Handel escreveu muitíssimas óperas e, como ela não são tudo isso para serem ouvidas completas, há inúmeros bons discos de highlights. Este é excelente. Boas cantoras, boa orquestra e direção. Ouvi com extremo interesse e prazer. As árias e duetos deste CD foram cuidadosamente selecionadas de dez óperas menos conhecidas de Handel. Alessandrini explica: “Tivemos o cuidado de evitar os títulos mais conhecidos e manter o contraste de um número para outro. E mantivemos os recitativos, de modo a colocar os personagens no contexto dramático da ópera e definir o humor dominante de cada ária”. Valeu a pena.
Gosto muito dessas obras de Grieg para orquestra de cordas. É claro que uma versão norueguesa tem mais valor, tanto que o disco está com 5 estrelas em várias publicações. A qualidade do som é de primeira linha, e os músicos (Barratt-Due e Oslo Camerata) são extraordinários. Grieg era um nacionalista dos bons e promoveu a música norueguesa através de concertos e aulas. Como curiosidade, ele tem uma relação de parentesco com Glenn Gould. Grieg é um tio afastado do pianista canadense. O parentesco vem por parte de mãe.
Edvard Grieg (1843-1907): Música para Orquestra de Cordas
Holberg Suite, Op. 40 (From Holberg’s Time: Suite in the Olden Style)
1. I. Prelude: Allegro vivace 00:02:35
2. II. Sarabande: Andante 00:03:24
3. III. Gavotte: Allegretto – Musette: Poco più mosso 00:03:15
4. IV. Air: Andante religioso 00:05:28
5. V. Rigaudon: Allegro con brio – Poco meno mosso 00:03:53
O basco Juan Crisóstomo de Arriaga não chegou a completar 20 anos. Morreu alguns dias antes de fazê-lo. Era chamado de o “Mozart Basco” ou “Mozart Espanhol” em razão de sua precocidade. Sua música não é lá tão esplêndida assim. Estilisticamente, está entre a tradição clássica de Haydn e Mozart e o romantismo de Rossini e Schubert. Como sempre, Savall e suas orquestras dão um show de competência. O moço era violinista, como pode-se notar em alguns solos, principalmente na Abertura-Nonetto. Imaginem que sua ópera Os Escravos Felizes (?) foi escrita e produzida quando Arriaga tinha apenas 14 anos!
Juan Crisóstomo de Arriaga (1806-1826): L’Oeuvre Orchestrale
Symphonie à Grand Orchestre En Ré:
1. Adagio-Allegro Vivace-Presto
2. Sym in D: Andante
3. Sym in D: Minuetto: Allegro-Trio
4. Sym in D: Allegro Con Moto
5 Los Esclavos Felices, Ouverture Pastorale
6 Ouverture Opus 1 “Nonetto”
La Capella Reial de Catalunya
Le Concert des Nations
Jordi Savall
A Pequena Missa Solene de Rossini é, em minha opinião, uma das melhores músicas já compostas. Aqui, recebe tratamento especialíssimo de Marcus Creed num dos 29 históricos CDs que foram escolhidos para comemorar os 50 anos da notável gravadora Harmonia Mundi. É para se ouvir de joelhos. Não por Deus, mas pela religião da música mesmo. Escrita para um agrupamento inacreditavelmente pequeno de coro, solistas, 2 pianos e harmônica, a Missa parece destinada ao riso. Mas isto só até a música começar. A abertura, utilizada com notável sensibilidade por Pedro Almodóvar em seu filme A Má Educação (cena das crianças fazendo ginástica na escola, lembram?), é linda e tem a propriedade de instalar-se em nossa cabeça de uma forma difícil de controlar…
Meu amigo Milton Ribeiro escreveu uma pequena história protagonizada por esta música. Durante o conto, ele explica, de forma sucinta, as circunstâncias de sua composição.
Todos os Pecados Perdoados
Dedicado a Fernando Monteiro
Eu estava estudando na Itália, mas o tema de maior interesse, aquele sobre o qual me debruçava com verdadeira afeição, era Antonella, minha pequena e saltitante romana. Um dia, tivemos uma discussão acerca de algumas grosserias que, segundo ela, eu cometera, e ela rompeu nossa ligação.
Dias depois, telefonei-lhe e convidei-a para assistirmos à Pequena Missa Solene de Rossini, que seria apresentada na Parrocchia dell’Assunzione, no Tuscolano. Depois de alguma hesitação e surpresa – ela não esperava uma ligação minha, ainda mais sem referências a nosso impasse -, ela aceitou. Antonella amava a música de tal forma que eu não tinha como saber se a aceitação do convite significava um perdão ou a mera impossibilidade de recusar a Missa de Rossini.
Caminhamos lado a lado, sem nos tocarmos. Tive todo o cuidado em ser verbalmente o mais gentil com ela, já que as circunstâncias não permitiam nada além. Quando a Missa começou, ela se riu. Disse em meu ouvido que achara engraçada a pobre instrumentação que Rossini utilizara. Passaram-se alguns minutos e notei que Antonella estava muito emocionada. Abracei-a e ela apoiou sua cabeça em meu peito. Enquanto lhe acariciava o rosto, sentia suas lágrimas molhando meus dedos. Soube que estava perdoado.
Rossini começou a escrever música muito jovem. Era prolífico e compunha, em média, duas óperas por ano. Então, aos 37 anos – enfadado do freqüente contato com cantores temperamentais e diretores de teatro ainda piores -, parou de trabalhar seriamente com música, tornando-a um divertimento pessoal. Riquíssimo e célebre, dedicou-se ao lazer e a um irônico e gentil convívio com todos, itens nos quais era mestre. Costumava promover freqüentes festas em sua casa. Ali, bebia-se champanhe, vinho, comia-se esplendidamente e ouvia-se música. Às vezes, Rossini apresentava ao piano peças de um certo compositor anônimo… O compositor ressurgiu surpreendentemente aos setenta e poucos anos publicando duas extraordinárias peças sacras – o Stabat Mater e a Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) -, além de peças para piano. Tais obras foram agrupadas sob o título genérico de Péchés de vieillesse.
Fomos a meu apartamento, onde nos amamos e dormimos como fazem os casais. Quando acordei, não vi Antonella. Havia somente um bilhete em italiano sobre meu criado-mudo. Meu amigo, fomos engolfados por um dos “pecados da velhice” de Rossini. O que aconteceu não tem relação nenhuma com nossa situação. Não me procure mais. Antonella.
Nunca mais vi minha pequena Antonella. Porém, ontem, recebi de um amigo uma gravação da Missa de Rossini. Comecei a ouvi-la, mas logo certo pudor fez-me interromper a audição. Deixei todos dormirem para religar o aparelho de som. Então, enquanto minha mulher dormia, ouvi toda a gloriosa Missa, imóvel, sentado no escuro, sentindo a presença de minha adorável Antonella e de uma possibilidade perdida.
