A maior dificuldade relacionada à imensa série de arranjos de canções folclóricas que Ludwig para George Thomson – excluindo-se, claro, o caráter irascível de nosso herói – foi a comunicação. Mesmo nas melhores condições prevalentes, levar algo de Viena, no coração da Europa Ocidental, até Edimburgo envolvia uma pequena epopeia – e com Napoleão tocando o fordunço em boa parte do continente, e ainda por cima mantendo o Bloqueio Continental às ilhas inimigas, fazer partituras cruzarem canal da Mancha parecia tão plausível quanto levar La Grande Armée ao inverno russo. Ao completar a primeira série de arranjos em 1810, Beethoven mandou fazer três cópias e enviou-as a Thomson por rotas diferentes, e nenhuma delas chegou à Escócia. No ano seguinte, enviou outra cópia, que através dum convoluto caminho que passou por Trieste, percorreu vários portos italianos e chegou à distante Malta – recém-conquistada pelos britânicos -, de onde seguiu para Londres e, então, para Edimburgo.
Com o passar do tempo, descobriram que a rota mais confiável, incrivelmente, era aquela que passava por Paris, a capital do inimigo. Ainda assim, a travessia do canal, que não era feita por qualquer embarcação autorizada, tinha que ser feita por contrabandistas – ou, como os chamamos lá na minha terra, chibeiros, que, em vez de partituras de Beethoven, trazem cigarros do Paraguai.
Apesar da distância e das dificuldades de comunicação, não faltaram faíscas entre Ludwig e Thomson. O escocês queria arranjos para amadores e reclamava que o renano os complicava demais. Beethoven subiu nas tamancas e mandou chibear pela Mancha a seguinte resposta:
Não estou acostumado a retocar minhas composições. Nunca fiz isso, na certeza de qualquer mudança parcial nelas altera seu caráter. Lamento que você esteja do lado perdedor, mas você não pode me culpar, pois deveria ter sido você a me familiarizar com os gostos do seu país e com a pouca competência de seus músicos”
Shame on you, Herr Thomson.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Vinte canções irlandesas, arranjadas para voz e conjunto vocal misto, com acompanhamento de violino, violoncelo e piano, WoO 153
Arranjos feitos entre 1810-15
Publicados em 1814 e 1816
1 – No. 6: Sad and luckless was the season. Andante affettuoso e semplice assai
2 – No. 3: The British Light Dragoons. Vivace scherzando
3 – No. 1: Duet – When eve’s last rays. Andante con molto, espressivo
4 – No. 4: Since greybeards inform us. Allegretto scherzando
5 – No. 2: No riches from his scanty store. Amoroso con moto
6 – No. 5: Duet – I dream’d I lay where flow’rs were springing. Andantino
7 – No. 9: The kiss, dear maid, thy lip has left. Andante amoroso e teneramente
8 – No. 7: O soothe me, my lyre. Andantino grazioso
9 – No. 15: ’Tis but in vain. Andante amoroso, languidamente
10 – No. 11: When far from the home. Andantino amoroso
11 – No. 13: ’Tis sunshine at last. Andantino grazioso
12 – No. 8: Norah of Balamagairy. Allegretto grazioso
13 – No. 19: Judy, lovely, matchless creature. Andante amoroso
14 – No. 12: I’ll praise the Saints with Early Song. Andantino
15 – No. 18: No more, my Mary. Andante amoroso con molto espressivo
16 – No. 20: Thy ship must sail. Andante con espressione
17 – No. 14: Paddy O’Rafferty. Allegretto scherzando
18 – No. 16: O might I but my Patrick love. Andante amoroso con espressione teneramente
19 – No. 10: Duet – Oh! thou hapless soldier. Andante con molto, espressivo
20 – No. 17: Come, Darby dear. Allegretto più tosto vivace
Dame Felicity Lott, soprano
Ruby Philogene, mezzo-soprano
Toby Spence, tenor
Christopher Maltman, barítono
Marieke Blankestijn, violino
Elizabeth Layton, violino
Ursula Smith, violoncelo
Malcolm Martineau, piano
Vassily