Mozart (1756 – 1791): Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho) – Soloists – The Monteverdi Choir – The English Baroque Soloists – John Eliot Gardiner (HIP) & Soloists – The Academy of St. Martin-in-the-Fields – Colin Davis ֍

Mozart

Die Entführung aus dem Serail

RD Postagem # 500

Chega de tanto videogame, eu disse aos meus filhos, vamos assistir a uma ópera de Mozart, algo que alegre o coração e nos afaste dessa violência virtual desses jogos… Assim, fomos ver (no DVD da sala, é claro), o Rapto do Serralho!

Pois eles adoraram e Osmin foi, por um bom tempo, um dos seus personagens preferidos, ao lado do Goku e do Vedita. E eu gostei tanto da música e dos costumes turcos que institui lá em casa uma espécie de ritual. Sempre que voltava do trabalho a esposa colocava em fila quem estivesse na área, filhos, cachorrada, e assim que eu adentrasse pelo portão soava em altos brados o coro dos janissários saudando o Paxá Selim:

Singt dem großen Bassa Lieder
Töne feuriger Gesang;
Und vom Ufer halle wieder
Unsrer Lieder Jubelklang!

Que se elevem ao grande Paxá nossas vozes em ardente aclamação;

Que desde a praia ecoem os alegres sons de nossa canção!

Vivíamos então propriamente em Piratininga…

Paxá Selim, Osmin e os dois casais…

1781 foi um daqueles anos ainda mais complicados na vida de Mozart. Foi o ano no qual ele finalmente levou um pé-no-traseiro, livrando-se de vez do Arcebispo Coloredo, indo morar em Viena. Apesar de todas as incertezas financeiras e das confusões com os assuntos pessoais, em função de sua relação com Constanze, Mozart era agora dono de seu próprio nariz.

O Rapto do Serralho é fruto de uma encomenda para o National Singspiegel, que havia sido fundado há poucos três anos pelo Imperador José II. A obra devia ser uma espécie de ópera cantada em alemão, mas também com diálogos, e era vista como uma forma menor do que as óperas em italiano. Essa perspectiva certamente era reforçada pelos cantores italianos que viviam em Viena, assim como pelos compositores de ópera em italiano.

A obra foi sendo composta calmamente, mas desde sua estreia em julho de 1782 experimentou um enorme e imorredouro sucesso – o primeiro de Mozart em Viena. Tanto que quase instantaneamente suas melodias foram arranjadas para conjuntos de sopros e eram tocadas em todas as partes.

O Serralho é o palácio do Paxá, onde ele mantém seu harém e onde estão presos a mocinha Konstanze (coincidência?), sua criada inglesa, Blonde, e Pedrillo, o servo de um nobre espanhol, o amado da Konstanze, chamado Belmonte, que está em busca dos três. Eles foram raptados por piratas turcos e vendidos como escravos para o Paxá Selim.

É claro que o Paxá está de olho na mocinha, mas ele é do tipo que não gosta de forçar a barra, e está dando um tempo para a moça aceita-lo.

As bastonadas não eram brinquedo, não…

Tudo isso sabemos por ter-nos sido contado por um passarinho verde e a ópera começa com Belmonte chegando ao Serralho em busca de informações, perguntando por Pedrillo a Osmin, o guardião e buldogue do Paxá, e que adoraria mostrar ao rascal Pedrillo todas as belas formas de torturas locais, entre elas as famosas bastonadas…

Como há de se esperar, mil confusões se seguem, com o astucioso Pedrillo apresentando o amo Belmonte ao Paxá como se fosse um arquiteto que dará um repaginada no Serralho.

Neste ponto é impossível não traçar um paralelo entre alguns dos personagens dessa ópera com membros do elenco de outro grande sucesso de Mozart: a Flauta Mágica: O casal Konstanze/Belmonte está para Tamina/Pamino assim como Pedrillo/Blonde está para Papagena/Papageno. O Paxá Selim corresponde a Sarastro e Osmin lembra um de alguma forma a Monostatos, apesar da grande diferença dos tipos vocais – baixo e tenor.

Voltando ao Rapto, o plano de fuga tramado pelos reféns envolve embriagar Osmin e raptar as moças, fugindo em seguida para a Espanha. A trama começa, mas, como se poderia esperar, as coisas desandam e eles são pegos. Belmonte então se apresenta como filho de um nobre espanhol, dando uma clara carteirada, tão nossa conhecida. Pois o tiro sai pela culatra, o tal nobre espanhol pai de Belmonte é o desafeto-mor do Paxá, ele mesmo tendo sido outrora nobre espanhol que fora traído justamente pelo dono da carteira usada pelo Belmonte – vá saber o que bebiam ou fumavam os libretistas daqueles dias.

Reação do Gardiner quando o pessoal do PQP Bach quis saber qual a marca de suas luvas de box: Everlast?

