Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Partitas, BWV 825-830 – Jean Louis Steuerman

Conheci esta gravação do carioca Jean Louis Steuerman através duma fita cassete – – por si só um atestado de vetustos martelos, bigornas e estribos – antes mesmo do célebre registro de Glenn Gould, e sempre a tive em alta estima. Depois de muito tempo sem ouvi-la, e um pouco receoso de constatar que ela não tivesse resistido à passagem do tempo, ou qualquer outro nome que se dê ao fenômeno de se ficar cada vez menos impressionável quanto mais velho se fica, bem, eu a reencontrei e fiquei muito contente com o que ouvi. O toque preciso de Steuerman continuava lá, articulando com verve e graça os movimentos rápidos, e com economia nos ornamentos nos lentos. Não percebera, em meus imberbes tempos, o quão pouco afeito ele era a aderir às repetições sugeridas por Bach, mas o que ouvi agora, com maduros ouvidos, ainda me agradou demais. Lembro, sem muitas saudades, daqueles tempos em que ganhava mesada em cruzados novos, mas tinha sonhos precificados em dólar, e dos habitués daquele templo ar-condicionado da (minha) cobiça, quase todos velhotes que, pelo jeito, ganhavam em dólar, discutindo se esta grande música realmente se prestava a ser tocada com cravo, e entrincheirando-se entre aqueles que consideravam a versão de Gould insuperável, e o pequeno pelotão daqueles que preferiam Schiff, Martins ou Steuerman. De lá para cá, surgiram tantas gravações maravilhosas (lembro-me das de Angela Hewitt e de Murray Perahia, sem nem entrar no mérito das tantas por excelentes cravistas) que este embate perdeu totalmente o sentido – mas, já que me tornei um próprio um velhote, embora ainda não ganhe em dólar, vou à forra e lhes digo, sem que me tenham perguntado isso, que prefiro as partitas ao piano, que adoro a versão de Gould, que a de Martins não envelheceu bem, e que a de Steuerman segue firme em meu desimportante conceito.

BACH – JEAN LOUIS STEUERMAN – THE 6 PARTITAS BWV 825-830

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

Partita no. 1 em Si bemol maior, BWV 825
1 – Praeludium
2 – Allemande
3 – Courante
4 – Sarabande
5- Menuet I
6 – Menuet II
7 – Gigue


Partita no. 2 em Dó menor, BWV 826
8 – Sinfonia
9 – Allemande
10 – Courante
11 – Sarabande
12 – Rondeau
13 – Capriccio


Partita no. 3 em Lá menor, BWV 827
14 – Fantasia
15 – Allemande
16 – Corrente
17 – Sarabande
18 – Burlesca
19 – Scherzo
20 – Gigue


Partita no. 4 em Ré maior, BWV 828
21 – Overture
22 – Allemande
23 – Courante
24 – Aria
25 – Sarabande
26 – Menuet
27 – Gigue


Partita no. 5 em Sol maior, BWV 829
28 – Praeambulum
29 – Allemande
30 – Corrente
31 – Sarabande
32 – Tempo di Minuetto
33 – Passepied
34 – Gigue


Partita no. 6 em Mi menor, BWV 830
35 – Toccata
36 – Allemande
37 – Corrente
38 – Air
39 – Sarabande
40 – Tempo di Gavotta
41 – Gigue


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LINK ALTERNATIVO

Jean Louis Steuerman
, piano

J-L Steuerman, pelo jeito, gosta de nos mostrar seu lado direito

Vassily

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Concertos para piano nos. 17, 23 e 24 – Rubinstein

Não lhes faço mais delongas: apenas completo a série, conforme ontem lhes prometi. Mesmo com a vasta discografia para estes concertos, com solistas e orquestras de todas estirpes, estas gravações de Rubinstein sempre estarão entre as minhas favoritas. Deleitem-se!

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Concerto para piano no. 17 em Dó maior, K. 453
Cadências: Wolfgang Amadeus Mozart
1 – Allegro
2 – Andante
3 – Allegretto

Concerto para piano no. 23  em Dó maior, K. 488
Cadências: Wolfgang Amadeus Mozart
4 – Allegro
5 – Adagio
6 – Allegro assai

Concerto para piano no. 24 em Dó menor, K. 491*
Cadências: Johann Nepomuk Hummel (1778-1837)
7 – Allegro
8 – Larghetto
9 – Allegretto

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Arthur Rubinstein, piano
RCA Victor Symphony Orchestra
Alfred Wallenstein,
regência
*Josef Krips,
regência

Mural de Rubinstein em sua Łódź natal, por Eduardo Kobra.

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Cadências para o concerto para piano em Ré menor de Mozart, Woo 58 (Wolfgang Amadeus Mozart – Concertos para piano nos. 20 & 21 – Rubinstein)

Postar-lhes uma hora de música para mostrar-lhes alguns minutos de Beethoven? Seria mais ou menos como trazer uma baleia à sala de visitas para apontar-lhe uma pequena craca no espiráculo – se, pô, a música não fosse a de Mozart e seu intérprete não fosse o insubstituível Arthur Rubinstein.

Ludwig, como sabemos, consolidou-se primeiramente em Viena como pianista virtuose e improvisador. Dessa forma, é muito natural que, além de cavalos de batalha criados por ele próprio, ele lançasse mão do manancial de concertos de Mozart para pavonear seu talento nos palcos. Muito provavelmente as dificuldades propostas pelo mestre de Salzburgo não lhe fizessem qualquer prurido nos dedos, então se entende que Beethoven pudesse soltar suas asinhas pianísticas durante as cadências que Mozart permitia improvisar nos primeiros e terceiros movimentos de seus concertos. De todas as cadências que ele imaginou e tocou, apenas duas – para o magnífico concerto em Ré menor, K. 466 – foram anotadas e chegaram aos nossos dias, e nos abrem uma janela para a experiência certamente extraordinária de ver o maior improvisador de seu tempo meditando lubricamente sobre temas de um de seus modelos. Enquanto eu buscava uma gravação para mostrá-las para vocês, dei-me conta de que, surpreendentemente, a mozartiana de Artur Rubinstein nunca tinha sido publicada por aqui. Assim, resolvi trazer-lhes, além das cadências de Beethoven no seio do concerto em Ré menor, outros quatro concertos do boquirroto salisburguense sob as mãos do magistral pianista que nasceu naquele lugar pitoresco cujo nome a gente escreve “Łódź” e lê como “uúdj”.

A postagem vai como agrado ao querido e incansável colega FDP Bach, que estava de aniversário e, como bem sei, aprecia e muito estas essenciais gravações, cuja série completarei amanhã.

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Concerto para piano no. 20 em Ré menor, K. 466
Cadências: Ludwig van Beethoven (WoO 58)
1 – Allegro
2 – Romance
3 – Allegro assai

Concerto para piano no. 21 em Dó maior, K. 467
Cadências: Arthur Rubinstein (1887-1982)
4 – Allegro maestoso
5 – Andante
6 – Allegro vivace assai

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Arthur Rubinstein, piano
RCA Victor Symphony Orchestra
Alfred Wallenstein,
regência


#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Variações para piano, WoO 69-77 & Anh. 10 – Buchbinder

Mais um pacotinho de variações para piano, do mesmo naipe daquelas que acompanharam a obra de estreia, e pelo mesmo intérprete, o austríaco Rudolf Buchbinder. Quase todas seguem o script de tema (normalmente uma canção em voga na época, hoje fascinantemente obscura) e variações figurativas, sem alterações rítmicas ou harmônicas dignas de nota – todo um universo, portanto, a apartá-las das geniais Variações Diabelli que viriam quase quarenta anos depois. Para concluir, uma enigmática série sobre uma canção um pouco perturbadora em que um sujeito convida uma moça para entrar em sua cabaninha. Alguns estudiosos não se convenceram de que a peça é da lavra de Beethoven. Kinsky e Halm preferiram não lhe atribuir sequer um número de WoO, lançando-a no apêndice (Anh.) de seu catálogo. Outros, incluindo o intérprete, Rodolfo Encadernador, têm certeza em atribuir a obra ao mestre renano pelo simples fato de que ela parece ter seu estilo e não há prova bastante de que ele não a tenha escrito. Eu acho que ela é, sim, de Beethoven – e vocês, que acham?

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

1 – Nove variações em Lá maior sobre “Quant’e piu bello”, da ópera “La Molinara” de Giovanni Paisiello, WoO 69 (1795)
2 – Seis variações em Sol maior sobre “Nel cor più non mi sento”, da ópera “La Molinara” de Giovanni Paisiello, WoO 70 (1795)
3 – Doze variações em Lá maior sobre a Dança Russa do balé “Das Waldmädchen” de Paul Wranitzky, WoO 71 (1796–7)
4 – Oito variações em Dó maior sobre “Une Fièvre Brûlante”, da ópera “Richard Coeur-de-Lion” de André Ernest Modeste Grétry, WoO 72 (1795)
5 – Dez variações em Si bemol maior sobre “La stessa, la stessissima” da ópera “Falstaff” de from Antonio Salieri, WoO 73 (1799)
6 – Sete variações em Fá maior sobre “Kind, willst du ruhig schlafen”, da ópera “Das unterbrochene Opferfest” de Peter Winter, WoO 75 (1799)
7 – Oito variações em Fá maior sobre “Tändeln und scherzen”, da ópera “Soliman II” de Franz Xaver Süssmayr, WoO 76 (1799)
8 – Seis variações fáceis em Sol maior sobre um tema original, WoO 77 (1800)
9 – Oito variações em Si bemol maior sobre “Ich hab’ ein kleines Hüttchen nur”, WoO Anh. 10

Rudolf Buchbinder, piano

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Rodolfo Encadernador e rabiscador

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trio para piano, flauta e fagote, Woo 37 – Sonata para trompa e piano, Op. 17 – Debost – Sennedat – Bloom – Barenboim

O conjunto não existe sem as partes, e as grandes orquestras não existem, por óbvio, sem ótimos músicos. Vários são os exemplos de instrumentistas que marcaram época em seus conjuntos, como o Marcel Tabuteau, o grande solista de oboé da Philadelphia Orchestra sob Stokowski e Ormandy por mais de quarenta anos, e o fenomenal Dennis Brain, trompista da Philharmonia Orchestra, precocemente falecido. Também não é incomum que alguns deles embarquem em carreiras solísticas que nos levem a esquecer de seu passado em orquestras, como fizeram o flautista James Galway e a clarinetista Sabine Meyer, ex-integrantes da Filarmônica de Berlim. Não é raro, também, que haja encontros como o deste disco, em que três grandes músicos da Orchestre de Paris dividem a ribalta com seu então regente, e aqui pianista, Daniel Barenboim.

