J. S. Bach
“Six Concerts avec plusieurs instruments”
Como todas as atividades humanas, a vida de blogueiro, especialmente de blogueiro de música clássica, gera ansiedade e envolve riscos. Ah, mas se assim não fosse, que graça teria? Vocês não imaginam o que é escolher uma peça para a postagem, depois a gravação, o que dizer, o que não dizer na redação do texto? Cada uma destas etapas levanta enormes considerações, intranquilidades muitas. Será que a gravação já foi postada antes? Alguém já escreveu aquela frase que você só conseguiu alinhavar depois de muitas folhas de rascunho rabiscadas e várias xícaras de café? O que dirão da sua escolha, os venerandos pares, que ajudam a fazer singrar esta nossa nau musical? Provavelmente estarão tão atarefados com as suas próprias considerações e obrigações que não terão tempo de verificar as patuscadas dos outros. Mas vai que…
E vocês podem imaginar meus sobressaltos ao escolher obra tão icônica como este conjunto de concertos do nosso compositor mor. Mas, creiam, assim que ouvi o álbum pela primeira vez, decidi: vou postar! Este aqui é preciso dividir com nossos seguidores.
Todos já devem saber da história, mas aqui vai a minha versão. Bach compilou este conjunto de seis (número mágico para as coleções de obras musicais) concertos e na primavera de 1721 os dedicou ao Margrave de Brandenburgo, com a clara intensão de conseguir uma posição na corte. Portanto, o conjunto foi compilado para exibir os seus talentos e sua inventividade. É incrível a variedade de instrumentos usados, a energia que cada uma destas peças demanda de seus intérpretes e contagia as plateias que tiverem a sorte de ouvi-los. A forte presença de instrumentos de sopros é uma clara preferência germânica. Como nos explica Karl Geiringer, nos concertos Nos 1, 3 e 6, a orquestra é composta de coros instrumentais uniformemente equilibrados que lançam os temas de uns para os outros em encantadora conversação, só ocasionalmente destacando um único instrumento saído do meio de todos eles. Estes concertos evocam as canzonas venezianas, com seus coros instrumentais contrastantes. Os outros três concertos, Nos. 2, 4 e 5, têm as cordas acompanhantes, os ripieni, defrontando-se com o concertino, consistindo de três ou quatro instrumentos solistas. São do tipo concerti grossi. Além disso, neste concertino há um instrumento protagonista e condutor, cuja parte é mais brilhante e tecnicamente mais exigente.
O cravo saiu do anonimato do baixo contínuo para revelar-se um maravilhoso instrumento solista no Concerto No. 5. No Concerto No. 2, uma flauta e um trompete roçam ombros ao lado do oboé e um violino como solistas. Fechando o cortejo, o Concerto No. 6 é só para cordas e um cravo. E cordas graves, duas violas, duas violas da gamba, acompanhadas de violoncelo, cravo e um ‘violone’.
Pois se o Margrave não contratou Bach, pior para ele. As partituras dos concertos acabaram tomando poeira nas prateleiras da biblioteca, foram vendidas por uma ninharia, mas chegaram até nós e perfazem uma das coleções de obras mais gravadas de que se tem notícia. Nem as ‘Quatro Estações’ são páreo para os ‘Brandenburgos’.
Esta gravação, de que eu gostei tanto, não é unanimidade, mas foi bastante bem recebida pela crítica. Na minha opinião, conta a seu favor o fato de que cada ‘parte’ é tocada por apenas um instrumento, dando mais agilidade e transparência ao discurso musical. O tal andamento mais rápido, que é uma característica dos conjuntos italianos que adotam instrumentos e prática de época, é uma característica positiva para mim, mas pode causar franzir de testas e levantamento de sobrancelhas em outras fisionomias. Mas como diria o sábio e poeta, toda unanimidade é unânime.
Enfim, tenho certeza que esta gravação não o deixará indiferente e poderá ganhar espaço junto daquelas outras que você já considera como as suas preferidas. Pode até ser que ela já esteja lá…
De brinde, no primeiro disco há uma faixa com uma Sinfonia da Cantata 174, que é uma outra versão do Concerto No. 3, acrescentado de três oboés e duas trompas. No segundo disco, há uma faixa intitulada ‘Cadenza’ que é a versão original da cadência do Concerto No. 5.
