Georg Friedrich Handel (1685-1759): Sonatas para Violino e Cravo (Kurosaki, Christie)

Georg Friedrich Handel (1685-1759): Sonatas para Violino e Cravo (Kurosaki, Christie)

É um excelente CD, tão bom quanto aquele que postei dia desses com Andrew Manze e Richard Egarr. Acho que a dupla nipo-americana tem mais humor que Manze-Egarr. Há falhas em duas faixas (arquivos) da primeira sonata do CD — elas terminam abruptamente –, mas não tenho como fazer a correção, pois encontrei-as na rede. Christie é o regente, criador e dono do excelente conjunto Les Arts Florissants e Kurosaki seu primeiro violinista. Hiro Kurosaki traz uma técnica poderosa e bom senso musical às sonatas para violino de Handel. Na primeira Sonata deste CD, a HWV372, ele toca o Adagio de abertura de maneira suave e doce, e traz uma articulação esplendidamente nítida ao Allegro que se segue, com suas múltiplas paradas, e é igualmente enérgico no final. Admirei, também, a cantilena expressiva no movimento de abertura da HWV 364 e, ainda que um pouco ofegante, a execução rápida e vistosa do segundo movimento e também a execução suave e sutil da giga final. Um belo trabalho.

Devo mencionar que o CD começa e termina com sonatas que a maioria das autoridades considera não serem de Handel, os HWV372 e 370.  São peças menores, mas a autoria de Handel não pode ser totalmente descartada.

Georg Friedrich Handel (1685-1759): Sonatas para Violino e Cravo (Kurosaki, Christie)

Violin Sonata In A Major Hwv 372 Op 1/10
1. Adagio
2. Allegro
3. Largo
4. Allegro

Violin Sonata In G Minor Hwv 364 Op 1/6
5. Larghetto
6. Allegro
7. Adagio
8. Allegro

Violin Sonata In D Major Hwv 371 Op 1/13
9. Affettuoso
10. Allegro
11. Larghetto
12. Allegro

Violin Sonata In A Major Hwv 361 Op 1/3
13. Andante
14. Allegro
15. Adagio
16. Allegro

Violin Sonata In D Minor Hwv 359a
17. Grave
18. Allegro
19. Adagio
20. Allegro

Violin Sonata In G Major Hwv 358
21. (Allegro)
22. (Adagio)
23. (Allegro)

Violin Sonata No 12 In F Major Hwv 370
24. Adagio
25. Allegro
26. Largo
27. Allegro

Hiro Kurosaki, violino.
William Christie, cravo, órgão.

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PQP

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios para Cordas (Mutter, Giuranna, Rostropovich)

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios para Cordas (Mutter, Giuranna, Rostropovich)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Os Trios de Cordas Op. 9 são frequentemente descartados como trabalhos de treino – o Mestre se preparando para seu primeiro ataque sério ao Quarteto. Pfff… Como qualquer compositor lhe dirá, esta é uma maneira bastante estranha de preparação: o Trio de Cordas é um meio particularmente difícil de dominar. No Op. 9, Beethoven dominou-o totalmente, e a inclusão neste conjunto do Op. 3 Trio nos mostra como ele remodela outro grande trio, o Divertimento de Mozart, K563. Então, um conjunto “educacional”? Não! Os três Op. 9 Trios são obras esplêndidas: vivas, engenhosas e cheias de poesia. Anne-Sophie Mutter pode ser um pouco feroz às vezes, especialmente na abertura do Op. 3, mas ela pode. Os humores e os tempos são bem avaliados. Apesar da seriedade predominante, Mutter, Giuranna e Rostropovich também são sensíveis ao senso de humor travesso do jovem Beethoven – mesmo no Op. 9 No. 3 (Dó menor nem sempre significa tragédia para Beethoven). Mutter está beethoveniana, sensacional e ousada, Rostropovich é sozinho uma orquestra e o violista é tri afinado. Não dá pra pedir mais.

Ludwig van Beethoven (1770-1827): Trios para Cordas (Mutter, Giuranna, Rostropovich)

CD 1

1. String Trio in E flat, Op.3 – 1. Allegro con brio
2. String Trio in E flat, Op.3 – 2. Andante
3. String Trio in E flat, Op.3 – 3. Menuetto (Allegretto)
4. String Trio in E flat, Op.3 – 4. Adagio
5. String Trio in E flat, Op.3 – 5. Menuetto (Moderato)
6. String Trio in E flat, Op.3 – 6. Finale (Allegro)

7. Serenade for String Trio in D, Op.8 – 1. Marcia (Allegro – Adagio)
8. Serenade for String Trio in D, Op.8 – 2. Menuetto (Allegretto)
9. Serenade for String Trio in D, Op.8 – 3. Adagio – Scherzo (Allegro molto) – Adagio (Tempo I) – Allegro molto
10. Serenade for String Trio in D, Op.8 – 4. Allegretto alla Polacca
11. Serenade for String Trio in D, Op.8 – 5. Thema con Variazioni: Andante quasi Allegretto – Variations I -IV – Marcia. Allegro

CD 2

1. String Trio in G major, Op.9, no.1 – 1. Adagio – Allegro con brio
2. String Trio in G major, Op.9, no.1 – 2. Adagio, ma non tanto, e cantabile
3. String Trio in G major, Op.9, no.1 – 3. Scherzo (Allegro)
4. String Trio in G major, Op.9, no.1 – 4. Presto

5. String Trio in D major, Op.9, no.2 – 1. Allegretto
6. String Trio in D major, Op.9, no.2 – 2. Andante quasi allegretto
7. String Trio in D major, Op.9, no.2 – 3. Menuetto (Allegro)
8. String Trio in D major, Op.9, no.2 – 4. Rondo (Allegro)

9. String Trio in C minor, Op.9, no.3 – 1. Allegro con spirito
10. String Trio in C minor, Op.9, no.3 – 2. Adagio con espressione
11. String Trio in C minor, Op.9, no.3 – 3. Scherzo (Allegro molto e vivace)
12. String Trio in C minor, Op.9, no.3 – 4. Finale (Presto)

Anne-Sophie Mutter – Violin
Bruno Giuranna – Viola
Mstislav Rostropovich – Cello

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“Chega de objetificar a Mutter no PQP Bach!”, grita Rostrô.

PQP

All in a Garden Green: Quatro Estações na Música Inglesa (Le Tendre Amour)

All in a Garden Green: Quatro Estações na Música Inglesa (Le Tendre Amour)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma deliciosa coleção de canções inglesas do século XVII, construída em torno da influência das quatro estações e mostrando o grande entusiasmo pela música, especialmente pela produção musical amadora, que ocorreu durante esta época.

Bem, durante a Commonwealth of England (c.1649-1660), a música desapareceu quase inteiramente das ocasiões religiosas e da corte. A utilização de instrumentos e música nas igrejas foi proibida e os órgãos foram destruídos por ordem do regime – por isso o público recorreu aos músicos das aldeias e das tabernas, às danças do campo e novos locais para fazer música foram criados. Coincidindo com o declínio do madrigal elisabetano, a música folclórica e os cenários dos poetas famosos da época eram populares; da mesma forma, variações de teclado em melodias dançantes e canções românticas para voz e alaúde estavam na moda, e isso continuou nos anos da Restauração sob Charles II. A influência do monarca pode ser detectada no estilo francês de algumas das obras posteriores, apresentando oboé e grandes grupos de cordas.

Esta efusão de música inspirada é capturada perfeitamente nesta nova, interpretada esplendidamente e com rara e sensibilidade pelo Ensemble Le Tendre Amour — grupo de Barcelona liderado por Katy Elkin e Esteban Mazer. Os compositores apresentados incluem Purcell, Playford, Morley, Croft, Lawes, Byrd, Eccles, Ravenscroft e, claro, muitas obras anônimas. Da música camponesa bucólica a peças sofisticadas para um público urbano gentrificado, a música fornece uma trilha sonora vívida para a vida no mundo turbulento da Inglaterra do século XVII. Tudo aqui é ótimo, mas destaco especialmente as obras de Purcell e mais as belíssimas faixas 10, 17 e 25 (que é de Purcell).

E quem souber quem é a maravilhosa soprano do CD, favor informar nos comentários!

All in a Garden Green: As Quatro Estações na Música Inglesa (Le Tendre Amour)

1 pub. John Playford: Chirping of the Nightingale / Chirping of the Lark
2 William Byrd: John come kiss me now
3 Nicola Matteis: Va poco di manera Italiana / Aria Amorosa
4 Nicholas Lanier: No more shall meads be deckt with flowers
5 Godfrey Finger: Ciaccona
6 pub. John Playford: Glory of the West / The Goddesses
7 William Lawes: Can beauty’s spring
8 Henry François de Gallot: Chaconne
9 Anonymous: Now ye spring is come
10 Nicola Matteis: Ground after the Scotch Humour
11 attrib. William Croft: Ground in C minor
12 Henry Purcell: Sweeter than Roses
13 pub. John Walsh: Greensleeves
14 pub. John Playford: All in a Garden Green / Onder een linde groen
15 pub. John Playford: Stanes Morris / The Glory of the Sun
16 Thomas Morley: O Mistress Mine
17 William Byrd: The Woods so Wild
18 Anonymous: The Chestnut / Autumn
19 Nicola Matteis: Aria
20 pub. John Playford: Cold and Raw
21 Henry Purcell: When a cruel long winter
22 Thomas Ravenscroft: Remember O Thou Man
23 pub. John Playford: Virgin Queen / An Italian Rant
24 John Eccles: A Division on a Ground
25 Henry Purcell: Here the Deities approve

Le Tendre Amour

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Le Tendre Amour (não me perguntem sobre o cenário)

PQP

Prokofiev (1891-1953) – Britten (1913-1976) – Bizet (1838-1875): Sinfonias Simples – Orpheus Chamber Orchestra ֎

Prokofiev (1891-1953) – Britten (1913-1976) – Bizet (1838-1875): Sinfonias Simples – Orpheus Chamber Orchestra ֎

 

Prokofiev – Britten

Bizet

Sinfonias

Opheus Chamber Orchestra

 

Clássica, Simples e ‘em dó maior’ são os nomes de três lindas sinfonias que surgiram ao lado de obras gigantescas do gênero, mas que nunca deixaram de encantar as audiências, desde que se tornaram conhecidas.

Prokofiev escreveu sua Sinfonia Clássica, a primeira de sua carreira, inspirado nas obras de Haydn e Mozart. Ele estudava também regência naqueles dias e as aulas eram sobre como reger as sinfonias de Haydn. Isso deve ter sido ponto de partida para esse ‘exercício de composição’, especialmente para quem compunha essencialmente para piano, durante os fins de 1916 e setembro de 1917. Você deve ter percebido que isso foi exatamente no período em que ocorreu a Revolução de 1917. Veja mais detalhes sobre essa obra nessa interessante página aqui.