O trio para a combinação incomum de piano, fagote e flauta, composto aos quinze anos de vida de Beethoven, é uma de suas obras mais claramente mozartianas. Barenboim – no auge de sua forma ao piano, que hoje me parece relegado a um segundo plano em seus interesses – faz-se acompanhar de Michel Debost, expoente da grande escola francesa da flauta e sucessor de Jean-Pierre Rampal na cátedra do Conservatório de Paris, e do excelente fagotista André Sennedat, num registro que é um deleite de escutar. O disco conclui com uma rara oportunidade de ouvir Myron Bloom, legendário trompista da Cleveland Orchestra, tocando música de câmara. Tido como “imexível” e inegociável pelo generalíssimo George Szell, que sabia de sua importância não só para o naipe mas para todos os sopros de sua orquestra. Quando Szell morreu, e a orquestra passaria para a batuta de Lorin Maazel, Barenboim convidou Bloom para mudar-se de mala, cuia e trompa para Paris, onde assumiria a Orchestre local. Bloom arrependeu-se azedamente da escolha, por odiar os colegas da orquestra, apesar de toda rasgação de seda de Barenboim, que era tão fã de seu timbre que creditava os solos do trompista nas gravações e concertos que faziam juntos. Quanto a mim, depois de quase intoxicá-los com tantas versões da sonata para trompa escrita para o infame Punto, talvez vocês me mandem pra dentro de uma se ouvirem, uma vez mais, a fanfarra inicial. Myron Bloom, no entanto, vale a pena, e espero que os leitores-ouvintes também achem o mesmo ao ouvirem esta homenagem que prestamos ao distinto artista, falecido em 2019, aos 93 anos.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio em Sol maior para piano, flauta e fagote, WoO 37 (1786)
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Andante con variazioni

Michel Debost, flauta
André Sennedat, fagote
Daniel Barenboim, piano

Sonata em Fá maior para trompa e piano, Op. 17 (1800)
4 – Allegro moderato
5 – Poco adagio, quasi andante
6 – Rondo. Allegro moderato

Myron Bloom, trompa
Daniel Barenboim, piano

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Myron Bloom (1926-2019)

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano, WoO 47, “Kurfürstensonaten” – Sonatinas, WoO 50 & 51 – Demus – Cascioli

Essas três pequenas sonatas compostas em Bonn por um Beethoven menino (doze anos!) e  dedicadas ao príncipe-eleitor de Colônia (em alemão, Kurfürst) são normalmente ignoradas no cômputo de suas sonatas para piano. Sou da opinião de que elas merecem ser conhecidas, nem que seja para perceber os primeiros lampejos de brilho do garoto que se aventurava ambiciosamente na sonata-forma, e reconhecer as manifestações mais precoces dos cacoetes de Ludwig em sua escrita para o teclado. Jörg Demus – o mais discreto dos integrantes da troika pianística vienense, completada por Friedrich Gulda e Paul Badura-Skoda – traz-nos uma leitura muito bonita, com sua característica precisão elegante, muito embora eu ache que estas sonatinhas exijam o som mais pungente, que eu sei que não é do gosto de todos, do pianoforte. A gravação prossegue com duas sonatinas, a segunda delas completada por Ferdinand Ries (1784-1838), aluno e amigo do compositor, e termina com mais uma fieira de pequenas peças avulsas para piano, incluindo uma écossaise (WoO 23) originalmente escrita para banda marcial, mas que sobrevive tão só num arranjo para piano feito por Carl Czerny (outro pupilo e amigo) e que fica menos estranha aqui que no meio de seus pares, que publicaremos oportunamente.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três sonatas para piano, WoO 47, “ao Eleitor” (Kurfürstensonaten)
Compostas entre 1782-1783
Publicadas em 1783
Dedicadas a Maximilian Friedrich, Eleitor de Colônia

No. 1 em Mi bemol maior
1 – Allegro cantabile
2 – Andante
3 – Rondo vivace

No. 2 em Fá menor
4 – Larghetto maestoso – Allegro assai
5 – Andante
6 – Presto

No. 3 em Ré maior
7 – Allegro
8 – Menuetto – Sostenuto
9 – Scherzando: Allegretto, ma non troppo

Jörg Demus, piano

Sonata para piano em Fá maior, WoO 50 (1790-1792)
10 – Sem indicação de andamento
11 – Allegretto

Sonata para piano em Dó maior, WoO 51 (1790-1792), completada por Ferdinand Ries
12 – Allegro
13 – Adagio

14 – Allemande em Lá maior, WoO 81 (1793)
15 – Valsa em Mi bemol maior, WoO 84 (1824)
16 – Valsa em Ré maior, WoO 85 (1825)
17 – Écossaise em Mi bemol maior, WoO 86 (1825)

Gianluca Cascioli, piano

18 – Écossaise em Sol maior para banda marcial, WoO 23 (1810)
Arranjo de Carl Czerny para piano

Rainer Maria Klaas, piano

19 – Fuga em Dó maior, WoO 215/Hess 64 (1795)

Gianluca Cascioli, piano

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Silhueta do jovem Ludwig

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Duos para clarinete e fagote, WoO 27 – Quinteto para oboé, trompas e fagote, Hess 19 – Adágio para trompas, Hess 297 – Equale para quatro trombones, WoO 30

Peso-plumíssima esse volume de nossa beethoveniana, completamente dedicada a obras para sopros menos votadas do compositor, muitas delas relegadas às pilhas de papel até depois de sua morte. Os duos para clarinete e fagote são tão fofinhos quanto estranhos, e não surpreende que haja seriíssimas dúvidas acerca de sua autoria (uma pista são as indicações de andamento, totalmente atípicas para Beethoven). O breve quinteto com a curiosa colaboração entre um oboé, um fagote e um trio de trompas dá a impressão de ter sido composto às pressas, sem muito tempo para desenvolver as ideias e explorar os timbres dos instrumentos. O Adagio para três trompas é ainda mais breve, e aqui serve como prelúdio para a obra de mais substância da gravação, os três curtos e solenes Equale (que, na incerteza sobre a denominação do gênero em português, resolvi chamar de “Iguais”, que são sua tradução em latim e italiano). Escritos para serem tocados da torre da catedral de Linz no dia de finados de 1812, têm desde então aparecido em várias exéquias – inclusive no funeral do próprio Beethoven, ocasião em que foram ouvidos tanto no original para quatro trombones quanto num arranjo vocal de Ignaz Seyfried (1776-1841), iniciado no dia em que se ministrou a extrema-unção ao compositor. Apesar da curiosidade de escutar a versão de Seyfried, nunca a ouvi, nem a encontrei em qualquer gravação – mas eu tenho a partitura e, se outros três barítonos se dispuserem, talvez possamos dar um jeito nisso. Se a ideia lhes apetece, deixem-me saber nos comentários.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três Duos para clarinete e fagote, WoO 27

No. 1 em Dó maior
1 – Allegro comodo
2 – Larghetto sostenuto
3 – Rondo: Allegretto

No. 2 em Fá maior
4 – Allegro affettuoso
5 – Aria: Larghetto
6 – Rondo: Allegretto moderato

No. 3 em Si bemol maior
7 – Allegro sostenuto
8 – Aria con variazioni
9 – Allegro assai

Quinteto para oboé, três trompas e fagote em Mi bemol maior, Hess 19 (1793)
10 – Allegro
11 – Adagio maestoso
12 – Minuetto

Adagio em Fá maior para três trompas, Hess 297 (1815)
13 – Adagio

Membros do Ottetto Italiano

Três Iguais para quatro trombones (Drei Equale für vier Posaunen), WoO 30
14 – Andante (Ré menor)
15 – Poco adagio (Ré maior)
16 – Poco sostenuto (Si bemol maior)

Phillip Jones Brass Ensemble

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Minuetos, WoO 10 – Danças, WoO 17 – Obras para violino e piano, WoO 40-42

Mais outro balainho, este com peças que, se deixadas soltas, ficariam à deriva e se perderiam em nossa integral.

O disco abre com uma reconstrução da instrumentação dos seis minuetos, WoO 10, que sobreviveram somente em versão para piano – incluindo aquele, em sol maior, que muitos entre nós conheceram porque o pai ouvia Ray Conniff em alta decibelagem (o de vocês não? Muito os invejo). A função segue com as ditas “danças Mödling”, de autoria duvidosa, para um conjunto misto de cordas e sopros. As coisas melhoram um pouco no final, se não com a música, pelo menos com os intérpretes. Os venerandos Yehudi Menuhin e Wilhelm Kempff juntam forças para interpretar duas peças juvenis para violino e piano: as variações sobre “Se vuol ballare”, a popularíssima ária de Fígaro nas “Bodas” de Mozart, e o diminuto rondó em Sol. Para finalizar, uma raríssima, quiçá única oportunidade por aqui ouvir as crinas de David Garrett, um bom violinista que se transformou num astro do crossover. Se as singelas alemandas que Ludwig lhe propõs não desafiam muito sua técnica de bom pedigree, trata-se de uma oportunidade rara de, aqui no PQP Bach, escutar alguém que, conforme asseguram especialistas, é  muito gatão.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Seis Minuetos para orquestra, WoO 10 (1795)
1 – No. 1 em Dó maior
2 – No. 2 em Sol maior
3 – No. 3 em Mi bemol maior
4 – No. 5 em Si bemol maior
5 – No. 6 em Ré maior
6 – No. 7 em Dó maior

Capella Istropolitana
Ewald Donhoffer, regência

Onze Danças para pequena orquestra, WoO 17, “Mödlinger Tänze” (1819)
7 – No. 1: Valsa em Mi bemol maior
8 – No. 2: Minueto em Si bemol maior
9 – No. 3: Valsa em Si bemol maior
10 – No. 4: Minueto em Mi bemol maior
11 – No. 5: Minueto em Mi bemol maior
12 – No. 6: Landler em Mi bemol maior
13 – No. 7: Minueto em Si bemol maior
14 – No. 8: Landler em Si bemol maior
15 – No. 9: Minueto em Sol maior
16 – No. 10: Valsa em Ré maior
17 – No. 11: Valsa em Ré maior

Kammerorchester Berlin
Helmut Koch, regência

Doze Variações em Fá maior sobre a Ária “Se vuol ballare”, da ópera “Le Nozze di Figaro” de Wolfgang Amadeus Mozart, para violino e piano, WoO 40
18 – Thema – Variazioni I-XII

Rondó em Sol maior para violino e piano, WoO 41 (1793-1794)
19 – Allegro

Yehudi Menuhin, violino
Wilhelm Kempff, piano

Seis Danças Alemãs para violino e piano, WoO 42 (1796)
20 – Sem indicação de andamento

David Garrett, violino
Bruno Canino, piano

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Um pão, mesmo

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Bagatelas e Danças para piano, volume 3 – Jandó

Concluímos nosso minifestival Jandó com o último balaio de gatinhos pianísticos beethovenianos e uma pequena homenagem ao artista.