Gioacchino Rossini – Pequena Missa Solene
1. Kyrie I. Kyrie 2:27
2. Kyrie II. Christe 1:49
3. Kyrie III. Kyrie 2:22
4. Gloria I. Gloria in excelsis Deo 0:37
5. Gloria II. Laudamus te 1:46
6. Gloria III. Gratias 4:45
7. Gloria IV. Domine Deus 5:37
8. Gloria V. Qui tollis 6:21
9. Gloria VI. Quoniam 7:32
10. Gloria VII. Cum Sancto Spiritu 5:33
11. Credo I. Credo in unum Deum 4:14
12. Credo II. Crucifixus 3:18
13. Credo III. Et resurrexit 4:51
14. Credo IV. Et vitam venturi 4:05
15. Prélude religieux (pendant l’Offertoire) 7:38
16. Ritournelle 0:33
17. Sanctus 3:53
18. O salutaris 5:27
19. Agnus Dei 7:25
Artist(s): Krassimira Stoyanova, Birgit Remmert, Steve Davislim, Hanno Müller-Brachmann,
RIAS Kammerchor
Marcus Creed
Um Réquiem (do latim requiem, acusativo de requies, “descanso”) ou Missa de Réquiem, também conhecida como “Missa para os mortos” (do latim: Missa pro defunctis) ou “Missa dos mortos” (do latim: Missa defunctorum), é uma Missa da Igreja Católica oferecida para o repouso da alma ou alma de uma ou mais pessoas falecidas, usando uma forma particular do Missal Romano. É frequentemente, mas não necessariamente, celebrada no contexto de um funeral. O termo também é usado para cerimônias semelhantes além da Igreja Católica Romana, especialmente no ramo anglo-católico do Anglicanismo e em certas igrejas luteranas. Um serviço similar, com uma forma de ritual e textos totalmente diferente, existe também na Igreja Ortodoxa e Igrejas Católicas orientais, bem como na Igreja Metodista.
Talvez seja fácil lembrar dos principais Réquiens da música erudita: Brahms, Mozart, Verdi, Fauré, Britten, talvez Saint-Säens. São obras de tal qualidade que já conheci gente devota de cada uma delas. Conheci um velho médico que disse ouvir o Réquiem de Verdi todos os dias… Todos os dias… Verdade ou não, esta gravação de Maazel talvez fizesse sua alegria, apesar de menos “operática” (como disse um comentarista da Amazon) e dramática que o habitual. Eu gostei muito.
Giuseppe Verdi (1813-1901): Réquiem (Maazel)
CD 1
01 – Messa da Requiem, I. Requiem & Kyrie
02 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Dies irae
03 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Tuba mirum
04 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Liber scriptus
05 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Quid sum miser
06 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Rex tremendae
07 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Recordare
08 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Ingemisco
09 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Confutatis
10 – Messa da Requiem, II. Sequentia- Dies irae – Lacrymosa
CD2
01 – Messa da Requiem, III. Offertorio – Domine Jesu Christe
02 – Messa da Requiem, III. Offertorio – Hostias
03 – Messa da Requiem, IV. Sanctus
04 – Messa da Requiem, V. Agnus Dei
05 – Messa da Requiem, VI. Lux aeterna
06 – Messa da Requiem, VII. Libera me – Libera me
07 – Messa da Requiem, VII. Libera me – Dies irae
08 – Messa da Requiem, VII. Libera me – Libera me
Hummel não foi genial. Foi um bom compositor que seria mais famoso se não tivesse nascido na época de Haydn, Mozart, Beethoven e outros. Escreveu um belo Concerto para Trompete e Orquestra que está consolidado no repertório de nossa época. Este disco mostra com boa dose de exatidão quem ele foi: um brilhante concertista. Tem que ser bom pianista para interpretar estes concertos que, no entanto, carecem de transcendência. Amigo de Beethoven e aluno de Mozart, Hummel merece ser conhecido, mas não creio que será alvo de grandes paixões.
Johann Nepomuk Hummel (1778-1837): Piano Concertos / Theme and Variations
1 Piano Concerto in F Major, Op. posth. 1: I. Allegro moderato 13:46
2 Piano Concerto in F Major, Op. posth. 1: II. Larghetto 6:31
3 Piano Concerto in F Major, Op. posth. 1: III. Finale: Allegro con brio 8:05
4 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Theme 1:10
5 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 1 1:09
6 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 2 1:09
7 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 3: Sostenuto ed espressivo 2:31
8 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 4 1:03
9 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 5 1:04
10 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 6: Poco larghetto con espressione 3:47
11 Theme and Variations in F Major, Op. 97: Variation 7: Allegretto – Cadenza – Tempo I 4:09
12 Piano Concerto in A Major, WoO 24, S4: I. Allegro 9:43
13 Piano Concerto in A Major, WoO 24, S4: II. Romanze: Adagio 6:34
14 Piano Concerto in A Major, WoO 24, S4: III. Rondo 6:58
London Mozart Players
Howard Shelley, piano e regência
Mais uma espetacular gravação barroca das Sonatas e Partitas para Violino Solo de Bach. Tão boa quanto as melhores como as de Amandine Beyer (campeã), John Holloway e Christine Busch. Trata-se de excelente performance historicamente informada que vai para a frente de minha fila. Muita imaginação, excelente qualidade de som, tudo aqui é soberbo. O período das interpretações duras com instrumentos originais vai longe e só um desinformado pode querer ouvir as velhas gravações de Menuhin, Szeryng ou Grumiaux. Vocês sabem que eu ouvi muitos registros dessas peças. Achei o som de Podger é muito especial e sua interpretação sublime, hipnotizante. Tudo é quente e convincente. Resumindo, qualquer amante de Bach deve ter esses CD’s em sua coleção.
“Quanto maior o intervalo, maior será o ar entre as notas”.
No clipe abaixo, Rachel Podger orienta Violetta Barrena na leitura do Chaconne da Partita Nº 2 de Bach para violino, trabalhando a articulação de acordo com tratados barrocos sobre interpretação. Gravado no Three Choirs Festival, Hereford. A masterclass completa de 159 minutos está disponível para compra.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Sonatas & Partitas Completas pata Violino Solo
1. Sonata for solo violin No. 1 in G minor, BWV 1001: Adagio
2. Sonata for solo violin No. 1 in G minor, BWV 1001: Fuga
3. Sonata for solo violin No. 1 in G minor, BWV 1001: Siciliano
4. Sonata for solo violin No. 1 in G minor, BWV 1001: Presto
5. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Allemanda
6. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Double
7. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Corrente
8. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Double
9. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Sarabande
10. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Double
11. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Tempo di Bourrée
12. Partita for solo violin No. 1 in B minor, BWV 1002: Double
13. Partita for solo violin No. 2 in D minor, BWV 1004: Allemanda
14. Partita for solo violin No. 2 in D minor, BWV 1004: Corrente
15. Partita for solo violin No. 2 in D minor, BWV 1004: Sarabanda
16. Partita for solo violin No. 2 in D minor, BWV 1004: Giga
17. Partita for solo violin No. 2 in D minor, BWV 1004: Ciaccona
1. Partita for solo violin No. 3 in E major, BWV 1006: Preludio
2. Partita for solo violin No. 3 in E major, BWV 1006: Loure
3. Partita for solo violin No. 3 in E major, BWV 1006: Gavotte en Rondeau
4. Partita for solo violin No. 3 in E major, BWV 1006: Menuet 1, 2
5. Partita for solo violin No. 3 in E major, BWV 1006: Giga
6. Sonata for solo violin No. 2 in A minor, BWV 1003: Grave
7. Sonata for solo violin No. 2 in A minor, BWV 1003: Fuga
8. Sonata for solo violin No. 2 in A minor, BWV 1003: Andante
9. Sonata for solo violin No. 2 in A minor, BWV 1003: Allegro
10. Sonata for solo violin No. 3 in C major, BWV 1005: Adagio
11. Sonata for solo violin No. 3 in C major, BWV 1005: Fuga
12. Sonata for solo violin No. 3 in C major, BWV 1005: Largo
13. Sonata for solo violin No. 3 in C major, BWV 1005: Allegro Assai
Este CD é finalizado com uma palestra explicativa de Leonard Bernstein sobre a música de Ives e sua posição dentro da cultura norte-americana e mundial. Só isso já vale o CD. Abaixo, copio um belo texto de Eduardo Prjadko (roubado quase completo da excelente Obvious) sobre o mesmo assunto.
