Três grandes sinfonias de Haydn, interpretadas por um de seus grandes intérpretes, Antal Dorati. Para que pedir mais nesse princípio de Primavera?
As sinfonias “Surpresa”, “Milagre” e “Militar” têm suas peculiaridades, e estes nomes às definem bem. Destaque para a de nº 100, conhecida como “Militar”. O gênio de Haydn inseriu na obra diversos elementos de marchas militares, e percussão em excesso. Muitas vezes podemos imaginar um pelotão marchando.
A interpretação de Dorati é magnífica. Possui um profundo conhecimento da obra de Haydn e estabelece uma cumplicidade com a orquestra que permite um total domínio sobre a mesma. Lembramos que com esta mesma Philarmonia Hungarica ele gravou a integral das sinfonias de Haydn. Ou seja, ambos se conheciam muito bem.
Outro lembrete: com a postagem do cd de Brüggen, regendo as sinfonias de nº 90 e 93, tivemos a partir desta de nº 93 o início do ciclo conhecido como Sinfonias “Londres”. Com estas 12 últimas sinfonias compostas, 93 a 104, Haydn estabeleceu em definitivo o gênero “Sinfonia”, e deu-lhe uma estrutura própria, que só viria a ser modificada com a “Eroica” de Beethoven. Mas isso é outra história.
Franz Joseph Haydn (1732-1809): Sinfonias Londrinas Nº 94, 96 e 100 (Dorati)
1- Symphonie 94 in G Major – Adagio cantabile – vivace assai
2 -Symphonie 94 in G Major – Andante
3 – Symphonie 94 in G Major – Menuetto
4 – Symphonie 94 in G Major – Finale Allegro di molto
5 – Symphonie nº 96 in D – Adagio – Allegro
6 – Symphonie nº 96 in D – Andante
7 – Symphonie nº 96 in D – Menuetto – Allegretto
8 – Symphonie nº 96 in D – Finale – Vivace assai
Após um período difícil nos anos 1980 e 90, quando aderiu a algumas modas que hoje soam duvidosas, Billy Cobham iniciou os anos 2000 atacando em duas frentes: uma delas, o jazz com instrumentos acústicos, normalmente com seu parceiro Ron Carter e outros músicos tocando piano, saxofone, etc., por exemplo no belo disco ao vivo de 2011 que vimos aqui.
Em paralelo, ele montou uma banda com dois tecladistas, guitarra e baixo, com a qual tem feito turnês pelo mundo e principalmente pela Europa, onde vive há muitos anos. Também tocou no Brasil em 2012 e em 2023. Inclusive as fotos que ilustram esta postagem são de Billy Cobham e seus fiéis escudeiros no Rio de Janeiro ano passado: a tecladista francesa Camelia Ben Naceur e o percussionista brasileiro Marco Lobo, nascido na Bahia, e que é especialista no berimbau. Este instrumento tipicamente brasileiro aparece na faixa Bara”boom” chick, em um diálogo muito especial com a bateria de Cobham.
A foto de Billy Cobham mais acima, assim como esta abaixo (capa do disco ao vivo de 2010), expressam bem a sua personalidade musical: irradiando alegria pelas duas mãos, pés e por todo o resto do corpo, ele segue em atividade aos 80 anos com esse ar irreverente, em contraste com o terno e a seriedade do quase nonagenário Ron Carter.
Billy Cobham Band – Live In Leverkusen (2010)
1. Mirage 9:10
2. Obliquely Speaking 6:54
3. Two For Juan 8:29
4. A Days Grace 9:31
5. Crosswinds 6:37
6. Drumsolo 5:19
7. Cancun Market 7:46
8. Red Baron 9:28
9. Stratus 13:01
Billy Cobham (Drums); Fifi Chayeb (Bass); Jean-Marie Ecay (Guitar); Camelia Ben Naceur, Christophe Cravero (Keyboards); Junior Gill (Percussion)
Billy Cobham Band – Tierra Del Fuego (2020)
1. Symbiosis
2. Dunes That Move
3. Light At The End Of The Tunnel
4. For Bubba & Bella
5. Tierra Del Fuego
6. Panama
7. Bara “Boom” Chik
8. Through The Eye Of The Needle
9. Petra In 3 Phases
Billy Cobham (Drums); Michael Mondesir (Bass); David Dunsmuir (Guitar); Camelia Ben Naceur, Steve Hamilton (Keyboards); Marco Lobo Moreira (Percussion)
Recorded in Mazzive Sound Studios, Switzerland, 2019
Eu amo apaixonadamente as Sinfonias de Brahms, mas tenho uma queda especial por esta Nº 1. Você conhece a história: Brahms levou décadas para escrever esta obra. Os primeiros esboços foram feitos em meados dos anos 1850, a versão inicial do Allegro veio em 1862 – ainda sem a impactante introdução lenta –, e só em novembro de 1876 ele a concluiu. Boa parte dessa demora se deve ao peso que Brahms sentia em relação ao legado de Beethoven: “você não sabe o que é sempre escutar um gigante marchando atrás de você”, escreveu a um amigo. “Mas você consegue imaginar?”. Brahms queria compor uma sinfonia, todos esperavam por isso, mas ele ficava compondo outras peças: concerto para piano, música para cordas… Até que, finalmente, quando todos haviam desistido de insistir, com ele já aos 43 anos, veio a monumental Primeira Sinfonia. Ele começa sem nenhuma hesitação, no início temos um ‘bum, bum, bum, bum’ que é como nossos corações acelerados. O finale quase me mata a cada vez que o ouço. Aquelas trompas que o anunciam, nossa! A gravação é jurássica, mas em ótimo estado…
Symphony No. 1 in C minor, Op. 68 (Johannes Brahms)
1 1. Un poco sostenuto – Allegro – Meno allegro 00:13:54
2 2. Andante sostenuto 00:10:34
3 3. Un poco allegretto e grazioso 00:04:54
4 4. Adagio – Piu andante – Allegro non troppo, ma con brio – Piu allegro 00:17:49
Algumas semanas antes de sua morte, em 1949, Richard Strauss escreveu uma opereta para a escola de seu neto. É baseado na famosa história de Christoph Martin Wieland, Des Esels Schatte. A maior parte da obra é ocupada pela narração falada. Embora a narração seja proferida com grande desenvoltura pelo fantástico Peter Ustinov (ele faz todas as vozes, incluindo as femininas em falsete), o disco esgotará a paciência da maioria dos ouvintes e dificilmente provocará novas audições. A música é esquecível – é a de um compositor que nunca foi grande em sua velhice. Pobre neto, podia ter ficado sem essa. Porém, para nossa felicidade, a partitura ficou incompleta.
Des Esels Schatten (The Donkey’s Shadow), Opera (TrV 294, AV 300) (Incomplete)
A Sinfonia Nº 6 talvez seja a mais vienense das sinfonias de Dvořák, por conter fortes referências às sinfonias de Beethoven e Brahms. Enquanto o primeiro movimento é repleto do encanto e da luminosidade tão presentes em sua obra, o segundo traz outra característica do compositor: a melancolia. Se Dvořák tentou esconder o típico sabor tcheco de sua música, compondo uma sinfonia ao gosto vienense, no Scherzo ele se trai e nos brinda com uma deliciosa dança camponesa tcheca. O último movimento, doce, traz a delicada ambientação do início da Sinfonia Nº 6 de Beethoven.
Escrita em apenas duas semanas do ano de 1875, a Serenata para Cordas em mi maior, Op. 22, de Dvořák, está dividida em 5 movimentos. A estreia se deu em Praga, em dezembro do ano seguinte. “Trata-se da mais extraordinária obra musical escrita para orquestra cordas”, introduz Baldini. “Me deixem por uma vez declarar minha verdadeira paixão pela Serenata de Dvořák. Nela, o compositor tcheco consegue juntar sua criatividade melódica com uma escrita tecnicamente perfeita, e caracterizando cada movimento de uma forma única”, confessa.
Como Dvořák não é minha praia, roubei textos aqui e ali. Mas adoro a Serenata Op. 22 e a Sinfonia Nº 8, assim com o Scherzo desta Sinfonia Nº 6.
E, como disse um amigo, Dvořák com Kubelik é bilhete de primeira classe.
Antonín Dvořák (1841-1904): Sinfonia Nº 6, Op. 60 / Serenata para Cordes, Op. 22 (Kubelik)
Symphonie Nr. 6 D-Dur Op.60 (gravação de 1973)
1. Allegro Non Tanto 13:13
2. Adagio 11:27
3. Scherzo. Furiant. Presto 8:34
4. Finale. Allegro Con Spirito 11:56
Serenade fur Streichorchester E-Dur Op 22 (Serenade For Strings In E Major) (gravação de 1969)
5 Moderato 4:28
6 Tempo Di Valse 6:17
7 Scherzo: Vivace 5:21
8 Larghetto 5:03
9 Allegro Vivace 5:49
Berliner Philharmoniker [1-4]
English Chamber Orchestra [5-9]
Rafael Kubelik
A série The Originals, da DG, costuma ser tiro certo. Apesar da absoluta confusão do repertório, este CD é maravilhosamente bem interpretado pelos Oistrakh em diversas formações orquestrais. As obras são tão díspares entre si que dá vontade de ouvir tudo separadamente. Mas, enfim, eram outros tempos e ninguém morria por falta de coerência. Posto este CD por ele ter sido uma audição habitual na casa de meus pais (os outros). É um disco muito alegre do começo ao fim. De certa forma, proporciona um contraste muito caloroso com a preferência contemporânea por performances de época para a maioria destas peças. (Nota: eu AMO e PREFIRO performances de época!). Prezo especialmente os duetos de Wieniawski porque raramente são gravadas. O que é mais legal é que muitas dessas peças são populares entre estudantes de violino, e ter dois violinistas estelares tocando-as é muito gostoso de ouvir.