Quando nossos músicos e professores de inclinação clássica (que na minha opinião nada mais são do que falsos clássicos) ouvirem esta sinfonia, começarão a gritar sobre mais um ato atrevido cometido por Prokofiev e que ele não pode nem deixar Mozart em paz em seu túmulo, mas teve que perturbá-lo com suas mãos sujas, espalhando dissonâncias sujas de Prokofiev entre as pérolas clássicas puras – mas meus verdadeiros amigos entenderão que o estilo de minha sinfonia é realmente mozartiano e clássico, e então irão apreciá-lo, e o público provavelmente ficará feliz por ela ser descomplicada e alegre e, claro, aplaudirá. S.P.

Benjamin Britten foi um dos grandes compositores ingleses e o ingleses são especialmente ‘found’ de música para orquestras de cordas. Britten compôs sua Simple Symphony exatamente para uma orquestra de cordas, ainda bem jovem e usando temas que havia composto em sua infância. Eu gosto particularmente dos títulos dos movimentos, a primeira letra do adjetivo igual à do substantivo que lhe segue, como Boisterous Bourrée ou Frolicsome Finale.

Georges Bizet foi um dos maiores talentos musicais vindos ao mundo, mas nos deixou poucas obras, mesmo considerando sua relativamente curta vida. É claro, Carmen é a sua obra prima, mas essa sua Sinfonia em dó maior é mais uma prova de sua genialidade. Foi composta quando ele tinha 17 anos e já era aluno do Conservatório de Paris há 7 anos. Tudo indica que a obra foi criada tendo como exemplo a Sinfonia No. 1 de seu professor, Charles Gounod, enquanto o mesmo a compunha. As notas que estou lendo aqui atestam que a obra do aluno de longe superou a do mestre, mesmo tendo-lhe tomado algumas coisas por emprestado. Fiquei curioso para ouvir a obra do Gounod. Mesmo assim, a Sinfonia de Bizet nunca foi executada durante seus dias e nem chegou a ser por ele mencionada em sua correspondência. Só foi descoberta em 1935 e não deixou de fazer sucesso desde então. A primeira vez que a ouvi foi em um LP no qual Leopold Stokowski regia a National Philharmonic Orchestra e que incluía também a ótima Sinfonia Italiana de Mendelssohn.

Sergei Prokofiev (1891–1953)

Sinfonia No. 1 em ré maior, Op. 25 ‘Classical’

  1. Allegro
  2. Larghetto
  3. Gavotta (Non troppo allegro)
  4. Finale (Vivace)

Benjamin Britten (1913–76)

Sinfonia Simples, Op. 4

  1. Boisterous Bourrée
  2. Playful Pizzicato
  3. Sentimental Saraband
  4. Frolicsome Finale

Georges Bizet (1838–75)

Sinfonia em dó maior

  1. Allegro (Allegro vivo)
  2. Andante (Adagio)
  3. Scherzo (Allegro vivace)
  4. Finale (Allegro vivace)

Edward William Elgar (1857–1934)

  1. Salut d’amour, Op. 12 (Gil Shaham, violin)

Orpheus Chamber Orchestra

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MP3 | 320 KBPS | 154 MB

Esse disco é uma pequena joia na ótima discografia da Orpheus Chamber Orchestra, aquela que toca sem maestro. Tudo é primoroso, inclusive a capa do disco, da arte de Joan Miró.

Aproveite!

René Denon

.: interlúdio :. 4 Generations of Miles: Live Tribute

Esse CD me foi enviado por FDP Bach. A ideia é sensacional. São quatro ex-colaboradores de Miles Davis que se reúnem para tocar… Miles Davis. Há grandes momentos, outros nem tanto. FDP toca guitarra e imagino que ele tenha babado com Mike Stern. O cara é sensacional. Mas fico comovido ao saber que Jimmy Cobb participou desde show ao vivo com oitenta anos, vinte e quatro a mais do que o guri do grupo, o citado Stern. Os outros são George Coleman e Ron Carter. Preciso apresentar? Claro que não, vão ler sobre suas muito produtivas vidas enquanto ouvem o disco!

4 Generations of Miles: Live Tribute

1. There is No Greater Love 9:02
2. All Blues 7:03
3. On Green Dolphin Street 7:20
4. Blue in Green 7:28
5. 81 6:30
6. Freddie Freeloader 6:34
7. My Funny Valentine 10:01
8. If I Were A Bell 8:02
9. Oleo 5:02

George Coleman, sax tenor
Mike Stern, guitar
Ron Carter, bass
Jimmy Cobb, drums

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Esse tocava alguma coisa.
Esse tocava alguma coisa.

PQP

Bohuslav Martinu (1890-1959): Missa de Campo / Concerto Duplo / Afrescos de Piero della Francesca (Mackerras)

Bohuslav Martinu (1890-1959): Missa de Campo / Concerto Duplo / Afrescos de Piero della Francesca (Mackerras)

O Villalobiano aproveitou o espaço aberto para mandar três CDs legais, que irão ao ar dia 01 de maio. Quando ele disse depois que gostaria de postar Martinu, deixei de lado a exigência de repertório brasileiro, pedi que se mexesse, porque o tcheco era mais que aguardado aqui no PQP Bach, e decidi apresentar o Villalobiano logo hoje a vocês.

Próximo fim de semana, o Marcelo Stravinsky estará de volta.

CVL

***

O tcheco Bohuslav Martinu é um dos mais criativos e encantadores compositores do século 20 – e um dos menos reconhecidos como tal. De fato, a reputação de Martinu não se beneficiou com seu eterno exílio: de início, Paris; depois, EUA; no final, Suíça e Itália. Tal andança tornou a música de Martinu mais cosmopolita e bem-comportada que a de Janácek, por exemplo, suavizando em grande parte o “aroma tcheco” tão fácil de perceber em seus compatriotas. Isso, somado a um relativo conservadorismo de linguagem, tornou Martinu um “meio-termo” de difícil digestão para boa parte do público.

Que bom que a situação está mudando. O difícil crítico Norman Lebrecht recentemente defendeu Martinu, e as gravações, antes só tchecas, estão se tornando mais comuns. E que música bonita Martinu compôs! É um dos estilos mais pessoais do século 20, posso assegurar: alguns segundos já são suficientes para que a identidade do compositor se imponha totalmente ao ouvinte.

Quando o Ciço Villa-Lobos me convidou para postar sobre Martinu – “escolha um disco legal”, ele disse – senti um misto de alegria com terror. Eu não sou fã do formato de álbum, uma herança da limitação física dos antigos meios de distribuição de música. Pensei um bocado para achar um disco que se adequasse a uma boa visão introdutória de Martinu. Sonhei com o álbum ideal, com as Sinfonias nos. 3 e 6, mais a Toccata e Due Canzoni. Mas esse álbum não existe…

Então encontrei este álbum que comento agora. Charles Mackerras é um regente australiano muito famoso por sua defesa apaixonada de Janácek e da música tcheca em geral. Pois sua interpretação de Martinu é magnífica e a escolha de repertório também. O disco inclui três obras-primas das duas principais fases de Martinu: a fase da guerra, com a Missa de campo e o Concerto para duas orquestras de cordas, piano e tímpano; e a fase impressionista, do final da vida, com Afrescos de Piero della Francesca.

A fase da guerra é impressionante. Quem gosta da Música para cordas, percussão e celesta de Bartók vai se identificar prontamente com o Concerto duplo. A obra foi inclusive escrita para Paul Sacher, o mesmo encomendante da obra-prima de Bartók. A Missa de campo é composta para barítono, coro masculino e uma orquestra pequena só com sopros, percussão, piano e harmônio (um contingente possível no contexto de campo de batalha, certo?). Mistura o óbvio terror da guerra que estava iniciando com uma mistura muito complexa de sentimentos – há trechos pastorais, nostálgicos, dramáticos…

A fase impressionista, devo confessar, é a minha predileta. Ela suaviza bastante o mecanicismo neoclássico em que às vezes Martinu cai, adicionando uma refinada paleta de cores instrumentais à sua inspiração melódica toda pessoal. A forma também se esfumaça – antes rigorosa, agora etérea, vaga, em que os temas quase não se repetem. É música de sonho. Afrescos de Piero della Francesca expressa as impressões gerais de Martinu à obra do grande pintor italiano.

É isso. Fiquem com Martinu. E convençam o Ciço a ampliarmos o espaço dedicado a ele cá neste blog. Estou com uma coceira danada de postar as sinfonias – ciclo para mim superior ao de Prokofiev, por exemplo. Agora joguem as pedras.

Bohuslav Martinu (1890-1959): Missa de Campo / Concerto Duplo / Afrescos de Piero della Francesca (Mackerras)

1. Missa de campo, cantata para barítono, coro masculino e orquestra (1939)

Vaclav Zitek, barítono
Orquestra Filarmônica Tcheca
Charles Mackerras, regente

Concerto para duas orquestras de cordas, piano e tímpano (1939)
2. Poco allegro
3. Largo
4. Allegro

Jan Bouse, tímpano
Josek Ruzick, piano
Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga
Charles Mackerras, regente

Afrescos de Piero della Francesca (1955)
5. Andante poco moderato
6. Adagio
7. Poco allegro

Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga
Charles Mackerras, regente

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Martinu com um amigo

Villalobiano

.: interlúdio :. Keith Jarrett Trio: Somewhere Before

.: interlúdio :. Keith Jarrett Trio: Somewhere Before

Não é nenhuma obra-prima, mas é um bom LP (CD). Somewhere Before foi gravado ao vivo em 30 e 31 de agosto de 1968, no Shelly’s Manne-Hole em Hollywood, Califórnia. Era o primeiro trio de Jarrett, composto ele ao piano, mais Charlie Haden (baixo) e Paul Motian (bateria). O AllMusic afirmou: “Como um exemplo do Jarrett inicial e sem foco, este é um material fascinante.” O Penguin Guide to Jazz Recordings comentou: “Fortemente influenciado pelo rock e reminiscente da metodologia do Charles Lloyd Quartet e do grupo Miles Davis, do qual Jarrett ainda era membro… tem um frescor de abordagem que Jarrett perdeu rapidamente e demorou a recuperar.” Eu achei bem mais ou menos. Acho que prefiro Jarrett sem o tal frescor…

.: interlúdio :. Keith Jarrett Trio: Somewhere Before

1 “My Back Pages” (Bob Dylan) – 5:24
2 “Pretty Ballad” – 3:30
3 “Moving Soon” – 4:24
4 “Somewhere Before” – 6:50
5 “New Rag” – 5:40
6 “A Moment for Tears” – 3:07
7 “Pouts’ Over” (And the Day’s Not Through) – 4:35
8 “Dedicated to You” (Sammy Cahn, Saul Chaplin, Hy Zaret) – 5:00
9 “Old Rag” – 2:37

All compositions by Keith Jarrett except as indicated

Keith Jarrett – piano
Charlie Haden – double-bass
Paul Motian – drums

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Jarrett em 1975

PQP

Crumb, Tallis, Marta, Ives & Shostakovich: Black Angels (Kronos Quartet)

Crumb, Tallis, Marta, Ives & Shostakovich: Black Angels (Kronos Quartet)

Os CDs do quarteto de cordas Kronos sempre fizeram minha alegria. O grupo existe há 34 anos e sempre faz trabalhos muito originais ligados à música moderna. Não surpreende o fato de terem estreado mais de 400 obras dedicadas a eles, algumas escritas por conhecidos nossos, como Piazzolla, Górecki, Reich, Boulez, etc. Ultimamente – pasmem! -, têm se apresentado com Tom Waits…

Mas fiquemos na música erudita. Há um CD de música erudita africana para quarteto de cordas que vou lhes contar… ou postar algum dia… quem sabe?