Lembro-me de, há alguns anos, ter lido uma reportagem sobre Jandó, focando em sua impressionante e variada discografia. O tom, se não deliberadamente desabonador, tendia a pintar o pianista como um músico de pouco brilho que teve que se contentar com a labuta obreira num selo de segunda linha. Além disso, era um compêndio de resmungos, como a alegação de que seus contemporâneos András Schiff e Zoltán Kocsis eram conhecidos internacionalmente porque foram privilegiados pelo governo, ou de que ele próprio, um interiorano, era discriminado por suas contrapartes em Budapest. Somando a tudo algumas cores anedóticas, como o feroz hábito tabágico e o costume de cantarolar ao teclado à la Glenn Gould, controlado pelo truque de lhe manter um cigarro apagado na boca, saía-se com a impressão de que Jandó, professor na conceituada Academia de Música Franz Liszt, seria um músico medíocre e, acima de tudo, uma criatura patética.

Quem ouvir a gravação seguinte perceberá que não. Tomem, por exemplo, o rondó que a abre, que Beethoven descreveu com o neologismo “ingharese” (mescla de “zingarese” e”ungherese”/”cigano” e “húngaro”) e que seu factotum, o atochador Anton Schindler, descreveu como “A Fúria pelo Tostão Perdido”.  Em frenéticos seis minutinhos, carregados do mais explícito humor, Beethoven parece querer demolir toda reputação de pathos e heroísmo que lhe plugam – e Jandó realiza, com muita destreza, os intentos do mestre. Gosto muito também de sua interpretação para o dito “Andante favori”, o movimento lento inicialmente destinado à sonata alcunhada “Waldstein”, que acabou substituído por uma introdução mais concisa, provavelmente, porque o primeiro e último movimentos já exigiam músculo o bastante e, ainda, porque o andante, assim como o finale, também é um rondó. Se a vastidão do repertório de Jandó – e, mui provavelmente, também seu contrato – não lhe permite lapidar cada peça que grava ao ponto do memorável, esperamos que o que aqui ouviram possa inspirá-los a explorar sem preconceitos sua discografia em constante expansão. Se ele merece a prata, o ouro ou o mármore, vocês me contam depois.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

BAGATELAS E DANÇAS PARA PIANO, volume 3

Rondó alla ingharese, quasi un capriccio, em Sol maior, Op. 129, “Der Wut über den verloneren Groschen” (“A Fúria sobre o Tostão Perdido”)
Composto em 1795
Completado por Anton Diabelli e publicado postumamente em 1828
1 – Allegro vivace

2 – Andante em Fá maior, WoO 57, “Andante favori” (1804)
3  – Duas Danças Alemãs, Hess 67 – Allegro e Da Capo (“Der Deutscher”) (1811)

Dois Rondós para piano, Op. 51 (1796-1798)
4 – No. 1 em Dó maior
5 – No. 2 em Sol maior

6 – Rondó em Lá maior, WoO 49 (1783)

Doze Minuetos, WoO 7 (1795)
7 – No. 1 em Ré maior
8 – No. 2 em Si bemol maior
9 – No. 3 em Sol maior
10 – No. 4 em Mi bemol maior
11 – No. 5 em Dó maior
12 – No. 6 em Lá maior
13 – No. 7 em Ré maior
14 – No. 8 em Si bemol maior
15 – No. 9 em Sol maior
16 – No. 10 em Mi bemol maior
17 – No. 11 em Dó maior
18 – No. 12 em Fá maior

Jenő Jandó, piano

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Ao herói, o mármore

#BTHVN250, por René DenonVassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Bagatelas e Danças para piano, volume 2 – Jandó

O peculiar nome de Jenő (algo como “Eugênio”) Jandó chamou-me pela primeira vez a atenção pelas repetidas vezes que aparecia nas paredes das lojas de discos (para vocês verem como eu sou velhinho) tomadas por CDs da Naxos. Seu repertório parecia inesgotável: de Bach a Bartók, passando por concertos completos de Mozart, um catatau de obras de Liszt e integrais das sonatas de Haydn, Schubert e Beethoven. Cheguei a pensar que se tratasse de uma fraude, ao feitio da milagrosa série de gravações atribuídas a Joyce Hatto.  Minhas investigações, muito pelo contrário, mostraram-me que não só Jandó realmente tinha feito todas aquelas gravações, com também tinha sido ele mesmo um dos muitos artistas cujas faixas tinham sido espuriamente atribuídas a Hatto por seu esposo, um produtor fonográfico e, como depois se viu, um tremendo aldrabão.

Fui escutá-lo, apesar das recomendações contrárias dos vetustos habitués das lojas de discos, e tive uma boa surpresa. Saía-se muito bem no repertório de seus compatriotas húngaros, e também em Mozart e Haydn. Embora talvez lhe falte algo de brilho e élan para gravar sonatas de Beethoven memoráveis, seu estilo se presta muito bem a este repertório de peças curtas que seguimos a lhes apresentar.

A gravação abre logo com a peça de maior fôlego, a Fantasia, Op. 77, a única peça para piano que Ludwig publicou e assim chamou. Nominalmente em Sol menor, ela modula amplamente ao longo de seus dez minutos, e seu estilo – livre na abertura e engenhoso nas variações que a concluem – é possivelmente a melhor janela que nos restou para a imensa habilidade de Beethoven como improvisador, que lhe trouxe fama, juntamente com o virtuosismo ao teclado, bem antes dele se fazer notar como compositor. Em meio a curtas bagatelas (uma delas alcunhada “Lustig-Traurig”, ou “Alegre-Triste” – praticamente Beethoven numa casca de noz) e graciosas séries de danças, algumas das quais já ouvidas nesta série com roupagem orquestral, duas outras obras se destacam: uma Polonaise, Op. 89, composta em 1814 para surfar na voga do ritmo entre os aristocratas da época e que acaba curiosamente evocando as polonaises da juventude de Chopin, então uma criança; e os Prelúdios, Op. 39, escritos ainda em Bonn, que modulam para todas as tonalidades maiores e são mais comumente executados ao órgão – instrumento que Neefe, seu professor, tocava na corte do Eleitor de Colônia, e que o próprio Ludwig tocava durante as muitas ausências do titular. As duas peças, frutos de períodos tão diferentes na vida do compositor, têm o comum o fato de terem sido publicadas pela necessidade do vil metal: a Polonaise foi dedicada à tzarina da Rússia, que recompensou o mimo com um bom punhado de bufunfa, e a obra adolescente acabou indo à prensa simplesmente porque precisava pagar o aluguel.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

BAGATELAS E DANÇAS PARA PIANO, volume 2

1 – Fantasia em Sol menor, Op. 77 (1810)
2 – Doze Danças Alemãs, WoO 13 (1792-1797)
3 – Sete Contradanças, WoO 14 (1791-1801)
4 – Seis Escocesas, WoO 83 (1806)
5 – Minueto em Mi bemol maior, WoO 82 (1803)
6 – Allegretto em Dó menor, Hess 69 (1795-1796)
7 – Polonaise em Dó maior, Op. 89 (1814)
8 – Bagatela em Dó menor, ‘Lustig-Traurig’, WoO 54 (1802)
9 – Rondó em Dó maior, WoO 48 (1783)
10 – Prelúdio em Fá menor, WoO 55 (1803)
11 – Dois Prelúdios em todas tonalidades maiores, Op. 39 (1789)
12 – Fuga em Dó maior, Hess 64
13 – Finale de concerto em Dó maior, Hess 65 (originalmente para o Op. 37)

Jenő Jandó, piano

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Jenő vale ouro

 

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Bagatelas e Danças para piano, volume 1 – Jandó

O selo honconguês Naxos busca sempre expandir seu já vasto catálogo sem repetir repertório, normalmente gravando séries integrais com artistas e conjuntos menos célebres e lançando-as no mercado envoltas em projetos gráficos espartanos, sem firulas, e por preços camaradas. Naquelas priscas eras em que só se construía um acervo discográfico com a aquisição de mídias físicas, a Naxos era uma das melhores amigas dos melômanos que, como eu, tinham muita ambição e pouca bufunfa. Muito embora esta abordagem low cost e bastantona do repertório sempre tenha tido seus detratores, nunca me decepcionei com os discos da Naxos, talvez mesmo por saber o que esperar deles. Mais que isso, não foram raras as vezes que me surpreendi com as escolhas arrojadas de repertório e com a qualidade do que ouvi. Foi através da Naxos, por exemplo, que conheci artistas notáveis como a pianista turca İdil Biret, intérprete maravilhosa do repertório romântico, e a violoncelista alemã Maria Kliegel, que oferece interpretações muito marcantes para um repertório vasto, e muitas vezes desconhecido para mim. Enquanto lhes prometo que Biret e Kliegel participarão desta série, a fim de que nossos leitores-ouvintes possam tirar suas próprias conclusões sobre elas, peço licença para voltar os holofotes para o herói desconhecido da Naxos: o pianista húngaro Jenő Jandó, que contribuirá com os três próximos volumes desta nossa beethoveniana.

