Schubert (1797 – 1828): Lieder – Uma Antologia – Dietrich Fischer-Dieskau & Gerald Moore ֎

Franz Schubert

Coleção de Canções

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono

Gerald Moore, piano

 

No dia 12 de maio de 1955 três pessoas se reuniram no Sala 3 da Abbey Road Studios (naqueles dias era EMI Studio 3), o menor dos espaços do famosíssimo estúdio de gravações londrino, ideal para música de câmera e recitais. Eles gravaram sete canções (Lieder) naquele dia, algumas delas estão na antologia dessa postagem. O cantor Dietrich Fischer-Dieskau estava no seu primor, aos 30 anos; o pianista Gerald Moore já era referência na arte de acompanhamento (sua autobiografia intitula-se ‘Am I too loud?’); o terceiro personagem era o produtor musical Walter Legge, que amava música e especialmente Lieder. Essa dedicação a este gênero musical me encanta e espero que chegue também a tocar você.

DFD e Gerald Moore formam uma dupla espetacular quando o repertório é Lieder e eles gravaram uma imensidade, algumas coisas mais do que uma vez. Em 1955 gravaram canções e o ciclo Winterreise, de Schubert, para a EMI, que depois gravariam novamente para a Deutsche Grammophon.

Esta antologia reúne 30 canções que estão espalhadas em três LPs de quatro gravados para a EMI entre 1955 e 1959. Selecionei essas canções dos LPs nos quais DFD é acompanhado por Gerald Moore. No disco de número três o acompanhante é o menos conhecido, mas muito competente Karl Engel e o repertório formado de algumas canções mais longas.

As canções que escolhi são exemplares da arte de Schubert, muito representativas. O som não é espetacular, mas a beleza da voz e o entrosamento do cantor e seu acompanhante de longe compensam qualquer restrição que você possa fazer.

Se você tem alguma familiaridade com esse repertório, reconhecerá cada uma das canções. Caso contrário você terá um porto seguro para iniciar suas futuras navegações. Espero que a postagem motive maiores explorações nesse repertório e você verá que essas figurinhas carimbadas reaparecerão muitas vezes nos discos e nos programas dos artistas desse gênero.

Quanto a música, deixe-me dizer que não falo alemão, mas isso nunca foi um impedimento para apreciar os Lieder e como ouço essas canções há bastante tempo, mesmo eu acabei aprendendo algumas coisas. Ou seja, aprecio a musicalidade que elas exalam, a maneira como a voz expressa os sentimentos e como se combina com o som do piano, criando um argumento musical, um universo sonoro que narra as histórias, mesmo que você não as perceba literalmente. De qualquer forma, aqui vão algumas dicas…

Heimkehr vom Feld im Abendrot, Ignaz Raffalt

Alguns temas são recorrentes, como vaguear (Wanderer), água (Wasser, Meer), noite (Nacht), primavera (Frühling). Há um bocado de sofrência (dois ciclos são impregnados disso) e algumas imagens perpassam muitas canções. A noite é sempre profunda (tiefer Nacht), o protagonista está sempre em busca de paz (ruh) ou felicidade (Glück). O céu tem a Lua (Mond) e estrelas (Sterne).

Há canções onde a letra é formada por estrofes e a música vai se repetindo de novo e de novo e formam uma boa parte delas. Veja alguns nomes: Der Wanderer na den Mond, Der Wanderer, Der Einsame (O Solitário), Fruhlingssehnsucht, Fruhlingsglaube, Im Frühling, Im Abendrot, Die Sterne.

Wanderer do David

Há na coleção duas canções com nomes de mulheres: An Sylvia e Alinde. ‘Para Silvia’ tem por letra uma tradução para o alemão de um texto de Shakespeare, Who is Sylvia, da peça Dois Cavalheiros de Verona.

Muitas canções da antologia foram compostas no fim da (curta) vida de Schubert, como indicam os altos números do catálogo D (Deutsch), mas ele era um mestre completo na arte da canção mesmo quando muito novo, como nos atestam o inquieto Rastlose Liebe D. 138 e Nahe des Geliebten D. 162, ambos com poesia de Goethe.

