Igor Stravinsky (1882-1971): Concerto para Violino e Orq. / Bela Bartók (1881-1945): Concerto No. 2 para Violino e Orq. (Mullova / Salonen)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Dias atrás, ocorreu uma pequena discussão neste blog. Não quis participar, porque já tinha discutido o assunto em outras oportunidades e as pessoas se tornam muito agressivas, sabe-se lá por quê. O tema era violinistas. Então vieram os passadistas que não leram Virginia Woolf (ou, OK, que não concordam com ela) e desfilaram uma série de nomes de pessoas mortas. Eu sempre defendi a tese de que os instrumentistas modernos são, em sua maioria, superiores aos do passado. Basta ouvir com atenção. O resto, meus amigos, vai por conta do afeto. Uma vez, em minha casa, criei grande confusão ao mostrar gravações de pianistas e violinistas de ontem e hoje. Entre outros grandes artistas, a confusão foi gerada por Viktoria Mullova, uma violinista que “só não é absolutamente fabulosa pelo fato de estar viva” (V.W.). Quase imbatíveis, ela, Gil Shaham, Shlomo Mintz, o russo aquele (Vengerov, acho) e outros violinistas cujos corações ainda batem, ganhavam a preferência de quase todos. E estávamos quase só entre músicos… Dávamos risadas e as pessoas diziam que “não, não pode ser”. Os únicos que efetivamente acompanhavam os modernos eram Heifetz, Oistrakh e Szeryng. Imaginem que Milstein foi chamado de amador por três vezes. Não sou apocalíptico e acho que os modernos fazem melhor por estarem sobre os ombros dos gigantes do passado. Quando o gigante Gould concebeu suas interpretações, não foi auxiliado por Gould. Já Hewitt foi. Deste modo, não é inteiramente estranho que faça tão bem quanto ou até melhor. Bem, esqueçam, este foi só um exemplo e talvez não o mais feliz deles.

Beijos.

P.S.– Ah, há Mullova neste CD. Muita Mullova!

Igor Stravinsky (1882-1971): Concerto para Violino e Orq. / Bela Bartók (1881-1945): Concerto No. 2 para Violino e Orq. (Mullova / Salonen)

Igor Stravinsky (1882-1971) – Violin Concerto in D major

01. No. 1, Toccata
02. No. 2, Aria I
03. No. 3, Aria II

Bela Bartók (1881-1945) – Violin Concerto No. 2 in B minor, Sz. 112, BB 117

04. I. Allegro con troppo
05. II. Andante tranquillo
06. III. Allegro molto

Viktoria Mullova, violino
Los Angeles Philharmonic New Music Group
Esa-Pekka Salonen, regente

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Mullova: com um beijo aos passadistas

PQP

25 comments / Add your comment below

  1. Violinistas eu prefiro os antigos, principalmente o Perlman, talvez o melhor, pra mim. Claro, nunca ouvi o Paganini, rs. Mas pianistas gosto muito dos atuais. Há, por exemplo, o Jenó Jandó, húngaro, do qual tenho interpretações que julgo superior a muitos pianistas consagrados e ou falecidos. Mas claro que entre os antigos há o Emil Gilels que é sensacional.

  2. Os testes cegos são sempre surpreendentes.

    Mullova é brilhante ao tocar Bartok, porém, ainda não consigo digerir a sua versão de Chaconne, de Bach, por exemplo. Sei lá. Acho que ela se sai melhor com compositores mais modernos.

    1. Sim, surpreendentes. Um amigo, após criticar — sem saber — o Menuhin, acabou dizendo que ele era um mero propagandista do sionismo… Não concordo com a afirmação, mas anotei.

      E uma vez fiz o mesmo com cervejas nacionais. Teve gente que estalava os beiços dizendo “essa sim!”, enquanto bebia a que dizia detestar!

  3. Milstein amador?? Caramba, aquelas gravações dele das partitas e sonatas de Bach são absurdas de boa! Cativaram-me à primeira ouvida!

    Mas concedo que nunca ouvi mais nada dele, então pode ser que estejamos comp arâmetros diferentes.

  4. Milstein, um amador?? Ainda bem que não acompanhei essa discussão. Se Milstein era um amador, Joshua Bell é o quê? Um profissional? Aff…

    Quanto ao Menuhin, apesar de não ser dos meus favoritos, não era um “mero propagandista do sionismo” (se fosse, não moraria na Inglaterra e não tocaria com Fürtwangler nos anos 1940). Ele, apesar de gostar de Israel, rejeita o rótulo em sua autobiografia. Possivelmente, caso conhecesse a realidade atual, seguiria as posições de Daniel Barenboim, judeu que apoia publicamente a causa palestina.