Ivesfoi um compositor anônimo em sua época. Era dono de uma empresa de seguros em Nova York e teve uma vida abastada, mas nas horas vagas era compositor. Quando jovem teve uma vida musical bastante intensa, patrocinada pelo pai, que também era músico. Aprendeu a tocar piano, órgão, e mesmo muito novo, já fazia composições. Sua formação musical foi a tradicional europeia, no entanto Ivesestava na América. Neste mesmo ambiente se desenvolvia o Jazze todo tipo de experimentação.
Como Ivesnão tinha muito tempo para compor e também era bastante detalhista, suas obras levavam muitos anos para ficarem prontas. Uma de suas obras mais importantes, Three Places in New England, que consiste em três movimentos, levou cerca de 25 anos desde os primeiros esboços até os últimos retoques. Desta obra em específico, datam os primeiros esboços de 1903. Nesta mesma época Schoenberg terminava de compor Pelleas und Melisande, uma obra pra lá de tonal e tradicional.
O mais importante a se dizer da Three Places in New England está no segundo movimento, chamado Putnam’s Camp, Redding, Connecticut. Os primeiros cinco segundos já deixam o ouvinte de cabelos em pé, com uma entrada forte e densa, bastante incomum. Dalí para frente não é difícil identificar vários momentos em que a música se torna caótica e difícil de entender. A ideia de Ives foi justamente demonstrar isto: o ambiente caótico dos sons das ruas, onde se ouve uma banda de sopro passar numa esquina ao mesmo tempo que se ouve uma marcha na outra. Não se pode dizer que é uma obra completamente atonal, mas com certeza não tinha muito compromisso com o tonalismo.
Existem bibliografias que dizem que o próprio pai de Ives fazia experimentações na música, o que explicaria as obras muito à frente de seu tempo, mas não vou me aprofundar neste assunto. O fato é que a liberdade que a América proporcionava, sem as amarras de uma tradição secular, dava à Ives – e à quem mais quisesse – um ambiente onde era possível criar obras completamente fora do comum.
Outra obra bastante interessante é a The Unanswered Question. Nela, Ives criou uma melodia que se repete mas não é finalizada adequadamente. É como se você fizesse uma pergunta e não obtivesse a resposta (assim como propõe o nome da obra: A Questão não Respondida, em português). O trompete faz sempre a mesma “pergunta”, enquanto que um quarteto de sopro tenta responder de maneira adequada, mas sempre falhando. À medida que a música evolui, o quarteto de sopro se torna cada vez mais dissonante e mais difícil de entender. Se esta obra tivesse sido apresentada em público naquela época, Ives teria sido alvo de piadas.
Apesar de Ives ter sido um compositor anônimo, era bastante convicto de seus ideais. Acreditava no homem comum, que trabalha para sustentar seu lar. Era um verdadeiro praticante do American Way of Life, onde se pode chegar com uma mão na frente e outra atrás e trabalhar duro para se tornar bem sucedido. Entre suas convicções também estavam a de que a música na América devia ser mais audaciosa, mais máscula. Numa ocasião em que um compositor, amigo de Ives, fora vaiado ao apresentar sua obra, Ives não mediu esforços para xingar os detratores de maricas, dizendo para usarem seus ouvidos como homens.
É possível imaginar que um dos motivos que levaram Ives a não se lançar como compositor, foi justamente por não se sentir confortável com a música que era praticada e com a maneira como a música era tratada. Dizia que a música americana foi prostituída; não gostava da ideia de ser obrigado a agradar ao público. A música devia ser feita para engrandecer o homem. O anonimato e suas fortes convicções foram importantes para seu desenvolvimento como compositor. Ives não precisou explicar e justificar seus métodos à público nenhum; apenas compunha como achava que deveria compor, sem se importar com o que pensariam. Já, compositores famosos estavam o tempo todo sub o julgo de seus admiradores e inimigos. Schoenberg passou boa parte de sua carreira tendo de explicar seus métodos, e na maior parte deste do tempo, não conseguiu.
Somente muitos anos depois de sua morte, a música de Ives foi descoberta e revivida. Deve ter sido espantoso para os historiadores descobrir que muito antes de Schoenberg iniciar seus trabalhos com o atonalismo, Ives já se aventurava com muita desenvoltura em obras extremamente dissonantes para a época. Charles Ives acabou se tornando um tipo de herói americano. Em 1974, o centenário de Ives, sua música foi oficialmente declarada como a primeira música genuína norte americana.
Longe de ser uma simples aventura sem sentido, a música de Ives tem uma consistência e uma audácia espantosas. Vale lembrar que até hoje, ainda existe quem torça o nariz para o atonalismo ou qualquer tipo de arte transcendental. Isto nos mostra a genialidade deste compositor, que ultrapassou os limites da música tonal muito antes de seus companheiros de época. A liberdade e a motivação para fazer algo novo, transformaram Charles Ives num ícone Norte Americano e um artista mundialmente reconhecido.
