.: interlúdio :. Sissoko Segal Parisien Perani: Les Égarés – 2023

Poucos sabem que em 1997 a Terra sofreu devido à sua superpopulação. O Professor John Robinson, sua esposa Maureen, seus filhos Judy, Penny e Will, além do Major Don West, foram selecionados para viajar pelo espaço até um planeta do sistema Alpha Centauri, a fim de estabelecer uma colônia, para que outras pessoas pudessem viver por lá.  A viagem foi realizada na espaçonave batizada como Júpiter 2. No entanto, o doutor Zachary Smith, agente de um governo inimigo (possivelmente a mando de algum filho da Putin) foi enviado para sabotar a missão. Ele foi bem-sucedido em reprogramar o robô B9 para destruir os equipamentos da nave oito horas após a decolagem, mas no processo se atrasou e ficou preso na espaçonave, que decolou com ele a bordo. Ao tentar desativar o robô, este se religou sozinho. Sem saber do perigo que criou para todos, o doutor Zachary Smith decidiu acordar a família Robinson, que estava em tubos de hibernação. Quando menos se esperava, o robô B9 iniciou a sua programação e destruiu o sistema de navegação, rádio e vários aparelhos importantes, antes de ser desativado. Com a espaçonave em sérias avarias e já muito distante da rota programada, todos a bordo tornaram-se ‘perdidos no espaço’ e lutam até hoje para encontrar o caminho de volta pra casa.

Creio que a maioria dos frequentadores do PQP Bach sabem do que estou falando, pois que, presumo, já navegam na constelação dos 50 anos. Alguns, como eu, certamente odiaram o Dr. Smith, um velhote cheio de trejeitos e de duvidosíssimo caráter. Sim a saudosíssima série Perdidos no Espaço. Talvez o primeiro espécime terráqueo pelo qual me apaixonei foi Will Robinson, depois, alguns personagens da Vila Sésamo. Muitos, assim também como eu, quiseram ser Will Robinson, viajar pelo espaço e ter um robô. Infernizei tanto que a minha avó me arranjou um. A tripulação da nave Júpiter 2 era composta por Dom Diego de La Vega, digo, pelo Professor John Robinson (Guy Williams, da série Zorro, outra delícia que assisto até hoje); sua esposa Maureen (June Lockhart); as filhas Judy e Penny (Marta Kristen e Angela Cartwright); pelo filho Will (Billy Mumy); pelo piloto, Major Don West (Mark Goddard) e pelo sacana Zachary Smith (o formidável ator Jonathan Harris), este último, com falas que permanecem indeléveis na memória dos fãs: “Meu jovem, nada tema, com Smith, não há problema”, ou o seu suspirante “Oh, Dor…”, e o seu insulto contra o robô: “uma lata velha enferrujada”. Irwin Allen, que já se enchia de grana até a tampa com Terra de Gigantes, Viagem ao Fundo do Mar e o maravilhoso Túnel do Tempo, foi o criador e produtor executivo da série, que teve três temporadas, sendo a primeira ainda em preto e branco. A trilha sonora da série, com o tema da inesquecível abertura, era de nada mesmo que o grande John Williams – que mais tarde voltaria a compor ‘para as estrelas’. No Brasil a série estreou em dezembro de 1966, mas só em SP. De 1970 a 1978 foi exibida pela Globo para o resto do país. A partir de 1990 foi exibida pela nefasta Record e hoje, dizem, numa tal Rede Brasil. A série não foi encerrada em 1968 devido a baixas de audiência, mas por contenção de despesas devido ao fracasso de outros projetos da produtora, a CBS. Certas coisas não se apagam da memória de infância. A voz dos dubladores, especialmente a voz irritante do Dr. Smith; a aventuras de Will Robinson; o robô, um botijão de gás com luzes natalinas na cabeça, que nos seus melhores momentos lançava raios dos seus ganchos – o que todos adoravam ver. Mais o alerta:”Perigo Will Robinson , perigo!”. Os efeitos sonoros, sobretudo aqueles à base de Teremim, também são inesquecíveis.

Mas porque diabos fui parar nas plagas estelares e nas tropelias do Dr. Smith? Acontece que precisava de um assunto para encher a linguiça dessa postagem e o nome do formidável disco que aqui trago é Les Égarés – Os Perdidos. Antes de tudo um ‘blend’ timbrístico especialíssimo e inusitado, com uma sonoridade que certamente a família Robinson só encontraria em alguma galáxia distante, até o presente momento: Sax Soprano, Violoncelo, Acordeon e Kora – o fantástico e belíssimo cordofone africano.

Na tripulação deste disco fenomenal temos o mais famoso nome do Kora, Ballaké Sissoko; mais Vincent Peirani ao acordeon; Vincent Segal ao celo e Emile Parisien ao saxofone soprano. Destaco, dentre as faixas de grande beleza, o tema Esperanza, de Marc Perrone, uma cúmbia irresistível que faria derreter as calotas polares de Marte. Diante dessa novidade timbrística que decerto irá surpreender e encantar a muitos, sugiro que nos libertemos de comparações e nos deixemos imergir e enlevar por esta beleza. Como se, tripulantes da nave da família Robinson, tenhamos aportado em um planeta sonoro, no qual a música fluísse dos troncos e folhagens de densas e deslumbrantes florestas, em cores sonoras e melodias inteiramente novas para nós. Nautas da música, boa sorte.

Sissoko Segal Parisien Perani: Les Égarés – 2023

1- Ta Nyé
2- Izao
3- Amenhotep
4- Orient Express – Joe Zawinul
5- La Chanson des Égarés
6- Esperanza – Marc Perrone
7- Dou
8- Nomad’s Sky
9- Time Bum
10- Banja

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Les Égarés, por sonorides nunca d’antes navegadas

Wellbach

3 comments / Add your comment below

  1. Wellbach,

    Que texto mag-ní-fi-co!
    Sou um desses fãs da imortal “Perdidos no Espaço”!!!
    Como você, odiei com todas as minhas forças Zachary Smith (à época eu pensava: “por que não deixam esse infeliz sozinho num planetinha qualquer?” A questão da moralidade em torno dos conflitos sociais nem me passava pela cabeça…
    Amei a postagem. Que venham mais, com músicas planetárias, selvagens e… perdidas!

    1. Gratíssimo Msieur. Rameau! Ora, antes que o politicamente correto virasse moda, já existiam sacanas como o Dr. Smith, e abandoná-los em algum asteroide seria uma ótima opção rss. Boas Festas, felicidades! Abrs

Deixe um comentário