Olivier Messiaen (1908-1992): Obras para órgão, CD 3 de 6

– Você disse uma vez que a música de certos autores modernos é cinza, associada a um tipo de sentimento pessimista, uma espécie de monotonia, talvez.

O.Messiaen: Bem, bem, pode ser verdade que a escola serial escreveu apenas sobre assuntos mórbidos e obras quase sempre passadas à noite. Não é por acaso que Erwartung de Schoenberg se passa à noite e é um assunto horrível, uma mulher que vê o cadáver de seu amante…

– E podemos adicionar Wozzeck e…

O.M.: Muitas outras que são obras-primas, sem dúvida, mas são obras-primas sombrias.

No pós-guerra, Messiaen entra em seu período mais vanguardista, em que cria novos caminhos para as técnicas seriais de Schoenberg, inspirando alunos como Boulez, Stockhausen e Almeida Prado. Ao mesmo tempo, Messiaen não se prende a um único estilo, tendo dito na época: “Nunca me servi voluntariamente de um procedimento de composição. Aplico modos e ritmos de forma instintiva, sem compreender mesmo que possa ser de outro jeito. E por que banir isso ou aquilo? E se eu tiver vontade de usar o modo maior, de misturá-lo ou opô-lo aos ‘meus’ modos? E se eu tiver vontade de imitar cantos de pássaros ou ragas hindus? E se eu tiver vontade de usar em um momento a técnica ‘serial’ por ter necessidade dela neste momento?”

Desta forma, no Livre d’orgue, Messiaen usa procedimentos seriais nos movimentos 1, 5 e 6, mas talvez seja o canto de pássaros que impeça a música serial de Messiaen de ser sombria e pessimista como a da 2ª Escola de Viena.

O canto dos pássaros, para Messiaen, representa a liberdade total do ponto de vista rítmico, a autoconfiança da improvisação e um valor espiritual: os pássaros, para ele, são os mensageiros do divino. “Sempre gostei dos cantos de pássaros. Quando comecei a anotá-los devia ter 17 ou 18 anos, os transcrevia muito mal. Depois tive lições em campo com ornitólogos de renome.”

O último movimento, “64 durações”, faz a síntese completa entre serialismo e pássaros. Aqui não se trata de uma série de doze notas como as de Schoenbeg, mas de uma série de 64 durações, indo da fusa (que dura 1/32 de uma semibreve) até duas semibreves (ou seja, 64 vezes a duração inicial). Ou, na palavras do compositor, “64 durações cromáticas, de uma a 64 fusas, tratadas como um cânone retrógrado. Tudo isso populado com cantos de pássaros.”

Sempre interessado no ritmo e no Tempo, Messiaen diz ainda: “Nós percebemos durações muito longas com dificuldade. Por exemplo, uma duração de 63 notas e uma outra de 64 notas: ambas são muito longas e a diferença é quase imperceptível.”

A Missa de Pentecostes é o resultado de vinte anos de improvisações ao órgão e também mostra a liberdade de Messiaen: aqui, ao contrário do Livre d’orgue, trata-se de música religiosa, com cada movimento associado a um estágio da missa católica, mas isso não impede Messiaen de misturar ritmos hindus, canto gregoriano, cantos de pássaros e outros sons da natureza, incluindo vento e gotas d’água.

Messe de la Pentecôte
1. Les langues de feu (Entrée)
2. Les choses visibles et invisibles (Offertoire)
3. Le don de la sagesse (Consécration)
4. Les oiseaux et les sources (Communion)
5. Le vent de l’esprit (Sortie)

Livre d’orgue
6. Reprises par interversion
7. Pièce en trio (pour le Dimanche de la Sainte Trinité)
8. Les Mains de l’abîme (pour le Temps de Pénitence)
9. Chants d’oiseaux (pour le Temps Pascal)
10. Pièce en trio (pour le Dimanche de la Sainte Trinité)
11. Les Yeux dans les Roues (pour le Dimanche de la Pentecôte)
12. Soixante-quatre durées

Recorded in 1980/81
Grandes Orgues de la Cathédrale Saint Pierre, Beauvais, France

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Pierre-Laurent Aimard (dir.) sobre o legado de Messiaen (esq.): "sua música... muita luz, cores e esperança em um século muito sombrio"
Pierre-Laurent Aimard (dir.) sobre o legado de Messiaen (esq.): “sua música… muita luz, cores e esperança em um século muito sombrio”

 

Pleyel

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