Wilhelm Kempff (1895-1991) foi um dos pianistas mais longevos e mais gravados do período após a 2ª Guerra: um dos poucos alemães sem passado de simpatia pelo partido nazista, foi o favorito da gravadora DG também por este motivo, mas é claro que havia outras razões… As suas sonoridades e andamentos mais suaves e tranquilos soavam, para muitos, como um alívio numa época em que grandes pianistas como V. Horowitz e S. Richter – além da então novata M. Argerich – gostavam de enfatizar os extremos de sangue, suor e lágrimas que impressionavam as plateias. Especialmente nas obras de Schumann, que, aliás, era um dos compositores favoritos desses três últimos pianistas que mencionei.
Kempff, então, era um pianista para paladares mais refinados, ele não enchia as suas sobremesas de açúcar, muito menos do hoje onipresente leite condensado. Isso pode ser bom ou ruim: muita gente ama e muita gente acha tediosa a sua integral de sonatas de Beethoven, mas talvez na primeira metade ele esteja mais no seu ambiente ideal (mais ou menos até a Sonata ao Luar ou a Pastoral, nº 14 e 15). O mesmo valeria para Schumann: as gravações que Kempff fez para a DG entre 1967 e 1974 têm sido relançadas em uma caixa de 4 CDs e eu diria que uma parte é excelente e outra é apenas mediana. A parte excelente é a que demanda do intérprete, justamente, menos paixões arrebatadoras. As Cenas Infantis são o destaque absoluto, com dedilhados de um grande mestre que conhece intimamente Robert Schumann, com quem já viveu muitas experiências. As outras obras dessa edição italiana são Papillons e Arabesque. Sem grandes dificuldades técnicas, são frequentemente tocadas por pianistas adolescentes porém, assim como os Noturnos de Chopin e o Arabesque de Debussy, permitem que um gigante como Kempff expresse várias coisas que, no final das contas, vão ser ignoradas pelos paladares menos refinados que só procuram grandes dificuldades técnicas e velocidades notáveis como em uma corrida de automóveis.
Robert Schumann (1810-1856):
1-13. 02. Kinderszenen (Cenas Infantis), Op. 15
14. Arabesque, Op. 18
15. Papillons (Borboletas), Op. 2
Wilhelm Kempff, piano
Recorded: Beethovensaal, Hannover, DE – 1967 (Papillons), 1971 (Kinderszenen), 1972 (Arabeske)
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Kempff também gravou Bach para a DG: duas suítes que muito agradaram ao colega René (aqui)
Pleyel