Entre 1973 e 1989 os colecionadores de LPs e, posteriormente CDs, especialmente aqueles que apreciavam música para piano, puderam colecionar uma série de ótimos discos, lançados pelo selo CBS Masterworks e, posteriormente Sony. Eram álbuns trazendo o solista Murray Perahia, que ficava melhor a cada disco, mas sempre em repertório bastante clássico: Schumann, Chopin, Schubert, Mozart (a série de Concertos para Piano, com a ASMF). Havia também Mendelssohn (incluindo os Concertos para Piano) e, um pouco depois, Beethoven. Algumas Sonatas para Piano e a série dos Concertos para Piano, acompanhado pela Orquestra do Concertgebouw, regida por seu titular – Bernard Haitink. Além desses, esporádico Bartók, um Quarteto com Piano de Brahms, com o Quarteto Amadeus, e a dobradinha de Concertos para Piano de Schumann e Grieg. Aqui, a Orquestra da Rádio Bávara regida por Sir Colin Davis.
Este fluxo de belezuras, que seguiria depois com mais outras maravilhas, como o disco das Baladas de Chopin, o das Sonatas para Piano de Mozart, e de algumas tantas parcerias, foi turbilhonado em 1990 e 1991 por dois discos fora da curva – não em qualidade técnica ou beleza sonora, mas sim na escolha do repertório. Em 1990 foi lançado o disco The Aldeburgh Recital, com as Variações em dó menor, de Beethoven, o Carnaval de Viena, de Schumann e … tá dam… Liszt e Rachmaninov. E em 1991, um disco com o Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck e mais Liszt. Muito bem, são estes os discos da postagem.
Depois, o fluxo retomou sua regularidade, com bons discos de parcerias. Aliás, quando se juntava em parceria era sempre de nível excelente – Sir Georg Solti e Radu Lupu, ao piano, acompanhou Dietrich Fischer-Dieskau em uma gravação do Winterreise, o remake do Concerto de Schumann, agora com Claudio Abbado regendo a Berliner Philharmoniker. Aí vieram os discos com música mais antiga. Primeiro o maravilhoso álbum com música de Handel e Scarlatti, depois Bach – Suítes Inglesas, Variações Goldberg, Concertos para Piano, Partitas! Ah, as Partitas! E, para não dizer que tenha deixado de lado os clássicos, um e outro disco de Beethoven (ainda na Sony), o espetacular disco dos Estudos de Chopin e o tremendo disco com música de Brahms – Variações sobre um tema de Handel. Houve a mudança de casa, as Suítes Francesas, de Bach, inaugurando o selo amarelo, e finalmente o disco com a Hammerklavier e a Ao Luar. A qualidade sempre muito alta, mas os hiatos passaram a ser grandes – houve o ferimento no dedo com as complicações que seguiram. Mas essa lengalenga toda é para enfatizar o quanto os dois discos desta postagem são estranhos no ninho. A música de César Franck, Rachmaninov e Liszt não mais voltaram a frequentar os discos de Murray Perahia. Como essas peças foram para aí? A resposta tem a ver com Vladimir Horowitz.
Murray Perahia tinha 17 anos quando Horowitz bateu na porta de sua casa e disse: Poderia falar com o Sr. Perahia? Murray respondeu: Vou chamar meu pai. Não, respondeu Volodya, eu quero falar com Murray Perahia. Eu sou o Sr. Horowitz. O jovem Perahia ainda não havia realmente entendido de quem se tratava. A casa ficava em Nova Iorque, no bairro do Bronx, com muitos judeus. Todo o mundo se chamava Horowitz lá, disse Perahia na entrevista em que contou esta história.
Murray Perahia ainda não havia se decidido completamente pela carreira de pianista e enrolou. Horowitz esperou mais treze anos para finalmente aproximar-se de Murray Perahia, ganhar a sua amizade e tornar-se seu professor. Neste tempo, ele já era famoso e tinha uma carreira estabelecida. Era o pouco que faltava para definitivamente estabelecer Perahia como o pianista especialíssimo que ele tem sido.
Sobre essa experiência, Murray disse: Nós exploramos o piano ‘virtuoso’. Quando se aprende as cores que o piano pode oferecer, se descobre também o escopo do que se pode alcançar ao tocar o piano.
Horowitz lhe disse: Se você quer ser mais do que um virtuoso, primeiro você precisa se tornar um virtuoso!
Creio que esses dois discos são resultado dessa experiência, de chegar lá e depois ir além…
The Aldeburgh Recital
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
32 Variações para piano em dó menor, WoO 80
Robert Schumann (1810 – 1856)
Carnaval de Viena, Op. 26
Franz Liszt (1811 – 1886)
Rapsódia Húngara No. 12
Consolação No. 3
Sergei Rachmaninov (1873 – 1943)
Etude-Tableaux Op. 33, No. 2 em dó maior
Etude-Tableaux Op. 39, No. 5 em mi bemol menor
Etude-Tableaux Op. 39, No. 6 em lá menor
Etude-Tableaux Op. 39, No. 9 em ré maior
Murray Perahia, piano
Faixas Extras
Consolação No. 3
(do álbum Horowitz em Moscou)
Etude-Tableaux Op. 33, No. 2 em dó maior
Etude-Tableaux Op. 39, No. 5 em mi bemol maior
Etude-Tableaux Op. 39, No. 5 em mi bemol menor
Etude-Tableaux Op. 39, No. 9 em ré maior
(do Álbum Horowitz plays Rachmaninov & Liszt)
Vladimir Horowitz, piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 | 320 KBPS | 175 MB
Murray Perahia plays Franck & Liszt
César Franck (1822 – 1890)
Prelúdio, Coral e Fuga
Franz Liszt (1811 – 1886)
Valsa Mefisto No. 1
Soneto No. 104 de Petrarca (Anos de Peregrinação – Itália)
Estudo de Concerto No. 1 ‘Waldesrauschen’
Estudo de Concerto No. 2 ‘Gnomenreigen’
À Beira de Uma Fonte (Anos de Peregrinação – Suíça)
Rapsódia Espanhola
Murray Perahia, piano
Extra:
Valsa Mefisto No. 1
(do álbum Horowitz em Moscou)
Soneto No. 104 de Petrarca (Anos de Peregrinação – Itália)
(do álbum Horowitz plays Liszt)
Vladimir Horowitz, piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 | 320 KBPS | 177 MB
De uma entrevista dada à Bruce Duffie:
BD: Do you play differently for the microphone than you do for a live audience?
MP: I think yes. There’s an excitement that goes into a live concert that’s very hard to capture in a recording. Sometimes it works; sometimes it goes. It’s not to say that it’s impossible, but I do find that it’s different to play for an audience.