Estes nossos Brasis: Música para fortepiano no Brasil dos séculos XVIII e XIX
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A invenção do “Fortepiano” deu-se em Florença na Itália, no final do século XVII, por Bartolomeo Cristofori (1655-1731) e a grande novidade que esse instrumento propunha era a capacidade de se realizar uma dinâmica “forte” e “piano” por meio do seu teclado sensitivo.
Os primeiros instrumentos já possuíam o formato conhecido de hoje, ainda que em dimensões bem menores. Uma grande variedade de modelos existiu, porém todos eles possuíam os Martelletti (martelinhos) que foram se modificando com o passar dos séculos, à medida que mais sonoridade foi requerida. O seu primeiro nome foi Clavicembalo con Martelletti… (Cravo com martelinhos…), que era capaz de tocar forte e piano. Essa nova maneira de se tocar revolucionou a música para os instrumentos de teclados, promovendo então nova estética musical. Assim, numa melodia, os “crescendos e diminuendos” podiam ser realizados permitindo uma semelhança com a voz cantada.
Ao final do século XVIII, nos países de língua alemã, esses instrumentos já haviam percorrido um grande caminho adquirindo novos recursos técnicos. Na Áustria, compositores como J. Haydn (1732-1803) e W. A. Mozart (1756-1791) compuseram muito do seu repertório para esse novo “instrumento expressivo”.
Já no início do século XIX, com a chegada da família Real Portuguesa ao Brasil, precisamente em 1808, a cidade do Rio de Janeiro adquiriu o status de capital do Reino, transformando-se da noite para o dia, num grande centro político e cultural. Porém, ainda na segunda metade do século XVIII, atividades musicais foram ali muito praticadas e a figura do Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) projeta-se como o mais importante compositor e tecladista da época, ficando, por um determinado período, como o responsável pelas atividades na Capela Real da Corte. Contudo, muito pouco podemos afirmar sobre a formação musical do nosso Padre músico, e até o presente momento, que ela tenha sido adquirida pelo contato com o músico mineiro Salvador José de Almeida.
O ano de 1816 registra a chegada ao Brasil de Sigismund Neukomm (1778-1858), compositor austríaco e aluno de J. Haydn. De suas atividades como instrumentista e compositor, constava também a tarefa de ensinar música aos futuros monarcas D. Pedro (1798-1834) e sua esposa D. Leopoldina (1797-1826). Nessas funções ele permaneceu por 6 anos, legando ao nosso repertório de câmara uma vasta quantidade de músicas nas mais diversas formações, destacando-se o Les Adieux à ses amis bresiliénnes, obra escrita em 1821, como despedida aos seus amigos que aqui ficaram. Na Corte do Rio de janeiro, Neukomm travou amizade com José Maurício, reconhecendo nele o talento, a virtuosidade na composição e nos instrumentos como o Cravo e o Órgão. Assim, é natural supor-se que com essa vivência e troca de influências ambas as partes lucraram, e José Maurício pôde aperfeiçoar-se em suas atividades artísticas seja como compositor, seja também como instrumentista ao Fortepiano.
Posteriormente, e mais precisamente em 1817, a chegada ao Rio de Janeiro de D. Leopoldina, a esposa austríaca de D. Pedro, coloca o ambiente musical brasileiro na vanguarda de uma nova tendência estética, a futura música “romântica”. Dentre os diversos conteúdos de sua bagagem, a presença de um Fortepiano austríaco e sua posterior utilização, pode ser considerada como uma justificativa razoável para se executar num instrumento europeu músicas com influência brasileira. Assim, entre outras obras, tomamos a liberdade de acrescentar ao nosso programa musical os 3 Lundus, demonstrando uma vertente de miscigenação ocorrida na linguagem instrumental, como sendo a gênesis da futura música brasileira.
Reunir obras instrumentais de diferentes autores e épocas num só programa é sempre um desafio que se impõe ao intérprete contemporâneo, ainda mais em se tratando de repertório Brasileiro de concerto e de salão. O “sonho” de todo o instrumentista tecladista brasileiro sempre foi o de encontrar material suficiente para um programa de concerto, já que as fontes são escassas, limitando significativamente a margem de escolha. Felizmente nos últimos anos, tem aparecido um expressivo número de obras o que toma a nossa tarefa um pouco mais cômoda.
Também de relevante significado na interpelação é a questão da afinação e do temperamento como recurso expressivo para o instrumento utilizado. Ao se optar por um sistema de temperamento desigual, evidenciaram-se ainda mais as características tonais, favorecendo-se as “cores” dos textos musicais escolhidos. E neste campo, devemos mencionar que muito já tem sido demonstrado através de fontes históricas, da importância e da influência no plano sensorial deste elemento para a reconstrução sonora no plano estético-estilístico. Em contrapartida à proposta do sistema mesotônico de afinação, característico do séc. XVII, em que se dá preferência à beleza e à perfeição das terças maiores em seu estado puro, construiu-se, no século XVIII, diversas propostas desiguais de afinação, possibilitando-se as enarmonias e modulações, evidenciando-se as cores e “afetos” à cada tonalidade. Dessa maneira, inspirado nas orientações históricas, construímos um sistema desigual de afinação no qual os diferentes campos tonais são ressaltados, buscando melhor traduzir o conteúdo sentimental de cada obra.
Compartilhem do nosso sonho! Edmundo Hora, 2003.
Edmundo Hora, fortepiano
Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus [Lat. Amadeus] Mozart (Austria, 1756-1791)
01. Fantasia em dó menor, Kv 396
Franz Joseph Haydn (Germany, 1732-1809)
02. Adágio em Fá Maior, Hob. XVI:21
Anônimo (Sabará, MG, final do séc. XVIII)
03. Sonata 2ª (Sabará) – 1. Allegro
04. Sonata 2ª (Sabará) – 2. Adágio
05. Sonata 2ª (Sabará) – 3. Rondó
Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830, Rio de Janeiro, RJ)
Lições extraídas do Compêndio de Música e Método de Pianoforte, Rio 1821
06. – 1. Lição 9ª – Andantino em Dó Menor (Iªparte)
07. – 2. Lição 3ª – Andantino em Mí Maior (IIªparte)
08. – 3. Lição 5ª – Allegretto em Sol Maior (Iªparte)
09. – 4. Lição 11ª – Allegretto em Ré Maior (Iªparte)
10. – 5. Lição 12ª – Allegretto em Ré Menor (Iªparte)
11. – 6. Lição 6ª -Allegro Maestoso em Lá Maior (IIªparte)
Antonio Vieira dos Santos (Porto, 1784 – Morretes, PR, 1854)
12. Lundum da Bahia em Ré Maior (da coleção “Cifras de Música “), ajeitado por E. Hora
Anônimo bahiano (séc. XVIII e XIX)
13. Lundum em Lá Menor – com naturalidade de conversa
14. Lundum em Lá Maior – allegro
Sigismund Ritter von Neukomm (Salzburg, 1778 – Paris, 1858)
15. Les Adieux à ses amis Brésiliènes à Rio de Janeiro, em Mib Maior (Rio, 7 de abril de 1821)
Música para fortepiano no Brasil dos séculos XVIII e XIX – 2003
Edmundo Hora
Mais um CD do acervo do musicólogo Prof. Paulo Castagna. Não tem preço !!!
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XLD RIP | FLAC 218,1 MB | HQ Scans 11,2 MB |
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MP3 320 kbpm – 164.8 MB – 55,1 min
powered by iTunes 10.7
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Boa audição.
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Avicenna