Ecce homo

Falaremos mais sobre Jandó nas postagens seguintes. Permitam-nos por ora apontar algo sobre as curtas peças desse álbum. Nenhuma delas foi publicada durante a vida do compositor, talvez porque ele próprio não lhes atribuísse qualquer importância – “bagatelas”, afinal, muito embora o termo “bagatelas” tenha sido a elas atribuído por editores, e não pelo próprio Beethoven, que assim intitulou três coleções de peças (Opp. 33, 119 e 126) que publicaria ao longo da vida. Poucas delas chegam a dizer ao que vieram, por consistirem de alguns poucos gestos, talvez a captura de alguma ideia que pareceu interessante, mas não o bastante para ser desenvolvida sobre uma partitura. E, ah, sim: a primeira delas é a celebrérrima Pour Elise, vítima primaz das mãos inábeis de estudantes, quiçá batida demais para não ser ouvida sem ranço, mas que se revela mais misteriosa que mimosa sob as falanges de um bom profissional. Apesar de sua fama extraordinária, este bombom musical não parece ser muito do gosto de Jandó e dos produtores, que não lhe destinaram sequer uma faixa própria no álbum, espremendo-a numa faixa com outras três peças. E, já que estamos no tópico “Peças Surradas pelos Diletantes”, cabe um outro aviso: o segundo entre os minuetos do WoO 10 será aterrorizantemente familiar a tanto aos tocadores de piano que persistiram até o estudo de terças quanto àqueles cujos pais ouviam Ray Conniff noite e dia – no meu caso, marco “sim” para ambas.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

BAGATELAS E DANÇAS PARA PIANO, VOLUME 1

1 – Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise” (1810) – Bagatela em Si bemol maior, WoO 60 (1818) – Allegretto quasi andante em Sol menor, WoO 61a (1825) – Allegretto em Si menor, WoO 61 (1821)

2 – Sete Ländler, WoO 11 (1799)

3 – Seis Ländler, WoO 15 (1795)

4 – Doze Danças Alemãs, WoO 8 (1795)

5 – Minueto em Dó maior, WoO 218

6 – Seis Minuetos, WoO 10 (1795)

7 – Bagatela em Dó maior, Hess 56 (esboço para as Bagatelas, Op. 126)

8 – Presto em Dó menor, WoO 52 (1795) – Bagatela em Dó maior, WoO 56 (1803)

9 – Duas Bagatelas para piano, WoO 216a e 216b

10 – Allegretto em Dó menor para piano, WoO 53 (1796-1797)

Jenő Jandó, piano

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Enquanto pensamos numa maneira de homenagear Jandó, resolvemos deixá-lo prateado

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Obras para quarteto de cordas, Hess 29-36 – Prelúdio para quinteto de cordas, Hess 40

Mais um balaio de gatos que raramente ouvimos miar, em sua maior parte consagrado ao meio do quarteto de cordas – formação que preocuparia Beethoven desde o começo de sua carreira, muito em função dos modelos impressionantes deixados por Mozart e Haydn, e mantê-lo-ia ocupado até o fim da vida.

Os prelúdios e fugas que abrem a gravação (Hess 29-31) foram exercícios de contraponto e fuga escritos para o professor Albrechtsberger, e atestam o afinco com que Beethoven – tido, não sem razão, como um enfant terrible e aluno irascível – dedicava-se a seus estudos. Seus manuscritos autógrafos estão cheios de correções de Albrechtsberger, mas o que vocês ouvem aqui são as intenções do compositor – “erradas”, talvez, segundo os cânones da composição, mas inteiramente originais. O Hess 32 é uma versão preliminar do primeiro quarteto dos seis publicados como Op. 18. O quarteto seguinte (Hess 34), que já ouvimos nesta série, é um arranjo do compositor para a primeira sonata de seu Op. 14. Completam a gravação as transcrições para quinteto de cordas de duas fugas de grandes mestres, Bach e Händel, provavelmente feitas com finalidade de estudo técnico para composições próprias (a da Bach é uma transcrição apenas parcial, dando a entender que Beethoven debruçou-se sobre alguma questão contrapontística específica); um prelúdio com o fragmento de uma fuga (Hess 40), composto na mesma época da fuga do Op. 137; e um surpreendente, brevíssimo fragmento para quarteto de cordas (alcunhado “Schluss” ou “encerramento”), que chega a entusiasmar com sua verve digna de um dos quartetos do Op. 59, antes de sem-cerimoniosamente terminar.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Prelúdio e fuga em Mi menor para dois violinos e violoncelo, Hess 29 (1794)
1 – Prelúdio
2 – Fuga

Lukas Hagen e Rainer Schmidt, violinos
Clemens Hagen, violoncelo

Prelúdio e fuga em Fá maior para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 30 (1795)
3 – Prelúdio
4 – Fuga

Prelúdio e fuga em Dó maior para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 31 (1795)
5 – Prelúdio
6 – Fuga

Mendelssohn-Quartett

Quarteto em Fá maior para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 32 (1799)
7 – Allegro con brio
8 – Adagio molto
9 – Scherzo. Allegro
10 – Allegretto

Minueto em Lá bemol maior para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 33 (1792)
11 – Sem indicação de andamento

Hagen Quartet

Quarteto em Fá maior para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 34
(arranjo de Beethoven da sonata para piano em Mi maior, Op. 14 no. 1)
12 – Allegro moderato
13 – Allegretto
14 – Allegro

Amadeus Quartet

Allegretto em Si menor para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 35 (1817)
(arranjo de Beethoven de trechos da fuga em Si menor, BWV 869, do primeiro volume de “O Cravo bem Temperado de J. S. Bach)
15 – Allegretto

Endellion String Quartet

Fuga da abertura do oratório “Solomon” de G. F. Händel, para dois violinos, viola e violoncelo, Hess 36 (1798)
16 – Sem indicação de andamento

Hagen Quartet

Prelúdio para dois violinos, duas violas e violoncelo, Hess 40 (1817)
17 – Sem indicação de andamento

Perez Quintet

Fragmento em Ré menor para dois violinos, viola e violoncelo, “Schluss”
18 – Sem indicação de andamento

Endellion String Quartet

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Ritterballett, WoO 1 – Minuetos, WoO 3 & 7 – Danças Alemãs, WoO 8 – Contradanças, WoO 14 – Karajan/Marriner/Maazel

Dentro de nosso plano de postar a obra completa de Ludwig van Beethoven em gravações inéditas no blog, chegamos a uma questão de ordem.

Começamos por sua primeira obra publicada, ainda antes dos onze anos, e prosseguimos em ordem cronológica com aquelas a que o compositor atribuiu número de opus. Publicamos ontem seu extremamente bem-sucedido septeto, obra que antecede sua primeira sinfonia e a expansão de seus horizontes para projetos mais ambiciosos, enquanto a Europa caminhava outra vez para a guerra e Beethoven já confessava a seus amigos de Bonn a surdez crescente. E eis que se impõe a questão que supracitamos: prosseguimos nossa série em ordem cronológica, ou damos um tempo e retrocedemos a seus tempos na Renânia?

A pergunta é apenas retórica, pois a decisão já foi tomada, e eu a explico. A obra de Beethoven vai bem além das 137 composições publicadas com número de Opus. Há um imenso contingente de obras que, por diferentes motivos, nunca entraram neste, assim digamos, rol oficial de composições. O esforço de organizar este imenso saco de gatos de quase seiscentas peças de maneira temática ou cronológica tem ocupado musicólogos quase que desde a morte de Beethoven e pariu um bom número de catálogos. O mais importante deles, fruto dos esforços de Georg Kinsky e Hans Halm, veio à luz em 1955. Conhecido, naturalmente, como catálogo Kinsky-Halm, ele lista as composições sem número de opus (em alemão, Werke ohne Opuszahl) e lhe atribui um número sob a classificação, surpresa-surpresa, WoO. Posteriormente viriam catálogos complementares, em grande parte superpostos à amplamente aceita classificação de Kinsky e Halm, que incluíam obras descobertas ou atribuídas a Beethoven depois de 1955, dos quais os únicos dignos de nota são os de Willy Hess (com obras designadas por, ahn, Hess) e o de Giovanni Biamonti (vulgo Bia).

Com raras exceções (como as importantes variações em Dó menor, WoO 80), Beethoven normalmente atribuía números de opus a todas composições que submetia à prensa. Assim, essas centenas de obras com números WoO, Hess ou Biamonti, entre as quais há um bom número de composições espúrias (ou seja, que não foram realmente escritas por Beethoven, ainda que atribuídas a ele) costumar incluir-se num desses três grupos: são fragmentárias ou incompletas; foram escritas sem intenção de publicação (tanto como presentes a pessoas próximas ou como homenagens a pessoas ilustres, frequentemente seus patronos aristocráticos); ou foram consideradas indignas de publicação pelo compositor. Por isso, e sem perder de vista nosso intuito de publicar a integral da obra do gênio de Bonn, decidi que essas criações, geralmente de menor relevância artística a despeito da importância histórica e musicológica, deveriam ser publicadas antes das obras-primas que começariam a vir em notável sequência após a primeira sinfonia, para não corrermos o risco de, sabe-se lá, interromper uma extraordinária série de quartetos de cordas por conta da obrigação contratual de publicar a bonitinha e ordinária “Pour Elise”.

Não que isso signifique que ouviremos má música. Tomem, por exemplo, estas séries de danças que agora publicamos. A primeira, que constitui o chamado “Ritterballett” (“balé de cavaleiros”, muitas vezes erroneamente traduzido como “balé sobre cavalos (!)”), foi escrita ainda em Bonn para um folguedo de Carnaval do conde Waldstein, patrono de Beethoven. Ainda que muito convencional, fica fácil de imaginar a aristocracia renana a mordiscar canapés e entreolhar-se, talvez com estranheza, em reação volumosas e esporádicas explosões de têmpera beethoveniana do modesto conjunto orquestral. Da mesma forma, enquanto talvez mastigavam faisão, conseguissem acertar o passo nas danças alemãs, contradanças e minuetos que vêm em seguida. O que me é difícil de entender é o porquê do pomposo poseur von Karajan ter decidido gravá-las com seus filarmônicos berlinenses e seu inconfundível, polido “toque Karajan”. A mesma pergunta aplica-se aos dois maestros notáveis que completam a gravação: Sir Neville Marriner e sua inseparável Academy of Saint Martin-in-the-Fields, e Lorin Maazel, também a reger os Karajan kinder.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Música para um Balé de Cavaleiros, para orquestra, WoO 1, “Ritterballett”
Composta entre 1790-1791

1 – Marcha
2 – Canção alemã
3 – Canção de caça
4 – Canção alemã (da capo)
5 – Romance. Andantino
6 – Canção alemã (da capo)
7 – Canção de guerra: Allegro assai con brio
8 – Canção alemã (da capo)
9 – Canção de beber (‘Mihi est pPropositum‘): Allegro con brio
10 –  Canção alemã (da capo)
11 – Dança alemã – Valsa
12 – Coda. Allegro vivace

Minueto para orquestra em Mi bemol maior, WoO 3, “Minueto de Felicitação” (“Gratulations-Menuett“)
Composto em 1822

13 – Tempo di Menuetto quasi Allegretto

Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan, regência

Doze Minuetos para orquestra, WoO 7
Compostos em 1795

14 – No. 1 em Ré maior
15 – No. 2 em Si bemol maior
16 – No. 3 em Sol maior
17 – No. 4 em Mi bemol maior
18 – No. 5 em Dó maior
19 – No. 6 em Lá maior
20 – No. 7 em Ré maior
21 – No. 8 em Si maior
22 – No. 9 em Sol maior
23 – No. 10 em Mi bemol maior
24 – No. 11 em Dó maior
24 – No. 12 em Fá maior