Charles Ives (1874-1954) – Sinfonia No. 2 e Sinfonia No. 3, S. 3 (K.1A3) – The Camp Meeting
Sinfonia No. 2
01. I. Allegro moderato
02. II. Allegro
03. III. Adagio cantabile
04. IV. Lento maestoso
05. V. Allegro molto vivace
Sinfonia No. 3, S. 3 (K.1A3) – The Camp Meeting
06. I. ‘Old Folks Gatherin’_ Andante maestoso
07. II. ‘Children’s Day’_ Allegro
08. III. ‘Communion’_ Largo
Leonard Berstein Discusses Charles Ives
09. Leonard Berstein Discusses Charles Ives
Terceiro álbum de uma das combinações de som mais curiosas da música atual: a do saxofonista norueguês Jan Garbarek mais o principal grupo vocal da Grã-Bretanha, The Hilliard Ensemble. O primeiro álbum, Officium, vendeu cerca de 1 milhão de cópias, e foi um dos 20 álbuns clássicos / jazz mais vendidos da primeira década deste século. O saxofone de Garbarek faz uma “quinta voz livre”. O Hilliard é especialista em música sacra barroca e pré-barroca. Com Garbarek, o conjunto não perde seu estilo, mas ganha em alcance musical e emocional. Neste CD, eles vão mais a Oriente. O foco central é a música da Armênia com base em adaptações de Komitas Vardapet, baseando-se tanto na música sacra medieval quanto na tradição do Cáucaso. O Hilliard estudou essas peças durante visitas à Armênia e suas características encoraja alguns voos apaixonados de Garbarek. Também estão incluídas Most Holy Mother Of God de Arvo Pärt em uma leitura a cappella, cantos bizantinos, duas peças de Jan Garbarek, incluindo uma nova versão de We are the stars, além do Alleluia, Nativitas de Perotin. Sou indiferente ao disco, mas tem gente que fica louca por ele.
Jan Garbarek / The Hilliard Ensemble: Officium Novum
01 – Ov zarmanali [Komitas] 04:11
02 – Svjete tihij [Byzantine chant] 04:14
03 – Allting finns [Jan Garbarek] 04:18
04 – Litany 13:06
05 – Surb, surb [Komitas] 06:40
06 – Most Holy Mother of God [Arvo Pärt] 04:34
07 – Tres morillas m’enamoran [Spanish anonymous] 03:32
08 – Sirt im sasani [Komitas] 04:06
09 – Hays hark nviranats ukhti [Komitas] 06:25
10 – Alleluia. Nativitas [Pérotin] 05:20
11 – We are the stars [Jan Garbarek] 04:09
12 – Nur ein Weniges noch [Giorgos Seferis] 00:19 Read By – Bruno Ganz 0:19
Jan Garbarek (sax soprano e tenor)
The Hilliard Ensemble (David James, contra-tenor, Rogers Covey-Crump, tenor, Steven Harrold, tenor, Gordon Jones, barítono)
Sou um fã de Maria João Pires, mas esta gravação não lhe acrescenta nada. É um registro old fashioned, de 1974, que envelheceu mal pra caralho. São concertos para cravo de Bach, tocados com piano e orquestra mais ou menos grande, utilizando instrumentos modernos. A abordagem também é romântica, então, paradoxalmente, esta tentativa de modernizar Bach soa muito antiquada. OK, nossa época pode reinterpretar obras do passado, só que com o mar de gravações historicamente informadas disponíveis hoje, o século XXI pede outro gênero de ousadia. Depois disso, Pires se tornaria uma gênia em Beethoven, Schumann, Schubert, Brahms, Mozart, Chopin…, deixando Bach para outros
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Concertos para Piano, BWV 1052, 1055, 1056
01. Piano Concerto No. 1 in D minor BWV 1052 – I. Allegro
02. II. Adagio
03. III. Allegro
04. Piano Concerto No. 4 in A major BWV 1055 – I. Allegro
05. II. Larghetto
06. III. Allegro ma non tanto
07. Piano Concerto No. 5 in F minor BWV 1056 – I. Allegro
08. II. Largo
09. III. Presto
Maria João Pires, piano
Gulbenkian Orchestra
Michel Corboz
Então tá, né? O pessoal quer pesos pesados e super-postagens? Sem problemas, vamos dançar conforme a música! :¬))
Em resposta, pego o CD da coleção Originals da DG e mando um balaço procêis. Ouçam esta versão de A Canção da Terra gravada por Eugen Jochum (1922-1987) e o Concertgebouw de Amsterdam em 1963. É algo de ajoelhar-se e pedir que não acabe nunca mais. Ah, não esqueçam de conferir em detalhe a “Despedida” (Der Abschied) da versão de Jochum. O incrível é que Jochum NÃO era um mahleriano contumaz, mas sua intimidade com a música vocal e com as Missas de Bruckner foram fundamentais aqui. Outro fato notável é que o registro data de um tempo que Mahler estava sendo redescoberto e não era a unanimidade que é hoje. Ele ainda era chamado de “desigual”, de compositor dado a arroubos e se dizia que era assim porque escrevia sinfonias difíceis e cheias de sonoridades estranhas para que ele mesmo — grande maestro que era — regesse. Nada disso, nada disso mesmo…
Bem, se você gosta de Mahler, tem que ouvir isto. Cumpra-se!
Gustav Mahler (1860-1911): A Canção da Terra
Symphony for alto, tenor and large orchestra
1. Das Trinklied vom Jammer der Erde
2. Der Einsame im Herbst
3. Von der Jugend
4. Von der Schonheit
5. Der Trunkene im Fruhling
6. Der Abschied
Nan Merriman
Ernst Haefliger
Concertgebouw Orchestra
Eugen Jochum
Pigmaleão, na mitologia grega, foi um rei da ilha de Chipre que, segundo Ovídio, poeta romano contemporâneo de Augusto, também era escultor e se apaixonou por uma estátua que esculpira ao tentar reproduzir a mulher ideal. Ele havia decidido viver em celibato na ilha por não concordar com a atitude libertina das mulheres dali, conhecidas como cortesãs. O mito de Pigmaleão, como outros, traduz um elemento do comportamento humano: a capacidade de determinar seus próprios rumos, concretizando planos e previsões particulares ou coletivas. A lenda de Pigmalião tem atraído vários artistas. O nome da estátua, depois que ela vira mulher, Galathea, não é encontrado nos textos antigos, mas aparece em representações artísticas modernas do mito. Uma versão moderna da lenda é a peça de George Bernard Shaw, Pigmalião, ou My Fair Lady, em que, em vez de uma estátua transformada em mulher, temos uma mulher do povo transformada em mulher da alta sociedade. A peça é também um musical e um filme.
O “ato de balé” de Rameau, Pygmalion, foi o primeiro trabalho do compositor a ter essa designação. O termo denota uma ópera de um ato com os números individuais de solo, duetos e coros, intercalados com episódios de dança que, geralmente, são mais representativos do que o traçado pela trama… A “ópera” foi apresentada 30 vezes em 1748 e foi revivida com aclamação arrebatadora três anos depois.
O conjunto de Christophe Rousset dispensa comentários. É um especialista neste repertório.
Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Pygmalion & Les Fêtes de Polymnie
01. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52: Ouverture
02. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 1: Air «Fatal Amour, cruel vainqueur» (Pygmalion)
03. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 2: Récit «Pygmalion, est-il possible» (Pygmalion, Céphis)
04. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 3: Récit «Que d’appas ! Que d’attraits !» (Pygmalion, la Statue)
05. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 3: Récit «D’où naissent ces accords ?»
06. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 3: Récit «Quel prodige ? Quel dieu ?»
07. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 3: Air «De mes maux à jamais»
08. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 4: Récit «Du pouvoir de l’Amour» (L’Amour, Pygmalion & la Statue)
09. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 4: «Jeux et ris qui suivez mes traces» ariette vive et gracieuse
10. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 4: Les différents caractères de la danse
11. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 4: Sarabande pour la Statue
12. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 4: Récit «Le peuple en ces lieux s’avance»
13. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: “Air gay pour l’entrée du peuple qui vient admirer la Statue” (Pygmalion, la Statue & chœurs)
14. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: Gavottes
15. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: «L’Amour triomphe» (ariette)
16. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: Pantomime niaise et un peu lente
17. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: Pantomime très vive
18. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: «Règne, Amour» (ariette)
19. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: Air gracieux
20. Pygmalion, acte de ballet, RCT 52, Scène 5: Contredanse
21. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: I. Ouverture
22. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: II. Air grave et fier
23. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: III. Mouvement de Chaconne
24. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: IV. Air grave et majestueux
25. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: V. Premier et second Menuets
26. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: VI. Premier et second Passepieds
27. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: VII. Entrée des Peuples
28. Les Fêtes De Polymnie, Suite D’Orchestre, Rct 39: VIII. Gigue
29. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: IX. Air vif
30. Les Fêtes de Polymnie, suite d’orchestre, RCT 39: X. Air fort gai
PERSONNEL
Les Talens Lyriques
Christophe Rousset, conductor
Um grande disco de 2012. Janine Jansen, aos 34 anos, estava (ainda está) tocando demais, com musicalidade, senso de estilo, clareza e limpeza absolutas. O que ela faz é puro Prokofiev, não há dúvida. O CD começa pelo Concerto mais fácil do mestre e termina pela Sonata para Piano mais difícil. Uma boa escolha. Prokofiev escrevia algo difícil — que era a expressão de sua voz autêntica –, as autoridades soviéticas caíam de pau e em resposta ele escrevia algo mais acessível. E também bonito. Escolhendo uma obra de cada um dos lados, a holandesa Jansen faz um disco maravilhoso.
(Minha mulher, que é uma violinista russa que toca numa sinfônica brasileira, diz que o Concerto Nº 2 tem uma poesia tipicamente soviética, altamente popular e sem complexidades. Ela adora ambos os concertos de Prokofiev, o pessoal e o “do partido”, por assim dizer).
S. Prokofiev (1891-1953): Violin Concerto Nº 2, Op. 63 / Sonata for 2 violins, Op. 56 / Sonata for violin and piano, Op. 80 Nº 1
01. Violin Concerto No.2 in G minor, op.63 – I. Allegro moderato
02. Violin Concerto No.2 in G minor, op.63 – II. Andante assai
03. Violin Concerto No.2 in G minor, op.63 – III. Allegro, ben marcato
04. Sonata for 2 violins in C major, op.56 – I. Andante cantabile
05. Sonata for 2 violins in C major, op.56 – II. Allegro
06. Sonata for 2 violins in C major, op.56 – III. Commodo (quasi allegretto)
07. Sonata for 2 violins in C major, op.56 – IV. Allegro con brio
08. Sonata for violin and piano in F minor, op.80 no.1 – I. Andante assai
09. Sonata for violin and piano in F minor, op.80 no.1 – II. Allegro brusco
10. Sonata for violin and piano in F minor, op.80 no.1 – III. Andante
11. Sonata for violin and piano in F minor, op.80 no.1 – IV. Allegrissimo
Janine Jansen, Violino
Boris Brovtsyn, violino
Itamar Golan, piano
London Philharmonic Orchestra
Vladimir Jurowski, regente
Eu desprezo o Concerto Nº 1 para Violino e Orquestra de Mozart. Já o Nº 3 é impossível desprezar, é grande música. No início de 2017, assisti este Concerto com Alina Ibragimova, Bernard Haitink e a Chamber Orchestra of Europe no Concertgebow de Amsterdam. Foi um dos mais belos momentos de minha vida. E a Sinfonia Concertante? Olha, já me visitou até em sonhos. É uma das obras que mais conheço a amo. Tudo nela é perfeito. É daquelas coisas que se melhorar piora. Mas, vamos ao CD. Após sua estreia com Concertos de Mendelssohn e Schumann, o violinista francês Renaud Capuçon escolheu gravar o primeiro e terceiro concertos de Mozart, bem como a imponente Sinfonia Concertante, esta com o excelente violinista Antoine Tamestit. Todos os três trabalhos apresentam a Orquestra de Câmara Escocesa conduzida por Louis Langrée. A leitura deles oferece novas perspectivas dessas obras familiares, particularmente durante o movimento lento e dolorido da Sinfonia Concertante. Não dê bola para o mau gosto da capa.
W. A. Mozart (1756-1791): Violin Concertos 1 & 3, Sinfonia Concertante
Um CD excelente! Os desconhecidos de Amandine Beyer dão mais um show. E a magrona francesa parece cada vez mais apaixonada pela Itália, fazendo discos de Vivaldi e Corelli que a mostram mais italiana do que muitos que realmente o são. Para quem não sabe, houve uma Accademia degli Incogniti. Esta “Academia dos Desconhecidos” era uma sociedade de intelectuais livres, principalmente nobres, que influenciaram significativamente a vida cultural e política da Veneza do meio do século XVII. A sociedade foi fundada em 1630 e incluiu historiadores, poetas e libertários. De acordo com a historiadora Ellen Rosand, a academia, como sugere seu nome, geralmente operava nos bastidores. Os membros costumavam escrever em uma língua secreta e frequentemente publicavam seus trabalhos anonimamente. A Accademia degli Incogniti foi particularmente ativa na promoção do teatro musical em Veneza a partir da década de 1630, fundando seu próprio teatro, o Novissimo. Nos seus libretos de dramas musicais, os intelectuais iconoclastas da academia usavam um tom que era, frequentemente, chocante, franco e amoral. Então, não pensem que o nome da orquestra de Beyer é somente uma brincadeirinha.
Antonio Vivaldi (1678-1741) – Nuova Stagione Concerti
01 – Concerto for Violin and Organ in C Major, RV 808; I. Allegro
02 – II. Largo
03 – III. Allegro
04 – Concerto for Cello in A Minor, RV 420; I. Andante
05 – II. Adagio
06 – III. Allegro
07 – Concerto for Traverso in E Minor, RV 431; I. Allegro
08 – II. Andante
09 – III. Allegro
10 – Concerto for Violin in C Major, RV 194; I. Allegro ma poco
11 – II. Largo
12 – III. Allegro
13 – Concerto for Traverso in A Minor, RV 440; I. Allegro non molto
14 – II. Larghetto
15 – III. Allegro
16 – Concerto for Cello in D Major, RV 403; I. Allegro
17 – II. Andante e spiritoso
18 – III. Allegro
19 – Concerto for Violin in D Minor, RV 235; I. Allegro non molto
20 – II. Adagio
21 – III. Allegro
22 – Concerto for Violin and Organ in G Minor, After RV 517; I. Allegro
23 – II. Andante
24 – III. Allegro
Helmuth Rilling é um tremendo maestro. Nasceu em 1933 e ainda está vivo. Ele é o fundador do Gänchinger Kantorei (1954) e do Bach-Collegium Stuttgart (1965). Para lhes dar uma ideia de sua importância, basta dizer que foi o primeiro a gravar como regente único a integral das Cantatas de Bach, 57 CDs que tenho aqui a meu lado e que moram no meu ventrículo esquerdo. Já viram que ele entende de música sacra, não? Então é óbvio que sua interpretação do Um Réquiem Alemão deve ser ouvida a priori com respeito. E sua gravação é linda, camarística, com um coral magnífico, bachiano, sublime, um verdadeiro êxtase. Ouçam logo, tá?