Este fantástico Black Angels (1990) é um CD sobre a guerra e a morte.

Inicia com a obra que dá nome ao CD, uma ode ao Vietman do norte-americano George Crumb (1929- ). Se o primeiro movimento é bastante assustador, o segundo começa por uma citação de A Morte e a Donzela de Schubert e finaliza com outra citação facilmente reconhecível mas que não consigo pescar na memória.

Thomas Tallis (1510-1585) parece estar como um peixe fora d`água neste trabalho do Kronos, porém o texto em que se baseia o moteto para 40 vozes Spem in Alium conta uma batalha bíblica.

Doom, a Sigh de Istvan Marta (1952- ) incorpora uma gravação autêntica de duas mulheres romenas lamentando a morte de parentes e amigos. É difícil ouvir até o fim o idioma universal da dor.

Depois, o completo contraste. Temos algo pra lá de espalhafatoso e engraçado. O compositor erudito americano Charles Ives (1874-1954) canta sua “Marcha Militar” They are there! (1917) de forma inacreditável. Exatamente, Ives canta! Trata-se de uma canção que escreveu “dedicada” à Primeira Guerra Mundial. A gravação de Ives é acompanhada discretamente pelo Kronos. Espantoso. Vale a pena conhecer a letra de They are there! (Fighting For The People’s New Free World):

There’s a time in many a life,
when it’s do though facing death
and our soldier boys will do their part
that people can live in a world where all will have a say.
They’re conscious always of their country’s aim,
which is Liberty for all.
Hip hip hooray you’ll hear them say
as they go to the fighting front.

Brave boys are now in action
They are there, they will help to free the world
They are fighting for the right
But when it comes to might,
They are there, they are there, they are there,
As the Allies beat up all the warhogs,
The boys’ll be there fighting hard
a-a-and then the world will shout
the battle cry of Freedom.
Tenting on a new camp ground.

When we’re through this cursed war,
All started by a sneaking gouger,
making slaves of men (God damn them),
Then let all the people rise,
and stand together in brave, kind Humanity.
Most wars are made by small stupid
selfish bossing groups
while the people have no say.
But there’ll come a day
Hip hip Hooray
when they’ll smash all dictators to the wall.

Then it’s build a people’s world nation Hooray
Ev’ry honest country free to live its own native life.
They will stand for the right,
but if it comes to might,
They are there, they are there, they are there.
Then the people, not just politicians
will rule their own lands and lives.
Then you’ll hear the whole universe
shouting the battle cry of Freedom.
Tenting on a new camp ground.
Tenting on a new camp ground

O Quarteto de Cordas Nº 8 de Dmitri Shostakovich (1906-1975), de 1960, é dedicado às vitimas do fascismo e da guerra. É uma obra-prima que já postamos aqui algumas vezes, mas que teima em reaparecer.

Crumb, Tallis, Marta, Ives & Shostakovich: Black Angels (Kronos Quartet)

– George Crumb “Black Angels: Thirteen Images from the Dark Land”, for ampliflied/electric String Quartet (1970)
– Thomas Tallis “Spem in Alium” 40-part motet (circa 16th century) arranged by Kronos
– Istvan Marta “Doom: A Sigh,” (1989)
– Charles Ives “They Are There!” (1917/1942) arranged by John Geist
– Dmitri Shostakovich String Quartet No. 8 (1960)

Faixas:

1. Black Angels: I. Departure (5:37)
2. Black Angels: II. Absence (5:25)
3. Black Angels: III. Return (7:13)

4. Spem In Alium (Sing And Glorify) (8:52)

5. Doom. A Sigh (10:54)

6. They Are There! (2:47)

7. Quartet No. 8: I. Largo (4:57)
8. Quartet No. 8: II. Allegro Molto (2:36)
9. Quartet No. 8: III. Allegretto (4:19)
10. Quartet No. 8: IV. Largo (4:12)
11. Quartet No. 8: V. Largo (3:56)

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O Kronos na época desta gravação

PQP Bach

Vários Compositores: Amour Fou -Chansons d’amour à travers les àges- Myriam Leblanc (soprano) & Ensemble Mirabilia ֍

Vários Compositores: Amour Fou -Chansons d’amour à travers les àges- Myriam Leblanc (soprano) & Ensemble Mirabilia ֍

Amor Louco

Canções de amor através dos tempos

Myriam Leblanc, soprano

Ensemble Mirabilia

 

Amour Fou é um título talvez provocativo para um disco, assim como a sua capa, mas ao ouvir suas canções você entenderá. E a ideia de reunir canções falando de amor, de paixão, compostas ao longo de vários séculos e por compositores das mais diversas culturas, é ótima.

Temos assim um disco que pede para ser desfrutado a dois, com tempo de sobra, que isso sempre é bom. Mas, não importa como você o ouça, seja no sistemão de som da sala de estar, seja no compacto do seu ambiente de leituras, ou mesmo ao headphone com o ipod ou celular, não deixe de enredar-se e deliciar-se com essas maravilhosas canções.

Barbara

Entremeadas às canções temos uns poucos números instrumentais, mas sempre no espírito apaixonado. Muitas canções são em francês que o pessoal do disco é de Montreal, mas também há umas em italiano e em inglês. A mais antiga é de compositor anônimo do século XIII e fecha o disco. O desfile continua passando pela Itália de Monteverdi e Vivaldi, Inglaterra de Thomas Campion, Purcell. Os franceses vão de Fauré, que abre o disco com a maravilhosa Au bord de l’eau, e também Blavet, Ballard, Clérambault, dos mais antigos, mas também os mais recentes Barbara e Jacques Brel. Eu descobri a espetacular, maravilhosa Barbara, que já passou para minha playlist. Tanto que escolhi ilustrar a lista dos compositores a seguir apenas com uma imagem dela…

Veja alguns versos dessas canções…

« Amour, le départ d’un amant a comblé mes douleurs, mais malgré tant de maux, si tu me le ramènes, je te pardonne tes rigueurs. »

« Amor, a partida de um amante me encheu de dor, mas apesar de tantos males, se você o trouxer de volta, eu lhe perdôo seus rigores. »

« Passo di pena in pena come la navicella ch’in quest’in quell’altr’onda urtando và. »

« Vou passando de tristeza em tristeza como o barquinho que se vai a bater de onda em onda. »

« Ton image me hante, je te parle tout bas, et j’ai le mal d’amour, et j’ai le mal de toi. »

« Sua imagem me persegue, falo com você baixinho e estou apaixonada, e estou farta de você. »

Quando você escolher alguns versos significativos, mande para mim…

Lista de Canções e Peças

Gabriel Fauré (1845–1924)

  1. Au bord de l’eau, Op. 8 No. 1 (Prudhomme)

Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567–1643)

  1. Pur ti miro (de L’Incoronazione di Poppea)

Antonio Vivaldi (1678–1741)

  1. Passo di pene in pena (da Cantate Amor hai vinto, RV651)

Michel Blavet (1700 – 1768), Jean-Baptiste de Bousset (1662 – 1725)

  1. Airs sérieux et à boire par Monsieur Bousset, XVIe Livre: Pourquoy doux rossignol ? (Arr. para conjunto de câmara por Grégoire Jeay)

Jean Philippe Rameau (1683–1764)

  1. La Cupis, em ré menor (Instrumental)

Barbara (1930 – 1997)

  1. Dis, quand reviendras-tu?

Christophe Ballard (1641 – 1715)

  1. Brunettes ou Petits airs tendres, avec les doubles et la basse-continue, mêlés de chansons à danser, Tome I: J’avois crû qu’en vous aimant (Arr. para conjunto de câmara por Grégoire Jeay)

George Frideric Handel (1685-1759)

  1. Sonate pour flûte no 2 en mi mineur, HWV 375, « Halle »: IV. Menuet (Instrumental)

Thomas Campion (1567–1620)

  1. Fain Would I Wed a Fair Young Man
  2. It fell on a summer’s day

John Bartlet (fl.1606, d.1610)

  1. Of all the Birds that I do know

Carl Friedrich Abel (1723-87)

  1. 27 pièces pour basse de viole – Le manuscrit Drexel 5871: No. 20: [Arpeggio] en ré mineur, WK 205 (Instrumental)

Claudio Giovanni Antonio Monteverdi (1567–1643)

  1. Si dolce e’l tormento, SV332

Louis-Nicolas Clérambault (1676-1749)

  1. Recueil d’airs variés: Amour, cruel amour

Jacques Brel (1929 – 1978)

  1. Ne me quitte pas

Giuseppe Sammartini (1695-1750)

  1. Sonata quarta pour flûte et basse continue: Allegro (Instrumental)

Henry Purcell (1659–95)

  1. I love and I must (‘Bell Barr’), Z382

Thomas Campion (1567–1620)

  1. When to her lute Corinna sings

Anônimo (Século XIII)

  1. Bele Doëtte

Myriam Leblanc, soprano

Ellen Torrie, soprano (2, 19 e guitarra em 13)

Ensemble Mirabilia

Grégoire Jeay, flautas diversas e arranjos

 

Ellen Torrie

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MP3 | 320 KBPS | 163 MB

 

M Leblanc

Na coluna ‘The Book is on the Table’ de hoje: “It’s like a brandy distillate, absolutely transparent … Her name is Myriam Leblanc and in my opinion she has been one of the most beautiful voices, perhaps the most beautiful, to come out of the Quebec breeding ground in the past 10 years …”

Christophe Huss, Samedi et rien d’autre, December 2020

Myriam, Ellen e Barbara me encantaram…

Aproveite!

René Denon

Myriam Leblanc e membros de Ensemble Mirabilia

Paul Hindemith (1895-1963): Música de Câmara Nros. 4, 1 e 5 (Abbado)

Paul Hindemith (1895-1963): Música de Câmara Nros. 4, 1 e 5 (Abbado)

Este CD tem lugar garantido na pequena mochila que levarei para a ilha deserta — talvez motivado pela perseguição de wagnerianos enlouquecidos; logo eu, um ariano filho de Johann Sebastian Bach com Brunilda Dämmerung, minha saudosa mãe, a bela loira crepuscular nascida em Estugarda (nome em português de Stuttgart, prezado leitor) que seduziu meu pai com outras intrincadas polifonias.

Mas chega! Dizia que este CD vai para a ilha deserta em minha pequena mochila. E vai mesmo.

Com a Filarmônica de Berlim sob a regência de Claudio Abbado, temos aqui o mais polifônico e barroco dos compositores modernos. Apesar dos protestos de Wilhelm Furtwängler, sua música foi carimbada como “degenerada” pelos nazistas e Hindemith emigrou para os EUA em 1940, para lecionar em Yale. É curioso que Glenn Gould tenha se dedicado tanto a Hindemith, mas não pretendo fazer nenhuma tese a respeito, apesar de ter uma pronta.