Doze Danças Alemãs para orquestra, WoO 8
Compostas em 1795

26 – No. 1 em Dó maior
27 – No. 2 em Lá maior
28 – No. 3 em Fá maior
29 – No. 4 em Si maior
30 – No. 5 em Mi bemol maior
31 – No. 6 em Sol maior
32 – No. 7 em Dó maior
33 – No. 8 em Lá maior
34 – No. 9  em Fá maior
35 – No. 10 em Ré maior
36 – No. 11 em Sol maior
37 – No. 12 em Dó maior – Coda

The Academy of Saint Martin-in-the-Fields
Sir Neville Marriner, regência

Doze Contradanças para orquestra, WoO 14
Compostas entre 1791-1801

38 – No. 1 em Dó maior
39 – No. 2 em Lá maior
40 – No. 3 em Ré maior
41 – No. 4 em Si maior
42 – No. 5 em Mi bemol maior
43 – No. 6 em Dó maior
44 – No. 7 em Mi bemol maior
45 – No. 8 em Dó maior
46 – No. 9 em Lá maior
47 – No. 10 em Dó maior
48 – No. 11 em Sol maior
49 – No. 12 em Mi bemol maior

Berliner Philharmoniker
Lorin Maazel, regência

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Este deve ser pro Ludwig
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Septeto, Op. 20 – Variações, Opp. 105 & 107 – Kavakos

Ao estrear em 1800 seu septeto para violino, viola, violoncelo, contrabaixo, clarinete, trompa e fagote, Op. 20, o já célebre Beethoven coroou uma série de bem-sucedidas composições: dois concertos para piano estreados por ele próprio; um popular quinteto para piano e sopros; e seis inovadores quartetos de cordas. A repercussão do septeto, no entanto, superou com sobras a dos outros. Composto na tradição das serenatas de Mozart, mas peculiar em sua instrumentação sem pares e pelo toque concertístico, foi um sucesso inesperado que, nas décadas seguintes, muito aborreceria o compositor pelas repetidas demandas de reeditar e rearranjar a obra para outras combinações instrumentais (como fez, por exemplo, no trio Op. 38), eclipsando obras que considerava muito melhores. Hoje relativamente esquecido dentro do magnífico conjunto de criações de Beethoven, o septeto é sempre uma delícia de se escutar, em especial pelo colorido e virtuosismo da parte do clarinete e da elaborada parte do violino, que inclui uma cadenza no movimento final. Aprecio muito, também, das participações muito canoras do fagote e do violoncelo, normalmente relegados à tarefa do baixo, mas aqui desobrigados dela pela parruda presença do contrabaixo.

A gravação que lhes alcanço tem a distinta participação de Leonidas Kavakos, que já foi apresentado a vocês, e é parte dum álbum duplo que tem em seu primeiro volume o concerto para violino, Op. 61, em que ele conduz de seu instrumento a Orquestra da Rádio Bávara. Para o segundo volume, o solista teve a curiosa ideia de parear o concerto com o septeto, competentemente tocado e gravado com músicos da orquestra que regeu. Naturalmente, o violino de Kavakos tem aqui um destaque ainda maior do que a partitura lhe reserva, sem que isso comprometa o equilíbrio da peça. Ainda mais curiosa foi a escolha de concluir o disco com algumas das variações sobre árias nacionais, Opp. 105 e 107, compostas originalmente para flauta e piano, e publicadas na maturidade do compositor para fazer dinheiro. Não que lhes faltem brilho e graça, mas elas parecem anticlimáticas se escutadas após o irresistível septeto. Minha sugestão subversiva aos leitores-ouvintes? Invertam a ordem proposta pela Sony e concluam sua audição com o septeto.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Septeto em Mi bemol maior para violino, viola, clarinete, trompa, violoncelo, fagote e contrabaixo, Op. 20
Composto entre 1799-1800
Publicado em 1802
Dedicado à imperatriz Maria Theresa da Áustria

1 – Adagio – Allegro con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Tempo di menuetto
4 – Tema con variazioni. Andante
5 – Scherzo – Allegro molto e vivace
6 – Andante con moto alla marcia – Presto

Leonidas Kavakos, violino
Christopher Corbett, clarinete
Eric Terwilliger, trompa
Marco Postinghel, fagote
Wen Xiao Zheng, viola
Hanno Simons, violoncelo
Heinrich Braun, contrabaixo

Variações sobre Canções Folclóricas, Op. 105
7 – No. 3:  A Schüsserl und a Reindl

Variações sobre Canções Folclóricas, Op. 107
8 – No. 1: I bin a Tiroler Bua
9 – No. 2: Bonny Laddie, Highland Laddie
10 – No. 6: Peggy’s Daughter
11 – No. 7: Schöne Minka

Leonidas Kavakos, violino
Enrico Pace, piano

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“E aê?”

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonata em Fá maior, Op. 17 – Versões para violoncelo, fagote, flauta e “corno di bassetto”

Admitamos que, apesar de agradável, a sonata que Beethoven escreveu para Stich-Punto-Dot-Ponto não é lá uma obra-prima, o que talvez lhes torne um pouco duro o afã de escutá-la outras vezes. No entanto, com0 eu talvez insensatamente me propus a apresentar-lhes a obra integral de nosso casmurro favorito, não me posso furtar a obrigação de alcançar a vocês a Op. 17 tocada em violoncelo, pois assim nosso herói permitiu (“para o fortepiano com uma trompa ou um violoncelo”, diz o frontispício). A versão para violoncelo tem uma parte mais elaborada para o instrumento solista, porque decerto havia mais cellistas capazes de tocá-la do que o único mortal apto a fazê-lo na trompa:  justamente Punto, aquele com quem “Beethovener” teve um de seus corriqueiros arranca-rabos depois de apresentar a obra em Pest. Para completar a publicação, recorri ao expediente que não aprecio de fatiar outras gravações e amalgamá-las num só pacote. Como se isso não bastasse, ainda tive a ideia talvez infeliz de reunir a mesma obra tocada em outros instrumentos, para que os leitores-ouvintes cheguem a um veredito de qual melhor a faz soar. Não me culpem – nem culpem os sopristas, tampouco, pela intenção bem justificada de se apropriarem da única sonata para instrumento de sopro que Beethoven publicou em vida. Apresentá-la-emos com fagote, com flauta e com, pasmem, basset horn ou corno de bassetto (pois não sei qual o nome que isso tem em português – alguém me ajuda?). Sim, eu já até me antecipei a vocês e lhes disse lá em cima que não será moleza, e talvez lhes dê até gastura escutar tantas vezes a mesma peça. Acredito que aqueles que conseguirem possivelmente concluirão que qualquer uma das versões alternativas soa melhor até que a trompa – e não me espantaria se preferissem aquela com cor de basset/cuerno de bajete (será que poderia chamá-la “corne de baixete” em nossa língua?), na qual soa surpreendemente idiomática.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata em Fá maior para piano com uma trompa ou violoncelo, Op. 17
Composta em 1800
Publicada em 1801
Dedicada à baronesa Josefine von Braun

I – Allegro moderato
II – Poco adagio, quasi andante
III – Rondo – Allegro moderato

Em quatro versões:

Para violoncelo e piano (faixas 1-3)
David Geringas, violoncelo
Ian Fountain, piano

Para fagote e piano (faixas 4-6)
Rie Koyama, fagote
Clemens Müller, piano

Para flauta e piano (faixas 7-9)
Emmanuel Pahud, flauta
Éric Le Sage, piano

Para basset horn e piano (10-12)
Geert Baeckelandt, basset horn
Maiko Inoue, piano

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Para corne inglês e piano
Alexandre Oguey, corne inglês
Neal Peres da Costa, piano

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O gozadinho aqui bem que pensou em fazer um trocadilho com bassets, mas os bozos do Stadler Trio foram mais rápidos

Vassily

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Quarteto com piano em Mi bemol, Op. 16 – Robert Schumann (1810-1856) – Quarteto com piano em Mi bemol, Op. 47 – Stern – Ax – Laredo – Ma

Confesso que nunca tinha ouvido o quarteto Op. 16 – que considerava, em minha imensa ignorância, um mero arranjo do quinteto para piano e sopros que tanto aprecio. Ao escutá-lo, e muito apreciá-lo, aprendi que as duas obras foram publicadas quase que simultaneamente (o que a mim, mau sapão, deveria ter sido óbvio, por terem o mesmo número de Opus), dentro da praxe beethoveniana de tentar atingir todos os públicos para lucrar mais com suas edições, pois o quinteto, que foi um sucesso, demandava um conjunto instrumental bem mais difícil de reunir do que um quarteto com piano. Se a versão com sopros tem obviamente mais colorido timbrístico, o quarteto destaca mais a faceira parte do piano, tocada pelo próprio Beethoven na estreia e em muitas outras ocasiões. De algum modo, também, na versão sem sopros me pareceu mais evidente um grande efeito humorístico do rondó, em que as cordas parecem atrasar-se na entrada do tema.

Mesmo que não tivesse gostado do quarteto, e ainda que não me obrigasse a postá-lo por conta da proposta, da qual ainda não me arrependi (frise-se o ainda), de lhes alcançar tudo o que Ludwig publicou até do Beethoven-Tag em dezembro, eu o faria por conta dos intérpretes desta gravação, uma legião estrangeira estelar que parece divertir-se bastante com essa obra do mestre. Ao violino, o legendário Isaac Stern, nascido numa região disputada entre Polônia e Ucrânia e criado nos Estados Unidos. Seu compatriota Emanuel Ax, nascido em Lviv, então polonesa Lwów, toca a parte para piano que tanto apetecia a Beethoven. O conjunto se completa com Yo-Yo Ma – nascido de família chinesa na França, e também cidadão dos Estados Unidos – e o cochabambino Jaime Laredo, que aqui toca viola, mas distinguiu-se como violinista e, entre tantas proezas, por conseguir cair nas graças de Glenn Gould, que o escolheu como parceiro na gravação das sonatas para violino e teclado de Bach. O disco encerra com o belo quarteto que Schumann escreveu, para a mesma formação e na mesma tonalidade, naquele extraordinário 1842 em que produziu febrilmente tanta ótima música de câmara, incluindo o Quinteto, Op. 44, que, se não é gêmeo do quarteto como as duas versões do Op. 16 de Beethoven, é estreitamente próximo.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Quarteto em Mi bemol maior para piano, violino, viola e violoncelo, Op. 16
1 – Grave – Allegro ma non troppo
2 –  Andante cantabile
3 – Rondo: Allegro ma non troppo

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Quarteto em Mi bemol maior para piano, violino, viola e violoncelo, Op. 47
4- Sostenuto assai – Allegro ma non troppo
5 – Scherzo: Molto vivace – Trio I – Trio II
6 – Andante cantabile
7 – Finale: Vivace

Isaac Stern, violino
Jaime Laredo, viola
Yo-Yo Ma, violoncelo
Emanuel Ax, piano

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Ma e Ax: pequenos-grandes nomes
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Seis Quartetos para cordas, Op. 18 – Quinteto, Op. 29 – Tokyo String Quartet

Seis quartetos… de uma só vez?
Sim, era precisamente o que Ludwig planejava fazer em sua estreia no gênero mais nobre da música de câmara, sobre o qual, outra vez, faziam sombra numerosas obras-primas de Mozart e Haydn. O número de quartetos no Op. 18, logicamente, não foi por acaso: seis tinham sido os grandes quartetos que Mozart dedicara a Haydn, e que ficaram associados ao nome do dedicatário; e assim também, em grupos de seis, Haydn publicou uma boa parte de suas sessenta e quatro composições no gênero. Assim como já fizera com as sonatas para piano e os trios para piano, violino e violoncelo, calcando-se sobre modelos dos mestres para buscar uma linguagem própria, Beethoven preparou meticulosamente seus primeiros quartetos de cordas ao longo de dois anos. Quando os publicou, em 1801, através da firma daquele cidadão de incrível nome Tranquillo Mollo, a boa repercussão convenceu-o de que já tinha os dois pés firmes para galgar o último degrau de suas ambições como compositor, no qual, outra vez, trabalharia sob a sombra intimidante de Haydn e Mozart: compor uma sinfonia.

