Mestre incontestável do piano, Maurizio Pollini deixou imenso e diversificado legado, em trajetória musical de mais de 60 anos…
Nascido em Milão, Itália, 1942, numa família de artistas – pai violinista e arquiteto; mãe cantora e pianista; e irmão escultor; aos 14 anos, já executava os estudos de Chopin e, aos 18 anos, venceu célebre “Concurso Internacional Chopin”, VI edição – 1960, sendo mais jovem concorrente e tendo Arthur Rubinstein na presidência de honra…
Clareza e precisão acompanharam carreira e performances, muitas vezes, levando à controvérsia, quanto às sensibilidade e lirismo de suas interpretações, o que fica a critério do público e inúmeros registros, em áudio e vídeo… No entanto, parece indiscutível seu comprometimento musical, sua obsessão pela excelência e profundidade… Assim, teve trajetória musical marcada por exigente repertório, distanciando-se de quaisquer tipos de leveza ou apelo virtuosístico, apesar dos amplos recursos: “Pollini tinha maior desenvoltura, aos 18 anos, que quaisquer dos jurados”, disse Rubinstein, em Varsóvia, 1960…
Então, mergulhou em mundos pouco acessíveis, das asperezas da última fase de Beethoven, ou da música dodecafônica e contemporânea… E seus registros apresentavam combinações inusitadas, como os concertos de Schumann e Schoenberg, que sugerimos nesta edição…
Também realizou cursos em composição e direção, com breves incursões, na década de 1980, com a ópera “La Donna del Lago”, de Rossini; ou em concertos sinfônicos e parcerias com o filho, Danieli Pollini. Mas, sua atuação como pianista prevaleceu… E durante os chamados “anos de chumbo”, década de 1960, engajou-se politicamente, filiando-se à esquerda democrática italiana; além de agendar, com Claudio Abbado, programas acessíveis de música erudita, em fábricas e universidades – motivos de reflexão, presentes ao longo da carreira…
E disse, ao “The Guardian”, em 2011: “A arte, em si, tem sempre caráter progressista e necessário, mesmo que pareça absolutamente inútil, em termos práticos”… “de certa forma, a arte representa o ato de ‘sonhar’, para uma sociedade. Se dormir ou sonhar são de vital importância para um ser humano; da mesma forma, uma sociedade não sobreviveria sem a arte…”
Dado a precocidade, após “Concurso de Varsóvia”, o jovem Pollini, então, aluno de Carlo Vidusso, decidiu ampliar repertório no lugar de iniciar carreira internacional… E convites eram muitos… Assim, por algum tempo, passou a ler, jogar xadrez e conviver, informalmente, com Arturo Benedetti Michelangeli, célebre pianista… E aliou ao repertório tradicional, de Schubert, Chopin, Schumann e Beethoven; autores do século XX, como Stravinsky, Bartók, Schoenberg e Webern; além de modernistas do pós-guerra, como Stockhausen, Boulez e Luigi Nono – delineando estilo e preferências, como músico e intérprete…
E com amigo de longa data, maestro Claudio Abbado, realizou inúmeras parcerias; além de atuar com outros regentes, como Karl Bohm, Riccardo Muti, Daniel Barenboim e Riccardo Chailly… Artista aclamado, conquistou dois prêmios “Grammy”: em 1980, com “Piano concertos 1 + 2”, de Bartók, com “Chicago Symphony Orchestra”, direção Claudio Abbado; e em 2007, curiosamente, com a integral dos “Noturnos”, de Chopin, apesar da controversa discussão entre seus lirismo e desenvoltura técnica… Também gravou notáveis integrais, das sonatas de Beethoven e do “Cravo Bem Temperado”, vol. 1, de JS Bach…
No final de 2016, “Deutsche Grammophon” lançou conjunto com 55 CDs e DVDs, celebrando 75 anos do pianista… Artista discreto, Pollini dizia: “Minhas decisões na escolha de repertório basearam-se sempre na convicção de que nunca me cansaria de tocá-lo”… E teve períodos em que preferiu concertos ao vivo, do que realizar gravações. E disse, à revista “Gramophone”: “Temos que conviver com fato de que uma performance tem permanência artificial, pois nossas ideias estão sempre mudando”… Assim, “um registro deve ser aceito como documento de um momento. (Por isto), quase nunca ouço meus discos antigos…”
E nos últimos anos, embora distanciado, permaneceu atento à política italiana, ao questionar com franqueza, especialmente, a esquerda, pela qual tanto se mobilizou… E a música, seu meio natural, permaneceu ponto de partida e chegada, razão de sua existência e referência de vida…
Família de pianistas, Maurizio Pollini foi casado, por 56 anos, com Maria Elisabetta – apelido “Marilisa”, e com o filho, Daniele, realizou alguns concertos e gravações… E, finalmente, do rigor, cultivado ao longo da carreira, nos últimos anos, descontraiu-se pouco mais, adicionando “bis” e autografando CDs nos recitais, então, interagindo afetivamente com seu imenso público… Assim, apaziguava-se e celebrava a vida!
Para Download: “Schumann & Schoenberg Piano Concertos”, com “Die Berliner Philharmoniker”, direção Claudio Abbado.
Robert Schumann: “Konzert für Klavier und Orchester”, op. 54
01 1. Allegro affettuoso (15:04) – 02 2. Intermezzo (Andantino grazioso) (05:30) – 03 3. Allegro vivace (10:28)
Arnold Schoenberg: “Concerto for Piano and Orchestra”, Op.42
04 1. Andante (04:36) – 05 2. Molto allegro (02:31) – 06 3. Adagio (06:02) – 07 4. Giocoso (moderato) (06:03)
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“Falecido, aos 82 anos, Pollini é lembrado entre os maiores músicos dos últimos 50 anos. E na Itália, teatro “alla Scala”, de Milão, fez especial referência – entre seus mais atuantes solistas…”
“Em singela homenagem do blog PQP Bach…”
Alex DeLargue
Muito bom, Alex!
Obrigado!
Bravo! Texto exato sobre o impar Maurizio!
Obrigado, querida Gilia! Abraço!