Felix Mendelssohn (1809-1847): Quartetos de cordas nº 4, 5 e 6 (Quatuor Van Kuijk)

Mendelssohn não está entre os meus 10 ou 15 compositores favoritos. Não só isso: como alguém que ouve muita música para piano, associo o compositor às belas e suaves miniaturas Romances sem palavras, que ele publicou em diferentes momentos da vida e eram populares na Inglaterra vitoriana, entre outros contextos de um certo conservadorismo musical de gente rica. Essa impressão combina ainda com a sua célebre Marcha Nupcial, presente em 9 a cada 10 casamentos, e combina parcialmente com as suas sinfonias.

Enfim, a imagem de um compositor muito competente, especialista em J.S. Bach – de quem ele salvou certas obras do esquecimento na sua época – e, assim como Bach, às vezes menos ousado do que outros contemporâneos seus. Parênteses aqui para lembrar que o grande, imenso Bach evitava temas de amor romântico nas suas obras vocais e uma das poucas obras com pitadas de polêmica é a Cantata do Café. Voltemos a Mendelssohn: algumas obras dos anos 1840, última década do compositor, mostram um estilo tardio em que finalmente o compositor soa mais ousado e se entrega a arroubos de romantismo mais intenso. Também é o período em que ele deixou crescer uma barbade gosto duvidoso para os dias de hoje, mas até nisso ele estava ousando: antes um gosto duvidoso do que a caretice-de-classe-média da Marcha Nupcial, não é mesmo?

Entre essas obras do estilo tardio: o Trio nº 2 (1845) e, em menor medida, já o Trio nº 1 (1839). Também o famoso Concerto para Violino em Mi menor (1844), incomparavelmente mais denso e emocionante do que os tediosos concertinhos para um e para dois pianos dos anos anteriores. E o seu último Quarteto de Cordas (1847), de nº 6, que é a peça que abre esse disco. Uma abertura enérgica, cheia de suspense, como aliás também o são os movimentos iniciais dos Quartetos nº 4 e 5 e dos seus Trios.

O livreto deste álbum explica alguns detalhes dos últimos meses de vida de Mendelssohn, após perder a sua irmã Fanny, vítima de um derrame – hoje em dia mais conhecido como AVC -, mesma causa que levaria à morte de Felix, um caso evidente de predisposição genética na família… A morte de sua irmã mais velha ocorreu quando Felix Mendelssohn já se encontrava exausto com turnês e outras atividades: o inglês Henry Chorley, que o visitou em agosto de 1847, descrevia o compositor como um homem precocemente envelhecido e já prevendo a própria morte ao comentar sobre as obras da Catedral de Köln que haviam reiniciado em 1842: “alguma obra minha ser cantada na inauguração da Catedral, que honra! Mas eu não viverei para ver isso”, teria dito Mendelssohn com uma expressão de cansaço.

Joseph Joachim (1831-1907)

Apesar desse cansaço e pessimismo, Mendelssohn teve forças para completar o seu último quarteto de cordas, o de nº 6, que foi ouvido primeiro em uma audição privada em outubro de 1847 e estreou em público em 1848, quando Mendelssohn já havia falecido. No primeiro violino o jovem Joseph Joachim (1831-1907), pupilo de Mendelssohn que estrearia ainda inúmeras obras como o Concerto de Brahms e a 2ª Sonata para violino de Schumann.

O encarte do álbum diz ainda: nem Schumann, que dedicará a Mendelssohn seus três quartetos op. 41, nem Brahms ousarão tais condessões nos seus quartetos de cordas. Apenas no século seguinte, com a Suíte lírica de Alban Berg e as Cartas íntimas de Janácek, surgirão quartetos tão autobiográficos.

Felix Mendelssohn (1809-1847):
1-4. Quarteto de cordas nº 6, em fá menor
5-8. Quarteto de cordas nº 4, em mi menor
9-12. Quarteto de cordas nº 5, em mi bemol maior

Quatuor Van Kuijk: N. van Kuijk (vln.), S. Favre-Bulle (vln.), E. François (vla.), A. Kondo (cello)
Recorded: 2022, Arsenal de Metz, France

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Mendelssohn em sua última década: as costeletas hoje parecem ridículas, ao contrário dos quartetos de cordas

Pleyel

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