Apesar de um tanto eclipsados pelos grandes, visionários quartetos da maturidade de Beethoven, eu aprecio muito essas obras muito bem trabalhadas, especialmente a primeira – a minha favorita – e a última da série. O ótimo Tokyo String Quartet, naquela que considero ser sua melhor formação, com Peter Oundjian no primeiro violino, dá-nos uma interpretação luminosa, arejada e nada constrita, que nada fica a dever aos conjuntos de maior renome, que muitas vezes erram a mão, a meu ver, por carregarem muito na dinâmica e no individualismo das vozes, em detrimento do equilíbrio do conjunto. Completam o álbum triplo o arranjo para quarteto de cordas da Sonata Op. 14 no. 1 e o imponente quinteto para cordas, que será objeto de postagem específica, no qual ao quarteto de Tokyo se une a viola de Pinchas Zukerman.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Seis quartetos para dois violinos, viola e violoncelo, Op. 18

No. 1 em Fá maior
1 – Allegro con brio
2 – Adagio affettuoso ed appassionato
3 – Scherzo: Allegro molto
4 – Allegro

No. 2 em Sol maior
5 – Allegro
6 – Adagio cantabile
7 – Scherzo: Allegro
8 – Allegro molto quasi presto

Quarteto em Fá maior, Hess 34 (arranjo de Beethoven para a Sonata para piano em Mi maior, Op. 14 no. 1)
9 – Allegro moderato
10 – Allegretto
11 – Allegro

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Seis quartetos para dois violinos, viola e violoncelo, Op. 18

No. 3 em Ré maior
1 – Allegro
2 – Andante con moto
3 – Allegro
4 – Presto

No. 4 em Dó menor
5 – Allegro ma non tanto
6 – Andante scherzoso quasi allegretto
7 – Menuetto: Allegretto
8 – Allegro

No. 6 em Si bemol maior
9 – Allegro con brio
10 – Adagio ma non troppo
11 – Scherzo: Allegro
12 – La malinconia: Adagio
13 – Allegretto quasi allegro

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No. 5 em Lá maior
1 – Allegro
2 – Menuetto
3 – Andante cantabile (Variazioni)
4 – Allegro

Quinteto em Dó maior para dois violinos, duas violas e violoncelo, Op. 29*
5 – Allegro moderato
6 – Adagio molto espressivo
7 – Scherzo: Allegro
8 – Presto

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Tokyo String Quartet
Peter Oundjian e Kikuei Ikeda, violinos
Kazuhide Inomura, viola
Sadao Harada, violoncelo

* Pinchas Zukerman, viola

Tokyo String Quartet voltando do karaokê
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonata para trompa e piano, Op. 17 – Johannes Brahms (1833-1897) – Trio para trompa, violino e piano, Op. 40 – Nikolaus von Krufft (1779-1818) – Sonata para trompa e piano – Greer

Volta e meia o resmelengo Ludwig abria uma janela em suas preocupações habituais mais prementes para impressionar-se com alguém. Na maior parte das vezes, esse alguém trajava vestidos e anáguas, pertencia à aristocracia, e estava do outro lado de um abismo amoroso intransponível para um homem de modestas origens. Noutras, Beethoven impressionava-se com algum músico que lhe instigava a produção febrilmente rápida de alguma obra para seu instrumento – como foi com os irmãos Dupont, que inspiraram as faceiras sonatas para violoncelo do Op. 5, e com o boêmio Jan Václav Stich (1746-1803), virtuose da trompa, mais conhecido pela versão italiana de seu nome, Giovanni Punto (sim: “Stich”=”ponto”. Ponto para Stich, pela marotice – e outro para mim, pelo trocadilho).

Punto foi um dos trompistas mais influentes da história, responsável por inovações técnicas que expandiram enormemente as capacidades do instrumento – mais notadamente, o uso da mão direita dentro da campana, que permitiu ao instrumentista, pela primeira vez, produzir notas fora da série harmônica. Era um personagem pitoresco, que trazia em seu currículo uma fuga espetacular da propriedade dum nobre de quem seu pai era servo, e que deu ordens expressas de arrebentar os dentes do fujão, se capturado fosse, para que nunca mais pudesse produzir música com sua boca. Rodou todo o continente, causando sensação a cada cidade em que chegava, precedido por sua imensa fama. Beethoven, procrastinador compulsivo, prometeu-lhe uma sonata com acompanhamento de piano em poucos dias, mas só resolveu iniciá-la, no que lhe era bem típico, no antepenúltimo dia. Finalizando a parte da trompa na véspera da estreia da obra em Viena, com ele próprio ao piano, improvisou a maior parte de sua, bem, parte, de modo que, quando bisaram o último movimento, a plateia ouviu uma peça substancialmente diferente da que escutara antes. A repercussão foi boa a punto (pois eu não perderia o trocadilho) de Stich convencer o quase balzaquiano ermitão a deixar seu bastião vienense e acompanhá-lo em turnê pelo continente. No concerto seguinte, em Pest, a dupla provocou a seguinte reação de um crítico:

“Quem é esse Beethovener? [sic] Não o conhecemos. O senhor Punto, claro, é muito conhecido”

A breve parceria não iria muito longe, pois o pau comeu logo depois da apresentação em Pest. Punto, injuriado, seguiu sua trajetória rocambolesca pela Europa, enquanto “Beethovener” voltou a Viena, colocou enfim a procrastinada sonata toda na pauta e a publicou em 1800 através da firma de Tranquillo Mollo (excelente nome). O frontispício destinava-a “para piano com uma trompa ou um violoncelo”, de maneira a permitir uma maior divulgação da obra, dada a escassez de trompistas capazes de tocá-la. Sabendo de sua história, acredito que os leitores-ouvintes compartilharão comigo a impressão de que o movimento lento foi algo feito realmente às pressas, como que composto nas coxias do teatro, mesmo com a tentativa velhaca de disfarçar seu laconismo com a transição decididamente brusca para o rondó final.

A presente gravação, feita com instrumentos de época, também inclui o belo trio Op. 40 de Brahms, composto em homenagem a sua recém-falecida mãe e notório pelo maravilhoso, sentido Adagio mesto, e por uma sonata do austríaco Nikolaus von Krufft, contemporâneo de Beethoven, que também teve aulas com Albrechtsberger e, provavavelmente, também foi inspirado por Punto a escrever para seu complicado instrumento. O trompista Lowell Greer usa aqui três trompas naturais diferentes, contemporâneas de cada obra, inclusive para tocar Brahms – que prescreveu uma trompa natural para seu trio, a despeito de já haver, em sua época, trompas com válvulas, que diminuíram bastante as dificuldades em tocar passagens cromáticas.

Johannes BRAHMS (1833-1897)

Trio em Mi bemol maior para trompa, violino e piano, Op. 40
1 – Andante
2 – Scherzo
3 – Adagio Mesto
4 – Finale: Allegro con brio

Lowell Greer, trompa natural
Stephanie Chase, violino
Steven Lubin, fortepiano

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata em Fá maior para trompa e piano, Op. 17
Composta em 1800.
Publicada em 1801
Dedicada à baronesa Josefine von Braun

5 – Allegro moderato
6 – Poco Adagio, quasi Andante
7 – Rondo: Allegro moderato

Nikolaus Freiherr VON KRUFFT (1779-1818)

Sonata em Fá maior para trompa e piano
8 – Allegro moderato
9 – Andante espressivo
10 – Rondo: Alla Polacca

Lowell Greer, trompa natural
Steven Lubin, fortepiano

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“Giovanni O QUÊ?”
#BTHVN250, por René Denon


Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Quinteto para piano e sopros, Op. 16 – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Quinteto para piano e sopros, K. 452 – Sinfonia Concertante, K. 297b – Gieseking – Philarmonia Wind Ensemble – Karajan

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Quinteto para piano e sopros, Op. 16 – Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Quinteto para piano e sopros, K. 452 – Sinfonia Concertante, K. 297b – Gieseking – Philarmonia Wind Ensemble – Karajan

Assim como com os concertos para piano e orquestra, qualquer um que propusesse um quinteto para piano e sopros no final do século XVIII teria um imenso fantasma a assombrá-lo: o de Mozart, que compusera para o gênero uma obra-prima, em Mi bemol maior. Beethoven, sempre disposto a calcar-se em modelos do passado para buscar sua própria linguagem, não só se dispôs a escrever um quinteto para piano e sopros, como o fez para o mesmo conjunto e na mesma tonalidade que o do mestre de Salzburg, num gesto quase confesso de que nele buscava não só inspiração, mas que com ele pretendia ser cotejado.
A gravação que lhes apresento presta-se muito bem aos intentos de Lud Van: o quinteto de Mozart a abre, ao segue a contraparte de Beethoven. A comparação tenderia a ser bastante cruel com a obra do mestre mais jovem, pois o K. 452 é daquela sorte de eufonia mozartiana tão difícil de igualar que o próprio autor a considerou, em carta ao pai, uma das melhores coisas que já escrevera. O Op. 16, entretanto, é atraente pelo uso imaginativo dos sopros, prenúncio do uso revolucionário que Beethoven faria deles em suas obras orquestrais vindouras.
A maior atração deste registro de 1956, com som apenas razoável, são seus intérpretes. Os sopros – oboé, clarinete, trompa e fagote – são tocados pelos primeiros músicos de seus naipes na Philharmonia Orchestra sob a égide de Karajan, incluindo o legendário Dennis Brain, para muitos o mais influente trompista desde Giovanni Punto – de quem voltaremos a falar na postagem de amanhã -, que infelizmente morreria muito jovem no ano seguinte, deixando uma série de gravações paradigmáticas do repertório concertístico para seu instrumento. Ao piano, uma outra lenda: Walter Gieseking – que, assim como Karajan e Furtwängler, enfrentou sanções por seu envolvimento com o Partido Nazista e buscou guarida artística, como os outros dois, junto a Walter Legge, à EMI e à Philharmonia. No último ano de sua vida, o grande intérprete alemão dá-nos uma lição da elegância que marcou suas interpretações de Bach, Mozart e Beethoven. O álbum encerra com a sinfonia concertante que Mozart teria escrito (pois a autenticidade da obra é muito controversa) para o mesmo quarteto de sopros e orquestra, sob a direção de Karajan, que reforça a impressão que o colega Pleyel mui apropriadamente apontou acerca das interpretações dos quintetos: “a gravação tem a estética de Karajan transposta para a música de câmara: tudo suave, contínuo, sem cortes, quase pecando por excesso de brilho”.