Bach / Jiří Benda / Händel / Sarasate / Vivaldi / Wieniawski: Obras para Violino(s) com David & Igor Oistrakh
Obras para Violino(s) com David & Igor Oistrakh
Antonio Vivaldi:
1. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 1. Allegro 3:58
2. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 2. Larghetto 4:24
3. Concerto grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, Op.3/8 , RV 522 – 3. Allegro 4:00
J. S. Bach:
4. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 1. Adagio 4:29
5. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 2. Allabreve 2:53
6. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 3. Alla breve 2:35
7. Sonata in C, BWV 1037 Anh.III 187 – 4. Presto 4:56
G.F. Handel:
8. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 1. Andante – Allegro 5:12
9. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 2. Arioso 3:36
10. Trio Sonata for 2 Flutes and Continuo in G minor, Op.2, No.6, HWV 391 – 3. Allegro 2:01
J. G. Benda:
11. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 1. Moderato 6:37
12. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 2. Largo 5:27
13. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano – 3. Allegro 2:42
H. Wieniawski:
14. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.2 in E flat major 5:14
15. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.5 in E major 1:55
16. Etudes-Caprices for 2 violins, Op.18 – No.4 in A minor 1:31
P. de Sarasate:
17. Navarra for two violins, Op.33
David Oistrakh (Conductor, Violin),
Igor Oistrakh (Violin)
Franz Konwitschny (Conductor),
Gewandhaus Orchestra
Royal Philharmonic Orchestra e outros
O grupo holandês Epoca Barocca é uma das melhores coisas surgidas na interpretação de música barroca nos últimos anos. Seu núcleo é formado por Alessandro Piqué (oboé), Margarete Adorf (violino), Sergio Azzolini (fagote) e Christoph Lehmann (órgão e cravo). Quando necessário, são convidados outros músicos a fim de reforçar o time-base. Quando ouvi o grupo pela primeira vez, pensei tratar-se de Ton Koopman e fiquei satisfeito quando soube que este foi professor e incentivador da turma. Este CD é consistente, muito bom até, mas não é de enlouquecer. Agora, para quem gosta de uma sonoridade barroca absolutamente transparente e límpida, linda mesmo, este CD é fundamental.
Por muito tempo, as composições de Fasch receberam o nome do catálogo de obras de Rüdiger Pfeiffer com a abreviatura “FWV”. Em nome da International Fasch Society, Gottfried Gille criou um novo catálogo de obras, agora cronológico, sob o título “Fasch Repertory” (abreviatura: “FR”), inicialmente das obras vocais de Fasch. Ele pode ser encontrado online na atualização 2019/20. A maioria das obras sobreviventes de Johann Friedrich Fasch estão no departamento de música do SLUB Dresden e na Universidade e Biblioteca Estadual de Darmstadt. Em sua homenagem, o Festival Internacional Fasch acontece em Zerbst a cada dois anos desde 1983 como parte do Festival de Música da Saxônia-Anhalt. O Prêmio Johann Friedrich Fasch é concedido desde 1991.
Johann Friedrich Fasch (1688-1758): Trios & Sonatas (Epoca Barocca)
QUADRO IN D MINOR FOR OBOE, VIOLIN, BASSOON & B.C
1. Poco allegro
2. Largo
3. Allegro
TRIO IN E MINOR FOR OBOE, VIOLIN & B.C
4. Adagio
5. Allegro
6. Affettuoso
7. Allegro
SONATA IN C MAJOR FOR BASSOON & B.C
8. Largo
9. Allegro
10. Andante
11. Allegro assai
QUADRO IN B FLAT MAJOR FOR RECORDER, OBOE, VIOLIN & B.C
12. Largo
13. Allegro
14. Grave
15. Allegro
TRIO IN G MINOR FOR OBOE, VIOLIN & B.C
16. Andante
17. Allegro
18. Poco allegro
QUADRO IN F MAJOR FOR VIOLIN, OBOE, BASSOON & B.C
19. Largo
20. Allegro
21. Largo
22. Allegro
CANON IN F MAJOR FOR RECORDER, BASSOON & B.C
23. Andante
24. Allegro
25. Allegro
Mais um de Fasch para vocês. Apesar de ser um CD de apenas 10 anos da Harmonia Mundi, parece ser algo muito obscuro e secreto, não figurando nem na Amazon. Quase inteiramente dedicado aos sopros barrocos, o CD é bastante bom e a abordagem compreensiva da Camerata Köln auxilia em muito a bela música de Fasch. Dizem que vai cair um temporal em Porto Alegre, mas por ora está tudo muito bonito e quente na medida certa: 16 graus.
Por volta de 1728 a 1755 ele organizou uma “mudança musical” de Zerbst com colegas em Dresden e Darmstadt. Acontece que ele era moderninho. Aos 70 anos morreu em 5 de dezembro de 1758 em Zerbst. A sua música foi inovadora, sobretudo por sua preferência pela instrumentação de sopros e pelo material temático. Deixou inúmeras obras: 121 cantatas sacras, 82 suítes de abertura, 67 concertos, 32 sonatas e 19 sinfonias foram preservadas. Johann Friedrich Fasch apreciava particularmente as composições de Antonio Vivaldi e Georg Philipp Telemann. Isto emerge do inventário judicial do “Concert-Stube” (1743).
Festival Fasch!: Johann Friedrich Fasch (1688-1758): Sonatas a Quatro e Trio (Camerata Köln)
# Quartett f. Blockflöte, Oboe, Violine u. B.c. B-dur
Largo
Allegro
Grave
Allegro
# Trio f. 2 Oboen u. B.c. e-moll
Adagio
Allegro
Affettuoso
Giga
# Quartett f. Querflöte, 2 Blockflöten u. B.c. G-dur
Andante
Allegro
Affettuoso
Allegro
# Sonate f. 2 Oboen, Fagott u. B.c. g-moll
Largo
Allegro
Largo
Allegro
# Trio f. Traversflöte, Violine u. B.c. D-dur
Adagio
Allegro
Largo
Allegro
# Quartett f. 2 Oboen, Fagott u. B.c. d-moll
Largo
Allegro
Largo
Allegro
Camerata Köln
Michael Schneider / Blockflöte
Sabine Bauer / Blockflöte
Karl Kaiser / Traversflöte
Hans-Peter Westermann / Oboe
Piet Dhont / Oboe
Michael McCraw / Fagott
Annette Sichelschmidt / Violine
Rainer Zipperling / Violoncello
Harald Hoeren / Cembalo
Fasch é o cara. Neste CD, temos uma série de boas sinfonias, mas o destaque mesmo vai para os três concertos. Parece que sua musicalidade transparece mais nos solos do que nos tutti. Excentricidade ou talentos à parte, trata-se de um belo CD de música barroca que ouço enquanto vejo o Atlético-MG tirar a liderança do meu Inter, que inexplicavelmente ocupava o primeiro posto do Brasileiro.
Johann Friedrich Fasch foi o primeiro filho do diretor da escola Friedrich Georg Fasch. A mãe era Sophia Wegerig. A maioria de seus ancestrais masculinos conhecidos eram pastores ou cantores da Saxônia e da Turíngia. Após a morte de seu pai em 1700, Fasch veio morar com o irmão de sua mãe, o pastor Gottfried Wegerig, em Teuchern. Quando menino, Fasch foi cantor em Weißenfels e depois no Leipzig Thomas Alumnat sob o comando de Thomaskantor Johann Kuhnau. Depois de já ter escrito óperas para a Ópera de Naumburg em 1711 e 1712 (ou tocado na orquestra da Ópera de Brühl), foi para Darmstadt em 1714 a fim de para estudar com Christoph Graupner e Gottfried. De 1715 a 1719 ocupou o cargo de “secretário” e escriturário em Gera e, de 1719 a 1721 foi organista e escrivão municipal em Greiz. Ele então foi para Praga como maestro dos Condes Morzin. Em 1722 tornou-se diretor musical da corte em Zerbst. Seu filho Carl Friedrich Christian Fasch nasceu lá em 18 de novembro de 1736. (segue)
Festival Fasch!: Johann Friedrich Fasch (1688-1758): Concerti & Sinfoniae (Main-Barockorchester Frankfurt)
Dois discos gravados ao vivo com orquestras alemãs na década de 1980. Dois discos com concertos de Mozart, um deles também com um de Beethoven. Dois pianistas de imensa reputação nesse repertório. Nem preciso apresentar Alicia de Larrocha (1923-2009) e Arturo Benedetti Michelangeli (1920-1995), então falarei um pouco das orquestras.
