IM-PER-DÍ-VEL !!!
Tenho várias versões desta obra-prima de Rossini, mas creio que esta é a melhor. Scimone e um baita time de cantores dão um banho de bola. Pois é, a Pequena Missa Solene (Petite Messe Solennelle) é uma das obras sacras mais fascinantes e contraditórias do repertório musical do século XIX. Escrita em 1863, quase 30 anos após Rossini ter se aposentado da composição de óperas, a peça é uma síntese irrepetível de devoção, ironia e maestria musical. Rossini, famoso por óperas como O Barbeiro de Sevilha e Guilherme Tell, passou suas últimas décadas longe do teatro — não aguentava mais a convivência com os insuportáveis cantores e cantoras –, dedicando-se a composições privadas — às quais chamava de “pecados da velhice” — e à culinária, arte em que era um campeão. A missa foi encomendada pelo conde Alexis Pillet-Will para sua esposa, Louise, e foi estreada em 1864 na capela particular do casal em Paris. O título “Pequena Missa Solene” é irônico: a obra dura cerca de 90 minutos e exige um coro, solistas e um acompanhamento peculiar (dois pianos e um harmônio). A “Pequena Missa” faz altas exigências aos solistas, ou seja, a missinha exige solistas de alto nível (especialmente o tenor no “Crucifixus” e o contralto no “Agnus Dei”), além de um coro habilidoso de primeira linha. Não é mole, não.
Rossini, uma figuraça, escreveu no manuscrito:
“Querido Deus, aqui está terminada esta pobre missa. Fiz música sacra ou música maldita? Nasci para a ópera buffa, como bem sabes. Pouca ciência, um pouco de coração, é tudo. Seja louvado e conceda-me o Paraíso.”
A versão original usa dois pianos e harmônio – como nesta gravação –, criando uma sonoridade íntima e quase camarística. Em 1867, Rossini orquestrou a missa para evitar que outros o fizessem após sua morte. Não ficou uma bosta, mas grande parte da originalidade foi-se embora. A obra une o sagrado e o profano: há trechos de intensa espiritualidade ao lado de passagens que lembram ópera cômica. Críticos da época acharam-na pouco ortodoxa, mas hoje é reconhecida como uma obra-prima do repertório sacro romântico. A Pequena Missa Solene é realmente algo fascinante, cheia de nuances e contradições — assim como o próprio Rossini, que conseguiu unir o sagrado e o profano como ninguém. Se um dia tiver a chance de ouvi-la ao vivo, saiba, é uma experiência única. Tive a sorte de vê-la duas vezes, uma delas em Paris. Te mete!
Gioacchino Rossini (1792-1868): Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) — Ricciarelli, Zimmermann, Carreras, Ramey, The Ambrosian Singers, Scimone
Petite Messe Solennelle
1 -1 I. Kyrie 7:02
1-2 II. Gloria 32:33
2-1 III. Credo 16:00
2-2 IV. Prélude Religieux Pendant L’Offertoire 7:20
2-3 V. Ritournelle Pour Le Sanctus – Sanctus 3:16
2-4 VI. O Salutaris Hostia 5:12
2-5 VII. Agnus Dei 8:00
Baritone Vocals – Samuel Ramey (faixas: 1-1 to 2-5)
Choir – The Ambrosian Singers (faixas: 1-1 to 2-5)
Chorus Master – John McCarthy
Conductor – Claudio Scimone
Harmonium – Richard Nunn (faixas: 1-1 to 2-5)
Mezzo-soprano Vocals – Margarita Zimmermann (faixas: 1-1 to 2-5)
Soprano Vocals – Katia Ricciarelli (faixas: 1-1 to 2-5)
Tenor Vocals – José Carreras (faixas: 1-1 to 2-5)
Mosé In Egitto, Act 3
2-6 Preghiera: Dal Tuo Stellato Soglio
Bass Vocals – Ruggero Raimondi
Mezzo-soprano Vocals – Sandra Browne (2)
Orchestra – Philharmonia Orchestra
Soprano Vocals – June Anderson
Tenor Vocals – Salvatore Fisichella

PQP
Santa postagem, Batman! Sensacional.
E nem sou chegado em óperas, mas essa é arrebatadora.