Com o filho de seu arqui-inimigo nas mãos, já se pensa, Osmin em grande alegria planeja os requintes de sofrimentos a serem infligidos aos sacripantas. No entanto, mais uma vez seus desejos serão adiados, o Paxá decide pagar com o bem os maus tratos de outrora e perdoa a todos e os manda de volta para casa. Os quatro partem com os bons votos do magnânimo Paxá que recebe mais uma vez o exultante Coro dos Janízaros, assim como pode ser visto na sequência do lindo filme Amadeus.

Uma das razões para o instantâneo sucesso dessa obra foi o uso da chamada música turca, que andava especialmente no gosto dos vienenses naqueles dias. Quem não conhece o movimento de Sonata para Piano, chamada Marcha Turca, de Mozart? Outros exemplos de música turca são encontrados nas obras de Haydn e mesmo Beethoven. Veja mais aqui e aqui.

Outro aspecto interessante sobre o Rapto é o fato de que Mozart não refrescou para os cantores e criou para ela algumas de suas árias mais difíceis. Uma delas é a ária de Konstanze chamada Martern aller Arten, na qual Konstanze explica ao atônito Paxá que preferiria experimentar os requintes de tortura turca a trair a memória de seu antigo amor.

Escolher uma boa gravação para a postagem se revelou uma tarefa a um só tempo divertida e difícil. Há muitas escolhas e na rodada final restaram muitas possibilidades na mesa. Das gravações mais antigas cogitei uma com Karl Böhm na regência, mas apesar das vozes maravilhosas, achei que a segunda gravação de Josef Krips, com selo EMI, é imbatível nesse segmento. Mas queria alguma coisa mais recente. Uma gravação destas que gostei bastante é a (segunda) de George Solti (quem diria?). Aqui a orquestra é a Wiener Philharmoniker e Kathleen Battle canta lindamente. Acabei optando por uma gravação historicamente informada, mas não apenas por isso. Acho que essa gravação, com a direção do maestro John Eliot (Manitas de Piedra) Gardiner, é uma das que mais facilmente eu retornaria, em qualquer situação.  No entanto, se você tiver a oportunidade, há também gravações com Christopher Hogwood, René Jacobs, William Christie e Nikolaus Harnoncourt que valem a pena de serem ouvidas. De qualquer forma, talvez alguma das versões mencionadas possa aparecer num futuro não muito distante.

Colin mostrando apresentando sua iguana para o pessoal do PQP Bach

Considerei, no processo da montagem da postagem, que uma outra bela possibilidade para a audição seria a gravação com Colin Davis regendo a Academy of St. Martin-in-the-Fields. Essa gravação está na caixa da Philips com a ‘Obra Completa’ de Mozart, editada por volta de 1991, para faturar bastante, na esteira das edições em datas significativas, no caso, duzentos anos de morte de Mozart. Afinal, os filhos dos donos das gravadoras precisam manter suas Ferraris, Lamborghinis ou Bugattis.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)

Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)

Singspiel (Ópera em alemão) em três atos

Gravação com instrumentos de época -HIP

Konstanze: Luba Orgonášová

Blonde: Cyndia Sieden

Belmonte: Stanford Olsen

Pedrillo: Uwe Peper

Osmin: Cornelius Hauptmann

English Baroque Soloists and Monteverdi Choir

John Eliot Gardiner

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 304 MB

One of the main attractions to this recording is the rarely recorded Luba Orgonášová. This Slovakian soprano reminds me of what Joan Sutherland might have sounded like if she performed the entirety of Konstanze’s music. She brings a large beautiful sound to the coloratura and long sensitive phrasing, however, at times her interpretation lacks feeling and clear diction.

John Eliot Gardiner

Die Entführung aus dem Serail (O Rapto do Serralho)

Singspiel (Ópera em alemão) em três atos

Gravação com instrumentos modernos:

Konstanze: Christiane Eda-Pierre

Blonde: Norma Burrowes

Belmonte: Stuart Burrows

Pedrillo: Robert Tear

Osmin: Robert Lloyd

Academy of St Martin in the Fields

Sir Colin Davis

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 303 MB

Trecho de um blog interessante: When I began listening to Mozart, Colin Davis’ interpretations were always my first pick. Not only do his records showcase some of the best singers in these roles, but he also brings out fine details in the orchestra while at the same time letting the voices shine. Despite approaching the score with a full orchestra rather than one with period instruments, Davis still manages to let the music stay light and breathe.

In addition to Davis, this recording is great for beginners because the German dialogue is severally reduced leaving only the essentials.

Colin Davis apreciando a flexibilidade das cordas da PQP Bach Sinfonietta

Aproveite!

René Denon

2 comments / Add your comment below

  1. Postagem maravilhosa, René, que me fez maratonar o “Serralho” duas vezes seguidas. Parabéns pelo #RD500, e que as próximas 500 postagens tragam a você a mesma alegria que as últimas tantas trouxeram a nós. Um abraço!

    1. Querido Conde Vassily!
      Obrigado pela sua gentil mensagem!
      Adaptando os versos do coro para o Paxá:
      Singe uns von der Liebe
      Freude in unseren Herzen!

      Feliz em saber que as peripécias dos personagens de Mozart lhe deram prazer…
      Abraços!
      RD
      PS: Pardon meu alemão…

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