Ele também era violista, regente e escrevia sobre música. Certamente o fato de ser regente explica suas espetaculares obras para sopros e metais. Dentre os modernos, talvez só Nielsen tenha escrito tão bem para estes instrumentos melódicos. Sua música é altamente polifônica e não é casual que tenhamos neste CD uma “Música” para 12 instrumentos solistas. Publicou pequenas obras clássicas como Curso Condensado de Harmonia Tradicional, Ludus Tonalis e Treinamento Elementar para Músicos.

Só lhes peço uma coisa. Ouçam o primeiro movimento da Música de Câmara Nº 5 com o volume bem alto. Minha filha chama este movimento de “Erudito Pauleira”; eu apenas garanto que ele faz mais sentido quando penetra forte no último pavilhão auricular… Mas o que eu entendo de ouvidos? Nada!

Paul Hindemith (1895-1963): Música de Câmara Nros. 4, 1 e 5 (Abbado)

1. Kammermusik Nr.4, Op.36 Nr.3 (Violin Concerto): I.Signal. Breite, majestatliche Halbe (original version) – Kolja Blacher
2. Kammermusik Nr.4, Op.36 Nr.3 (Violin Concerto): II. Sehr lebhaft – Kolja Blacher
3. Kammermusik Nr.4, Op.36 Nr.3 (Violin Concerto): III. Nachtstuck. Maßig schnelle Achtel – Kolja Blacher
4. Kammermusik Nr.4, Op.36 Nr.3 (Violin Concerto): IV. Lebhafte Viertel – Kolja Blacher
5. Kammermusik Nr.4, Op.36 Nr.3 (Violin Concerto): V. So schnell wie moglich – Kolja Blacher

6. Kammermusik Nr.1 mit Finale 1921, Op.24 Nr.1 for 12 solo instrs : l. Sehr schnell und wild – Berliner Phil/Claudio Abbado
7. Kammermusik Nr.1 mit Finale 1921, Op.24 Nr.1 for 12 solo instrs : ll. Massig schnelle Halbe. Sehr s – Berliner Phil/Claudio Abbado
8. Kammermusik Nr.1 mit Finale 1921, Op.24 Nr.1 for 12 solo instrs : lll. Quartett. Sehr langsam und mi – Berliner Phil/Claudio Abbado
9. Kammermusik Nr.1 mit Finale 1921, Op.24 Nr.1 for 12 solo instrs : lV. Finale: 1921. Lebhaft – Berliner Phil/Claudio Abbado

10. Kammermusik Nr.5, Op.36 Nr.4 (Viola Concerto) for solo viola and large chm orch: l. Schnelle Halbe – Wolfram Christ
11. Kammermusik Nr.5, Op.36 Nr.4 (Viola Concerto) for solo viola and large chm orch: ll. Langsam – Wolfram Christ
12. Kammermusik Nr.5, Op.36 Nr.4 (Viola Concerto) for solo viola and large chm orch: lll. Maßig schnell – Wolfram Christ
13. Kammermusik Nr.5, Op.36 Nr.4 (Viola Concerto) for solo viola and large chm orch: lV. Variante eines Mili – Wolfram Christ

Kolja Blacher, solo de violino nas faixas de 1 a 5.
Wolfram Christ, solo de viola nas faixas de 10 a 13.
Orquestra Filarmônica de Berlim
Claudio Abbado

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Hindemih se segurando para não escrever mais uma Sonata

PQP

Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784) – Sonatas e Trios (Camerata Köln)

Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784) – Sonatas e Trios (Camerata Köln)

Não dá para negar que mano Friede – apelido dado por meu pai – era um cara complicado. Perdeu 100 Cantatas que herdou de papai e, quando vocês ouvirem este CD, notarão que até seus Vivaci são meio tristes. Mas foi uma tremendo compositor e estas sonatas muitas vezes me levaram quase às lágrimas durante minha problemática adolescência, pois as conheço há mais de trinta, digo, trezentos anos.

Segundo este site, foi sempre o mais próximo e o preferido do pai. Para além da Música, estudou Direito, Filosofia e Matemática e parecia ter um futuro promissor. A Música, naturalmente, aprendeu-a do pai e revela, em algumas passagens do que deixou escrito, uma aderência quase absoluta a trechos da escrita do progenitor. Wilhelm, apesar de talentoso, parece ter-se tornado sombrio e pouco regrado na sua vida social. Rapidamente caiu em desgraça na Berlim do século XVIII. Chamou a si situações difíceis que lhe trouxeram uma velhice decadente e uma morte miserável.

E é verdade. Ele era alcoolista pesado e só a longevidade de minha família explica o fato de ter vivido até os 74 anos. Mais ainda do que nosso pai!!!

Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784) – Sonatas e Trios (Camerata Köln)

Sonata for Flute and Basso Continuo in E minor, F 52 (12:49)
1. Allegro Ma Non Tanto
2. Siciliano
3. Vivace

Trio Sonata for 2 Flutes and Basso Continuo in B flat major, F 50 (11:21)
4. Largo
5. Allegro Ma Non Troppo
6. Vivace

Trio Sonata for 2 Violines and Basso Continuo in D major, F 48 (15:08) <— GRANDE OBRA
7. Allegro Ma Non Tanto
8. Larghetto
9. Vivace

Sonata for Flute and Basso Continuo in F major, F 51 (12:56)
10. Allegro Non Troppo
11. Andantino
12. Vivace

Trio Sonata for 2 Flutes and Basso Continuo in A minor, F 49 (4:08)
13. Trio Sonata In A Minor

Trio Sonata for 2 Flutes and Basso Continuo in D major, F 47 (8:28)
14. Andante
15. Allegro
16. Vivace

Camerata Köln

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Quem seria, né? William Shakespeare?

PQP

Erik Satie (1866-1925) & Darius Milhaud (1892-1974): Orchestral Works (Herrmann)

Erik Satie (1866-1925) & Darius Milhaud (1892-1974): Orchestral Works (Herrmann)

Apresento-lhes um cd que aprecio bastante, com obras orquestrais de dois compositores franceses da primeira metade do século XX, Erik Satie e Darius Milhaud. E sobretudo, a interpretação do grande maestro e compositor, Bernard Herrmann.

Satie, além de criador do Ragtime, influenciou uma gama de compositores contemporâneos, principalmente os do chamado Les Six, grupo formado por seis compositores, cujas músicas representavam uma reação ao Wagnerismo e Impressionismo. O Grupo era formado por Georges Auric, Louis Durey, Arthur Honegger, Darius Milhaud, Francis Poulenc e Germaine Tailleferre. A designação Les Six estabelecia uma relação com o Grupo dos cinco de São Petersburgo, Balakirev, Rimsky-Korsakov, Borodin, Mussorgsky e César Cui.

Darius Milhaud foi um compositor e professor francês, um dos mais prolíficos do século XX. Sua obra é conhecida por conciliar o uso da politonalidade e do jazz. Suas obras mais conhecidas são os balés Le Bœuf sur le toit e La Création du monde, ambos já postados no blog, além da Suite de Danças Saudades do Brasil.

As Obras

As Gymnopedies são três peças escritas originalmente para piano inspiradas no estilo do grupo Les Six. Estas três singelas peças se consolidaram como as mais populares de Satie. Temos aqui duas Gymnopedies orquestradas por Debussy, as de número 3 e 1 respectivamente.
O cd ainda traz outras peças de Satie. Os balés Les Aventures de Mercure, La Belle Excentrique, e a pantomima musical com orquestração de Milhaud, Jack-in-the-box. Tratam-se de peças muito leves e despretensiosas que caracterizam bem a obra do compositor francês. Com excessão de Les Aventures de Mercure, escrito para orquestra, mas possuidor de uma redução para piano, os outros dois balés desta gravação foram escritos originalmente para piano.

Saudades do Brasil é uma suíte composta por 12 danças (maxixes), cujos nomes fazem referência a bairros do Rio de Janeiro, marca de uma viagem ao Brasil durante a primeira guerra mundial, como adido cultural da Embaixada da França no Rio. Foi concebida originalmente para piano, somente mais tarde seria orquestrada pelo próprio Milhaud e acrescida de uma abertura.

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Erik Satie (1866-1925) & Darius Milhaud (1892-1974): Orchestral Works (Herrmann)

Erik Satie
01 Gymnopédies III & I (6’33’’)
02 Les Aventures de Mercure (13’32’’)
03 La Belle Excentrique (4’42’’)
04 Jack-In-The-Box (6’48’’)

Darius Milhaud
05 Saudades do Brasil (26’40’’)
(Overture – Sorocaba – Botafogo – Leme – Copacabana – Ipanema – Gávea – Corcovado – Tijuca – Sumaré – Paineiras – Laranjeiras – Paysandú )

London Festival Players
Bernard Herrmann

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LINK ALTERNATIVO

Milhaud pensando na merda do Golpe Civil-Militar de 64

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Marcelo Stravinsky
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Arturo Márquez (1950): Danzón n° 2 e outros danzones (Orquesta Mexicana de las Artes / Barrios)

Arturo Márquez (1950): Danzón n° 2 e outros danzones (Orquesta Mexicana de las Artes / Barrios)

Não me lembro quem me indicou o blog Música Mexicana de Concerto – através de um comentário em um de meus posts – mas quero agradecer desde já, pois, no caso do Danzón n° 2 de Arturo Márquez, eu conhecia muito bem a peça mas ainda não tinha uma gravação que fosse dela.

A série de Danzones de Márquez é uma equivalente mexicana dos Choros – são peças em movimento único e cada qual com uma instrumentação diferente. O de n° 2, composto em 1994, caiu nas graças do público internacional (principalmente por conta da projeção recente que lhe deu a Sinfônica Jovem Simón Bolívar, da Venezuela) e virou um Trenzinho do caipira asteca, atingindo a popularidade da Sinfonia Índia de Chávez, do Huapango de Moncayo e de Sensemayá de Revueltas. Eu próprio, toda vez que escuto os primeiros acordes do Danzón n° 2 (para orquestra) não consigo mudar de faixa. O único problema é que os outros Danzones, apesar de bem escritos e diferentemente instrumentados, não empolgam muito e parecem se repetir.

Como falei da Sinfonia Índia, um pedido feito aqui no blog, vou antecipando que semana ela finalmente aparecerá.

Arturo Márquez (1950): Danzón n° 2 e outros danzones (Orquesta Mexicana de las Artes / Barrios)

01.- Danzón No. 1
02.- Danzón No. 2
03.- Danzón No. 3
04.- Octeto Malandro
05.- Danzón No. 4
06.- La Pasión segín San Juan de Letrán
07.- Danzón No. 5
08.- Danzón No. 8

Orquesta Mexicana de las Artes
Ensamble de solistas
Eduardo García Barrios

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Arturo Márquez, um mexicano malemolente

CVL

Erik Satie (1866-1925): Orchestral Works (Kaltenbach)

Erik Satie (1866-1925): Orchestral Works (Kaltenbach)

A primeira vez que ouvi falar em Erik Satie foi num livro sobre a história da música, no qual o autor criticava duramente o grande figurão da música francesa da primeira metade do século XX, afirmando que não se podia levá-lo a sério como compositor. Até então, eu só o conhecia como um compositor excêntrico das obras mais monótonas e com títulos mais esquisitos, mas jamais tinha ouvido alguma obra sua. Algum tempo depois pude apreciar as Gnosianas e outras pequenas peças para piano e pude ter um gostinho do estilo de Satie.