Alicia tocou esses concertos com duas orquestras do sul da Alemanha, em Stuttgart e Baden-Baden, e os concertos foram gravados pelas rádios alemãs: o lançamento em CD foi décadas depois. Em um ou outro detalhe, soam diferentes das orquestras novíssimas que, nos últimos 15 ou 20 anos, têm mostrado um Mozart mais leve. Mas esses músicos alemães, em 1986, defendiam de modo muito convincente o Mozart criador de tensões sonoras que já soam como profecias dos exageros do romantismo. Sobretudo a percussão: neste Concerto nº 22 – como aliás em outros concertos do Mozart maduro: o 25º, o 26… – as pauladas no tambor são intensas como em Beethoven ou, se corrermos um pouco no túnel do tempo, lembram até os tambores e martelos de Mahler.
E tenho para mim que os músicos de Stuttgart fazem um Mozart mais rico em detalhes do que os da English Chamber Orchestra, com quem Larrocha gravaria este Concerto nº 22 nos anos 90. Também no 3º Concerto de Beethoven o desempenho da orquestra é bastante interessante, ao menos para quem gosta de Beethoven tocado por orquestras com um número generoso de cordas.
Michelangeli (com um cigarrinho)
O disco de Arturo, também ao vivo, é com a orquestra da Rádio do Norte Alemão (NDR-Sinfonieorchester), em Hamburgo. No Concerto nº 20, o primeiro composto por Mozart em um tom menor, a orquestra faz milagres que nunca ouvi em outras gravações deste concerto. Um som cheio de mistérios, sombras e nuvens. Também Michelangeli está em excelente forma e muto bem gravado, fazendo cada um dos ornamentos com o cuidado e perfeccionismo que eram sua marca registrada. E ele usa a cadência de Beethoven. No Concerto nº 25, porém, a orquestra exagera na intensidade do 1º movimento (Allegro maestoso) e hoje em dia, com tantas gravações historicamente mais informadas, fica difícil perdoar alguns exageros que eram comuns na época. Ou seja: pare o que estiver fazendo agora para ouvir o Concerto em ré menor, mas o outro em dó maior dá pra deixar pra ouvir outro dia.
Sempre gostei de música, mas tenho paixão pelos concertos para piano. É o gênero musical que me atrai mais e o tipo de música que ouço com maior frequência.
Compor um concerto para piano propõe problemas formidáveis, sendo um deles criar uma introdução que capture a atenção do ouvinte e o envolva imediatamente. É verdade que esta questão também se aplica a outras formas musicais, mas no caso do concerto para piano oferece muitas possibilidades. No Concerto em sol maior Ravel estala um chicote e coloca a música em movimento. Prokofiev reservou um de seus temas mais inesquecíveis, apresentado pelo clarinetista, bem na abertura de seu Concerto No. 3 em dó maior.
Este disco traz dois dos cinco concertos para piano de Saint-Saëns – aqueles dos quais eu mais gosto – Nos. 2 e 5. O Concerto No. 2 em sol menor é provavelmente o mais tocado e estava no repertório de Arthur Rubinstein, que também tocava uma outra peça do disco, as Variações Sinfônicas de César Franck. Mas eu gosto mais ainda do Concerto No. 5 em fá maior, chamado Concerto Egípcio. Aqui a orquestra prepara em pouquíssimo tempo a entrada do pianista, com uma série de pizzicatti, dando propulsão ao concerto. E como Camille era um pianista excepcional e estava felicíssimo por estar de férias no Egito, em Luxor, criou um concerto muito bonito, com toques exóticos.
Camille Saint-Saëns wrote his Fifth Piano Concerto in Luxor to celebrate the 50th anniversary of his debut. It’s been known as the “Egyptian” ever since. [Camille Saint-Saëns escreveu seu Quinto Concerto para Piano em Luxor para comemorar o 50º aniversário de sua estreia. É conhecido como o “Egípcio” desde então.]
O solista é Jean-Yves Thibaudet:
Over the course of three decades, Jean-Yves Thibaudet has performed world-wide, recorded more than 50 albums, and built a reputation as one of today’s finest pianists. [Ao longo de três décadas, Jean-Yves Thibaudet se apresentou em todo o mundo, gravou mais de 50 álbuns e construiu uma reputação como um dos melhores pianistas da atualidade.]
Camille Saint-Saëns (1835 – 1921)
Piano Concerto No. 5 in F major, Op. 103 ‘Egyptian’
Saint-Saëns’s… piano concertos are fascinating works on many fronts, but not least for the balance they seem to hold between the wild Romantic and the contained Classical composer. Thibaudet subscribes rather to the latter view.
Gramophone Classical Music Guide2010
This scintillating disc finds Jean-Yves Thibaudet on notably effervescent form, revelling in Saint-Saëns’s pianistic brio and intricacy. He makes a special case for the enchanting but still neglected Egyptian Concerto, commenced in Luxor, completed in Cairo and, according to the composer, reflecting ‘the joy of a sea voyage’.
Dutoit and the Suisse Romande are all of a piece with their high-flying soloist and Decca’s balance and sound are exemplary.
Denise Djokic… O nome pode ser sérvio, mas a moça é uma talentosa violoncelista de Halifax, Nova Escócia, Canadá. Ela tem sido tem sido elogiada em todo o mundo por suas interpretações powerful e seu maiúsculo comando do instrumento. Quando se ouve o disco, duas coisas saltam a nossos ouvidos. O som estupendo de um violoncelo bem tocado e a bela música de Britten, o maior compositor inglês desde… desde… desde Purcell, claro. Este CD é uma esplêndida mistura de força, exatidão e sensibilidade. Coisa rara. Agora, vejam só: Denise foi nomeada pela revista canadense MacLean como um dos “25 canadenses que estão mudando nosso mundo” e a Elle escolheu-a como uma das “Mulheres Mais Poderosas do Canadá”. Para quem não sabe, as Suítes para Violoncelo de Benjamin Britten são uma série de três composições para violoncelo solo, dedicadas a Mstislav Rostropovich. Britten era amigo de Rostrô, assim como de Shosta. Antes de escrever esta sensacionais suítes, Britten já havia composto para Rostrô uma cadência para o Concerto Nº 1 para Violoncelo e Orquestra de Haydn, em 1964. (Vi Rostrô em Buenos Aires tocando este Concerto de Haydn, ho, ho, ho). Rostropovich estreou o trio de obras que lhe dedicou Britten e gravou comercialmente as Suites N° 1 e 2. Na minha opinião, é um CD… IM-PER-DÍ-VEL !!!
Benjamin Britten (1913-1976): Cello Suites
1. Denise Djokic – 1. Cello Suite No. 1, Op. 72: Canto primo: Sostenuto e largamente (2:37)
2. Denise Djokic – 2. Cello Suite No. 1, Op. 72: I. Fuga: Andante moderato (4:20)
3. Denise Djokic – 3. Cello Suite No. 1, Op. 72: II. Lamento: Lento rubato (3:21)
4. Denise Djokic – 4. Cello Suite No. 1, Op. 72: Canto secondo: Sostenuto (1:33)
5. Denise Djokic – 5. Cello Suite No. 1, Op. 72: III. Serenata: Allegretto: pizzicato (2:24)
6. Denise Djokic – 6. Cello Suite No. 1, Op. 72: IV. Marcia: Alla marcia moderato (3:40)
7. Denise Djokic – 7. Cello Suite No. 1, Op. 72: Canto terzo: Sostenuto – 2:50 (2:50)
8. Denise Djokic – 8. Cello Suite No. 1, Op. 72: V. Bordone: Moderato quasi recitativo (3:45)
9. Denise Djokic – 9. Cello Suite No. 1, Op. 72: VI. Moto perpetuo e Canto quarto: Presto (3:41)
10. Denise Djokic – 10. Cello Suite No. 2, Op. 80: I. Declamato: Largo (4:21)
11. Denise Djokic – 11. Cello Suite No. 2, Op. 80: II. Fuga: Andante (4:28)
12. Denise Djokic – 12. Cello Suite No. 2, Op. 80: III. Scherzo: Allegro molto (2:11)
13. Denise Djokic – 13. Cello Suite No. 2, Op. 80: IV. Andante lento (6:05)
14. Denise Djokic – 14. Cello Suite No. 2, Op. 80: V. Ciaccona: Allegro (8:28)
15. Denise Djokic – 15. Cello Suite No. 3, Op. 87: I. Introduzione: Lento (2:47)
16. Denise Djokic – 16. Cello Suite No. 3, Op. 87: II. Marcia: Allegro (1:53)
17. Denise Djokic – 17. Cello Suite No. 3, Op. 87: III. Canto: Con moto (1:29)
18. Denise Djokic – 18. Cello Suite No. 3, Op. 87: IV. Barcarola: Lento (1:48)
19. Denise Djokic – 19. Cello Suite No. 3, Op. 87: V. Dialogo: Allegretto (2:06)
20. Denise Djokic – 20. Cello Suite No. 3, Op. 87: VI. Fuga: Andante espressivo (3:11)
21. Denise Djokic – 21. Cello Suite No. 3, Op. 87: VII. Recitativo: Fantastico (1:26)
22. Denise Djokic – 22. Cello Suite No. 3, Op. 87: VIII. Moto Perpetuo: Presto (0:57)
23. Denise Djokic – 23. Cello Suite No. 3, Op. 87: IX. Passacaglia: Lento solenne (10:22)
Essa madrugada lembrei-me dos fãs de Amaral Vieira – Suzete, Lisianne, Maria Cristina, Gladis, Henrique, Organista e tutti quanti – e reparei que nunca mais postei nada dele. Pois aí vai: uma excelente seleção de obras nacionais para cordas, interpretadas por um dos melhores conjuntos de câmara do país, a Camerata Fukuda. Destaque para as Nove meditações sobre o Stabat Mater de Amaral Vieira e para o Ponteio de Claudio Santoro. Antidestaque para a versão totalmente descaracterizada do Mourão de Guerra-Peixe/Clóvis Pereira, que distancia-se erroneamente da que é comumente ouvida (transformando o xaxado em não-sei-o-quê) e se baseia numa partitura não original (tenho a citada partitura para comparar).
