Missa Afro-Brasileira
de batuque e acalanto
Carlos Alberto Pinto Fonseca
Ars Nova – Coral da UFMG
O sincretismo religioso é a demonstração de luta de milhares de negros mantidos nos cativeiros do Brasil. lmpedidos de expressar sua devoção às divindades de seus ancestrais, os escravos buscavam na fusão da religião católica com os ritos africanos, um mecanismo de fuga à dominação do homem branco. O sincretismo é, antes de tudo, um grito de libertação religiosa. Consequência de um momento tão peculiar na História do Brasil, o sincretismo perdura até os nossos dias, revelando a força da memória e dos costumes.
Segundo Carlos Alberto Pinto Fonseca, desde que o Papa João XXIII encorajou o uso da música folclórica e popular na liturgia católica, ele desejou compor uma missa brasileira, empregando a mesma linguagem coral, baseada no folclore brasileiro usado em seus arranjos e composições. O resultado foi a Missa Afro-Brasileira (de batuque e acalanto), que reflete com energia a conflituosidade do movimento sincrético. Ao abolir as barreiras entre a música sacra e profana, entre música erudita e popular, o autor também escapa aos padrões estabelecidos nas composições eruditas. Retrata a força primitiva e o impulso quente do ritmo africano, combinando a ternura do acalanto com as formas populares como “marcha-rancho” e “samba-canção”, empregando também os modos nordestinos.
A Missa é mais extensa que o usual, pois foi usado o texto oficial da lgreja Católica no ano de sua composição, 1971. A obra é cantada em português e latim, em superposição ou alternância dos idiomas. O primeiro, possui sons brandos e consoantes suaves, e é empregado nas melodias ternas. A sonoridade e articulação do latim é reservado para as partes e para os rítmos afro, em seus efeitos percussivos. Brasil abriga contrastes e misturas; o novo, lado a lado com o velho; arquitetura moderna coexistindo com o estilo colonial das igrejas. Refletindo todos esses aspectos e mantendo uma unidade estrutural, o autor emprega um tema basico, revestido, a cada vez, de nova harmonia. Esse tema é desenvolvido de forma mais narrativa no Credo. Há também interrelações entre partes como o Christe e o Sanctus.
Existe um sentimento de tristeza, de profunda saudade na música brasileira, especialmente no “samba-canção”. Essa forma aparece no ponto mais dramático da Missa: “Também foi crucificado”, onde o tenor-solo “chora” em samba-canção, e o coro acompanha, imitando os instrumentos de um “chorinho”. Esta parte relaciona-se formalmente com o “Cordeiro de Deus”, também samba-canção, com tenor solista.
A atmosfera do “Dona Nobis Pacem” assemelha-se à de “E Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade”, do Glória. Mas não se poderia terminar a “Missa” neste ambiente angelical. Quebrando esse clima de “céu”, surge o brado forte clamando “Agnus Dei”, um grito final de misericórdia e clamor a Deus.
(extraído da contra-capa)
A Missa Afro-Brasileira (de batuque e acalanto), de Carlos Alberto Pinto Fonseca, recebeu o título de “Melhor Obra Vocal do Ano” pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 1976.
Missa Afro-Brasileira (de batuque e acalanto)
Carlos Alberto Pinto Fonseca
1. Kyrie
2. Gloria
3. Credo
4. Sanctus
5. Benedictus
6. Agnus Dei
Missa Afro-Brasileira (de batuque e acalanto) – 1972
Ars Nova – Coral da UFMG
Regente: Carlos Alberto Pinto Fonseca
Maria Eugênia Meirelles, soprano
Mara Dalva Alvarenga, contralto
Marcos Tadeu de Miranda, tenor
José Carlos Leal, barítono
Esta é uma gravação de um LP de 1972, gentilmente cedido pelo nosso ouvinte Alisson Roberto Ferreira de Freitas e digitalizado por Avicenna.
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MP3 320 kbps – 87,5 MB – 37,8 min
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Boa audição.
Avicenna
Eu vi esse post agendado e fiquei esperando pra baixá-lo, Avicenna. Tô vibrando aqui, mesmo antes de ouvir a peça. Abraço.
Não se esqueça de deixar aquí seus comentários, CVL!
O Carlos Alberto foi um grande maestro mineiro e sempre prestigiou a música sacra colonial brasileira. Essa Missa é considerada a sua obra-prima.
Imagina se o afromaníaco aqui também não está vibrando! Vou baixar JÁ!!
(A propósito, CVL e Avicenna, vcs viram o comentário que o Harry Crowl deixou sobre o Theodoro Nogueira no post ‘Bach na Viola Brasileira’? Achei humanamente tocante e também de importância histórica. Só não respondi pq estes dias ando meio atrapalhado…)
Vi, sim, Ranulfus. Ô, país sem memória. Queria saber se o Nogueira está vivo.
Infelizmente chegamos tarde… Custei a encontrar a informação, mas ele morreu em 2002, com 89 anos.
Quem está vivo é o Geraldo Ribeiro, que executou as peças nesse disco. Parece que é professor em Brasília, não sei. Li que ele – que naturalmente entendia a importância do que estavam fazendo – ficou embasbacado com o pouco caso com que esse disco foi recebido.
Essas horas lembro de quando o Caetano falou “o Brasil ainda precisa merecer a bossa nova”, e generalizo: o Brasil ainda precisa merecer TODA as sua arte – ai!…
puramordedios!! Retire tbm este do limbo rapidshareano e ponha-o no mediafire! PLEASE!
Que coisa linda cara! A segunda parte do Kyrie então! com soprano nas alturas.
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Avicenna
Avicenna,
vejo tuas publicações e percebo que não conheço nada! É uma beleza. É como se você viesse com um baú trazido de outras paragens, bem distantes. Sabe-se lá o que trará, só sabemos que será bom!
abraço.
Ganhei o dia com sua mensagem, Thiago!
Um abraço,
Avicenna
Ouvi recentemente uma versão com percussão, disponível no YouTube, que é muuuuito boa também, vale d+++!
Passa o link pra gente ver se acha o mp3 que a gente posta!!!
https://youtu.be/LTA7rNo-SVU
Embora o som não esteja no padrão PQP, eu achei bem legal o efeito da percussão. Trouxe ainda mais o caráter afro-brasileiro à obra.