Temos também oito canções do Schwanengesang, um conjunto de canções que foi publicado como um ciclo logo após a morte de Schubert, com canções sobre letras de diferentes poetas. Entre elas as belíssimas Die Taubenpost, Standchen e Abschied, que resolvi deixar no fim da fila.

Há duas baladas – canções cuja letra narra uma história ou um fragmento de história, com estilo folclórico, fantasmagórica ou com tema medieval. São elas Der Zwerg e Erlkönig, que tem letra de Goethe. Essas canções são verdadeiras provas de fogo para os intérpretes, que têm pouco tempo para dar o recado, inclusive fazendo diversos personages – o narrador, o anão, a rainha, o cavaleiro, a criança e o Rei dos Elfos… Não menos dramáticas são Der Kreuzzug, Kriegers Ahnung e Heimweh. Deixo com você a tarefa de decifrá-las.

E tem ainda a música, a maravilhosa música que era amadrinhada com Schubert e que a arte de pessoas como Dietrich Fischer-Dieskau (100 anos em 2025) e Gerald Moore nos revelam, em uma linda cançãozinha, An die Musik, uma ode à música…

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Der Wanderer an den Mond D870 (Johann Gabriel Seidl)
  2. Der Einsame, D800 (Karl Lappe)
  3. Nachtviolen, D752 (Johann Mayrhofer)
  4. Frühlingssehnsucht – Schwanengesang, D. 957: No. 3 (Ludwig Rellstab)
  5. Geheimes, D. 719 (Johann Wolfgang von Goethe)
  6. Rastlose Liebe, D138 (Johann Wolfgang von Goethe)
  7. Liebesbotschaft – Schwanengesang, D. 957: No. 1 (Ludwig Rellstab)
  8. Im Abendrot, D799 (Joseph von Eichendorff)
  9. Die Sterne, D939 (Karl Gottfried von Leitner)
  10. An die Musik D547 (Franz von Schober)
  11. Wehmut, D. 772 (Matthäus Casimir von Collin)
  12. Kriegers Ahnung – Schwanengesang, D. 957: No. 2 (Ludwig Rellstab)
  13. Der Kreuzzug, D932 (Karl Gottfried von Leitner)
  14. Totengräbers Heimweh, D842 (Jacob Nicolaus Craigher de Jachelutta)
  15. Der Zwerg, D. 771 (Matthäus Casimir von Collin)
  16. Der Wanderer, D. 489 (Georg Lübeck)
  17. Frühlingsglaube, D. 686 (Johann Ludwig Uhland)
  18. Die Taubenpost – Schwanengesang, D. 957: No. 14 (Johann Gabriel Seidl)
  19. An Sylvia, D. 891 (Eduard von Bauernfeld, de William Shakespeare)
  20. Im Frühling, D. 882 (Ernst Schulze)
  21. Auf der Bruck, D853 (Ernst Schulze)
  22. Ständchen ‘Leise flehen meine Lieder’ – Schwanengesang, D957: No. 4 (Ludwig Rellstab)
  23. Alinde, D.904 (Johann Friedrich Rochlitz)
  24. Nähe des Geliebten, D162 (Johann Wolfgang von Goethe)
  25. Normans Gesang, D846 (Adam Storck, de Sir Walter Scott)
  26. In Der Ferne – Schwanengesang, D957: 6 (Ludwig Rellstab)
  27. Aufenthalt – Schwanengesang, D957: No. 5 (Ludwig Rellstab)
  28. Erlkönig, D328 (Johann Wolfgang von Goethe)
  29. Nachtstück, D.672 (Johann Mayrhofer)
  30. Abschied – Schwanengesang, D. 957: No. 7 (Ludwig Rellstab)

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono

Gerald Moore, piano

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MP3 | 320 KBPS | 219 MB

A primeira canção, que conta a história do Wanderer e da Lua é linda, remete à poesia chinesa do Li Po. Na terceira, a voz do DFD é reduzida a quase um fiapo, mas vai em frente… siga a deixa e ouça as outras.

Aproveite!

René Denon

DFD & Gerald Moore na Liedgrosssaal do PQP Bach Corporation em Niterói

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