Fiz o upload tomando o café da manhã.
Convergences – Brazilian Music for Strings
1 Mourão César Guerra-Peixe 3:44
2 Modinha imperial Francisco Mignone 4:46
3 Divertimento: I. Allegretto Edino Krieger 3:50
4 Divertimento: II. Seresta (Homenagem a Villa-Lobos) Edino Krieger 6:41
5 Divertimento: III. Variações e Presto Edino Krieger 4:17
6 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: I. Andante religioso Amaral Vieira 3:52
7 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: II. Andante Amaral Vieira 2:00
8 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: III. Moderato Amaral Vieira 2:31
9 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: IV. Allegro alla breve Amaral Vieira 0:46
10 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: V. Moderato Amaral Vieira 2:35
11 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: VI. Molto lento, doloroso Amaral Vieira 1:35
12 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: VII. Deciso Amaral Vieira 0:41
13 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: VIII. Allegro molto Amaral Vieira 0:32
14 Nove meditações sobre o “Stabat Mater”, Op. 249: IX. Andante Amaral Vieira 4:27
15 Suite antiga, Op. 11: I. Minueto Alberto Nepomuceno 3:26
16 Suite antiga, Op. 11: II. Ária Alberto Nepomuceno 3:38
17 Suite antiga, Op. 11: III. Rigaudon Alberto Nepomuceno 3:56
Música para se ouvir na manhã de um dia de festa! – muito apropriado pois hoje é a manhã do dia que se celebra o Santo Guerreiro – Salve Jorge! O sol está espetacular e a manhã, irretocável!
Este arquivo reúne gravações feitas no fim da vida de Pierre Monteux, que já era uma lenda – o homem que regeu a estreia da Sagração da Primavera, de Stravinsky.
Entre os dias 11 e 13 de dezembro de 1961, Pierre Monteux gravou no Kingsway Hall, em Londres, o primeiro disco como o Principal Regente da London Symphony Orchestra. Lado A, Debussy, e lado B, Ravel. As faixas do lado A são as primeiras três faixas virtuais deste arquivo: O Prélude e dois Noturnos. Creio que o terceiro Noturno não foi gravado por demandar o tal coro feminino, mas isso é pura especulação minha. As faixas do lado B, composições de Ravel, estão no final do arquivo, as faixas virtuais enumeradas de 13 até 17.
Pierre ensaiando a PQP Bach Orchestra – fortíssimo!
O resto do arquivo, as faixas virtuais numeradas de 4 até 12 foram gravadas dois anos depois, e fazem parte de um LP dedicado apenas a música de Debussy. Lado A, Images, para orquestra, Lado B fragmentos sinfônicos para uma peça de Gabriele D´Annunzio, sobre São Sebastião, outro santo bastante venerado aqui na região do Rio de Janeiro.
Você pode programar seu sistema e ouvir um disco de cada vez ou pode também simplesmente colocar a coisa toda para tocar e se deliciar com o programa. Nas críticas que andei lendo para a postagem é mencionado a diferença entre as gravações feitas no fim de 1961 daquelas feitas perto de dois anos depois, bem no fim da vida de Monteux.
Two years earlier Monteux was in much finer form. As well as the expected orchestral refinement there is the overall sweep lacking in 1963, the clouds passing steadily overhead and the Fêtes celebrated with tingling vitality.
Dois anos antes, Monteux estava em muito melhor forma. Além do esperado refinamento orquestral, há a empolgação que faltou em 1963, as nuvens passando constantemente por cima e as Fêtes celebradas com vitalidade de arrepiar.
Eu ouço essas gravações há muito tempo e sempre tive muitíssimo prazer em ouvi-las. Assim, decidi reunir aqui esse pacote para a primeira edição desta série (espero que haja outras edições) de Tesouros do Tunel do Tempo ou The Best of Jurassic World.
PS: Monteux gravou com a LSO outras peças de Ravel, com destaque para o balé completo Daphnis et Chloé. Espero que eventualmente essas gravações apareçam aqui. Você não perde por esperar.
Claude Debussy (1862 – 1918)
Prélude à l’après-midi d’un faune
Prélude
Nocturnes
Nuages
Fêtes
Images pour orchestre
I Gigues
II Ibéria – Par Les Rues Et Par Les Chemins
II Ibéria – Les Parfums De La Nuit
II Ibéria – Le Matin D’un Jour De Fête
III Rondes De Printemps
Le Martyre de Saint Sébastien – Symphonic fragments
… Cet enregistrement est un souvenir précieux, je l’écoutais, chez mes parents; tout début des années 60, c’était un bel album “Trésor Classique” de chez PHILIPS. Je ne me souviens, cependant que du Martyr de Saint-Sébastien. Il me semble, que l’éditeur a fait un peu de remplissage, mais quel remplissage ! Images, Nocturnes … Heureuse réédition, sous étiquette Decca, à petit prix.
… Essa gravação é uma lembrança preciosa, eu costumava ouvi-la na casa dos meus pais, no início dos anos 60, era um belo álbum “Trésor Classique” da PHILIPS. Lembro-me, porém, apenas do Martírio de São Sebastião. Parece-me que o editor fez um pouco de filler, mas que filler! Images, Nocturnes… Feliz reedição, no selo Decca, a um preço baixo. (0800 aqui no PQP Bach…) TOMMY
Mesmo já tendo passado vinte e sete anos de sua realização, essa gravação de Masaaki Suzuki continua atual, se comparada com outras mais recentes. O cravista e maestro japonês dá um show de interpretação, com uma técnica apuradíssima e uma sensibilidade única. Não temos aqui aquelas interpretações mecânicas, por demais técnicas e virtuosísticas. Não por acaso, Suzuki é um dos maiores intérpretes da obra de Bach nesse século. Com seu conjunto Bach Collegium Japan vem se dedicando a gravar a obra do gênio de Leipzig em sua integra. Quem viver, verá.
Mesmo sendo considerada uma obra fundamental no repertório, “O Cravo Bem Temperado” só foi publicado 51 anos após a morte de Bach, porém cópias manuscritas por seus alunos e discípulos circularam por toda a Europa, tendo chegado às mãos de Beethoven, Mozart e Haydn, que a estudaram com atenção. O famoso maestro Hans von Bülow considerava a obra ‘O Velho Testamento do Piano’, e Schumann o considerava ‘o pão do dia a dia do pianista‘. Não por acaso, até hoje os prelúdios e fugas do Cravo são utilizados na educação musical.
Temos várias gravações de excelente qualidade dessas obras aqui no PQPBach, destacaria a recém lançada pelo lendário maestro e cravista Trevor Pinnock, que o colega René Denon postou há não muito tempo. Interpretadas ao piano, a gravação de Glenn Gould continua sendo referência dentre os ‘jurássicos’, e András Schiff dentre as gravações atuais. Vale a pena serem baixadas para as devidas comparações. Suzuki segue a linha da interpretação historicamente informada, sendo um pouco mais criterioso e detalhista em sua abordagem, se podemos falar assim.
Espero que apreciem, pretendo trazer outras gravações desse incrível músico japonês, como já comentei anteriormente, uma referência em se tratando de Bach neste século XXI.
CD 1 – Das wohltemperierte Klavier, Buch I
1 – 24 – Praeludium und Fuge, BWVs 846 a 857
A Sinfonia No. 4 de Bruckner, conhecida como ‘Sinfonia Romântica’, é uma das mais conhecidas do compositor. Na coleção Mestres da Música, vendida nas bancas – LP e fascículo – foi a obra escolhida para representar a arte de Bruckner. O LP trazia uma gravação da sinfonia com a Orquestra Sinfônica de Viena, regida por Otto Klemperer, bem possivelmente uma produção do selo VOX.
O que temos nesta postagem é uma gravação bastante peculiar – feita ao vivo no dia 13 de março de 2009 no Sala de Concertos da Cidade Proibida, em Pequim, com a Orquestra Filarmônica da China, regida por Okko Kamu. É a gravação ao vivo de um concerto no qual, pela primeira vez alguma Sinfonia de Bruckner era interpretada pela orquestra, que havia sido formada em 2000.
O disco é parte de uma coleção chamada ‘CPO Live 100 CDs’, lançada pela DR Classics Cultural Development. Veja, CPO não é o famoso selo de música clássica alemão ou o igualmente famoso robô da franquia Star Wars, mas a sigla de China Philharmonic Orchestra, o nome da orquestra em inglês. Nesta coleção há mais duas sinfonias de Bruckner que eventualmente estarão disponíveis no seu PQP Bach mais próximo.
CPO (ilustração obtida pela equipe de mídia do PQP Bach)
Fiquei muito bem impressionado com a interpretação e foi divertido prestar atenção aos ruídos típicos de uma gravação ao vivo, mas que não atrapalharam em nada a audição, até o aplauso final. Pelos nomes dados aos movimentos e às suas durações, acredito que a edição Haas deve ter sido usada. Os responsáveis pela gravação – Liu Da e Lu Nannan – capricharam. Desde a abertura, com os trêmulos nas cordas bem audíveis, coisa que nem sempre acontece nas gravações, passando pelos muitos tuttis, que me fizeram correr para o botão de volume do Denonzão, tudo soa muitíssimo bem.