Ditto.

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Quinteto para piano, oboé, clarinete, trompa e fagote em Mi bemol maior, K. 452
1 – Largo – Allegro moderato
2 – Larghetto
3 – Allegretto

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Quinteto para piano, oboé, clarinete, trompa e fagote em Mi bemol maior, Op. 16
Composto entre 1796-1797
Publicado em 1801
Dedicado ao príncipe Joseph zu Schwarzenberg

4 – Grave – Allegro ma non troppo
5 –  Andante cantabile
6 – Rondo: Allegro ma non troppo

Walter Gieseking, piano
Philharmonia Wind Ensemble: 
Sidney Sutcliffe, oboé
Bernard Walton, clarinete
Dennis Brain, trompa
Cecil James, fagote

Atribuída a Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)

Sinfonia Concertante em para piano, oboé, clarinete, trompa e fagote em Mi bemol maior, K. 297b
7 – Allegro
8 – Adagio
9 – Andante con variazioni

Sidney Sutcliffe, oboé
Bernard Walton, clarinete
Dennis Brain, trompa
Cecil James, fagote
Philharmonia Orchestra
Herbert von Karajan, regência

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Walter refletindo sobre seu voto em 1933

Vassily

[Restaurado] BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concertos para piano e orquestra, Opp. 15 & 19 – Argerich – Sinopoli

Enfim, concertos para piano – e Ludwig deve ter pensado o mesmo quando publicou esses dois, em 1801. Ele já os vinha tocando havia algum tempo, em seu afã de consolidar-se em Viena como um compositor-virtuose ao feitio do jovem Mozart, cujos extraordinários concertos para piano pairavam intimidadoramente sobre qualquer desgraçado que se aventurasse pelo gênero. Era fundamental que um postulante ao panteão do teclado tivesse seus cavalos de batalha, e por isso Lud Van pariu cuidadosamente estes dois, após longa e insegura gestação. Percebam que eu não os numerei no título, enquanto lhes explico: além de nenhum deles ter sido o primeiro concerto escrito por Beethoven – distinção que cabe a um concerto em Mi bemol (WoO 4), composto ainda na adolescência e do qual restou apenas a parte para piano -, o primeiro a ser publicado foi o segundo a ser estreado, e vice-versa. Assim, o concerto Op. 15, composto em 1795, foi estreado nove meses depois do Op. 19, que marcou a estreia pública de Beethoven como pianista em Viena e já vinha sendo esboçado desde os tempos de Bonn. Embora baseiem-se firmemente em modelos de Haydn e Mozart, há amplos toques beethovenianos nas modulações inesperadas e mudanças bruscas de humor, e na escrita pianística, tão brilhante quanto a que se esperaria duma obra composta para pavonear sua capacidade ao teclado. O compositor legou-nos suas próprias cadências para as obras, que são as utilizadas na presente gravação e nos dão um sabor de seu talento improvisatório – que, junto com a prestidigitação pianística, era o que mais incensava a fama do rapaz antes de se firmar como compositor.

Cada vez que escuto Martha Argerich tocar esses concertos, fico pensando o quanto o Beethoven garotão não se reconheceria temperamento artístico sanguíneo e nas execuções exuberantes da deusa portenha do piano. Suas interpretações lideram minha preferência, ainda que reconheça suas idiossincrasias, e muito embora prefira suas gravações com Abbado, já publicadas aqui. A Philharmonia Orchestra sob Giuseppe Sinopoli, um regente muito especial, corresponsável por uma das mais belas gravações do concerto para violino do renano, aqui aparece meio apagada, sem muito brilho, sensação reforçada pelo som cavernoso da gravação. Mas Martha, asseguro-lhes, como sempre vale o download.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto para piano e orquestra em Dó maior, Op. 15
(cadências de Beethoven)
Composto em 1795
Publicado em 1801
Dedicado à princesa Anna Louise Barbara Odescalchi

1 – Allegro con brio
2 – Largo
3 – Rondo. Allegro scherzando

Concerto para piano e orquestra em Si bemol maior, Op. 19
(cadências de Beethoven)
Composto em 1787-1789, revisado em 1795
Publicado em 1801
Dedicado a Carl Nicklas von Nickelsberg

4 – Allegro con brio
5 – Adagio
6 – Rondo: Molto allegro

Martha Argerich, piano
Philharmonia Orchestra
Giuseppe Sinopoli, regência

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Marthita, nossa deusa, toca estes concertos desde que se conhece por gente: ei-la,
aos oito anos, interpretando o concerto no. 1 sob a regência de Alberto Castellanos

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

[restaurado por Vassily em 5/6/2021, em homenagem aos oitenta anos da Rainha!]

 

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano Opp. 14, 26 e 28 – Perahia

Depois de alguns de vocês transformarem-me em bonequinho de voodoo por ter trazido duas postagens em sequência com pianistas malditos na interpretação de Beethoven, redimo-me em alto estilo enquanto desinfeto as agulhadas. Ninguém me espetará, espero, por postar Murray Perahia. Sua seleção de repertório para esta gravação é perfeita: abre com a sonata em Lá bemol maior, com suas belíssimas variações iniciais e a marcha fúnebre, prossegue com o par de diminutas sonatas do Op. 14, e encerra com a majestosamente serena sonata Op. 28, alcunhada “Pastoral”.

Depois do sucesso da predecessora “Patética”, Beethoven publicou duas sonatas muito curtas e contrastantes. A primeira do Op. 14 é tecnicamente facílima – provavelmente pensada na execução por amadores – e de escritura muito transparente, e não surpreende que o autor a tenha transcrito para quarteto de cordas dois anos depois. A segunda é composicionalmente mais complexa, cheia de surpresas e mudanças harmônicas, e está distante das mãos dos diletantes. Já a belíssima e bem acabada sonata “Pastoral” (outra das alcunhas atribuídas por editores que não tiveram a anuência de Beethoven), assim chamada talvez por seu caráter idílico, sem grandes dramas e tensões, ou pelo uso de bordões no baixo, é uma das minhas favoritas. Concluída e publicada no mesmo 1801 que testemunhou a saída das prensas da sonata Op. 26 e das duas do Op. 27, é um encerramento apropriado para essa tetralogia incomum para o compositor, que nunca mais comporia tantas sonatas para piano em tão pouco tempo. Mais que isso, demonstra, pelos contrastes vivos entre quatro obras de tanta qualidade, que o melhor pianista de Viena também já era, com folgas, seu maior compositor.

A leitura de Perahia, que muito me agrada, atenua a dramaticidade de movimentos como a “Marcia Funebre” da Op. 26 em prol de humor, que permeia todo o recital e lhe instila um convincente senso de continuidade – uma proposta de interpretação totalmente diferente daquela de Horowitz, que foi muito próximo de Perahia na velhice e lhe serviu, como não poderia deixar de ser, de profunda inspiração.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Lá bemol maior, Op. 26, “Marcha Fúnebre”
Composta em 1800-1801
Publicada em 1801
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

1 –  Andante con variazioni
2 – Scherzo. Molto allegro
3 – Marcia funebre sulla morte d’un eroe
4 –  Allegro

Duas sonatas para piano, Op. 14
Compostas em 1798-1799
Publicadas em 1799
Dedicadas à baronesa Josefa von Braun

No. 1 em Mi maior
5 – Allegro
6 – Allegretto – Trio
7 – Rondo. Allegro comodo

No. 2 em Sol maior
8 – Allegro
9 – Andante
10 – Scherzo. Allegro assai

Sonata para piano em Ré maior, Op. 28, “Pastoral”
Composta em 1800-1801
Publicada em 1801
Dedicada ao conde Joseph von Sonnenfels

11 – Allegro
12 – Andante
13 – Scherzo. Allegro vivace
14 – Rondo. Allegro ma non troppo

Murray Perahia, piano

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Volodya mandando vocês espetarem as orelhas de seu bonequinho de voodoo

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para piano Opp. 13, 10 no. 3 e 57 – Horowitz

Depois de Gould, Horowitz.

Minha determinação em ganhar um lugar de honra no Livro do Ódio de vós outros certamente será premiada depois que eu lhes trouxer mais um entre os grandes pianistas mais malditos do século XX para tocar neste Festival Beethoven. E começo afirmando-lhes que, por tudo que sobre ele li, Horowitz detestava Beethoven – o que provou gravando-o pouquíssimo e banindo-o de seus recitais por uma boa parte da carreira. Não o entendia e tinha ranços em tentar imprimir sentido no que chamava de “bagunça sonora” do renano. Ademais, as obras principais do mestre alemão, ainda que tecnicamente muito difíceis, não lhe permitiam momentos de bravado para seduzir com seus muitos truques pianísticos as plateias. Não foi à toa, portanto, que uma das poucas obras de Beethoven que tocava com certa frequência e gravou mais de uma vez foi a sonata Op. 57, a “Appassionata”, que muito se presta àqueles momentos horowitzianos que seus admiradores tanto apreciam em obras de Rachmaninov e Scriabin.

