A sexta é uma sinfonia plácida, mas o desavisado que a ouve desconhecendo o restante das obras de Bruckner, vai achar que estou brincando. Prova de que o idioma bruckneriano existe e de que linguagem depende de contexto. Não a conheço como conheço as outras e ontem, ao ouvir a sinfonia, meu filho, que estava afastado de mim por algumas paredes e uns 20 metros, disse não ter entendido nada, pois a música desaparecia por longos períodos e depois retornava tonitruante. É como se eu estivese brincando como o amplificador. Só que eu estava lendo, tranqüilo, sem mexer no botão de volume. Bruckner é diferente mesmo. Porém, depois da quarta, quinta e de suas três últimas sinfonias é possível viver sem seus tutti?
Tal audição valeu-me a redescoberta de um belíssimo Adagio que me fez parar de ler e de um Scherzo talvez atípico, mas muito bom. (O Adagio rola neste momento no computador e é notável mesmo. Um pequeno tema apresentado dos 15 aos 25 segundos deste Adagio — e que retorna transformado depois — é muito semelhante ao de Somewhere, de West Side Story. “There’s a place for us…”)
O excelente desNorte — caro leitor, você deveria lê-lo sempre — descreve as circunstâncias da estréia da Sexta Sinfonia (o negrito é obra minha):
As origens rurais de Anton Bruckner (1824-1896) não faziam antever o compositor que dali sairia. Deu-se mesmo o caso dos vienenses terem, numa primeira fase, ignorado olimpicamente as suas obras, não pelo seu valor intrínseco, mas precisamente pela ruralidade do autor…
Depois, temos ainda o facto de Bruckner apenas muito tardiamente ter iniciado uma formação musical formal, já bem entrado na casa dos 30. Claro que os anos passados em S. Florian, entre 1845 e 1855 tinham-lhe permitido evoluir como compositor, só que com muito de autodidactismo. Situação que procurou modificar, com perseverança, ao prosseguir longos estudos musicais, nomeadamente com Simon Sechter (1788-1867), Otto Kitzler (1834-1915) e Ignaz Dorn (1830-1872). Foi um período, superior a 10 anos, que Bruckner passou em Linz, como organista da respectiva catedral, e em que os últimos 5 foram particularmente produtivos, com a composição, entre outras obras, de 3 Missas e da Sinfonia Nº1.
No Verão de 1868, Bruckner mudou-se para Viena, a última etapa da sua carreira como compositor e aquela onde escreveu a maior parte das sinfonias. Sem grande sucesso inicialmente, como já referi, bastando reparar nas razões dadas pela Orquestra Filarmónica de Viena para sucessivamente as rejeitar: a 1ª era “desvairada“, a 2ª por ser “absurda” e a 3ª como “inexecutável“…
Quando, nos finais de 1881, Bruckner terminou a Sinfonia Nº6, o ambiente já estava mais desanuviado pelo sucesso obtido com a 4ª Sinfonia, estreada em Fevereiro desse mesmo ano por Hans Richter (1843-1916). A estreia da 6ª, a 26 de Fevereiro de 1899, encontrou a reger a orquestra outro dos grandes sinfonistas de sempre, Gustav Mahler (1860-1911). É uma das poucas sinfonias, a par da 7ª, que não sofreu revisões posteriores, não havendo portanto lugar às habituais confusões entre as várias e disputadas versões…
P.Q.P. Bach.
Sinfonia Nro. 6 de Anton Bruckner
I. Maestoso 17:07
II. Adagio: Sehr feierlich 18:54
III. Scherzo: Nicht schnell – Trio: Langsam 09:00
IV. Finale: Bewegt, doch nicht zu schnell 14:44
New Zealand Symphony Orchestra
Georg Tintner, Conductor
será vcs tem ai alguma coisa de Offenbach?um dia desses descobri q por trás daquele cancan todo há algo divino…a suíte do balé Viagem à Lua é bom exemplo disso…fica ai uma sugestao.
ora, os Concertos para Piano N 24, 26 E 27 de Mozart são maravilhosos e ainda não estão neste maravilhoso blog? como assim?
Não, não estão. Aguarde.PQP Bach.
Offenbach? Tem certeza?
Offenbach sim… parem com esse preconceito a compositores de música ligeira…essa música também tem seu sentido de ser.
Engraçado como os tempos caminham, e seguimo-lo juntos.Há alguns anos, eu era absoluto apreciador de obras modernas/contemporâneas, tanto em matéria de conhecimento como em degustação. Agora, já não me agrada com a mesma intensidade de antes.Já Bruckner, um compositor que imaginei não gostar nunca, faz-me atualmente apreciar genuinamente suas composições.Temo que daqui a certo tempo eu passe a crer que a obra de Bach fica melhor em piano que eu cravo. Seria minha ruína.
*[…] melhor em piano que EM cravo.
Nada possuo de Offenbach… portanto não posso ajudá-los. Não posso responder pelos outros membros do blog.. a seu dispor, FDP Bach.
por que as gravações da orq. da longínqua Nova Zelândia ?
é só modismo de fugir um pouco do centro da Europa…ou é boa mesmo?
P.Q.P., meu caro, é sempre um prazer acessar este blog, como eu sempre digo. Eu gostaria de saber se você sabe onde eu posso baixar o “Te Deum” do grandioso Bruckner. Estou me apaixonando por suas sinfonias, e queria conhecer mais também sobre seu repertório sacro. Um grande abraço.