Puxa, nunca ouvi tanto a música do mestre do grupo dos Seis, como nesses últimos meses e posso afirmar categoricamente que descordo por completo do autor do livro, que nem lembro mais qual era. Uma música simples, satírica, com bastante humor e inventividade. Suas obras orquestrais, em especial, são bem empolgantes e com ritmos muito contagiantes baseados no ragtime. Uma das mentes mais excêntricas e brilhantes do século XX.

E pra realizar o desejo de algumas almas pedintes, trago-lhes o balé Parade, que é simplesmente a obra mais ouvida, por mim, nesses últimos meses, com a frequência absurda de pelo menos duas ou três vezes todos os dias.

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Erik Satie (1866-1925): Orchestral Works (Kaltenbach)

Parade
1. Choral: Prélude Du Rideau Rouge Prestidigitateur Chinois
2. Petite Fille Américaine
3. Acrobates/Finale Suite Au Prélude Du Rideau Rouge

Trois Gymnopédies
4. Gymnopédie No. 1, orchestration by Debussy
5. Gymnopédie No. 2, orchestration by Roland-Manuel
6. Gymnopédie No. 3, orchestration by Debussy

Mercure
7. No. 1, “Marche Ouverture”
8. Act I, No. 2, “La Nuit”
9. Act I, No. 3, “Danse de tendresse”
10. Act I, No. 4, “Signes du Zodiaque”
11. Act I, No. 5, “Entree de Mercure”
12. Act II, No. 6, “Danses des Graces”
13. Act II, No. 7, “Bain des Graces”
14. Act II, No. 8, “Fuite de Mercure”
15. Act II, No. 9, “Colere de Cerbere”
16. Act III, No. 10, “Polka des Lettres”
17. Act III, No. 11, “Nouvelle Danse”
18. Act III, No. 12, “Le Chaos”
19. Act III, No. 13, “Rapt de Proserpine”

Relâche
Part 1
20. Ouverturette
21. Projectionette
22. Rideau – Entrée De La Femme
23. Musique
24. Entrée De l’Homme
25. Danse Da La Prte Tournante
26. Entrée Des Hommes
27. Danse Des Hommes
28. Danse De La Femme
29. Petite Danse Finale
Part 2
30. Musique De Rentrée
31. Rentrée Des Hommes
32. Rentrée De La Femme
33. Les Hommes Se Dévêtissent, La Femme Serhabille
34. Danse De l’Homme Et De La Femme
35. Les Hommes Regagnent Leur Place Et Retrouvent Leur Parddessus
36. Danse De La Brouette
37. Danse De La Couronne
38. Le Danseur Dépose La Couronne Sur La Tête d’une Spectatrice
39. La Femme Rehoint Son Fauteuil
40. Petite Danse Finale (Shanson Mimée): La Queue De Chien

Orchestre Symphonique Et Lyrique de Nancy
Jérôme Kaltenbach

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Satie com o cabeça chata do Debussy

Strava
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Chopin (1810-1849): Sonatas Nº 2 e 3 (Perahia)

Eu nunca entendi quem gosta de Chopin. Eu acho um saco. Aí, vi este disco de Murray Perahia… Amo Perahia e tive a certeza de que ele me convenceria de meu erro! Olha, não prendeu minha atenção nem por um minuto. Ouvi (?) tudo, inteirinho. Um fracasso. Logo, eu já estava revisando mentalmente minha agenda, pensando em como pedir a Eva Green em namoro, na forte possibilidade de uma 3ª Guerra Mundial, em futebol e na familícia. Mas sei de gente que reside no topo da cadeia auditiva que ama Chopin. O errado sou eu, claro. Mas ao menos eu posso ficar com ele nos ouvidos por um tempo. Já Rachmaninov… Bah, que russo insuportável!

Chopin (1810-1849): Sonatas Nº 2 e 3 (Perahia)

Sonata No. 2 In B-flat Minor, Op. 35
A1 I – Grave; II – Scherzo 13:40
A2 III – Marche Funèbre; IV – Finale: Presto 9:34

Sonata No. 3 In B Minor, Op. 58
B1 I – Allegro Maestoso 9:06
B2 II – Scherzo: Molto Vivace; III – Largo 12:24
B3 IV – Finale: Presto, Ma Non Tanto 5:17

Murray Perahia, piano

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Perahia quando ainda era tecladista dos Beatles

PQP

.: interlúdio :. Marcos Valle: Previsão do Tempo (1973)

.: interlúdio :. Marcos Valle: Previsão do Tempo (1973)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Certa vez, em um churrasco, já devidamente alcoolizado e conversando com um especialista em Música Brasileira, o PP, começamos a fazer uma lista dos dez melhores discos brasileiros de todos os tempos. Ao lado dos óbvios Chega de Saudade, Construção, Slaves Mass, Transa, Dança das Cabeças, etc. o PP disse que Previsão do Tempo tinha lugar certo na lista e estava a fim de brigar pelo trabalho de Marcos Valle. OK, os bêbados inteligentes não brigam e reservamos uma vaguinha pra Marcos Valle e eu, que tenho o vinil original, voltei a ouvi-lo e fiquei de queixo caído. É ma-ra-vi-lho-so! Hoje vi que meu vinil vale quatro dígitos. É uma raridade.

Marcos Valle (1943) é um gênio da Bossa Nova e da MPB. Escreveu mais de 500  canções, lançou 29 álbuns, teve músicas regravadas em todos os cantos do planeta e mais de 100 sampleadas por artistas atuais como Marcelo D2 a Jay-Z e Kanye West, entre outros.

Previsão do Tempo é tido como o seu melhor álbum. Tem de tudo, samba, MPB, canções lentas, derramados flertes com o jazz e o soul. Alerta: estávamos em 1973, o governo era o do Gen. Médici de tão má memória. Alguém desavisado de nossos dias pode ver em Marcos um simpático à ditadura militar ao ouvir a faixa de abertura Flamengo até morrer. Na época estava clara a sátira, só que hoje muita gente esquece que havia músicas que necessitavam ser descriptografadas. Marcos e Paulo Sérgio estão falando de pão e circo, estão dizendo que a panaceia para o país seria escalar Dario e Doval juntos no ataque do Flamengo e tudo ficaria OK. “Até o Presidente é Flamengo até morrer!” Mais claras são Tira a mão e Mentira. A primeira é extremamente raivosa:

Mas tira a sua presença
Se manda de vez
Vou falar francamente
Não vou com você
Tira-se, retira-se, tira daqui
Não entendo essa língua
Não entendo não

É um trocadilho com a palavra Tira, que tanto pode significar o verbo tirar ou o substantivo tira, ou seja, os puliça. Outras faixas icônicas também trazem cunho político e fizeram muito sucesso. Mentira é puro deboche e foi sampleada recentemente por Marcelo D2:

Quero é ter…
Você na mira… tchup tchu, é mentira
Mira… tchup tchu, sem mentira

Já a letra de Samba Fatal foi escrita por Paulo Sérgio sob o impacto da notícia do suicídio de Torquato Neto, em 10 de novembro de 1972.

Uma obra-prima!

.: interlúdio :. Marcos Valle: Previsão do Tempo (1973)

Lado A
1. Flamengo Até Morrer
2. Nem Paletó, Nem Gravata
3. Tira A Mão
4. Mentira (Chega De Mentira)
5. Previsão Do Tempo
6. Mais Do Que Valsa

Lado B
1. Os Ossos Do Barão
2. Não Tem Nada Não
3. Não Tem Nada Não Pt. 2
4. Samba Fatal
5. Tiu-Ba-La-Quieba
6. De Repente, Moça Flor

Todas as músicas são de Marcos Valle (música) e Paulo Sergio Valle (letra), exceto Previsão do Tempo que é apenas de Marcos Valle e as duas Não tem nada não, de que é de Eumir Deodato, João Donato e Marcos Valle.

Arranged By, Orchestrated By, Conductor – Maestro Zé Roberto* (tracks: A2 to A6, B2, B3, B5, B6) / Maestro Marcos Valle* (tracks: A1, B4) / Maestro Waltel Branco* (tracks: B1)
Music Director – Maestro Gaya*
Trio Azymuth:
José Roberto Bertrami (teclado e arranjos)
Alex Malheiros (baixo)
Ivan Conti “Mamão” (bateria)
O Terço em:
“Flamengo Até Morrer” e “Samba Fatal”.

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Marcos Valle em 1973

PQP

BRUCKNER 200 ANOS! Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 4 (Dausgaard)

BRUCKNER 200 ANOS! Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 4 (Dausgaard)

Há muito a ser dito sobre a abordagem de Thomas Dausgaard para a Quarta Sinfonia de Bruckner. Ao adotar um tempo relativamente rápido para o primeiro movimento e, particularmente, para o Finale, ele nos deixa uma sensação de continuidade e coesão que a maioria das outras interpretações não têm. Além disso, a execução da Filarmônica de Bergen, capturada aqui em um som incrivelmente vívido, é absolutamente excelente. Do lado do débito, há algumas passagens que soam um pouco mal caracterizadas. Por exemplo, o maravilhoso coral de metais que aparece no meio do primeiro movimento poderia irradiar mais majestade. Da mesma forma, a abertura do Finale está um tanto carente de mistério, e o crescendo cataclísmico que o segue não abre os céus. Por outro lado, os dois movimentos centrais são excelentes. O andamento de Dausgaard para o Andante quasi allegretto parece ideal por soar nem muito apressado nem muito prolongado. Nele, pulsam a saudade e a melancolia desejadas por Bruckner. Lindo, lindo! E o Scherzo nos chega com grande força e emoção, com Dausgaard trazendo um sedutor ritmo vienense para a suave seção do Trio.

Anton Bruckner (1824-1896): Sinfonia Nº 4 (Dausgaard)

Symphony No. 4 In E-Flat Major, WAB (Second Version, 1878-80, Ed. Nowak)
1 I. Bewegt, Nicht Zu Schnell 16:54
2 II. Andante Quasi Allegretto 14:41
3 III. Scherzo 9:58
4 IV. Finale 19:37

Bergen Philharmonic Orchestra
Thomas Dausgaard

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Dausgaard fazendo como um velho marinheiro que, durante o nevoeiro, leva o barco devagar.

