Hector Berlioz (1803-1869) – Symphonie Fantastique (Norrington)

Falecido em 18 de julho de 2025, o maestro inglês Roger Norrington foi um dos principais nomes ligados às interpretações historicamente informadas nas últimas décadas. Ele chamava o vibrato uma “droga moderna” e insistia que no século XIX os naipes de cordas das orquestras não utilizavam essa técnica, tese da qual alguns discordam, mas não entremos tão a fundo nessa polêmica hoje. O que importa é que Norrington fundou em 1978 a orquestra London Classical Players, que se especializou em obras do século XIX e fim do XVIII, em uma época em que o repertório de Monteverdi até Vivaldi e Bach já era usualmente tocado por orquestras menores e andamentos e trejeitos menos românticos, mas ainda era bastante polêmico fazer o mesmo com Beethoven.

E Norrington foi além: gravou bastante coisa de românticos como Schumann, Bruckner e Brahms, estes últimos principalmente com a Radio-Sinfonieorchester Stuttgart, orquestra da qual ele foi regente titular após a dissolução dos London Classical Players em 1997, quando estes se fundiram com a Orchestra of the Age of Enlightenment, orquestra sem maestro titular, mas que também convidava Norrington com frequência.

Então Norrington – que era também um acadêmico com passagens nas Universidades de Cambridge e Oxford e ligado ao Oxford Bach Choir – especializou-se sobretudo nessas obras românticas de Beethoven, Schubert, Schumann, alemães que ele conhecia como a palma de sua mão e buscava extrair de suas partituras o suco e jogar fora o bagaço representado em resumo pelo vibrato. E há também Berlioz, francês que, como sabemos, foi um dos principais continuadores do estilo orquestral de Beethoven. Como eu recordei aqui, em 1828, um ano após a morte de Beethoven, a célebre 5ª Sinfonia estreou em Paris, com Berlioz presente naquele evento que iniciava, no país do croissant, um culto a Beethoven. Dois anos depois, em 1830, Berlioz compôs a Symphonie Fantastique que, como a Pastoral de Beethoven, tem um programa poético e cinco movimentos ao invés de quatro.

Essa sinfonia foi gravada por Norrington tanto em Londres como em Stuttgart. Fazendo uma certa combinação em que sai o vibrato mas ficam as emoções românticas, Norrington alcança belos resultados, como provavelmente alcança também no Requiem de Berlioz, gravação lançada em 2006 com a orquestra de Stuttgart e o coro Rundfunkchor Leipzig, mas que ainda não ouvi.

Note-se ainda que Norrington parece ter sido um sujeito mais ou menos discreto, fiel às mesmas orquestras com que se apresentava (além dessas citadas, a London Philharmonic – LPO, com quem gravou Vaughan Williams, a Royal Scottish National Orchestra, a Camerata Salzburg e a Tonhalle Zürich) e distante de grandes polêmicas, de solistas laureados e golpes de marketing.

Hector Berlioz (1803-1869): Symphonie Fantastique
The London Classical Players, Roger Norrington
Recorded: Abbey Road Studios, 1988

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Sir Roger Norrington

Pleyel

 

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