  5. Me surpreendeu um pouco essa sua tese, PQP. Não conheço muitos violinistas, mas dos antigos admiro muito Heifetz. Já hoje, tem muitos violinistas, homens e mulheres, não sei dizer, nem me atrevo a dizer, quem é melhor que quem. Mas, será que essa “superioridade” dos modernos sobre os antigos talvez não seja resultado da qualidade das gravações? Porque, veja bem, gravações em CD logicamente que tem um som mais rico e realista do que as em disco de vinil, por exemplo. Na época de alguns o que estava em voga era o disco de vinil, ainda não existia CD, de maneira que a gente não tem uma noção muito boa de como as pessoas realmente os ouviam tocar pessoalmente. Ao passo que hoje em dia tem CD, tem MP3…
    Só pra efeito de comparação, vou colocar aqui um vídeo de Heifetz e depois um da Julia Fischer tocando a mesma obra:
    http://www.youtube.com/watch?v=iRhSUXf_7aI

    http://www.youtube.com/watch?v=l9x0dE5Rda4

    1. “gravações em CD logicamente que tem um som mais rico e realista do que as em disco de vinil, por exemplo.”

      Há quem discorde (e muito) disso. E há razões físicas para isso.

      1. Nunca me convenci dessa história de que “vinil é melhor”. Primeiro, porque conheci alguns senhores que passaram a vida toda ouvindo vinil, mas, ao conhecerem o CD, trocaram tudo. Até se espantam de que tem gente que prefira “aquela porcaria”; dizem que é só saudosismo.

        Segundo, porque para o vinil ter um som ideal, exige-se um cuidado grande demais: agulha correta (ou seja, bem mais cara); sacos de areia para estabilizar o aparelho; lavagem de manutenção dos vinis com silicone…

        Terceiro, a diferença é tão sutil que tem de ser muito chat, digo, perfeccionista para sentir. Eu mesmo tenho um ouvido razoavelmente apurado e não sinto a menor diferença, a não ser que, no vinil, tem muito mais estalos por causa da agulha. 😛

  6. Sim, sim!
    Os modernos/contemporâneos tendem a ser melhores pelo simples fato de que algumas técnicas e nuances da interpretação sequer haviam sido exploradas anteriormente. Quando um intérprete demonstra e que um pizzicato, por exemplo, pode ser feito com peso e agilidades diferentes, ele “abre um precedente” e pode ser imitado por intérpretes posteriores.
    Cultura é acumulativa: os violinistas (citando apenas este instrumento, mas extensível a todos os demais) de hoje executam o que já foi demonstrado por caras como Heifetz e Menuhin, deste para a frente, e esses aí, por sua vez, com certeza não possuíam a mesma técnica de Paganini, mas muita coisa a mais, ensinada por grandes mestres do instrumento que felizmente povoaram nosso mundo.
    Ninguém é insubstituível e todos serão um dia superados. A técnica hoje perfeita poderá ser suplantada por alguém que a aprimore ainda mais no futuro.

    1. Assino embaixo o comentário do bisnaga. Como dizia um antigo patrão : ninguém é insubstituível e diariamente estão surgindo novo instrumentistas que cada vez mais irão acrescentar mais e mais à técnica de seu instrumento.

  7. Realmente ninguém é insubstituível, poderão aparecer interpretes iguais ou melhores do que os grandes do passado… Só que este dia ainda não chegou… Se bem que citando o caso do Menuhin, tem um monte de gente melhor do que ele hoje…
    Não podemos nos enganar com o som das gravações modernas para efeito de comparativo com os violinistas do passado, pois muito do que se ouve hoje não é real, os engenheiros de som conseguem fazer milagres com as gravações…

  8. Com o devido respeito aos que pensam de forma diferente: com a legítima exceção das interpretações “historicamente informadas” de compositores como Bach e, talvez, Mozart, não creio que as gravações contemporâneas de obras fundamentais do repertório violinístico como as sonatas e concertos de Beethoven e Brahms, obras de Paganini e concertos como os de Mendelssohn e Sibelius possam ser tidas como superiores aos pesos-pesados Heifetz, Oistrakh, Milstein e outros de similar importância.

  9. Isso pode ser verdade para outros instrumentos, mas não acontece com violinistas. Em se tratando de violino, dá-se justamente o contrário. Existe uma clara e inequívoca superioridade dos instrumentistas antigos, aqueles que floresceram até mais ou menos a década de 50 do século XX sobre os modernos e que, consiste, essencialmente, no toque pessoal, individual do virtuose em relação à interpretação chapada dos modernos. Mullova, por exemplo, pouco se distingue de um finalista do concurso Wieniawski. Se eu fizesse um outro teste e colocasse gravações de finalistas dos concursos internacionais de violino junto com a de virtuoses famosos como Zimmerman, Vengerov, Hilary Hahn dificilmente o ouvinte poderia distinguir entre estes e os últimos. Se assim o é, então aonde está precisamente a superioridade deles para com os últimos, que justifica que sejam famosos e estejam no topo da aclamação ao artista do instrumento? Publicidade, e ligeiras diferenças técnicas, se muito. Porém, a personalidade do artista não se manifesta numa forma singular de execução violinística.

