Não vou contar o filme. Se o fizesse seria um infame, um vilão. Poderosa Afrodite é uma das obras mais deliciosas do cinema e uma das melhores e imaginativas criações de Woody Allen. Como poderia estragar o prazer de quem ainda não o viu? Além disso, é um filme fácil de se encontrar, felizmente está ao alcance de todos. Sua trilha é mais uma galeria de delícias de diversos autores. O disco, assim como o filme, abre ao som do Bouzouki – tradicional cordofone grego. Duas faixas bonitas, com a intensidade e a expressividade da música das plagas de Alexis Zorba. A segunda peça traz a assinatura de um mestre no gênero, George Zambetas. Sendo um filme de Woody Allen é natural que logo surja um jazz das antigas, na faixa 3, com o trombonista Wilbur de Paris – que não era parisiense, era sobrenome mesmo, tocando ‘I’ve found a new baby’. Benny Goodman, sem dúvida um dos ídolos do também clarinetista Woody Allen, aparece na faixa 4, com a famosa Whispering. Goodman que foi aclamado o Rei do Swing, mais tarde sabiamente penduraria as chuteiras com a derrocada do estilo big-band, indo tocar música erudita, a exemplo do concerto de Mozart, mais Bartok, Copland, Bernstein, Stravinsky… Na faixa 5, a joia de Rodgers & Hart: Manhattan, numa daquelas raras gravações que Allen costuma exumar para os seus filmes, uma versão de Carmen Cavallaro – embora de nome feminino, foi um famoso pianista em sua época. A faixa 7 é um dos ápices do disco. Li’l Darlin’, tema de Neal Hefti, com Count Basie e Orquestra. Apesar de Duke Ellington, como sabemos, ser o rei da elegância no jazz, nesse momento o duque tira a sua coroa para o conde. Uma das gravações mais bonitas e perfeitas do jazz. Ouvimos o lacônico piano de Basie, característica desenvolvida, segundo ele, devido ao fato de ter que revezar sua mão direita entre o teclado, o charuto, o copo de whisky e a mão direita dos que vinham cumprimentá-lo enquanto ele tocava nas noites de Kansas City e NY. Um absoluto primor. A faixa seguinte, de número 8, Errol Garner interpreta Penthouse Serenade, tema ‘utilizado’ pelo Djavan, que, até onde eu saiba, não foi devidamente creditado a Jackson & Burton – ilustres menos conhecidos. Garner também aparece na faixa seguinte de número 9 e na 10 o Ramsey Lewis Trio sacode os esqueletos com uma peça gravada nos anos 60, com um jazz já metamorfoseado em soul music – The ‘in’ crowd. As faixas 11 e 12 são verdadeiras delícias: o Dick Hyman Chorus com dois clássicos, primeiro o standard de Cole Porter, ‘You do something to me’ (que está num dos mais belos momentos do filme de Allen); e ‘When you’re smiling’, tema imortalizado por Billie Holiday e Louis Armstrong. A última faixa de número 13, é uma peça que apesar de constar no encarte do disco não consta no mesmo, talvez devido a algum problema com os direitos autorais, mas dei um jeito de constar e aqui temos o famosíssimo Take Five de Paul Desmond, naturalmente na sua versão consagrada, com o Dave Brubeck Quartet; destaque para o antológico solo de bateria do grande Joe Morello, eu diria, só ombreado pelo percussionista à caixa clara da Banda de Pífanos de Caruaru na faixa A Briga do Cachorro com a Onça – raridade que em breve estará também no PQP. Deliciem-se com esta maravilhosa trilha sonora. Dedico esta postagem tão saborosa ao nosso patriarca Mr. Avicena, com o abraço de todos nós.
Mighty Aphrodite – music from the motion picture
1 Neo Minore – Vassilis Tsitsanis in bouzouky solo
2 Horos Tou Sakena – George Zambetas in bouzouky solo
3 I’ve found a new baby – Wilbur de Paris
4 Whispering – Benny Goodman
5 Manhattan – Carmen Cavallaro
6 When your love has gone – Bert Ambrose Orchestra
7 Li’l Darlin’ – Count Basie Orchestra
8 Penthouse Serenade – Errol Garner
9 I handnt anyone till you – Errol Garner
10 The ‘in’ crowd – Ramsey Lewis Trio
11 You do something to me – Dick Hyman Chorus
12 When you’re smiling – Dick Hyman Chorus
13 Take Five – The Dave Brubeck Quartet
Wellbach
Ainda melhor que um bom disco ou uma boa trilha é isso embalado com um texto saboroso desses, que a gente lê com um relaxante sorriso do começo ao fim. Realmente não é só com as notas musicais que nosso amigo DOES IT WELL!
Grato, compadre Ranulfus, grande abraço!
Ganhei minha segunda feira! Yes, Well does well!!!
Avicenna
Grande abraço, Mr. Avicena! fico feliz que gostou. Abrs.
Caro Wellington, parabéns pela postagem da trilha do filme que Mira Sorbino e a trilha sonora roubam a cena!
Dado