Johannes Brahms (1833-1897): Um Réquiem Alemão (Rilling)
01.- Selig sind, die da Leid tragen
02.- Denn alles Fleicsh es ist wie Gras
03.- Herr, lehre doch mich
04.- Wie lieblich sing deine Wohnungen
05.- Ihr habt nunu Traurigkeit
06.- Denn wir haben hie keine bleibende Statt
07.- Selig sing die Toten
Em abril de 1981, o legendário produtor da ECM Manfred Eicher aproveitou uma turnê deste trio — que se autochamava pelo nome de Mágico –, para registrar um de seus concertos, no Amerika Haus, em Munique, na Alemanha. As gravações ficaram excelentes, mas o produtor alemão esperou três décadas para ver lançado o álbum duplo. Tudo porque Haden e Garbarek se desentenderam por motivo que nunca foi noticiado. Gismonti disse que já tinha esquecido do concerto gravado em 1981, quando recebeu, meses atrás, a notícia de que a ECM lançaria o disco. “Por atitudes como essa eu acho o Manfred tão competente e tão reto. Ele tinha uma joia como essa na mão, mas não lançou o disco enquanto o Haden e o Garbarek não voltaram a se entender.” Hoje, existe até a possibilidade do trio voltar a tocar junto.
Olha, o disco é um ABSURDO de bom. É um sublime tesouro que se reencontra. É melhor presente de pós-Natal que se possa imaginar.
Ouçam muito porque vale a pena.
Presente de nosso consultor. Aquele dos Piazzolla, lembram?
Egberto Gismonti, Charlie Haden, Jan Garbarek: Mágico — Carta De Amor
1. Carta de Amor 7:25
2. La Pasionaria 16:26
3. Cego Aderaldo 9:51
4. Folk Song 8:10
5. Don Quixote 8:25
6. Spor 14:01
1. Branquinho 7:37
2. All That Is Beautiful 15:35
3. Palhaço 9:12
4. Two Folk Songs 3:39
5. Carta de Amor, var. 7:35
Egberto Gismonti, violões e piano
Jan Garbarek, sax soprano
Charlie Haden, baixo
Música soviética bem comportada, bem escrita e muito virtuosística. Khrennikov foi um cara que sempre esteve bem com o poder. Um sujeito obediente, portanto. Viveu 96 anos e, além de compositor, era pianista e presidente da União dos Compositores soviéticos. Era bom na política. Tratava-se de um puxa-saco de Stálin, que aterrorizou os principais compositores do país — Dmitri Shostakovich, Sergei Prokofiev, Aram Khachaturian e Alfred Schnittke entre eles — alegando “protegê-los”.
“Na música do camarada Shostakovich”, declarou Khrennikov, “encontramos todo tipo de coisas estranhas à arte soviética realista. Há tensão, neurose, escapismo e patologia repulsiva. No trabalho do camarada Prokofiev, a emoção natural e a melodia foram substituídas por grunhidos”. Após a queda do comunismo, Khrennikov afirmou que apenas seguia ordens. Era um oportunista habilidoso. Quando o presidente Reagan deu um banquete na embaixada americana em Moscou em 1988, Khrennikov assegurou que Mikhail Gorbachev se sentasse na mesma mesa que Alfred Schnittke, que, por um dia, só por um dia, foi festejado como um herói da nação.
No início da década de 1980, criticou a música da geração mais nova — que inclui Denisov e Sofia Gubaidulina — como “arte abstrata, decadente e elitista”.Em um de seus últimos relatórios anuais, ele se referiu de passagem a Gubaidulina como uma compositora “indesejável”;Os promotores soviéticos aceitaram sua sugestão e ela foi retirada dos concertos.Durante 20 anos, Schnittke viu recusados seus pedidos para viajar ao exterior.
Em resumo, era um filho da puta, um sujeito cortês, manipulador e intrigante que vendia sua alma musical ao diabo em troca de uma vida de luxo. Sempre bom na política, Tikhon Khrennikov recebeu inúmeras honras e prêmios, incluindo a medalha presidencial de Vladimir Putin em 2002. Na ocasião, aproveitou a oportunidade para insistir que Shostakovich e Prokofiev e os outros nunca sofreram em suas mãos.
Escreveu três sinfonias, quatro concertos para piano, dois concertos para violino, dois concertos de violoncelo, óperas, operetas, balés, música de câmara, música incidental e música de cinema. Durante a década de 1930, Khrennikov já estava sendo saudado como um dos principais compositores soviéticos oficiais. Em 1948, Andrei Jdanov, líder da campanha anti-formalismo, nomeou Khrennikov como secretário da União dos compositores soviéticos. Ele manteve este posto influente até o colapso da União Soviética em 1991.
Tikhon Khrennikov (1913-2007): Dois Concertos para Piano, dois para Violino
01. Concerto No.1 for violin Op.14 – I Allegro con fuoco
02. Concerto No.1 for violin Op.14 – II Andante espressivo
03. Concerto No.1 for violin Op.14 – III Allegro agitato
04. Concerto No.2 for piano Op.21 – I Introduction: Moderato
05. Concerto No.2 for piano Op.21 – II Sonata: Allegro con fuoco
06. Concerto No.2 for piano Op.21 – III Rondo: Giocoso – Andantino
07. Concerto No.2 for violin Op.23 – I Allegro con fuoco
08. Concerto No.2 for violin Op.23 – II Moderato
09. Concerto No.2 for violin Op.23 – III Allegro moderato con fuoco
10. Concerto No.3 for piano Op.28 – I Moderato
11. Concerto No.3 for piano Op.28 – II Moderato
12. Concerto No.3 for piano Op.28 – III Allegro molto
Evgeny Kissin, piano (Concerto Nº 2)
Maxim Vengerov, violino (Concerto Nº 2)
Tikhon Khrennikov, piano (Concerto Nº 3)
Vadim Repin, violino (Concerto Nº 1)
Tchaikovsky Symphony Orchestra of Moscow Radio
Vladimir Fedoseyev
O Dia da Música ou Dia de Santa Cecília, Padroeira da Música, é 22 de novembro, mas o PQP sempre cagou para datas, né? Bem, a Pan Classics chega com uma excelente gravação da impressionante ode composta por Handel para a santa. A Musica Fiorita, conjunto de Basileia conduzido por Daniela Dolci e que utiliza instrumentos originais de época, interpreta este trabalho bem conhecido com grande elegância. Fiquei comovido em muitos trechos. A Ode vem acompanhada pelo Concerto grosso Op. 6 Nº 4, o que apenas vem demonstrar a enorme musicalidade dos comandados de Dolci.