    Diverso é o caso de virtuoses como Heifetz e Elman, para escolher dois polos. O primeiro leva ao extremo a leveza do arco e consequente velocidade e ferocidade da escola russa de arco, e ao máximo a técnica de pulso na mão direita, dando às suas frases aquele aspecto de extraordinária clareza que elas possuem; os glissandos e portamentos agilíssimos, a pressão dos dedos da mão esquerda aumentando a nitidez das notas, a velocidade da execução dos andamentos rapidos, enfim, poderia continuar descrevendo muitas peculiaridades que fazem do estilo de Heifetz uma criação artística inimitável que, ao mesmo tempo, é também uma tradução da sua personalidade. Quem conhece a sua biografia sabe que ele levou tempo para adquirir esse estilo. Suas gravações juvenis ainda revelam-no um aluno de Auer, com um pouco do maneirismo de alunos do professor hungaro como Zimbalist e Elman. Depois ele vai firmando-se no seu estilo até que surge o Heifetz das primeiras gravações das complete work, já um violinista maduro, com o estilo que expressa a sua personalidade angulosa, austera e sarcástica. Elman é seu extremo oposto. Mestre em ralentar os andamentos, cheio de nuances de volume e tempo, tocando as vezes num rubato permanente – e desconcertante, pra quem não está acostumado – obcecado em obter um som o mais redondo possível, constitui um estilo tremendamente singular no lado oposto. Essa individualidade aparece em todos os grandes virtuoses do fim do século XIX e até meados do século XX, dos quais dispomos de registro (com a única exceção de Szeryng, um violinista “genérico”, sem estilo próprio embora genial e, neste sentido, ainda mais “moderno” que Heifetz). Então, este é um ponto de superioridade artística inegável e significativo.

    A respeito da questão “técnica” acho que se criou um mito da superioridade moderna. Esse mito tem por fundamento a correção das performances atuais, no sentido de que os virtuoses de hoje, mais afeitos desde cedo à disciplina dos concursos de violino, tendem a limpar todas as imperfeições da sua execução. Dificilmente um Vengerov ou Mutter erram uma nota, ou tocam um spicatto que soe mal, ou desafinam uma nota aguda de uma passagem. Mas, isso não significa superioridade técnica, por estranho que pareça minha observação. Isso significa um cuidado ainda mais rigoroso, mais completo, com todos os aspectos da execução da peça. Claro que esse é um ponto a se admirar na rotina dos violinistas atuais. Contudo, em termos de técnica de arco e mão esquerda, o cuidado não significa ascendência técnica. Pode-se notar, por exemplo, a absoluta segurança na articulação do legato em mão esquerda de Milstein, que tornam gravações de obras como o Concerto de Saint-Saens n03 virtualmente insuperáveis. Em geral, a afinação nas passagens agudas de peças difíceis como os caprichos de Paganini é superior a de Mintz ou Markov, interpretes atuais bem conhecidos. Muitíssimas passagens nas sonatas de Brahms e Beethoven aparecem revalorizadas com isso. Observações semelhantes poderiam ser feitas sobre o trabalho de artistas como Leonid Kogan, Francescatti, Ricci, Elman, Heifetz, Grumiaux, e muitos outros. Mesmo violinistas de tecnica menos soberba como Szigetti e Ida Handel tem méritos de estilo e musicalidade que superam amplamente os virtuoses atuais mais conhecidos. Então, em se tratando de violino, o nível atual é bom, mas inferior ao antigo. Realmente, me impressiona que os amigos do PQPBACH tenham se confundido a ponto de considerar Milstein um “amador”. Talvez foram iludidos por uma qualidade inferior de gravação, ou não prestaram bem a atenção, ou ainda não conhecem o instrumento a fundo. Alguém que escute sistematicamente as gravações de Milstein ou de qualquer um dessa categoria não cai num erro de apreciação tão grave. E não se trata de afeto, nostalgia do passado ou coisa similar. É pura objetividade e atenção na apreciação musical, só isso.

    1. Concordo com teu artigo.
      O que me faz valorizar os violinistas mais antigos é justamente a comunhão da técnica,virtuosismo e principalmente a emoção que cada um toca no fundo do coração da gente ,aquele choro irresistível das cordas.
      Como poderia desmerecer os outros violinistas se não sei nem assobiar!!! Um abraço do Dirceu.

  10. Sou fã incondicional da nossa “Dama de Gelo”!
    Mas a “facilidade” que Milstein tocou a chacona da partita n° 2, não pode ser esquecida.

  11. Eu não sou especialista, mas tendo a concordar com a tese. Esse tipo de comentário é muito comum no canto lírico: não há ninguém como Callas, para não dizer Rosa Ponselle, Lily Pons ou Bidu Sayão… No entanto, temos dezenas de sopranos maravilhosas em atividade. Com gravações de alta qualidade. E com acompanhamento instrumental muito mais afinado com os ouvidos contemporâneos (o que, para mim, faz com que dificilmente qualquer gravação de ópera anterior aos anos 1970 consiga competir com versões posteriores).

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