Não há como saber se a recíproca, se Vladimir e Ludwig tivessem sido contemporâneos, seria verdadeira. Todavia, qualquer pessoa que já tentou produzir sons com um teclado admira a maestria de Horowitz em fazê-lo, por maiores que sejam as restrições que tenha ao restante de suas qualidades de intérprete. Não são poucos os pianistas do panteão que o consideram o maior de todos que ouviram – a deusa Martha Argerich, por exemplo -, embora seja igualmente fácil reconhecer que suas interpretações de boa parte do repertório, Beethoven incluso, pareçam priorizar o momento, o detalhe, e o colorido à estrutura das peças, qualidades que certamente o fariam cair em desgraça junto a Ludwig, que tinha profundo desdém por tal abordagem, manifesto muitas vezes acerca de virtuoses itinerantes que volta e meia tentavam, sem sucesso, arrebatar-lhe a posição de melhor pianista de Viena

Posto isso, e gasturas que vocês possam ter com Horowitz à parte, acredito que sua leitura para a sonata Op. 13, cognominada “Patética” pelo editor da obra, seja a melhor das que fez para o punhado de sonatas do renano que levou a disco. Acho que seu estilo é bem apropriado para o primeiro movimento, ao sublinhar seus contrastes, e acho difícil alguém fazer o teclado cantar como Horowitz o faz no célebre Adagio cantabile. Ademais, a peça é concisa o bastante para que a encerre convincentemente, sem incorrer nas inconsistências de andamento que tanto criticam nele. Completam o disco uma gravação muito boa da terceira sonata do Op. 10, em que as inconsistências supracitadas talvez apareçam (não que eu ligue para elas), e a já mencionada sonata “Appassionata”, em que Horowitz está um pouco mais próximo de seu quintal.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata para piano em Dó menor, Op. 13, “Patética”
Composta em 1798
Publicada em 1799
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky

1 – Grave – Allegro di molto e con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Rondo: Allegro

Três sonatas para piano, Op. 10 – No. 3 em Ré maior
Composta e publicada em 1798
Dedicada à condessa Anne Margarete von Browne

4 – Presto
5 – Largo e mesto
6 – Menuetto: Allegro
7 – Rondo: Allegro

Sonata para piano em Fá menor, Op. 57, “Appassionata”
Composta entre 1804-1805
Publicada em 1807
Dedicada ao conde Franz von Brunswick

8 – Allegro assai
9 – Andante con moto
10 – Allegro ma non troppo – Presto

Vladimir Horowitz, piano

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Lud Van emergindo de seu congelamento em carbonita para invadir a tumba de Vladimir Samoylovich e quebrar-lhe os ossos
#BTHVN250, por René Denon

Vassily

 

 

BTHVN250 – A Obra completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sonatas para violino e piano, Op. 12 – Kavakos – Pace

Se apreciadas no contexto da evolução de Beethoven como compositor, muito evidente nas obras solo para piano, as melífluas sonatas para violino do Op. 12 podem parecer até um retrocesso: clássicas, bem no prumo das de Mozart, sem sobressaltos, soam até mais antigas que aquelas para violoncelo do Op. 5, compostas dois anos antes.  Diferentemente destas, frutos do contato com virtuoses numa corte real, e das sonatas para violino Op. 47 (a “Kreutzer”) e a Op. 96, dedicadas a solistas ilustres, as Op. 12 não tinham intérpretes específicos em vista, tampouco grandes pretensões – como atesta seu frontispício, aliás, que as descreve sem-cerimoniosamente como “sonatas para o pianoforte ou cravo, com acompanhamento de um violino”. Dedicando-as ao ainda muito influente Antonio Salieri, com quem pretendia estudar, Beethoven provavelmente quis fazer bom cartaz, pisando terreno firme e não ferindo as sensibilidades do velho professor. Parece que funcionou: em dois anos, ele iniciaria seus estudos com Salieri, dentro de seu projeto de fazer fortuna escrevendo óperas em italiano.

Uma das poucas dificuldades de escrever aqui no PQP Bach é tentar trazer novidades relevantes a um acervo gargantuano alimentado cotidianamente diariamente por colegas com tão fino gosto quanto apetite pantagruélico por novidades fonográficas. Quase todas minhas versões preferidas das sonatas para violino já estavam aqui – mas faltava essa, com o ateniense de ouro, Leonidas Kavakos, e o riminese Enrico Pace, talvez de todas a mais lindamente burilada e de articulações mais trabalhadas, que ficam ainda mais notáveis em função dos andamentos mais lentos escolhidos pela dupla. Kavakos é capaz de todas virtuosidades, mas aqui prefere privilegiar o timbre – e o seu, em minha desimportante opinião, é o mais belo entre os de todos violinistas em atividade. O som de seu Stradivarius é tão lindo que a gente nem liga para a alegada banalidade que os críticos, que desde o final do século XVIII já esperavam novidades de Beethoven, apontaram nessas sonatas – nós as ouvimos entre sorrisos, e só capazes de pensar nas próximas.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Três sonatas para violino e piano, Op. 12
Compostas entre 1797-1798
Publicadas em 1798
Dedicadas a Antonio Salieri

Sonata no. 1 em Ré maior

1 – Allegro con brio
2 – Tema con variazioni: Andante con moto
3 – Rondo: Allegro

Sonata no. 2 em Lá maior

4 – Allegro vivace
5 – Andante, più tosto allegretto
6 – Allegro piacevole

Sonata no. 3 em Mi bemol maior

7 – Allegro con spirito
8 – Adagio con molta espressione
9 – Rondo: Allegro molto

Leonidas Kavakos, violino
Enrico Pace, piano

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Pace, Kavakos e Stradivarius

Vassily

BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Trios para clarinete, violoncelo e piano, Opp. 11 (“Gassenhauer”) & 38 – Beethoven Trio

As duas obras para trio que hoje apresentamos são mais conhecidas em outras roupagens. O Op. 11 foi concebido para clarinete, na tonalidade de si bemol que lhe é tão confortável, mas rapidamente acomodado numa versão com violino, instrumento mais encontradiço, já publicada nesta série. Depois que o ouvimos com clarinete, entretanto, fica difícil escutar as passagens tão idiomáticas que Beethoven lhe escreveu em qualquer outro timbre. A alcunha “Gassenhauer” traduz-se, grosso modo, como “sucesso popular” (hit ou Schlager), no sentido das canções pegajosas cantaroladas por todos nas ruelas (Gassen, em alemão) – no caso, a ária “Pria ch’io l’impegno”, da ópera “L’amor marinaro ossia Il corsaro” de Joseph Weigl, um tremendo sucesso na Viena da época que foi amplamente usado como tema para obras com variações. O trio em si garante alguns minutos agradáveis, se não exatamente memoráveis – embora, e fica aqui a advertência, a tal “Gassenhauer” seja realmente MUITO grudenta.

O trio Op. 38, por sua vez, é uma versão do próprio compositor para o seu bem-sucedido septeto, Op. 20, arranjada para um conjunto instrumental mais econômico. O tal septeto fez tanto sucesso que Beethoven chegou a irritar-se com a imensa demanda por ouvi-lo em toda parte, e em diferentes arranjos, por considerar que compusera coisas muito melhores. Além da versão para clarinete, há outra para violino, violoncelo e piano, cujo dia também chegará por aqui.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Trio em Si bemol maior para clarinete, piano e violoncelo, Op. 11, “Gassenhauer”
Composto em 1797
Publicado em 1798
Dedicado a
Maria Wilhelmine von Thun

1 – Allegro con brio
2 – Adagio
3 – Tema con variazioni (“Pria ch’io l’impegno”: Allegretto)

Trio em Mi bemol maior para clarinete, piano e violoncelo, Op. 38
Composto entre 1799-1800 (versão original do septeto, Op. 20)
Arranjado e publicado como trio em 1805
Dedicado à imperatriz Maria Theresia

4 – Adagio – Allegro con brio
5 – Adagio cantabile
6 – Tempo di menuetto
7 – Tema con variazioni: Andante
8 – Scherzo: Allegro molto e vivace
9 – Andante con moto alla marcia – Presto

Beethoven Trio
Raffaele Bertolini, clarinete
Silvano Fusco, violoncelo
Marco Schiavo, piano

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Joguei “Gassenhauer” no Google – e foi isso que me apareceu

Vassily

 

Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Sonatas e Partitas para violino solo, BWV 1001-1006 – James Ehnes

Parem tudo o que estão fazendo e ouçam isso. Não exagero: eu parei minha série de postagens da obra completa de Beethoven em pleno Ano Beethoven, e acho que Ludovico não se chatearia com a reverência ao demiurgo João Sebastião, recriado pelo talento do mais fascinante dos violinistas em atividade, o canadense James Ehnes. Atentem para os andamentos mais lentos que o habitual, que permitem à linda entonação de Ehnes destacar as diversas vozes com clareza, particularmente nas fugas. Percebam seu uso comedido do vibrato, tão em desuso nessa era de preferências historicamente informadas, que nem de longe descamba para romantismo ou, menos ainda, sacarose sentimental. Maravilhem-se com momentos como o prelúdio da terceira partita, que cintila e efervesce. E – nem sei o que lhes dizer – SINTAM nessa Chacona, também mais lenta que o costumeiro, o domínio absoluto que Ehnes tem sobre tudo, e sobretudo ao pulso do tempo, enquanto desenrolam-se as engenhosas variações na criação instrumental suprema de Bach. Eu fui fisgado logo no primeiro acorde da primeira sonata, e só parei de ouvir muito depois da última partita terminar, para então colocar novamente a Chacona para conseguir acreditar no que meus sentidos me diziam: que aquela era a mais bela versão das sonatas e partitas que conheci na última década, e certamente uma das melhores que jamais existirão.

Johann Sebastian BACH (1685-1750)

J. S. BACH – THE SIX SONATAS & PARTITAS FOR SOLO VIOLIN – JAMES EHNES

DISCO 1

Sonata no.1 em Sol menor para violino solo, BWV 1001
1 – Adagio
2 – Fuga
3 – Siciliana
4 – Presto

Partita no.1 in Si menor para violino solo, BWV 1002
5 – Allemanda
6 – Double
7 – Corrente
8 – Double
9 – Sarabande
10 – Double
11 – Tempo di Borea
12 – Double

Sonata no.2 in Lá menor para violino solo, BWV 1003
13 – Grave
14 – Fuga
15 – Andante
16 – Allegro

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DISCO 2

Partita no. 2 em Ré menor para violino solo, BWV 1004
1 – Allemanda
2 – Corrente
3 – Sarabanda
4 – Giga
5 – Ciaccona

Sonata no.3 em Dó maior para violino solo, BWV 1005
6 – Adagio
7 – Fuga
8 – Largo
9 – Allegro assai

Partita no.3 em Mi maior para violino solo, BWV 1006
10 – Preludio
11 – Loure
12 – Gavotte en Rondeau
13 – Menuet I
14 – Menuet II
15 – Bourrée
16 – Gigue

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James Ehnes, violino

Ehnes e seu Stradivarius, preparando-se para enfeitiçar vocês

Vassily