Veja o que o site do agente fala sobre o regente: Okko Kamu nasceu em uma família musical em Helsinque. Seu pai tocava contrabaixo na Filarmônica de Helsinque e ele começou a tocar violino aos dois anos de idade com seu primeiro professor, Väinö Arjava, que dirigia a orquestra de seu pai, antes de continuar as aulas com Onni Suhonen na Academia Sibelius, onde também estudou o piano. Mais tarde, tornou-se líder do Quarteto Suhonen e, aos 20 anos, concertino da Orquestra Nacional de Ópera da Finlândia, antes de se tornar maestro permanente.
Gravou mais de 100 CDs para selos como Finlandia e Musica Sveciae, entre outras, e as suas gravações das quatro sinfonias de Berwald e do concerto para piano para Naxos receberam o distinto e raro prêmio “Diapason d’Or”. O repertório gravado de música fora do mainstream inclui “Música Completa para Orquestra de Cordas” de Aulis Sallinen e concertos para flauta de Penderecki, Takemitsu e Sallinen, juntamente com música mais central das eras clássica e romântica
Do site da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais: Bruckner é uma ponte direta entre Schubert e Mahler e, daí, à Segunda Escola de Viena. Foi através da ascendência de Wagner sobre Bruckner que a música na Áustria encontrou a necessidade de escapar das estruturas clássicas e de finalmente emancipar a dissonância. Por isso seu romantismo é tão profundo: ele é mais instintivo, mais livre e mais ousado do que a maioria de seus contemporâneos.
O apelido “Romântica”, dado por ele mesmo, parece advir de um programa imagético, à maneira de Wagner, baseado em castelos, caçadas e festejos medievais. Isso, no entanto, é o que menos conta na obra. Importam muito mais o Ländler (dança tradicional austríaca) usado na seção central do terceiro movimento, que, se não se tivesse a certeza de Bruckner, suspeitar-se-ia Schubert; as duas ideias melódicas que se opõem no segundo movimento (de causarem inveja a qualquer dialética) e, aí, o discurso quase declamado posto na voz das violas; os contrastes entre metais e cordas no primeiro movimento e, nele, as melodias que sabem ao popular. Moacyr Laterza Filho
Uma palavra sobre 中国爱乐乐团, que é como se escreve Orquestra Filarmônica Chinesa usando caracteres chineses.
Os dois primeiros caracteres, 中 (zhong) e 国(guó), formam a palavra China.
爱 (ài) significa amar, gostar e 乐 (lè) significa alegria, rir, música. Juntos formam Filarmônica. 团(tuán) significa redondo, bola, mas também grupo, sociedade. Assim, 乐团 quer dizer orquestra. Não é impressionante?
Sobre a Sala de Concertos: A Sala de Concertos da Cidade Proibida (中山公园音乐堂) é um local multifuncional com 1.419 lugares em Pequim. O nome do local veio do fato de estar localizado dentro do Parque Zhongshan de Pequim, um vasto antigo altar imperial Shejitan e agora um parque público localizado a sudoeste da Cidade Proibida e na Cidade Imperial.
Mas a estrela principal desta postagem é um parceiro de longa data de Cobham…
Barcelona, 1964. Ron Carter estava em turnê com o quinteto de Miles Davis. No seu tempo livre, ele e Miles buscaram satisfazer duas necessidades profundas em um obscuro restaurante onde as paixões catalãs por boa comida e boa música se encontravam.
“Os funcionários pareciam honrados com o nosso interesse. O resultado foi um incrível jantar com peixe, seguido de duas horas de maravilhoso flamenco. Eram dois dançarinos e três músicos, todos autênticos. Eu sempre gostei de música espanhola. Mas naquela viagem tive a chance do ouvir horas, direto da fonte. Fiquei fascinado com o uso do tempo pelos músicos de flamenco. Uma ênfase diferente na marcação do tempo. Não consigo anotar ou explicar, mas é muito emocionante.”
Duas das peças neste álbum refletem as simpatias espanholas de Ron Carter. Ele não tem a pretensão de que essas peças observam formas tradicionais do flamenco. São composições distiladas do estilo espanhol e filtradas pela experiência e perspectiva de um mestre do jazz. Os solos apaixonados de Hubert Laws (flauta) e Roland Hanna (piano acústico e elétrico) em El Noche Sol e a atmosfera sensual de habanera em Sabado Sombrero atestam o sucesso de Carter como compositor, líder e baixista.
“Arkansas” – que ganhou este nome quando o filho de Ron Carter estudava um mapa e pronunciou de modo errado o nome daquele estado do sul dos EUA – tem o único overdub no disco: Carter toca ao mesmo tempo um baixo piccolo e um normal. As duas linhas de baixo têm, ambas, os elementos que fizeram de Ron Carter um músico tão popular entre ouvintes e músicos: potência, swing, um tom redondo e uma lógica arquitetural única.
Mas a sua habilidade para lidar e se ajustar com seus parceiros é igualmente importante. Neste álbum essa empatia é notável, por exemplo, nas conspirações rítmicas desenvolvidas por Carter e Billy Cobham.
“Ele ouve com as suas mãos e ouvidos,” diz Ron sobre Cobham. “O que quer que acontecer, ele sempre vai se adaptar e nós sempre nos viramos sem perder o tempo.”
(Adaptado do encarte de Spanish Blue, 1975, escrito por Doug Ramsey)
Enquanto o resto do álbum tem essa homenagem às sonoridades espanholas, a faixa final, Arkansas, tem uma levada mais dançante no baixo elétrico, lembrando um pouco o movimento que também Billy Cobham fazia em seu álbum do mesmo ano, A Funky Thide of Sings.
O baixo elétrico, porém, permaneceria minoritário na longa e produtiva carreira de Ron Carter: a partir dos anos 1980 ele se tornou um dos nomes mais constantes em grupos do chamado jazz tradicional, ou seja, com instrumentos acústicos. A sua pose de gentleman, quase sempre em ternos bem cortados, ajudaria a compor o estilo daquele jazz mais orientado para adultos acima dos 40 do que para jovens.
E mais ou menos a partir do ano 2000, também Billy Cobham voltaria a tocar esse tipo de jazz em instrumentos acústicos. Ele continuaria fazendo shows e álbuns de jazz-fusion, mas alternaria com formações como esta gravada ao vivo em 2011, com Ron Carter no baixo e o saxofonista Donald Harrison. Nascido em New Orleans em 1960, Harrison traz o swing do sul dos EUA para duas faixas compostas por Ron Carter e uma por Victor Feldman & Miles Davis. Há ainda um standard de 1936 assinado Vernon Duke & Ira Gershwin, um outro standard tocado somente por Carter no baixo e a faixa final é assinada pelos três músicos aqui presentes.
Ron Carter: Spanish Blue (1974)
1. El Noche Sol (Ron Carter)
2. So What” (Miles Davis) – 11:24
3. Sabado Sombrero (Ron Carter)
4. Arkansas (Ron Carter)
Recorded at Van Gelder Studio in Englewood Cliffs, New Jersey, USA, November 18, 1974
Ron Carter – bass
Hubert Laws – flute
Roland Hanna – electric piano, piano (tracks 1-3)
Leon Pendarvis – electric piano (track 4)
Jay Berliner (track 3) – guitar
Billy Cobham – drums, field drum
Ralph MacDonald – percussion
Donald Harrison, Ron Carter, Billy Cobham: This is Jazz (2011)
1. Cut & Paste (Ron Carter)
2. MSRP (Ron Carter)
3. You Are My Sunshine (Jimmie Davis, Charles Mitchell)
4. Seven Steps to Heaven (Victor Feldman, Miles Davis)
5. I Can’t Get Started (Vernon Duke, Ira Gershwin)
6. Treme Swagger (Donald Harrison, Ron Carter, Billy Cobham)
Recorded live at the Blue Note, NYC, USA, March 5-6, 2011
Donald Harrison – alto saxophone
Ron Carter – bass
Billy Cobham – drums
Billy Cobham talvez seja o maior baterista vivo e em atividade no planeta. E podem ter certeza de que eu não falo isso pra todos. Não me lembro de ter feito, até hoje, uma série de postagens com elogios tão longos a um baterista ou percussionista, e olha que já falei aqui de figuras veneráveis como Naná Vasconcelos (1944-2016), Wilson das Nees (1936-2017) e Rashied Ali (1933-2009).
Alex Blake
Temos aqui dois discos de Billy Cobham com sua banda de meados dos anos 1970. A sonoridade mantinha-se próxima do jazz-fusion do seu disco de estreia, porém, com três ou mais instrumentos de sopro e com linhas de baixo mais dançantes, ele ia se aproximando do funk. Isso já é verdade no disco gravado ao vivo na Europa, mas sobretudo no disco seguinte, A Funky Thide of Sings (1975). Um dos grandes momentos de toda a carreira de Billy Cobham, este álbum tem arranjos que lembram um pouco o instrumental dos discos de Michael Jackson como Off the wall (1979) e os anteriores com seus irmãos. A semelhança se dá sobretudo com os baixos extremamente dançantes, também os teclados e metais, mas é claro que a percussão aqui é muito mais elaborada. Amo este disco.