PQP

J.S. Bach (1685-1750): Concerti, Capriccio & Aria (nel gusto italiano) – Olivier Cavé (piano) ֍

J.S. Bach (1685-1750): Concerti, Capriccio & Aria (nel gusto italiano) – Olivier Cavé (piano) ֍

JS BACH

Concerti, Capriccio & Aria

Nel gusto italiano

Olivier Cavé, piano 

 

 

Wir sind alle Pilger

die wir Italien suchen

 

Nós somos todos peregrinos

em busca da Itália

Goethe

Eu sempre gostei de ouvir a música que Bach compôs para teclado interpretada ao piano. Bach ao piano! Um dos meus CDs mais antigos é o que poderíamos chamar jurássico – Alexis Weissenberg tocando Bach. (Esse disco, pasmem, foi gravado há mais de cinquenta anos.) Na verdade, Alexis toca transcrições para piano de obras de Bach, feitas principalmente por Busoni, como a Chacone, que eu custei a descobrir ter sido composta para violino solo. Bem, tratando-se de Bach, não dá para afirmar peremptoriamente isso…

O pianista Olivier Cavé é impecável e já andei postando uma ou outra coisa com ele, não deixe de conferir, caso ainda não tenha feito. Assim, o disco, apesar do piano, pode ser considerado ‘autêntico’. Reúne peças da juventude de João Sebastião, dos tempos que andava por Weimar, as voltas com o príncipe muito musical Johann Ernst von Saxe-Weimar, que morreu muito jovem, em 1715.

Temos quatro transcrições de concertos feitas para cravo de originais italianos. Dois deles do famoso Padre Vermelho, e mais dois, um de cada um dos irmão Alessandro e Benedetto Marcello. O programa segue com o magnífico Concerto Italiano, que de tanto transcrever concertos italianos, Bach viu-se capaz de compor uma ‘transcrição’ originalíssima, que prescindia de um concerto original, mais uma das muitas provas de sua genialidade criativa.

Para terminar o programa mais duas peças bem conhecidas com ares italianos – a Aria variata alla maniera italiana e o Capriccio sopra la lontananza del suo fratello dilettissimo. O libreto é um primor. Veja uma tradução livre de um dos seus parágrafos iniciais, feita com a ajuda do já conhecido Chat PQP:

Ao longo de sua extraordinária carreira de compositor, Bach nunca se cansou de copiar à mão música de outros compositores, e o senso de ecletismo que o levava a reproduzir Frescobaldi e adaptar as obras de Pergolesi foi sua maneira de alcançar uma síntese e criação muito pessoais, onde a especulação abstrata, a poesia e a busca didática encontraria seu lugar.

Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)

 Concerto em fá maior, BWV 978 (original de Antonio Vivaldi RV 310)

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro

Concerto em ré menor (original de Alessandro Marcello), BWV974

  1. Allegro
  2. Adagio
  3. Presto

Concerto em sol maior, BWV 973 (original de Antonio Vivaldi RV 299)

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro

Concerto em ré menor, BWV 981 (original de Benedetto Marcello, Op. 1, 2)

  1. Adagio
  2. Vivace
  3. Grave
  4. Prestissimo

Concerto Italiano, BWV971

  1. Allegro
  2. Andante
  3. Presto

Aria Variata in A minor, BWV989 ‘alla Maniera Italiana’

  1. Aria
  2. Variazione I
  3. Variazione II
  4. Variazione III
  5. Variazione IV
  6. Variazione V
  7. Variazione VI
  8. Variazione VII
  9. Variazione VIII
  10. Variazione IX
  11. Variazione X

Capriccio sopra la lontananza del suo fratello dilettissimo, BWV992

  1. Arioso (Adagio)
  2. Fughetta
  3. Adagiosissimo
  4. Andante
  5. Allegro poco – Aria del postiglione
  6. Fuga all’imitazione della posta

Olivier Cavé, piano

Olivier Cavé numa estreita rua de uma famosa cidade da Itália…

Faixas Bônus

Antonio Vivaldi (1678 – 1741)

Concerto para violino em sol maior, Op. 3, 3 – RV 310

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro

Concerto Italiano & Rinaldo Alessandrini

Concerto para cravo (do original de Vivaldi RV 310), BWV 978

  1. Allegro
  2. Largo
  3. Allegro

Rinaldo Alessandrini, cravo

Antonio Vivaldi (1678 – 1741)

Concerto para violin em sol maior, RV 299

  1. Allegro
  2. Largo cantabile
  3. Allegro

L’Arte dell’Arco & Federico Guglielmo

Alessandro Marcello (173 – 1747)

Concerto para oboé, cordas e contínuo em rpe menor

  1. Andante spiccato
  2. Adagio
  3. Presto

Paolo Grazzi, oboé

Accademia di San Rocco & Andrea Marcon

Benedetto Marcello (1686 – 1739)

Concerto grosso, Op. 1 No. 2

  1. Adagio e staccato
  2. Vivace
  3. Adagio e staccato
  4. Prestissimo

Kaunas Chamber Orchestra & Silvano Frontalini

 

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MP3 | 320 KBPS | 250 MB

De uma crítica quase anônima: I liked the approach, Bach has plagia, or rather, he reinterpreted Italian music to his sauce and it’s pretty successful!
Good record, interesting to discover Bach from this angle.
On the other hand, in the long run, the disc may seem a little monotonous

The quality of the performance is impeccable and I liked!

Me too! Aproveite!

René Denon

Steve Reich (1936): Music for 18 Musicians (Signal Ensemble)

Steve Reich (1936): Music for 18 Musicians (Signal Ensemble)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Fazendo sua estreia na grande Harmonia Mundi, o Signal Ensemble, grupo nova-iorquino, executa a célebre Music for 18 Musicians (1976), um trabalho básico de um compositor fundamental que mudou a rota da música do século XX. Steve Reich deu seu OK a esta gravação e completou: “o Signal fez uma gravação extraordinária da Music for 18 Musicians. Foram exatos e emocionais. Deem uma ouvida”.

Várias gravações ocorrerão em 2016 em comemoração ao 40º aniversário do trabalho, que foi um clássico instantâneo da ECM e da música em geral. Porém, provavelmente, poucos serão mais sensacionais do que este registro. A alegria, a precisão rítmica e a transparência de som talvez sejam difíceis de serem realcançadas. Uma música dificílima e que aqui soa com naturalidade. E de efeito tão fascinante como sempre.

Os 18 músicos são assim divididos:

1 Violin
2 Cello
3 Female voice
4 Female voice
5 Female voice
6 Piano
7 Piano
8 Piano and maracas
9 Marimba and maracas
10 Marimba and xylophone
11 Marimba and xylophone
12 Marimba and xylophone
13 Metallophone and piano
14 Piano and marimba
15 Marimba, xylophone, and piano
16 Clarinet and bass clarinet
17 Clarinet and bass clarinet
18 Female voice and piano

Steve Reich (1936): Music for 18 Musicians (Signal Ensemble)

1 Pulses 5:22
2 Section 1 4:18
3 Section 2 4:26
4 Section 3A 3:56
5 Section 3B 4:05
6 Section 4 4:58
7 Section 5 5:23
8 Section 6 4:37
9 Section 7 3:42
10 Section 8 3:46
11 Section 9 4:25
12 Section 10 1:32
13 Section 11 4:07
14 Pulses 4:32

Ensemble Signal
Brad Lubman

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Reich: quase 40 anos de um obra-prima
Reich: os quase 40 anos de um obra-prima

PQP

.: interlúdio :. Jazzrausch Bigband: Mahler`s Breakdown (Quinta Sinfonia de Mahler…)

.: interlúdio :. Jazzrausch Bigband: Mahler`s Breakdown (Quinta Sinfonia de Mahler…)

Esse disco é bem novinho, do final de 2023, e foi lançado em vinil e em CD. Quem conseguiu-o para mim foi CdeBL. Lembro ele que foi muito gentil e que falou comigo por e-mail ou messenger. Depois, eu dei muitas risadas ouvindo o disco, Lembro que foi para isso mesmo que me mandaram os arquivos, para rir. Agradeço ao mensageiro. Pobre Gustav Mahler, deve estar como um zumbi no túmulo com este arranjo que distorce completamente sua 5ª Sinfonia… A cena tecnojazz alemã é ampla e provavelmente encontrará algum louco para levar isto à serio. Eu levei a sério apenas como comédia. A Jazzrausch Bigband está repleta de músicos que tocam muito bem, mas nem tudo pode ser feito com qualquer coisa. O resultado é uma constrangedora paródia. Quando a coisa vira jazz, se torna até palatável, mas quando é Mahler me causa frouxos de riso. Muitos outros artistas abordaram a música clássica para criar obras de jazz com verdadeiro talento. Mas aqui, com esses ritmos disco para cinquentões… Eu tenho 66 e meu mundo é puro rock n`roll, pô! OK, estou brincando. Mas o problema mesmo é a falta de criatividade nos arranjos. Quantas vezes aquela bateria precisa nos metralhar num crescendo, meu deus?

.: interlúdio :. Jazzrausch Bigband: Mahler`s Breakdown (Quinta Sinfonia de Mahler)

Da Quinta de Mahler:
1. I. Trauermarsch. In Gemessenem Schritt. Streng. Wie Ein Kondukt 08:41
2. II. Stürmisch Bewegt. Mit Größter Vehemenz 07:58
3. III. Scherzo. Kräftig, Nicht Zu Schnell 08:47
4. IV. Adagietto. Sehr Langsam 03:30
5. V. Rondo-Finale. Allegro – Allegro Giocoso 08:54

Da Terceira de Mahler:
6. I. Kräftig. Entschieden 04:44

Jazzrausch Bigband

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Esta é a Jazzrausch Bigband. Sim, eles tocam Mahler | Foto: Josy Friebe

PQP

Serguei Prokofiev (1891-1953): Concertos para Piano Nº 1 e 2 + Romeu dá adeus à Julieta (Feltsman / Tilson Thomas)

Serguei Prokofiev (1891-1953): Concertos para Piano Nº 1 e 2 + Romeu dá adeus à Julieta (Feltsman / Tilson Thomas)

O Primeiro Concerto para Piano de Prokofiev (1911) é uma obra da juventude, o Segundo (1912) é o mais original e memorável — na verdade, uma de suas obras-primas. Este concerto, apesar da sua grandeza, parece atrair principalmente pianistas de nicho — como Vladimir Feltsman, emigrado russo nos EUA desde o final da década de 1980, cujo legado gravado consiste em grande parte em alguns grandes concertos russos mais Bach e algum Schubert. Nesta versão, Prokofiev não soa tão revolucionário e audaz quanto talvez devesse, as obras soam enérgicas e charmosas. Está bem, mas estas versões perdem de longe para Ashkenazy, Argerich, Bavouzet e Beroff (Também temos Ash e a Rainha no PQP, só que o Bavouzet e o Beroff têm a integral dos Concertos).

Serguei Prokofiev (1891-1953): Concertos para Piano Nº 1 e 2 + Romeu dá adeus à Julieta (Feltsman / Tilson Thomas)

Concerto No. 1 For Piano & Orchestra, Op. 10 (D-Flat Major / Des-Dur / Ré Bémol Majeur)
Allegro Brioso 3:38
Meno Mosso 3:27
Andante Assai 3:59
Allegro Scherzando 4:30

Concerto No. 2 For Piano & Orchestra, Op. 16 (G Minor / G-Moll / Sol Mineur)
I–Andantino 11:45
II–Scherzo: Vivace 2:42
III–Intermezzo: Allegro Moderato 7:01
IV–Finale: Allegro Tempestoso 11:16

“Romeo Bids Juliet Farewell” (Lento) (No. 10 From 10 Pieces For Piano From Romeo & Juliet, Op. 75) 6:56

Vladimir Feltsman, piano
London Symphony Orchestra
Michael Tilson Thomas

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Os cabelos de Feltsman ficaram mais ralos, os que sobraram ficaram brancos e acho que chegaram uns quilinhos a mais. Acontece com tudo mundo que não morre, Vladi. Aliás, ainda bem!

