“São na verdade solos de violino sem baixo, três sonatas e três partitas, que, no entanto, podem ser muito bem executadas no teclado”. (Jacob Adlung, Anleitung zu der musikalischen Gelahrtheit, 1758)
“O compositor frequentemente as tocava no próprio clavicórdio, e acrescentava tanta harmonia a elas quanto achasse necessário.” (Johann Friedrich Agricola, 1775, Bach-Dokumente III, Nr. 808)
No ano 2000 foi lançado o resultado de um projeto realizado pela Bachakademie Stuttgart e a gravadora Hänssler Classic – uma caixa com 170 CDs contendo a integral da obra de Johann Sebastian Bach, o santo padroeiro do blog. Já se vai quase um quarto de século e eu ainda não explorei devidamente essa caixota – como diria um de meus mais saudosos amigos.
Pois antes que chegue mais uma dessas efemérides e nova caixas surjam, decidi vasculhar esse material. Algumas de suas preciosidades já foram aqui apresentadas, como a extraordinária gravação das Partitas BWV 825 – 830, pelo regente e cravista Trevor Pinnock.
Para hoje temos a música de Bach interpretada pelo cravista Robert Hill. Nestes dois discos o programa é de transcrições de música escrita originalmente para instrumentos de cordas, como a Partita BWV 1004, escrita para violino solo e que termina com a famosíssima Ciaccona.
As duas frases que estão em destaque no início do texto são evidências da prática comum tanto de Bach quanto das gentes que o cercava de interpretarem assim, ao teclado, música que fora concebida para cordas.
No disco temos transcrições feitas na época de Bach e outras recentes, feitas pelo próprio Robert Hill. Na listagem das obras a seguir isso ficará explicitado. Além disso, diferentes instrumentos de teclado são usados na gravação – cravo, clavicórdio e cravo-alaúde (Lautenklavier).
Espero que você ouça a música sem maiores preocupações com originalidade ou não, simplesmente desfrutando esse universo sonoro decididamente Bachiano. Veja que Robert Hill reúne excelente formação musical, experiência, prática e é músico de mão cheia. Há mais contribuições dele na nossa fila de espera…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
CD1
Partita em sol menor (transcrição da Partita em ré menor BWV 1004, por Robert Hill)
- Allemanda
- Corrente
- Sarabanda
- Giga
- Ciaccona
Sonata em ré menor BWV 964 (transcrição da Sonata em lá menor BWV 1003)
- Grave
- Fuga
- Andante
- Allegro
Sonata em sol maior BWV 968 (transcrição da Sonata em dó maior BWV 1005 – movimentos 2 a 4 por Robert Hill)
- Adagio
- Fuga – Alla Breve
- Largo
- Allegro Assai
Robert Hill, cravo
CD2
Partita em mi maior BWV 1006a
- Preludio
- Loure
- Gavotte En Rondeau
- Menuet I
- Menuet II
- Bourrée
- Gigue
Sonata em dó maior BWV 966 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
- Prélude
- Fuga
- Adagio/Presto
- Allemande
Adagio em lá menor BWV 965 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
- Adagio
Sonata em lá menor BWV 965 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
- Adagio
- Fugue
- Adagio/Presto
- Allemande
- Courante
- Sarabande
- Gigue
Fuga em si bemol maior BWV 954 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
- Fuga
Sonata em dó menor (transcrição da Sonata em sol menor BWV 1001 feita por Robert Hill)
- Adagio
- Allegro
- Siciliana
- Presto
Robert Hill, cravo-alaúde (1-7, 20-24), clavicórdio (8-12), cravo (13-19)
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 | 320 KBPS |322 MB
Para saber um pouco mais sobre R Hill, clique aqui.
Particularmente interessantes as faixas 12 e 13, nas quais a mesma música, composta por Reincken e transcrita para teclado por Bach, é interpretada ao calvicórdio e logo a seguir ao cravo, permitindo comparar a sonoridade dos dois instrumentos.
Johann Adam Reincken foi, assim como Dietrich Buxthehude, compositor e organista de uma geração anterior a J.S. Bach. Ambos eram expoentes na arte da improvisação e serviram como modelo para Bach, que visitou ambos em sua juventude, como parte de sua formação.
Reincken era organista em Hamburgo onde foi visitado por Bach mais uma vez em 1720, quando este fora até a cidade em busca de uma posição. Nesta ocasião Bach deu um concerto no órgão da Igreja de Santa Catarina, instrumento do qual ele muito gostava, com a presença de Reincken, que lhe pedira uma improvisação sobre o coral luterano An Wasserflüssen Babylon. Conta a história que o velho músico teria dito a Sebastian: Eu achava que esta arte [da improvisação] estivesse extinta, mas pude ver que ela ainda vive em você.
Aproveite!
René Denon
Estranho instrumento, o cravo-alaúde com suas sonoridades ressoantes. Fica logo clara sua fraqueza: como as notas soam misturadas, perde-se a transparência do cravo que tanto convém nas fugas e invenções a 2 ou 3 vozes…
Mas o cravo-alaúde também deve ter suas qualidades, até porque Bach usava esse estranho instrumento-quimera e ele não costumava dar tiro no próprio pé! Como gosto de coisas estranhas, vou baixar e explorar, talvez com alguma calma, dando tempo ao tempo. Abraços