Para além do entusiasmo com esses excelentes músicos como Milcho Leviev (teclados) e Alex Blake (baixo), é interessante notar também que tanto a mudança de sonoridade rumo ao funk como as turnês na Europa fizeram parte de um contexto de crise do jazz nos EUA como gênero comercialmente viável. Sobre isso, um respeitado historiador resume:
Assim como a música clássica, o jazz sempre foi um interesse de minorias, contudo, diversamente da música clássica, esse interesse não foi estável. O interesse pelo jazz passou por diferentes fases, havendo momentos de desânimo. O final da década de 1930 e os anos 1950 foram períodos em que o jazz se expandiu de maneira notável, mas nos anos da depressão de 1929 (nos EUA, pelo menos), até o Harlem preferiu música suave à meia-luz em vez de Duke Ellington ou Louis Armstrong. (…) A idade de ouro dos anos 50 terminou de repente (…). Os jovens, sem os quais o jazz não pode existir, o abandonaram com uma rapidez extraordinária.
Não foram poucos os músicos de jazz americanos que acharam melhor emigrar para a Europa naquelas décadas. Como disse um famoso saxofonista em 1976: “Não acho que possa ganhar o suficiente neste país. Não acho que alguém possa… Não há público em número bastante… Nos últimos dois anos, a banda fez mais apresentações na Alemanha do que aqui”.
(Eric Hobsbawm. O Jazz a partir de 1960. In: Pessoas extraordinárias – Resistência, rebelião e jazz. 1989)
Billy Cobham – percussion
Michael Brecker – saxophone
Randy Brecker – trumpet
Glenn Ferris – trombone
John Abercrombie – guitar
Milcho Leviev – keyboards
Alex Blake – bass
Recorded at the Rainbow Theatre, London, England, 13/jul/1974 (tracks 1, 3, 4) / at the Montreux Jazz Festival, Switzerland, 4/jul/1974 (track 2). All compositions by Billy Cobham
1. Panhandler (Billy Cobham) – 3:50
2. Sorcery (Keith Jarrett) – 2:26
3. A Funky Thide of Sings (Billy Cobham) – 3:23
4. Thinking of You (Alex Blake) – 4:12
5. Some Skunk Funk (Randy Brecker) – 5:07
6. Light at the End of the Tunnel (Billy Cobham) – 3:37
7. A Funky Kind of Thing (Billy Cobham) – 9:24
8. Moody Modes (Milcho Leviev) – 12:16
Billy Cobham – percussion, synthesizers
Milcho Leviev – keyboards
John Scofield – guitar
Alex Blake – bass
Michael Brecker, Larry Schneider – saxophone
Randy Brecker, Walt Fowler – trumpet
Tom Malone – trombone, piccolo
Glenn Ferris – trombone
Rebop Kwaku Baah – congas
O ano de 1973 foi extremamente movimentado para Billy Cobham: aos 29 anos, ele alcançava uma fama maior com o grupo Mahavishnu Orchestra, ao mesmo tempo que presenciava a desintegração deste grupo. Não faltaram outros parceiros musicais de imenso talento, com os quais ele tocou em estúdio e em turnês pelos EUA. um desses parceiros foi o guitarrista Carlos Santana, que naquele momento já tinha uma legião de fãs na California, enquanto os fãs de John McLaughlin se concentravam mais em Nova York e na costa leste em geral. Os dois guitarristas gravaram um disco em 1973 e cada um trouxe parte de suas bandas: McLaughlin contou com Billy Cobham na bateria e Santana trouxe Armando Peraza (1924-2014), percussionista de origem cubana. Larry Young (órgão hammond) completa a banda principal, que teve ainda a participação mais discreta do baixista Doug Rauch, também da banda de Santana desde 1970. Essa mesma banda fez uma curta turnê em 1973, uns 10 ou 20 shows. Ao vivo, no show em Saratoga (estado de NY, USA), aos menos para os meus ouvidos eles estão ainda melhores do que no estúdio.
Também foi em 1973 que Billy Cobham gravou seu primeiro álbum como líder de uma banda: aqui, sem guitarra, ele convidou o tecladista da Mahavishnu Orchestra, Jan Hammer, que é o principal destaque no disco Spectrum junto com o baterista. Hammer em seguida tocaria muitos anos com Jeff Beck, incluindo o clássico álbum Wired (1976). Apoiado na reputação que Billy Cobham ia construindo em meio a tantos discos e shows em outras bandas, esse seu primeiro disco solo foi um sucesso de vendas e alavancou a sua longa carreira solo, da qual veremos dois dos seus outros álbuns amanhã.
O Tamba Trio acompanhou todo mundo durante a Bossa Nova e no surgimento da MPB. Os caras eram bons bons mesmo! O trio muito acompanhou Carlos Lyra, Edu Lobo, Nara Leão, Sylvia Telles, Quarteto em Cy, João Bosco e Simone, entre outros. O Tamba começou a tomar forma em 1962 acompanhando a cantora Maysa e depois Leny Andrade atuando ao lado de Luís Carlos Vinhas (piano) e Roberto Menescal (violão). A partir de 1967, com a entrada do baixista Dório Ferreira, Bebeto passaria a atuar apenas como flautista, transformando assim o trio no quarteto Tamba 4. Dois anos depois, com a saída de Luiz Eça, que formaria o seu grupo A Sagrada Família, o pianista Laércio de Freitas entrou em seu lugar. O quarteto duraria até 1970. O Tamba Trio retornou com os três integrantes originais só em 1971, gravando dois discos pela gravadora RCA. Em 1976, começou mais um hiato e, quatro anos depois, o grupo voltou, fazendo apresentações e gravando o LP Tamba Trio 20 Anos de Sucessos, lançado em 1982. A partir de 1989, o baterista Rubens Ohana, que já participara do Tamba Trio, reintegrou-se ao conjunto, substituindo Hélcio Milito. O grupo continuou até 1992, quando faleceu Luiz Eça.
Já Edu Lobo é um gênio. Basta ouvir Borandá. Desde criança, fico impressionado com Edu Lobo, quando ele canta, em tom soturno: “Deve ser que eu rezo baixo”. Segue um texto sobre a obra-prima “Borandá”.
“Borandá” (nome de uma canção de Edu Lobo) é também uma expressão nordestina que significa ‘embora andar’. Edu Lobo lançou, em dezembro de 1964, a música “Borandá”, canção de protesto, incluída no Show Opinião. Na realidade, essa canção tinha sido muito bem aceita nos círculos bossanovistas alguns meses anteriores à encenação da peça de Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa. Compositor de sólida formação e sensibilidade musicais, conviveu durante sua infância e adolescência com os gêneros da moda (samba-canção e, posteriormente, a Bossa Nova, na cidade do Rio de Janeiro) e com o frevo, a embolada, o bumba-meu-boi, cantigas infantis do Recife (por ocasião de suas férias escolares passadas com os seus familiares pernambucanos). Simpatizantes das premissas culturais do CPC e da Bossa Nova, aproximou-se de artistas engajados ou não, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Sérgio Ricardo, Carlos Lyra, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho, Ruy Guerra, Nara Leão, Wanda Sá. Em “Borandá” (letra e música de Edu Lobo), canção com ambientação rural, o autor procurou desmistificar a religiosidade popular dos nordestinos, vista como um entrave ou obstáculo que contribuía para a não-conscientização do homem rústico em face dos reais problemas sociais. Aproximando-se das ideias estético-políticas esboçadas por Glauber Rocha em seu filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Edu Lobo denuncia a miséria como um sintoma da seca e, paralelamente, procura desmistificar a religiosidade popular que impelia o sertanejo a assumir o papel de um ser errante, que se dirige para os grandes centros urbanos do litoral em busca de melhores condições de vida ou terras férteis em outras regiões do Nordeste. A temática dessa canção lembra problemas levantados por Graciliano Ramos em sua obra “Vida Secas”, e filmada por Nélson Pereira dos Santos em 1963-1964: “Deve ser que eu rezo baixo” e, ironicamente, o autor procura indicar uma resposta: “Pois meu Deus não ouve, não/ É melhor partir lembrando (Que ver tudo piorar)”. E, em seguida, Edu Lobo resume, em poucas linhas, o retrato sobre as condições de vida do retirante: “(…) Borandá, que a terra/ Já secou, borandá/ É borandá, que a chuva/ Não chegou, borandá”. E, sutilmente, denuncia a relação Igreja/ coronelismo e uma possível solução dos problemas sociais: “Já fiz mais de mil promessas/ Rezei tanta oração/ deve ser que eu rezo baixo/ Pois meu Deus não ouve, não/ Borandá, que a terra/ Já secou borandá/ É borandá, que a chuva/ Não chegou, borandá”. E, finalmente, sem nenhuma ilusão, o sertanejo procura outros lugares para fugir da seca: “Vou-me embora, vou chorando/ Vou-me lembrando de meu lugar/ Quanto mais eu vou pra longe/ Mais eu penso sem parar/ Que é melhor partir lembrando/ Que ver tudo piorar/ Borandá, borandá/ Vem borandá”.
Extraído de http://www.scielo.br escrito por Arnaldo Daraya Contier
Mas restante do LP tem joias como Zambi, Chegança,Reza, Canção do Amanhecer e Arrastão — esta numa curiosa gravação não tão incandescente quanto a de Elis.
Tamba Trio – Avanço — 1963
A1 Garôta De Ipanema
Written-By – Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
A2 Mas, Que Nada !
