rica em nuances delicadas, nunca com a mão pesada. A qualidade do som deste CD é excelente. A música de Arrau é algo a ser valorizado tentaremos fazê-lo com mais frequência aqui no blog.

01 Piano Concerto No.1 – Allegro Maestroso
02 Piano Concerto No.1 – Quasi Adagio
03 Piano Concerto No.1 – Allegretto
04 Piano Concerto No.1 – Allegro Marziale Animato
05 Piano Concerto No.2 – Adagio Sostenuto Assai
06 Piano Concerto No.2 – Allegro Moderato
07 Piano Concerto No.2 – Allegro Deciso
08 Piano Concerto No.2 – Allegro Animato
09 Etude De Concert – Il Lamento
10 Etude De Concert – La Leggierezza
11 Etude De Concert – Un Sospiro

Piano: Claudio Arrau
London Symphony Orchestra
Regente: Sir Colin Davis

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Claudio Arrau: Tela sob caneta preta – Studios Pixel-PQPBach – PQPlândia

Franz Liszt (1811-1886): Coleção Claudio Arrau parte 1 de 2

Este maravilhoso conjunto de seis discos que ora compartilho com os amigos do blog em dois posts contém as gravações de obras de Liszt (1811-1886) que Claudio Arrau (1903-1991) fez para a Philips no século passado quando beirava os setenta anos. Pianista chileno considerado por muitos como um dos artistas mais renomados do século XX. O Liszt de Arrau eu acho especial por várias razões. Por um lado, ele atende às formidáveis demandas de virtuosidade pianística da música pelo meio de sua formidável técnica. E, ao contrário de muitos pianistas – especialistas em Liszt que brincam criando novas texturas, adicionando mais oitavas e compondo novas cadências – Arrau considera fielmente a composição e resiste a qualquer tentação de acelerar ou diminuir a velocidade do efeito e de criar notas novas. Isso não significa que Arrau trata Liszt friamente – longe disso.

Prof.MartinKrause (Berlin-1914) “Esta criança há de ser a minha obra prima”

Entre os anos de 1912 a 1918 foi aluno de Martin Krause (1853-1918), que fora aluno de Liszt. No início de sua carreira Arrau executou muitas das obras do húngaro, porém por influência (muito boa por sinal) de seu professor ele aprendeu a não se tornar um especialista na música de nenhum compositor específico adotando todos os grandes compositores por igual. Consequentemente, o repertório do jovem Arrau era muito grande; no entanto, à medida que envelhecia, concentrou-se em menos compositores, passando do universal para o específico, aplicando insights quase proféticos em certas partituras, especialmente as de Beethoven , Chopin e Liszt.

Arrau começou a gravar sua série Liszt para a Philips aos setenta anos, não necessariamente uma idade auspiciosa para assumir um projeto tecnicamente desafiador, mas a energia e a imaginação que ele trouxe para essa música foram notáveis. Certamente, Arrau, o poeta-filósofo, estava no comando, e são os aspectos míticos / heróicos e espirituais da música de Liszt que são mais evidentes em suas gravações. Até exemplos tão óbvios como os Estudos Transcendentais se revelam sob as mãos de Arrau como música primeiro, e exercícios técnicos em segundo, não porque são atenuados, o que não são, mas porque o pianista analisa e extrai o núcleo musical. De fato, existem milagres técnicos em todo o lugar, mesmo que muitos ouvintes não estejam necessariamente cientes deles (apenas ouça as magníficas paráfrases de Verdi, sobretudo a belíssima “Réminiscences De Simone Boccanegra”).

Apesar de adorar as interpretações do Cláudio Arrau, sou resolutamente contrário à ideia de que qualquer performance, ao vivo ou gravada, possa ter o rótulo de “o melhor” de qualquer trabalho. A natureza humana é falível demais, as vezes cometemos injustiças dizendo que gravações medíocres dos velhos tempos são “o melhor”. Na arte, a idiossincrasia (maneira pessoal à influência de agentes exteriores) é quase parte de toda a experiência. No entanto, existem padrões – padrões de excelência, e é isso que Arrau oferece neste CD. Se você discordar, faz parte. Todos temos os nossos “eleitos”.

Altamente recomendado. O melhor de Cláudio Arrau no melhor de Liszt.

CD1 (1983)
Este disco gravado pela Philips no início dos anos 80 inicia com a peça “Apres une lecture du Dante” S. 161 é a sétima do ciclo dos “Anos de peregrinação” (2º ano Itália). Este ciclo foi composto entre 1838-1861. Inspirado na leitura do poema épico de Dante Alighieri , a Divina Comédia, a peça é dividida em duas partes. A primeira, um tema cromático em ré menor, típica tonalidade que nos leva ao lamento das almas no inferno. A segunda é um coral em Fá maior que representa a alegria dos que estão no céu. O excelente Cláudio Arrau nos presenteia com uma interpretação virtuosa como a peça requer, porém segura e sem exageros.

Frédéric Chopin escreveu 19 canções para voz e piano, definidas em textos poloneses, entre 1827 e 1847. Todos os textos das canções de Chopin eram poemas originais de seus contemporâneos poloneses estas canções foram catalogadas para publicação por Julian Fontana como Op. 74. Entre 1847 e 1860 Liszt escolheu seis peças do Op. 74 e as transcreveu para piano solo, sob o título “Six Chants polonais” S.480, são peças muito delicadas e que se encontram no repertório de todos os grandes pianistas. A interpretação do Arrau para a segunda peça “Frühling – Printemps” é magnífica.
O CD encerra com “Funérailles “ esta interpretação do maduro Arrau eu acho, na minha simples condição de “admirador”, uma das mais belas leituras, simplesmente emocionante. Ele é um dos raros pianistas que entenderam que esta música é essencialmente declamatória.