PQP

.: interlúdio :. É Carnaval! – A História da Guitarra Baiana, parte 3 – Roberto Barreto (BaianaSystem)

O nome BaianaSystem vem da junção de “guitarra baiana” com “sound system”, duas tecnologias criadas respectivamente em Salvador e na Jamaica. Em 2017, logo após lançar aquele que considero o melhor álbum do BaianaSystem, Roberto Barreto, um dos seus fundadores, deu uma entrevista (aqui) na qual demarcou claramente os aspectos subversivos e políticos do Carnaval. Pra quem olhava de longe, podia parecer que o carnaval de Salvador, com abadás de trios sendo parcelados em 12x sem juros, tinha virado uma mercadoria tão elitizada e metida a besta quanto um desses copos caros pra deixar a água gelada. Estamos sempre por um fio dessa derrota completa para as máquinas de lucro (expressão do Baiana) mas ao mesmo tempo os loucos vão fazendo festa, não porque a vida está fácil, mas pelo motivo oposto. Enfim, fala aí, Roberto:

G1 – Muita gente, especialmente no Sudeste, cita a Baiana System como uma banda de axé – ou do novo axé. Esse rótulo incomoda?
Roberto Barreto – Não incomoda porque, na verdade, o axé não existe enquanto gênero. É que, aqui [no Sudeste], as pessoas acabam colocando tudo dentro de uma mesma coisa. Olodum é completamente diferente de Ivete. O que existe é um mercado de axé, que funciona diferente do mercado que a gente surgiu. Quando fazem essa referência ao novo axé, talvez seja por causa de elementos que usamos – das festas de largo, o entendimento do sound system como uma coisa popular, percussão, guitarra, samba… Lógico que tem elementos do que as pessoas conhecem como axé.

“Como é da Bahia, e as pessoas às vezes não conseguem entender, dizem: ‘Funciona no Carnaval, é dançante, então é axé’. Mas não é necessariamente isso. Quando a gente tira esse peso, não se incomoda. A Bahia hoje está justamente numa fase de superar esse estigma do axé que ficou, muitas vezes como uma coisa pejorativa.

G1 – A música da Bahia é, ainda hoje, muito estigmatizada?
Roberto Barreto – Acho que sim. O mercado acabou ditando muito como as coisas aconteceram. Salvador sempre teve uma produção incrível e nunca parou de ter. Mas estamos em um período em que a música passa por uma transformação. O que chega às pessoas não é necessariamente o que vem da grande mídia. Elas conseguem conhecer o que está acontecendo no Pará, em Goiânia, Recife, Salvador… Com essa dimensão, dá para fugir um pouco dessa centralização.

Roberto e sua guitarra baiana de 5 cordas (2016)

[…]
Na Bahia, a coisa do Carnaval é forte. Independentemente do que gera no mercado fonográfico, ele é um catalisador de muita coisa.

G1 – Gerou muita repercussão um protesto da banda contra o governo Temer no Carnaval deste ano, em Salvador. Como lidaram com a polêmica?
Roberto Barreto – Não foi uma coisa programada. A gente já fazia isso em shows, alguns sim, outros não. Como a gente tratou isso com naturalidade, saiu do âmbito da polêmica, que as pessoas quiseram dar. Não tem como a questão política não estar vinculada a nós, porque o nosso comportamento em relação ao mercado e nas nossas letras é eminentemente político. A gente vive um momento dificílimo. Não sabemos se vamos ter presidente amanhã. Estamos vivendo um ano após um golpe acontecer no país.

G1 – Qual o papel dos artistas em momentos políticos como esse?
Roberto Barreto – Cada vez mais, se posicionarem. Ficou uma coisa muito asséptica. Todo o mundo acha que não pode falar isso ou aquilo. Você pode falar. Quando a gente definiu que o nome do nosso disco ia ser “Duas Cidades”, percebemos que não é só a cidade, o Brasil está dividido. Você vê famílias brigando, pessoas se digladiando no Facebook.

Você tem que se posicionar em relação a isso, mesmo que depois diga: ‘Vacilei nisso, achei que era uma coisa, me decepcionei’. Mas tem que falar.

A cada Carnaval, o BaianaSystem sai com seu trio Navio Pirata, sem cobrança de abadás. Enquanto o Chiclete com Banana – e seu ex-cantor Bell Marques, em carreira solo desde 2014 – continuam saindo em trios elétricos com cercadinho separando os pagantes da ralé, o Baiana arrasta a cada ano mais povo na bagunça indeferenciada, a mais carnavalesca dos nossos tempos, ao menos na Bahia.

Em outra entrevista, Roberto fala sobre sua relação com a guitarra baiana, instrumento que ele inseriu em uma linguagem musical próxima das gerações hoje com 20, 30 anos e próxima também do reggae jamaicano.

A guitarra não foi o meu primeiro instrumento. Comecei tocando o bandolim já com essa afinação da guitarra baiana e com essa referência dos trios elétricos e das músicas de carnaval. Não vejo muito como um instrumento, mas sim como um meio de expressar ideias e sentimentos. Por ser um instrumento criado e concebido aqui na Bahia existe a parte afetiva e junto com isso, acompanha uma estética musical que é única em um repertório (aqui).

BaianaSystem: Duas Cidades (2016)
A1 Jah Jah Revolta Parte 2
A2 Bala Na Agulha
A3 Lucro (Descomprimindo)
A4 Duas Cidades
A5 Panela
B1 Playsom
B2 Dia Da Caça
B3 Cigano
B4 Calamatraca
B5 Barra Avenida Parte 2
B6 Azul

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No Carnaval de 2023

Pleyel

Richard Wagner (1813-1883): Glenn Gould Conducts Wagner´s Siegfried Idyll

Richard Wagner (1813-1883): Glenn Gould Conducts Wagner´s Siegfried Idyll

Quando comprei este CD o fiz com um misto de receio e de curiosidade. Na época eu conhecia pouco a obra de Wagner, mas já conhecia a excentricidade de Glenn Gould, e me pareceu no mínimo deveras curioso um especialista em Bach tocando Wagner ao piano, ainda mais obras tão ricas orquestralmente falando, como a abertura dos “Mestres Cantores”, ou até mesmo o magnífico “Idílio” de Siegfried.

Mas o que realmente chama a atenção neste cd é Glenn Gould regendo um pequeno grupo de câmera. Foi sua primeira, única e última experiência no gênero, pois faleceu logo depois. O “Idílio” de Siegfried foi originalmente composto para uma pequena orquestra, 13 ou 14 músicos. Transcrevo abaixo o texto do libreto que acompanha o cd:

“(…) Em 1964 o próprio Gould ingressou no seu futuro de alta tecnologia retirando-se completamente da cena concertística. Em seguida permitiu ao público que ouvisse a sua produção musical somente sob a forma de cuidadas gravações, transmissões radiofônicas e transmissões de vídeo. Certa vez Wagner disse que, depois ter inventado a ‘orquestra invisível’ em Bayreuth queria agora inventar o ‘palco invisivel’, do qual Gould se voltava para o público na maneira pela qual Wagner enunciava às platéias de execuções convencionais e obrigava os ouvintes a aceitar os seus termos de apresentação.

Ao primeiro impacto não se associaria a transparência cristalina de um especialista em Bach como Gould com as redundantes sonoridades do ultra-romântico Wagner. Efetivamente, porém, Gould nutira profundo amor por Wagner, um amor que encontrava o próprio fundamento na natureza incorrigivelmente polífônica da sua música. As transcrições aqui apresentadas não só deram a Gould a possibilidade de ter uma experiência direta de Wagner, negada a quase todos os pianistas, mas forneceram também o material para um disco que correspondia aos critérios caros a Gould, apresentando música conhecida de maneira nova, estimulante e diferente. A prestidigitação característica de Gould resulta efetivamente em passagens característicamente contrapontísticas como o fugato do toque de trompa da Viagem ao Reno e a música redundante de Beckmesser na abertura de Os Mestres Cantores com o seu subsequente momento culminante, um tour de force de aguda força rítmica e luminosa transparência. Divertindo-se com a a possibilidade do meio de gravação ir além da execução ao vivo, Gould criou aqui algumas passagens mais densas da gravação a quatro mãos em mais de uma pista, não encontrando nenhum motivo musical para sacrificar a riqueza de Wagner aos limites de dez dedos invisíveis.

Em vez de procurar imitar a orquestra, Gould reelaborou estas peças para piano substituindo as figuras rítmicas por trêmulos introduzindo esquemas de motivos em acordes que se demonstravam muito longos para serem sustentados pelo piano e modificando as duplicações do baixo. Em toda a obra se observam numerosos toques interpretativos inesperados. O tema de marcha dos mestres cantores, pelo início da abertura, habitualmente um momento importante, procede aqui como uma breve e divertida passseata. Não se observa nem mesmo o tradicional retardamento desse tema durante seu aparecimento final, pois Gould saber transformar o enorme tumulto dos instrumentos de corda em um flutuar aéreo.. No ousadamente lento ‘Idílio de Siegfried’ o tema do acalanto em escala descendente é introduzido de maneira surpreendentemente não sentimental; a elaboração em tonalidade terna da peça é posta de lado por um momento sucessivo.

As primeiras tentativas de Gould de reger uma orquestra o desencorajaram de prosseguir nessa atividade porque devia executar movimentos agitando os braços, o que lhe dava tensões musculares que comprometiam seu controle magistral do teclado. Todavia, graças ao seu domínio na arte da composição, tinha a mente de um regente, e no fim se repropôs a tentar ainda compilando listas de repertórios que compreendiam concertos para piano onde podia acompanhar-se a si próprio, através de uma gravação em mais de uma pista. Gould iniciou sua nova carreira de regente em julho de 1982 quando, com os membros da Sinfônica de Toronto, gravou a versão de câmera original do Idílio de Siegfried. Sua executação de estréia, posta em circulação pela primeira vez neste disco, revelou-se um adeus porque Gould, hipertenso crônico, foi vítima de um golpe de apoplexia no dia 4 de outubro seguinte, nove dias depois de seu cinquentário. “ Benjamin Folkman.

Pois bem, então deixo-os com este cd curioso porém de uma beleza ímpar, graças ao talento de Glenn Gould, com certeza um dos maiores músicos do século XX, e que não temia ousar.

