Se alguém aí achava que a série “A Família das Cordas” traria mais uma interpretação das Suítes de Bach no violoncelo, haha, se enganou. O que trazemos é a demoníaca, espumante, lúbrica Sonata para violoncelo solo de Zoltán Kodály, que carrega tanto a distinção de conseguir dizer algo num nicho em que as Suítes de Bach reinam supremas há séculos, quanto a de parecer esgotar todas as capacidades técnicas do instrumento, bem como o próprio instrumento, partindo-lhe as cordas e incendiando a crina dos arcos.
O intérprete aqui é o colosso János Starker (1924-2013), conterrâneo do compositor, e longamente associado a essa sonata. Ele gravou-a diversas vezes e tocou-a diante do próprio Kodály em várias ocasiões (a primeira com meros quinze anos – sim, eu lhes disse que o homem era um colosso). Na última, em 1967, Kodály disse a Starker que, se ele corrigisse detalhes agógicos no terceiro movimento, sua performance seria “Bíblica”. Starker o fez e, em 1970, realizou a gravação considerada definitiva da obra – precisamente esta que eu ora alcanço a vocês.
Completam o álbum um duo para violino e violoncelo, também da lavra de Kodály, e as variações do violoncelista Hans Bottermund sobre o tema do Capricho no. 24 de Paganini, que Starker fez questão de adaptar para seu gosto e virtuosismo, complicando-as ainda mais. Comparando-as com apocalíptica Sonata op. 8, elas parecem um couvert e o cafezinho.
STARKER PLAYS KODÁLY
Hans BOTTERMUND (1892-1949)
arranjo de János Starker (1924-2013)
01 – Variações sobre um tema de Paganini, para violoncelo solo
Zoltán KODÁLY (1882-1967)
Sonata para violoncelo solo, Op. 8
02 – Allegro maestoso ma appassionato
03 – Adagio con gran espressione
04 – Allegro molto vivace
János Starker, violoncelo
Zoltán KODÁLY
Duo para violino e violoncelo, Op. 7
05 – Allegro serioso, non troppo
06 – Adagio
07 – Maestoso e largamente, ma non troppo lento
Josef Gingold, violino
János Starker, violoncelo
Vassily Genrikhovich