G. F. Handel (1685-1759) : Ode for St. Cecilia’s Day
01. Concerto grosso in A Minor, Op. 6 No. 4, HWV 322: I. Larghetto affettuoso
02. Concerto grosso in A Minor, Op. 6 No. 4, HWV 322: II. Allegro
03. Concerto grosso in A Minor, Op. 6 No. 4, HWV 322: III. Largo e piano
04. Concerto grosso in A Minor, Op. 6 No. 4, HWV 322: IV. Allegro
05. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: I. Overture
06. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: II. From Harmony
07. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: III. When Nature, Underneath a Heap
08. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: IV. From Harmony, from Heav’nly Harmony
09. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: V. What Passion Cannot Music Raise
10. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: VI. The Trumpet’s Loud Clangour
11. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: VII. March
12. Ode For St. Cecilia’s Day, Hwv 76: VIII. The Soft Complaining Flute
13. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: IX. Sharp Violins Proclaim
14. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: X. But Oh! What Art Can Teach
15. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: XI. Orpheus Could Lead the Savage Race
16. Ode for St. Cecilia’s Day, HWV 76: XII. But Bright Cecilia
17. Ode For St. Cecilia’s Day, Hwv 76: XIII. As From The Powers Of Sacred Lays
Como daria errado? A dinamarquesa Michala Petri e o iraniano norte-americano adotado pela Inglaterra Mahan Esfahani são dois músicos de um tipo muito superior, são artistas cujo domínio de seus instrumentos transforma-se em pura alegria de se ouvir.
O destino abençoou o violinista e compositor italiano Arcangelo Corelli com grande talento, modéstia, mecenas ricos, discípulos fiéis e riqueza. Pode-se dizer sem exagero que Corelli foi o primeiro compositor mundialmente famoso. E ele continua com sorte. A reunião dele com Petri e Esfahani parece ter por tema o espírito criativo e a celebração da vida. Que cara de sorte!
Arcangelo Corelli (1653-1713): La Follia
1 Sonata in G minor, Op. 5 No. 12 “La FoLlia” 10:13
Sonata in G minor, Op. 5 No. 7
2 Preludio – Vivace 2:06
3 Corrente – Allegro 3:49
4 Sarabande – Largo 1:46
5 Giga – Allegro 2:29
Sonata in C major, Op. 5 No. 9
6 Preludio – Largo 4:06
7 Giga – Allegro 3:04
8 Adagio 0:34
9 Tempo di Gavotta – Allegro 2:50
Um disco onde se pode ouvir as origens de boa parte da música branca inglesa e estadunidense. Várias destas obras parecem ecoar em nossos dias. Pois algumas coisas não diminuem com o tempo. Cerca de quatro séculos e meio depois, o trabalho dolorosamente romântico de John Dowland permanece tão atraente hoje como provavelmente foi nos séculos 16 e 17. As melodias crescentes e a repetição de certas frases-chave evoluíram, sem dúvida, para as formas de música popular de hoje — embora alguns usem o termo “canção de arte” para distinguir o trabalho de compositores como Dowland do pop e rock contemporâneo na batalha em curso entre “alta” e ” baixa” cultura. Espero que tais distinções artificiais não impeçam as pessoas de explorar esta música.
John Dowland (1563-1626) / Thomas Campion (1567-1620) / Henrique VIII (1491-1547): English Folksongs & Lute Songs
01- Behold a wonder here, for voice, lute & bass viol (Third Book of Songs)
by John Dowland
02- Me, me, and none but me, for 4 voices & lute (Third Book of Songs)
by John Dowland
03- All ye whom love or fortune hath betrayed (First Book of Songs), for 4 voices & lute
by John Dowland
04- The Lady Russell’s Pavan, for lute, P 17
by John Dowland
05- The Three Ravens, folk song
by English Traditional
06- O Waly, Waly, folk song
by English Traditional
07- King Henry, folk song
by English Anonymous
08- Kemp’s Gigue
by English Anonymous
09- My sweetest Lesbia
by Thomas Campion
10- I Care Not for These Ladies for voice, lute & bass viol
by Thomas Campion
11- My Love Hath Vowed Hee Will Forsake Mee for voice, lute & bass viol
by Thomas Campion
12- I saw my lady weep, for 2 voices & lute (Second Book of Song)
by John Dowland
13- Flow, my tears, fall from your springs, for 2 voices & lute (Second Book of Songs)
by John Dowland
14- Sorrow, stay, lend true repentant tears, for 2 voices & lute (Second Book of Songs)
by John Dowland
15- Say, Love if ever thou didst find, for 4 voices & lute (Third Book of Songs)
by John Dowland
16- Can she excuse my wrongs, for 4 voices & lute (First Book of Songs)
by John Dowland
17- Go from my window, song arranged for lute, P 64
by John Dowland
18- Go from my window, song arranged for lute, P 64
by John Dowland
19- I Will Give My Love an Apple, folk song
by British Isles Traditional
20- Barbara Allen, folk song
by Scottish Traditional
21- Lord Rendal, folk song
by English Anonymous
Apesar do título feio — talvez seja uma citação erudita, sei lá — um belo CD do barroco italiano. Curti muito ouvir. O grupo Musica Pacifica toma o nome do oceano que banha os locais onde os membros da orquestra vivem, mas não há nada pacífico no desempenho desses seis concertos italianos. Em vez disso, por sua escolha de repertório e por suas decisões estilísticas, esses músicos parecem determinados a mostrar a alegria do barroco. Lembre-se, a Itália em torno de 1700 ainda era uma cultura de arrogância, onde os grandes personagens — reais e fingidos –, vestindo veludo preto, carregavam espadas e (pseudo) autoridade. As performances ardentes da Musica Pacifica são como aquelas lâminas nada pacíficas.