Written-By – Jorge Ben
A3 Negro
Written-By – Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli*
A4 Mania De Maria
Written-By – Luiz Bonfá, Maria Helena Toledo*
A5 Vento Do Mar
Written-By – Durval Ferreira, Luiz Fernando Freire*
A6 Sonho De Maria
Written-By – Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle
B1 Só Danço Samba
Written-By – Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
B2 O Samba Da Minha Terra
Written-By – Dorival Caymmi
B3 Môça Flor
Written-By – Durval Ferreira, Paulo Sérgio Valle
B4 Rio
Written-By – Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli*
B5 Tristeza De Nós Dois
Written-By – Bebeto Castilho, Durval Ferreira, Mauricio Einhorn
B6 Esperança
Written-By – Durval Ferreira, Luiz Fernando Freire*, Mauricio*
A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo (Com a Participação do Tamba Trio) — 1964
A1 Borandá
Written-By – Edu Lobo
2:33
A2 Resolução
Written-By – Edu Lobo, Lula Freire
2:26
A3 As Mesmas Histórias
Written-By – Edu Lobo
3:55
A4 Aleluia
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
3:20
A5 Canção Da Terra
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
2:55
A6 Zambi
Written-By – Edu Lobo, Vinicius De Moraes
3:08
B1 Reza
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
2:55
B2 Arrastão
Written-By – Edu Lobo, Vinicius De Moraes
2:29
B3 Réquiem Por Um Amor
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
1:37
B4 Chegança
Written-By – Edu Lobo, Oduvaldo Vianna Filho*
3:21
B5 Canção Do Amanhecer
Written-By – Edu Lobo, Vinicius De Moraes
1:54
B6 Em Tempo De Adeus
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
3:12
Gostei. Uma boa gravação, embora o foco no piano pudesse ser mais nítido dentro de uma acústica de igreja que certamente é estranha para um repertório tão íntimo. Para o bem e para o mal, Delius é um inglês daqueles líricos. Foi profundamente influenciado por Grieg, mas desenvolveu um estilo único, muito próprio. Sua sonatas são bonitas, especialmente a Sonata Nº 1. As obras de câmara de Delius são frequentemente ignoradas em favor de seus poemas orquestrais. Porém, estas quatro sonatas são exemplos notáveis da arte de Delius. São temperamentais, rapsódicas, contendo texturas sensuais e sutis toques de impressionismo. Às vezes melancólicas e às vezes extáticas, ouvi essas sonatas como um “Delius em sua forma mais lírica”, um clima que Tasmin Little e Piers Lane transmitem com sensibilidade. A sua forma de tocar expressiva é da mais alta qualidade, dando uma sensação de “tempo suspenso”. O violino de Little tem um tom muito bonito e Lane toca com total empatia. É difícil imaginar que essas obras possam ser tocadas melhor.
Frederick Delius (1862-1934): Sonatas para Violino e Piano (Little / Lane)
Sonata In B Op. Posth. (1892) (24:41)
1 I. Allegro Con Brio 7:42
2 II. Andante Molto Tranquillo 8:06
3 III. Allegro Con Moto 8:53
Sonata No. 1 (1905-14) (21:57)
4 I. With Easy Movement But Not Quick — II. Slow 12:49
5 III. With Vigour And Animation 9:08
No. 2 (1923) (13:17)
6 Con Moto — Lento — Molto Vivace 13:17
Sonata No. 3 (1930) (16:43)
7 I. Slow 5:53
8 II. Andante Scherzando — Meno Mosso — Tempo Primo 4:09
9 III. Lento — Con Moto 6:41
Piano – Piers Lane
Violin – Tasmin Little
Gravado no St. Silas’s Presbytery, Londres
Disco luminoso esse, como essa manhã de domingo em Camboinhas, ótimo para se ouvir antes da final de um dos mais charmosos torneios de tênis da temporada de saibro na Europa.
Quanto ao tênis, a quadra onde se dará o jogo fica num cenário de tirar o fôlego, com vista para o mar e as marinas repletas de iates.
Lançado em novembro do ano passado, o disco ganhou rave reviews, inclusive da sisuda revista britânica Gramophone. Mas, pudera, o espetacular Avi Avital e seu bandolim é acompanhado pela orquestra barroca Il Giardino Armonico conjunto excelente regido pelo genial Giovani Antonini.
Se essa manhã houvesse ocorrido perto de 50 anos atrás, o disco seria outro e teria chegado as minhas mãos em outra mídia, por outras formas, a tv nem seria colorida e certamente esporte não seria tênis. Mas, o prazer com a música ainda sim seria intenso.
Definitivamente o disco a que me remeteu essa gravação, com Narciso Yepes, hoje soa datado, mesmo se considerarmos que o repertório diferente, apesar de similar.
Mas para quê ficar falando de velhos de tempos se hoje temos Avi Avital para iluminar ainda mais amanhã de domingo.
Bom, agora, com licença, pois o jogo está ótimo!
ANTONIO VIVALDI (1678–1741)
Concerto for 4 Mandolins, Strings and Basso continuo in B minor after “L’estro armonico” op. 3 no. 10 / RV 580 for four violins
All four solo parts played by Avi Avital
Allegro
Largo – Larghetto – Adagio – Largo
Allegro
JOHANN SEBASTIAN BACH (1685–1750)
Concerto for Mandolin, Recorder, Strings and Basso continuo in D minor after BWV 1060R in C minor for violin and oboe
Allegro
Adagio
Allegro
EMANUELE BARBELLA (1718–1777)
Concerto for Mandolin, Strings and Basso continuo in D major
Allegro
Andantino
Giga. Allegro
attr. GIOVANNI PAISIELLO (1740–1816)
Concerto for Mandolin, Strings and Basso continuo in E flat major
Allegro moderato
Larghetto grazioso
Giga. Allegro
JOHANN NEPOMUK HUMMEL (1778–1837)
Concerto for Mandolin and Orchestra in G major
Allegro moderato e grazioso
Andante con variazioni
Rondo
Avi Avital, mandolin
Il Giardino Armonico
Giovanni Antonini recorder & conductor
Recorded: 2022-11
Recording Venue: Euregio Kulturzentrum, Gustav Mahler Saal, Toblach
Com seu álbum ‘Concertos’ o carismático bandolinista Avi Avital realiza um sonho e colabora com o renomado conjunto de instrumentos históricos ‘Il Giardino Armonico’ e seu maestro e fundador Giovanni Antonini. Juntos, eles interpretam três concertos para bandolim de Emanuele Barbella, Giovanni Paisiello e Johann Nepomuk Hummel, bem como arranjos de concertos de J. S. Bach e Vivaldi.
Avital’s seemingly effortless virtuosity and quasi-improvisatory flights in this audibly genial collaboration will send you on your way rejoicing. — Gramophone Magazine, February 2024
O primeiro concerto do disco, de Vivaldi, para quatro violinos, é aquele que Bach transcreveu para quatro cravos, para tocar com seus filhos, na Academia do Café Zimmermann!
J’adore a música de Schubert! Mestre absoluto da melodia, compositor de enorme fluência e verve. A retórica de Schubert é da persistência e repetições que se recolocam com pequenas alterações entre tantas outras coisas. Mas, como perigosamente me aproximo das especulações, vamos ao disco.
A música orquestral de Schubert é pequena se colocarmos em proporção ao resto de sua obra, mas isso reflete as reais possibilidades de execução no momento da criação. As suas cinco primeiras sinfonias, compostas entre 1813 e 1816, foram criadas para apresentações por orquestras amadoras.
A Sinfonia No. 1 foi apresentada pela orquestra formada por seus colegas de escola. As outras quatro sinfonias foram sendo apresentadas pela orquestra que surgiu dos encontros de músicos na casa de seus pais, cresceu e seu desenvolveu tornando-se uma ótima orquestra amadora. Essas sinfonias de juventude refletem o interesse e a admiração que Schubert tinha pelo compositores importantes de seu tempo, como Haydn e Beethoven, por quem tinha uma enorme admiração. Mas, a Sinfonia desse disco foi inspirada em uma obra de outro compositor por quem ele tinha grande admiração, a Sinfonia No. 40 de Mozart. Eu tenho especial admiração pelas duas sinfonias, a de Mozart e a de Schubert. Até na escolha dos instrumentos ele seguiu o mestre e criou uma peça com um maravilhoso Andante con moto, que aqui se estende por bons dez minutos e é antecipado por um radiante Allegro. Toda obra, com certeza daria muito prazer a Wolfie. Uma sinfonia com ares vienenses, com leveza, elegância e espirituosidade, muito bem realçadas por essa gravação, com a Orquestra da Rádio Alemã em Köln, regida pelo venerando Günter Wand. E olha que a gravação foi feita há já mais do que 40 anos.
Para completar o programa temos a música composta para o drama ‘Rosamunde’, escrita por Helmina von Chézy, que também escreveu o libreto de ‘Euryanthe’, musicado por Carl Maria von Weber. A peça teatral estreou em 20 de dezembro de 1823, foi apresentada mais uma vez e tornou-se um retumbante fracasso. Mas, temos a música cujo tema foi usado novamente por Schubert em um quarteto de cordas composto no ano seguinte e herdou o nome da peça: Rosamunde.
Ah, quase ia me esquecendo! O tema da Rosamunde foi mais uma vez usado em um dos Impromptus. Veja a faixa bônus.