Richard Wagner – Glenn Gould Conducts Wagner´s Siegfried Idyll

01 Siegfried Idyll, for small orchestra in E major, WWV 103
02 Die Meistersinger von Nürnberg, opera, WWV 96- Vorspiel Zum I. Aufzug
03 Die Götterdämmerung (Twilight of the Gods), opera, WWV 86d- Tagesgrauen Und Siegfrieds Rheinfahrt
04 Siegfried Idyll, for small orchestra in E major, WWV 103

Membros da Sinfônica de Toronto
Glenn Gould – Piano e Regência

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Glenn Gould: exorcizando Wagner do corpo
Glenn Gould: exorcizando Wagner do corpo

FDP Bach
Link revalidado por FDPBach em 02/24

.: interlúdio :. É Carnaval! – A História da Guitarra Baiana, parte 2 – Missinho (Chiclete com Banana)

O clima da cidade se torna outro. A atmosfera mais densa do que o lança-perfume que a senhora leva na bolsa. Todos os exus e santos estão à solta. As ruas de madrugada apinhadas de gente. O cheiro de mijo e álcool. As normas se alternam, a moral se amolece. Tudo parece poder acontecer, para o bem e para o mal.

O dia já havia nascido quando olhei o mar de gente, suada e semi-nua, debaixo do sol. Homens sem camisas, mulheres de peito de fora. E pensei: enfim civilização.
(Matheus Ultra)

Seguindo com a história de um dos instrumentos mais legitimamente brasileiros – ainda que quase totalmente restrito às proximidades da Baía de Todos os Santos – chegamos nos anos 1980 com um grupo que, como Armandinho, era e ainda é sinônimo de Carnaval: Chiclete com Banana. Sim, eu sei que eles fizeram muita porcaria depois, quando o Axé foi vendido para todo o país a partir, em primeiro lugar, de programas como o do Chacrinha, o da Xuxa e o do Faustão. Mas a história dos primeiros anos do Chiclete com Banana, além de conter inovações que se firmaram em todos os trios elétricos (assim como Dodô, Osmar e Armandinho, dá pra resumir como a amplificação dos velhíssimos batuques de Carnaval de modo a ocupar largas avenidas e praças com povo a sair pelo ralo), também tem música muito diferente do que o Chiclete se tornaria.

A história não vai surpreender os fãs de Pink Floyd: fundada por três irmãos Marques mais o guitarrista Missinho, este último fazia a maioria das músicas e tinha um estilo bastante único nas duas guitarras, a estrangeira e a baiana. Depois de alguns anos arrastando multidões em Salvador mas apenas em Salvador, Missinho cansou e saiu quando a banda começava a decolar para o sucesso nacional.

Os discos Energia (1984) e Sementes (1985) trazem música extremamente carnavalesca e ao mesmo tempo sofisticada e original, com a marca principal do Chiclete com Banana que é a mistura de tudo e mais um pouco, sem qualquer preocupação com o que vão pensar de se misturar Miami com Copacabana, chicletes com banana, rock e tamborim, metáforas do samba do baiano Gordurinha (1922 – 1969), “Chiclete com Banana”, regravado por Gilberto Gil em 1972, nome que a banda, como de costume, usou sem pedir licença ou bênção.

É também sem um pingo de vergonha que, em Energia (1984), eles vão da estrelas ao luar, de Pink Floyd a “um forró de Luiz”, da fogueira e balão de São João ao oceano, de Cuba à guitarra de Santana. Também Xangô, Oxum e o Ilê Aiyê. Tudo isso é citado nas letras, pra não falar dos vários empréstimos rítmicos e melódicos. Há ainda truques poéticos de sinestesia psicodélica como “bailando ao som de lindos astros”…

A cabeça que juntava com poesia essas fusões improváveis era Missinho, e ele dividia os vocais principais com Bell Marques mais ou menos metade das música pra cada um cantar. Depois da saída de Missinho em 1986, Bell ficou como líder da banda, e tem até hoje uma excelente voz e carisma no palco e no trio elétrico… mas em mais de 30 anos ele e seus dois irmãos devem ter tido talvez uma ou duas ideias próprias. Então o Chiclete com Banana ficou seguindo as modas dos anos 90 e 2000 sem a guitarra de Missinho: até 2000 ainda havia o guitarrista Jhonny, cria de Missinho (convidado por este para entrar na banda quando tinha 16 anos). Mas Johnny saiu em 2000. Em 2014, Bell Marques fez seu Carnaval de despedida com o Chiclete, saindo em carreira solo por motivos exclusivamente financeiros. O Chiclete, então, seguiu com os dois irmãos Marques como uma sombra ainda mais apagada do que tinha sido.

Mas voltemos para os primeiros anos. Faz muito tempo mesmo: o presidente ainda era o general Figueiredo, tinha até Censura prévia e por motivos não muito claros duas faixas de “Energia” foram censuradas: uma delas talvez por uma leve, levíssima conotação política e a outra por conservadorismo sexual mesmo, já que tinha versos como “transa ao luar” (rimando em seguida com Ravi Shankar!), o que incomodava um tipo de gente que fazia de tudo desde que entre quatro paredes. Essas duas faixas, então, circularam apenas em meia dúzia de LPs e aparecem aqui como bonus-tracks com o chiado do vinil.

Wadinho Marques, que hoje toca teclados mas em 1984 recebeu os créditos por violão, backing vocals e autoria de uma das músicas, explica o nome da banda: “Foi um amigo nosso, Nildão, cartunista, artista plástico aqui da Bahia que sugeriu que nós colocássemos esse nome, Chiclete com Banana pelo tipo de música que a gente fazia, nós misturamos muitos ritmos, há muito tempo que nós tocamos galope, reggae, rock, frevo, então ele via isso e achava que tinha que ser representado por um nome que fosse uma mistura. E nada mais que uma mistura tão louca como chiclete com banana.”

Nildão, aliás, é o responsável pela capa deste álbum, com uma Iemanjá surfista que pode parecer um sincretismo brilhante ou inadequado, a depender de quem olha. Representa bem, então, a música do disco. O destaque maior, em termos de guitarra baiana, é a primeira faixa, Mistério das Estrelas, com um ritmo de galope irresistível, como também sabe ser irresistível, às vezes, a voz aguda* nesta faixa ou então na faixa-título de Sementes, também de autoria de Missinho e transbordantemente carnavalesca.

* A voz é a de Missinho em Mistério das Estrelas. De Bell em Sementes. Em outras, é difícil de identificar. Na capa de Sementes, acima, Missinho é o cabeludo em pé de relógio; Johnny agachado no meio e Bell Marques agachado à direita.

Chiclete com Banana: Energia (1984)
A1 O Mistério das Estrelas (Missinho)
A2 Canto De Aledê (Missinho)
A3 Sujo Astral (Bell Marques/G. Roberto)
A4 Meu Balão (Missinho)
A5 Ondas De Baião (Missinho/Beto Nascimento)
B1 Luas (Missinho/Beto Nascimento)
B2 A Cor Do Cristal (Missinho/Beto Nascimento)
B3 Bahia Cubana (Missinho/Hercules Amorim)
B4 Me Segura Que Vou Dá Um Traço (Wadinho Marques)
B5 Estrela Menina (Missinho/Beto Nascimento)
Apenas vença (faixa bônus, censurada)
Minha gatinha é macrô (faixa bônus, censurada)

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P.S.: “Hoje o que vemos é um Carnaval feito para a elite”, dizia Missinho em 2014 em entrevista de lançamento do seu disco Instrumental Guitarra Baiana (que está todo no Youtube aqui). Enquanto isso, as declaraçoes públicas de Bell Marques são do tipo “aproveita agora para parcelar em 12 vezes o seu abadá para o Carnaval do ano que vem”…

Ao ser perguntado se ele tinha o desejo de tocar novamente com alguém, Missinho disse que era um desejo impossível, pois apesar de ter conhecido grandes artistas e músicos, a companhia que gostaria de reencontrar em cima dos trios era a de Osmar [pai do Armandinho que apareceu aqui ontem]. “Ele é uma figura que deixou uma saudade muito grande. Tinha uma juventude arrebatadora. Eu tinha uns 20 anos quando toquei com ele e ficava olhando, observando e admirado sua energia. Me apaixonei de primeira pela aquela emoção. Me perguntava como ele podia ter aquela energia toda? Depois eu mesmo me respondia dizendo: poxa, um cara que inventou o trio elétrico tinha que ser assim mesmo”, disse aos risos e lamentou: “Ele faz falta no Carnaval”.

Missinho e sua guitarra baiana de 4 cordas (2014)

Pleyel

.: interlúdio :. É Carnaval! – A História da Guitarra Baiana, parte 1 – Armandinho: A Cor Do Som ao vivo em Montreux

Carnaval: celebração coletiva que afronta o individualismo e a decadência da vida em grupo; conjunto de ritos que reavivam laços contrários à diluição comunitária, fortalecem pertencimentos e sociabilidades e criam redes de proteção social nas frestas do desencanto. (Luiz Antônio Simas)

Não me leve a mal que hoje é Carnaval então vou poupá-los dos textos longos. Como sabemos, a guitarra baiana é um instrumento elétrico de tamanho mais próximo do bandolim ou do cavaquinho do que da guitarra inventada pelos gringos. Instrumento essencial nos primeiros trios elétricos de Salvador, foi inventada por Dodô e Osmar, que também inventaram o trio – em resumo um bloco carnavalesco com música microfonada e amplificada. Mas naquela época, anos 1950, o instrumento ainda era chamado “pau elétrico” ou “cavaquinho elétrico”. No fim dos 60, Armandinho, filho de Osmar, começou a fazer com o instrumento solos de linguagem guitarrística inspirada em Jimi Hendrix, mas ao mesmo tempo, é claro, sem perder a reverência a Jacob do Bandolim, ao frevo pernambucano e a ligação anual com a festa de rua mais popular de Salvador, sem falar no berimbau também típico da cidade mais africana do Brasil.

Armandinho é sinônimo de Carnaval baiano e guitarra baiana até hoje. Mas durante o resto do ano ele também tem outros talentos: no fim dos anos 1970 criou a banda A Cor do Som, com colegas cariocas também interessados em misturar o rock de Londres com coisas como o chorinho tão carioca de Ernesto Nazareth, sem esquecer a guitarra baiana.

A Cor do Som – em atividade até hoje, com alguns longos hiatos – também poderia ser entendida historicamente como uma terceira onda de influência sincrética baiana no eixo Rio-São Paulo: a maioria dos músicos fazia parte das bandas de apoio de Moraes Moreira e outros dos Novos Baianos, que por sua vez tinham esse nome para diferenciá-los da leva anterior de baianos da Tropicália (Gil, Caetano, Gal e Bethânia).

A Cor do Som: Ao Vivo em Montreux (1978)
1 Dança Saci (Mu)
2 Chegando da terra (Armandinho)
3 Arpoador (Mu/Dadi/Gustavo/Armandinho)
4 Cochabamba (Aroldo/Moraes Moreira)
5 Brejeiro (Ernesto Nazareth)
6 Espírito infantil (Mu)
7 Festa na rua (Mu/Aroldo/Dadi/Armandinho)
8 Eleanor Rigby (McCartney/Lennon)

Armandinho – guitarra baiana
Aroldo – guitarra baiana
Mú – teclados
Dadi – baixo
Gustavo – bateria
Ari – percussão

Gravado ao vivo em julho de 1978 durante apresentação no 12º Festival de Jazz no Cassino de Montreux, Suíça

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A Cor do Som em 2014 (Ary Dias, Armandinho e outros fora da foto) com participação do inesquecível Moraes Moreira

Pleyel