Vivaldi / Tartini / Sammartini: Música de Câmara (Fire Beneath My Fingers)
Vivaldi, Antonio
Chamber Concerto in F Major, RV 98, “Tempesta di mare”
1. I. Allegro 00:02:24
2. II. Largo 00:01:38
3. III. Presto 00:02:18
Tartini, Giuseppe
Violin Concerto in A Major, Op. 1, No. 8, D. 91
4. I. Allegro 00:07:27
5. II. Adagio 00:05:18
6. III. Presto 00:04:24
Vivaldi, Antonio
Trio Sonata in A Minor, RV 86
7. I. Largo 00:02:41
8. II. Allegro 00:02:31
9. III. Largo cantabile 00:01:57
10. IV. Allegro molto 00:02:11
Sammartini, Giuseppe
Recorder Concerto in F Major
11. I. Allegro 00:03:55
12. II. Siciliano 00:05:17
13. III. Allegro assai 00:03:56
Vivaldi, Antonio
Chamber Concerto in G Minor, RV 106
14. I. Allegro 00:02:51
15. II. Largo 00:02:39
16. III. Allegro 00:02:27
Bassoon Concerto in B-Flat Major, RV 503
17. I. Allegro non molto 00:04:44
18. II. Largo 00:03:36
19. III. Allegro 00:03:36
A Sonata Nº 1 para Violino e Piano, Op. 105, de Schumann, foi composta em 1851. A melhor delas, a segunda, Op. 121, foi escrita dois anos depois e já tem uma dimensão muito mais ambiciosa, tanto que ele a intitulou “Grande Sonata”. Clara acompanhou o violinista Joseph Joachim na primeira execução da obra, em 29 de outubro de 1853, em Düsseldorf, cinco meses antes da crise de loucura que levou o compositor a se atirar no Reno gelado. Essas obras não são universalmente admiradas, mas este CD traz uma performance muito convincente, uma vez só febril e lírica, com o som bem equilibrado e a invenção musical bem explorada. O que poderia ser mais sedutor do que a abertura silenciosa do terceiro movimento da Sonata Nº 2, marcado como “suavemente, simplesmente”, mas soando igualmente fantasmagórico e surpreendente? Schumann, o mais perturbado dos gênios, raramente falha na música de câmara.
Robert Schumann (1810-1856): Violin Sonatas Nos. 1 & 2
01. Violin Sonata No. 1 in A Minor, Op. 105_ I. Mit Leidenschaftlichem Ausdruck
02. Violin Sonata No. 1 in A Minor, Op. 105_ II. Allegretto
03. Violin Sonata No. 1 in A Minor, Op. 105_ III. Lebhaft
04. Violin Sonata No. 2 in D Minor, Op. 121_ I. Ziemlich langsam-Lebhaft
05. Violin Sonata No. 2 in D Minor, Op. 121_ II. Sehr lebhaft
06. Violin Sonata No. 2 in D Minor, Op. 121_ III. Leise, einfach
07. Violin Sonata No. 2 in D Minor, Op. 121_ IV. Bewegt
A espoleta argentina (Córdoba, 1981) Sol Gabetta é… um estouro. Talentosíssima e de sangue quente, Gabetta costuma ser arrebatadora em suas gravações e concertos. Como se não bastasse é simpática e sorridente. Mas aqui temos apenas seu som. É o bastante.
Há alguns anos, ela concebeu o ambicioso projeto no qual tocaria todos os concertos para violoncelo de Vivaldi e mais algumas peças do Padre Vermelho transcritas para o instrumento. Famosa, ela poderia chegar no estúdio e apenas gravar. Ganharia uma boa grana. Só que Gabetta não faz nada pela metade. Para alcançar maior autenticidade, ela imergiu na música do barroco. Não só ela chamou experientes músicos barrocos italianos como resolveu que todo “Il Progetto Vivaldi” seria gravado na Itália. Também mudou seu instrumento para um Guadagnini 1759 e tratou de dominar um arco barroco. Essa atenção aos detalhes é louvável, mas são periféricos. O que interessa é que o resultado é magnífico. Ela e o septeto barroco Sonatori De La Gioiosa Marca deram um banho de bola. A toda moderna Sol Gabetta parece uma menina veneziana do Ospedale della Pietà.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para Violoncelo
Concertos For Cello, Strings & Basso Continuo
Concerto F Major, RV 410
1 Allegro 3:25
2 Largo 5:09
3 Allegro 3:17
Violin Concerto A Minor, Rv 356 4 Allegro 2:50
5 Largo 2:23
6 Presto 2:11
Concerto A Minor, RV 418
7 Allegro 4:14
8 Largo 3:36
9 Allegro 3:00
Concerto B Minor, RV 424
10 Allegro 3:57
11 Largo 2:34
12 (Allegro) 3:21
Concerto G Major, RV 413
13 Allegro 3:05
14 Largo 3:37
15 Allegro 2:32
Concerto C Minor, RV 401
16 Allegro Non Molto 4:32
17 Adagio 3:01
18 Allegro Ma Non Molto 3:08
Violin Concerto F Minor, RV 297 – “Winter” From “The Four Seasons” (Transcripted For Cello By W. Vestidello)
19 Allegro Non Molto 3:15
20 Largo 1:50
21 Allegro 3:00
Sol Gabetta, violoncelo
Sonatori de la Gioiosa Marca
Realmente algo especial. Um lindo CD que tem como estrelas o contratenor Andreas Scholl e a flautista Dorothee Oberlinger, acompanhados pelo Ensemble 1700. O nível é altíssimo. Eles alternam obras vocais e concertos, sempre de Bach. O Concerto Nº 5 para Cravo e Orquestra aparece numa transcrição para flauta. Oberlinger tira de letra. É claro que todas as árias têm a participação da flautista, afinal o Ensemble 1700 é dela. Vale muito a pena ouvir este belo momento bachiano. Como eu estava sofrendo de uma severa hipobachemia, a audição deste CD me tranquilizou com o retorno aos níveis normais de Bach no sangue. Agora estou pronto para suportar filosoficamente qualquer chatice ou pequeno revés.
Johann Sebastian Bach (1685-1750): Small Gifts
01. Jesus schläft, was soll ich hoffen, BWV 81: Jesus schläft (Aria)
02. Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: I. Allegro
03. Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: II. Andante
04. Brandenburg Concerto No. 4 in G Major, BWV 1049: III. Presto
05. Vergnügte Ruh, beliebte Seelenlust, BWV 170: I. Vergnügte Ruh, beliebte Seelenlust (Aria)
06. Vergnügte Ruh, beliebte Seelenlust, BWV 170: II. Die Welt, das Sündenhaus (Recitativo)
07. Vergnügte Ruh, beliebte Seelenlust, BWV 170: III. Wie jammern mich doch die verkehrten Herzen (Aria)
08. Vergnügte Ruh, beliebte Seelenlust, BWV 170: IV. Wer sollte sich demnach wohl hier zu leben wünschen (Recitativo)
09. V. Mir ekelt mehr zu leben (Aria)
10. Harpsichord Concerto No. 5 in F Minor, BWV 1056, Arr. for Fourth Flute and Strings: I.
11. Harpsichord Concerto No. 5 in F Minor, BWV 1056, Arr. for Fourth Flute and Strings: II. Largo
12. Harpsichord Concerto No. 5 in F Minor, BWV 1056, Arr. for Fourth Flute and Strings: III. Presto
13. Himmelskönig, sei willkommen, BWV 182: I. Sonata
14. Himmelskönig, sei willkommen, BWV 182: V. Leget euch dem Heiland unter (Aria)
15. Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: I.
16. Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: II. Andante
17. Brandenburg Concerto No. 2 in F Major, BWV 1047: III. Allegro assai
18. Preise, Jerusalem, den Herren, BWV 119: V. Die Obrigkeit ist Gottes Gabe (Aria)
19. Herz und Mund und Tat und Leben, BWV 147: X. Jesus bleibet meine Freude (Choral)
Personnel:
Dorothee Oberlinger, flute
Andreas Scholl, countertenor
Ensemble 1700