A grande força deste disco reside em uma presença singular do Cláudio Arrau, uma claridade fascinante e uma extraordinária capacidade de investir em uma forma musical que visa a transcendência. Considero como um dos CD’s lendários do pianista. Deve estar presentes para todos os que gostam das músicas do imenso compositor húngaro.

(01) [Claudio Arrau] Liszt – Années de pèlerinage II- 7. Apres une lecture du Dante
(02) [Claudio Arrau] Liszt – 6 Chants polonais de Frédéric Chopin- 1. Des Mädchens Wunsch – Soui
(03) [Claudio Arrau] Liszt – 6 Chants polonais de Frédéric Chopin- 2. Frühling – Printemps
(04) [Claudio Arrau] Liszt – 6 Chants polonais de Frédéric Chopin- 3. Das Ringlein – Le petit au
(05) [Claudio Arrau] Liszt – 6 Chants polonais de Frédéric Chopin- 4. Bacchanal – Bacchanale
(06) [Claudio Arrau] Liszt – 6 Chants polonais de Frédéric Chopin- 5. Meine Freundin – Ma mignoe
(07) [Claudio Arrau] Liszt – 6 Chants polonais de Frédéric Chopin- 6. Die Heimkehr – Le fiancé
(08) [Claudio Arrau] Liszt – Harmonies poétiques et religieuses- 7. Funérailles

Piano: Claudio Arrau

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CD2 (1977)
O Arrau dos Estudos Transcendentais dos anos setenta é considerado como uma das maiores interpretações já gravadas destas obras. Sou fã de Arrau. Adoro seu ciclo de Beethoven, as Valsas de Chopin (postagem do fdpbach), este CD em particular traz Liszt no seu melhor. Quem gosta destas peças pode até discordar por querer um ritmo mais vertiginoso, mas Arrau, ao adotar um ritmo mais lento, acho que dignifica as doze peças. Seja o misticismo da “Vision”; o heroísmo da “Eroica” ou do “Wilde Jagd”; seja a variante de Liszt para Tristão e Isolda no belíssimo “Harmonies du Soir” e o esquecimento que envolve tudo em “Chasse Neige”, Arrau é magistral. O poder e poesia são dele. Ouça o seu rubato em “Ricordanza”, é impecável. A braveza que é evidente em “Mazeppa” é o subproduto da genialidade. Eu prefiro Liszt tocado com base mais na interpretação poética do que apenas tocando as notas rapidamente, esta é a gravação perfeita. Os “Estudos Transcendentais” que são conhecidos por sua dificuldade notória, são cheios de paixão, emoção e romantismo e devem ser tocados com todos esses princípios em mente. Arrau que, como dito acima, foi aluno de um aluno de Liszt aprendeu e aplicou todos esses princípios a cada peça de maneira apropriada. Muitos pianistas simplesmente tocam esses estudos simplesmente para mostrar suas técnicas bombadas-marombadas e esquecem de reconhecê-los por sua musicalidade.

01 – 1. Prelude (Presto)
02 – 2. Molto vivace
03 – 3. Paysage (Poco adagio)
04 – 4. Mazeppa (Allegro)
05 – 5. Feux follets (Allegretto)
06 – 6. Vision (Lento)
07 – 7. Eroica (Allegro)
08 – 8. Wilde Jagd (Presto furioso)
09 – 9. Ricordanza (Andantino)
10 – 10. Allegro agitato molto
11 – 11. Harmonies du soir (Andantino)
12 – 12. Chasse neige (Andante con moto)

Piano: Claudio Arrau

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CD3 (1972)
Incrível este CD que mostra um “cadinho” do que Liszt fazia para divulgar as óperas em recitais pianísticos. Como na época não havia rádio, CD, mp3 e muito menos mídia no celular, era difícil e caro as montagens de óperas, grandes concertos, então os compositores talentosos faziam um “resumão” (paráfrases) das óperas ou sinfonias ao piano e podiam levar ao público em pequenas salas de concerto estas obras de montagem mais complexa. Liszt sabia exatamente o que selecionar para obter seu efeito ideal, um exemplo ótimo é o final de “Il trovatore”, ele oferece um somatório deslumbrante de temas. Todas as paráfrases são de imensa beleza, mas a “Réminiscences De Simone Boccanegra” chega a perfeição na delicada interpretação do Claudio. Em resumo este recital chega a ser arrepiante. Acima de tudo, Arrau nos dá toda a sua riqueza de expressão, além de um senso épico de grandeza operística, e seu modo profundamente especulativo como em “Aida”. Certamente este CD está entre as suas melhores interpretações (para este simples mortal que escreve estas mal traçadas linhas).

(01) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Rigoletto (Concert Paraphrase), S 434
(02) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Ernani (Concert Paraphrase), S 432
(03) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Miserere Du Trovatore, S 433
(04) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Salve Maria De Jérusalem, S 431
(05) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Aida – Danza Sacra E Duetto Finale, S 436
(06) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Don Carlos – Coro Di Festa E Marcia Funebre, S 435
(07) [Claudio Arrau] Liszt-Verdi- Réminiscences De Simone Boccanegra, S 438

Piano: Claudio Arrau

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Claudio Arrau: Tela sob carvão – Studios Pixel- PQPBach em PQPlândia