Franz Schubert (1797 – 1828)
Symphony No. 5 in B flat major, D485
Allegro
Andante con moto
Menuetto. Allegro molto – Trio
Allegro vivace
Incidental music to Rosamunde, D797
Entr’acte No. III in B-Flat Major
Ballet Music No. 1
Ballet Music No. 2
WDR Sinfonieorchester Köln
Günter Wand
Faixa Bônus
Impromptu em si bemol maior, Op. 142, 3 ‘Rosamunde’
Esse disco faz parte da coleção com todas as sinfonias de Schubert gravadas por Günter Wand regendo a orquestra da Rádio Alemã em Colônia, mas acho que esse disco pode (e talvez deva) ser apreciado assim, devagar e isolado de seus irmão, especialmente os que trazem as enormes sinfonias…
Na continuação das homenagens ao baterista Billy Cobham, hoje temos mais três discos com a sua participação, e que até hoje são frequentemente reeditados e relembrados em listas de melhores disso ou daquilo. Os textos abaixo são adaptados do blog jazz-rock-fusion-guitar, um dos mais longevos da internet junto com este PQPBach e uma meia dúzia de outros dedicados à música. Mas antes uma observação: é um exagero dizer que Billy Cobham foi da banda de Miles Davis. Ele gravou com Miles, como baterista já muito conhecido como músico de estúdio em Nova York e New Jersey. Mas não chegou a fazer vários shows e turnês com Miles Davis em sua encarnação elétrica, ao contrário de nomes como Wayne Shorter, Chick Corea, Keith Jarrett, Jack DeJohnette. Com a Mahavishnu Orchestra de John McLaughlin, sim, ele teve uma ligação mais duradoura e intensa entre 1971 e 1973. E foi a partir do grande sucesso dos discos e dos shows dessa banda que Billy Cobham ganhou um público de admiradores e iniciou uma carreira como líder de seus próprios grupos, mas isso já são cenas do próximo capítulo.
Jack Johnson, também conhecido como A Tribute to Jack Johnson, foi a segunda trilha sonora de filme que Miles Davis compôs, depois de Ascenseur pour l’échafaud em 1957. Em 1970, Bill Cayton (empresário do boxe) pediu a Davis que gravasse música para seu documentário de mesmo nome sobre a vida do boxeador Jack Johnson. A saga de Johnson ressoou pessoalmente em Davis, que escreveu no encarte do álbum sobre a maestria de Johnson como boxeador, sua afinidade com carros velozes, jazz, roupas e mulheres bonitas, sua negritude não reconstruída e sua imagem ameaçadora para os homens brancos. Jack Johnson foi um ponto de virada na carreira de Davis e desde então tem sido visto como uma de suas maiores obras.
Na capa original do LP (clique na foto mais abaixo para ampliar), além de uma foto de Miles Davis e seu trompete, há também um texto introdutório do próprio Miles, no seu característico estilo direto e combativo, que começa assim:
A ascensão de Jack Johnson à supremacia mundial dos pesos pesados em 1908 foi um sinal para o surgimento da inveja branca. Consegue imaginar? E, claro, nascer Negro na América… todos nós sabemos como é. Um dia antes de Johnson defender o título contra Jim Flynn (1912), ele recebeu um bilhete: “Deite-se amanhã ou amarraremos você – Ku Klux Klan.” Dig that!
Johnson representou a Liberdade – ela tocou tão alto quanto o sino que o proclamava Campeão. Ele era um homem de vida rápida, gostava de mulheres – muitas delas e a maioria brancas. Ele tinha carros chamativos, isso mesmo, os grandes e os rápidos. Ele fumava charutos, tomava os melhores champagnes e tinha um contrabaixo de mais de 2 metros no qual ele orgulhosamente tocava jazz. Sua extravagância era óbvia. (…) E quanto mais ele era odiado, mais dinheiro ele ganhava, mais mulheres ele conquistava e mais vinho ele bebia.
Davis, que queria formar o que chamou de “a maior banda de rock and roll que você já ouviu”, gravou com uma formação composta pela guitarra de John McLaughlin, o baixo elétrico de Michael Henderson, os teclados de Herbie Hancock e a bateria de Billy Cobham.
A principal sessão de gravação do álbum, em 7 de abril de 1970, foi quase acidental: John McLaughlin, aguardando a chegada de Miles, começou a improvisar riffs em sua guitarra, e logo se juntou a Michael Henderson e Billy Cobham. Enquanto isso, os produtores trouxeram Herbie Hancock, antigo parceiro de Miles e que por acaso estava de passagem pelo prédio, para tocar órgão Farfisa – criando sonoridades que por vezes lembram o Pink Floyd do período com Syd Barrett (1966-1968).
Em “Yesternow”, existem duas bandas, a primeira mencionada acima e outra que começa por volta das 12h55. A segunda formação foi Miles, McLaughlin e Sonny Sharrock (guitarras), Jack DeJohnette (bateria), Chick Corea (teclado), Bennie Maupin (clarinete baixo), Dave Holland (baixo elétrico). Os primeiros 12 minutos da música giram em torno de um único riff de baixo retirado de “Say It Loud, I’m Black and I’m Proud”, de James Brown. Jack Johnson é um dos melhores discos de jazz elétrico já feitos por causa do sentimento de espontaneidade e liberdade que evoca no ouvinte, pelos solos estelares e inspiradores de McLaughlin e Davis e pela perfeição da montagem de diferentes takes no estúdio por Miles e pelo produtor Teo Macero.
Os outros discos da postagem de hoje são da Mahavishnu Orchestra, que não era uma orquestra no sentido literal, apenas uma banda com cinco músicos tocando jazz-rock (fusion) em instrumentos elétricos: guitarra, baixo, teclado, violino e bateria. O líder, John McLaughlin, foi um dos protagonistas da banda de Miles na fase dos discos Bitches Brew e Jack Johnson, tendo fundado sua própria banda logo em seguida. Apesar de – ao menos quando sob os holofotes – espiritualizado em um peculiar estilo bastante influenciado pela fase final de Coltrane, McLaughlin ao mesmo tempo queria assinar como único compositor da banda e ficar com a maior parte da grana, o que fez com que a 1ª formação da Mahavishnu Orchestra durasse apenas uns dois anos. Uma pena, pois raramente se viu gente tão talentosa e com uma química tão intensa entre si. A bateria de Billy Cobham, com seu peculiar estilo de subdividir os ritmos, funcionava perfeitamente com os compassos quebrados da guitarra e dos demais instrumentos.
Mahavishnu Orchestra, 1973 (clique para aumentar)
Birds of fire foi o 2º e último disco de estúdio dessa 1ª e melhor formação da Mahavishnu Orchestra, é cheio de notáveis solos precisamente coreografados e de alta velocidade – com John McLaughlin, Jerry Goodman e Jan Hammer todos unidos, apoiados pela bateria de Billy Cobham e seu som muito peculiar.
Em seguida, em 1973, em meio às dificuldades durante a gravação de um abortado 3º álbum, lançaram o disco ao vivo Between Nothingness & Eternity. Neste show no Central Park de Nova York os cinco virtuosos do jazz-rock podem ser ouvidos em faixas mais longas e com mais liberdade do que no estúdio. Há apenas três faixas no disco, cada uma se desenvolve organicamente através de uma série de seções, e há menos passagens em uníssono sincronizado do que nas gravações anteriores. McLaughlin está tão brilhante como sempre na guitarra elétrica de braço duplo, e Jan Hammer (teclados) e Jerry Goodman (violino) são páreo para ele no departamento de velocidade, com o baterista Billy Cobham exibindo uma sonoridade poderosa, bruta e convincente em seu acompanhamento.
Younger listeners raised on rock responded to the band’s vitality and extraordinary musicianship; Hammer added synthesizers to his arsenal, developing a keyboard style nearly as influential as that of McLaughlin’s frenetic guitar work and Cobham’s rumbling percussive attack. But it was nearly inevitable that the life span of such a dynamic ensemble would be brief. The Mahavishnu Orchestra threw down the gauntlet; fusioneers who followed have been trying to catch up ever since.
The original Mahavishnu Orchestra only lasted a short time, but they created a tremendous body of work. Not quite rock but too loud for jazz, they blazed the trail for fusion and left everyone far behind. This collection has both studio albums – with not a bad cut between them -and the live ‘Between Nothingness and Eternity’, which, unusually for the time, had all new music on it and was more expansive, with the shortest cut being nearly ten minutes long.
Dantone começou a gravar muito jovem e era um cravista muito enfeitado. Suas ornamentações pesavam. Conheço umas gravações onde ele deveria fazer o contínuo, mas não havia o que o segurasse. Ele queria viver, sonhar, amar e aparecer mais do que o solista. Argh! Porém… Seja porque Bach não lhe dá espaço, seja porque meu pai impõe o mesmo respeito que impunha a mim, a WF e CPE em casa, o fato é que esta gravação do Cravo Bem Temperado é uma joia que você deve ouvir. Sim, você. Estou falando com quem, caralho? Aqui, Dantone está saudavelmente contido dentro da música de papai, o que é uma maravilha porque é um baita instrumentista. Ou então Tavinho cresceu, ficou um homenzinho, passou a cumprir funções táticas e deixou de ser aquele peladeiro ao estilo de Guiñazu, que está em todos os lugares do campo menos onde deve.
J.S. Bach: The Well Tempered Clavier. Book I (2001) 2CD