Logo após o falecimento do grande Jack DeJohnette, ouvi pela primeira vez um álbum gravado por ele com o saxofonista lá em 1977, com uma sonoridade bem típica do chamado ECM-jazz, nomeado por causa da gravadora que lançou dezenas de álbuns de um estilo que, em termos mais amplos, é jazz europeu, com menos ritmos dançantes do que o jazz americano, e às vezes se aproximando do new age, estilo que na época ainda estava começando a se configurar. A presença da bateria de DeJohnette faz toda a diferença aqui: quando as sonoridades baseadas no sax, no órgão elétrico e na discreta guitarra vão se encaminhando perigosamente próximas do “easy listening”, chega o baterista e adiciona pitadas de swing.
E essa descoberta me fez voltar para um álbum que já admiro há mais tempo, também com Garbarek, também com uma formação de instrumentistas que deixa espaços vazios: se no álbum Places não há baixista, no Mágico (gravado em 1979) não há bateria ou outras percussões, de modo que às vezes é Egberto Gismonti, com seu violão e piano, que está “batendo” os ritmos, porque o baixista Charlie Haden tem preocupações principalmente melódicas.
Em algumas páginas na internet o disco aparece com a autoria de Haden, com a participação de Gismonti e Garbarek. É um equívoco: se o nome do baixista aparece em 1° lugar na capa é muito mais por respeito à sua idade maior (ele já tinha passado dos 40) e seu currículo que incluía álbuns gravados com Ornette Coleman, Keith Jarrett, Alice Coltrane etc. O baixo não tem nenhum solo longo, no máximo trechos de um ou dois compassos em que os dois colegas param e Haden apresenta com beleza suas réplicas, para usar a metáfora comumente usada para o quarteto de cordas como um diálogo civilizado entre quatro indivíduos de igual importância, sem diferença de níveis hierárquicos. Enfim, fica mais do que evidente a ausência de um líder nesse trio.
Recomendo ouvir os dois discos no mesmo dia: eles se complementam de alguma maneira misteriosa. Ou não tão misteriosa assim, afinal os melódicos e lentos solos de sax têm um mesmo caráter mas a cama sonora e a paisagem é diferente. Em um disco o violão cheio de personalidade de Gismonti e o baixo também muito pessoal mas discreto de Haden, no outro os teclados e a bateria formando um tipo de teia sonora completamente diferente mas com conexões com aquele outro mundo do brasileiro nascido no interior do Rio de Janeiro e do norte-americano nascido no Midwest.

Places (1978)
1. Reflections
2. Entering
3. Going Places
4. Passing
Jan Garbarek – Saxophones
Bill Connors – Guitar
John Taylor – Organ, Piano
Jack DeJohnette – Drums
Recorded: December 1977, Oslo, Norway
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Places

Mágico (1980)
1. Bailarina (Geraldo Carneiro, Piry Reis)
2. Mágico (Egberto Gismonti)
3. Silence (Charlie Haden)
4. Spor (Jan Garbarek)
5. Palhaço (Egberto Gismonti)
Charlie Haden – bass
Jan Garbarek – saxophone
Egberto Gismonti – guitar, piano
Recorded: June 1979, Oslo, Norway
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE – Mágico

Pleyel
Muito obrigada, sempre, Pleyel ! Amo os dois e, durante muito tempo, ouvia “Palhaço” dia sim, dia sim 😉 Um abraço !
Obrigado pela lembrança, Candida. Também tenho boas lembranças com um LP do Gismonti que havia na casa do pai de uma amiga, eu ainda era “de menor” e aquela capa, tanto quando o som, me impressionava bastante.
Acho que lembrar é se emocionar e sentir novamente um encantamento, um sabor, uma nota, um cheiro, uma voz, Pleyel, por isso espero que a minha memória não se perca ! Grande abraço e, mais uma vez, obrigada !