Ao fazer a compilação dos concertos, Bach escreveu uma versão estendida da cadência, passando de 17 para 65 barras, que deu muito mais drama e virtuosismo ao concerto.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concertos de Brandenburgo
CD1
Concerto No. 1 em fá maior, BWV 1046
- […]
- Adagio
- Allegro
- Menuet
Concerto No. 2 em fá maior, BWV 1047
- […]
- Andante
- Allegro assai
Concerto No. 3 em sol maior, BWV 1048
- […]
- Adagio – Allegro
Cantata ‘Ich liebe den Höchsten von ganzen Gemüte’, BWV 174
- Sinfonia
CD2
Concerto No. 4 em sol maior, BWV 1049
- Allegro
- Andante
- Presto
Concerto No. 5 em ré maior, BWV 1050
- Allegro
- Affettuoso
- Allegro
- Cadenza
Concerto No. 6 em si bemol maior, BWV 1051
- […]
- Adagio ma non tanto
- Allegro
Concerto Italiano
Rinaldo Alessandrino
Observação: os nomes dos específicos solistas em cada concerto podem ser encontrados em documentos tipo pdf anexados aos downloads.
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
FLAC | 543 MB
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 | 320 KBPS | 253 MB
Mais uma frase do erudito Karl Geiringer: ‘Até mesmo o estudioso de Bach, que espera a máxima variedade da obra do mestre, deve ficar surpreendido com a abundância de cenas cambiantes nessas joias musicais’.
Baixe a versão que mais seja adequada ao seu uso, flac ou mp3, e aproveite esta maravilha de música!
René Denon
PS: Se você entendeu a ideia da capa do disco, por favor, divida conosco…
René – li com muita atenção o relato que você faz para esta postagem. Como sempre, conciso, claro, didático. É um privilégio poder contar com um literato descrevendo o significado das postagens, a vida na época dos grandes compositores, suas dificuldades, etc. Por outro lado, as proprias dificuldades para arrumar tempo afim de disponibilizar seus trabalhos no Blog. Eu admiro porque usufruo avidamente desta corrente de informações. A música é um dos pilares de sustentação da nossa personalidade. Quem aprecia e ama a música clássica, estará sempre um passo à frente na longa fila da aquisição do conhecimento. Agradeço muito, René, por você fazer parte deste Blog maravilhoso, comandado por nada mais nada menos PQPBach.
Olá, manuel!
Obrigado pela suas mais do que lisonjeiras palavras! Como diria a ária, ‘literato non sono… ‘ mas de tanto laborar, alguma coisa se aprende.
Eu tenho tido muitíssimo prazer em preparar as postagens para o blog e o comentário que você acabou de fazer traz mais do que um alento, do que um incentivo. A sua resposta indica que o Blog PQP Bach é mais do que um depósito de arquivos de música. O Blog é principalmente um espaço onde amigos falam daquilo que gostam, opinam, se influenciam e se divertem.
Salve PQP Bach!
Valeu muito!
Forte abraço!
RD
Boa noite, René.
A faixa 4 do CD 1 é assim mesmo?
Parece que o minueto é repetido várias vezes e as outras partes não aparecem.
A propósito, são 16 faixas listadas no CD 1 e só tem 10 na postagem. Tudo bem se todos as partes do último movimento de Concerto No.1 estivessem juntas nesta faixa 4, mas parece que não é o caso.
As demais estão ok, só esta faixa 4 que me parece que está com problemas.
De qualquer forma, obrigado por este trabalho incrível que vocês fazem no PQPBach.
Olá, Luiz Euripedes!
Obrigado pela observação sobre a faixa 4 do CD 1. Realmente, estava faltando os trios e a polacca… Agora está tudo certo. Mas, se encontrar qualquer problema, por favor, informe. Tentaremos corrigir…
Abraços!
RD
Ouvi este CD hoje e achei espetacular. Entra para o já grande grupo de gravações irretocáveis destes concertos.