180 anos de Edvard Grieg!
Muita gente já ouviu o Concerto de Grieg sem saber: o seu começo grandioso foi muito usado (ou imitado?) em trilhas sonoras e semelhantes. Grieg esboçou um outro concerto para piano mas nunca conseguiu terminá-lo. Se ele não chega a ser um one-hit-wonder, pois tem peças orquestrais que fazem parte do repertório usual até hoje, é verdade que para muita gente, inclusive este que aqui escreve, seu nome é quase sinônimo desse concerto que dá início a um romantismo exagerado para piano e orquestra que seria retomado por gente como Rachmaninoff e Addinsel.
Grieg, além de compositor, era pianista de concerto. Entre suas obras para piano solo, destacam-se as Peças Líricas, publicadas em vários grupos separados. Além de meia dúzia de gravações integrais, algumas peças avulsas dessa coleção eram parte dos recitais de grandes nomes como Emil Gilels e Nelson Freire (aqui em uma de suas últimas apresentações no Brasil). Há também, para piano, uma bela Balada op. 24, um pouco mais longa que as Peças Líricas e estruturada na forma de tema e variações. Mas não tem jeito: seu carro-chefe pianístico é o concerto em lá menor, que trago aqui com um grande pianista, falecido há poucos meses, e que merece uma homenagem colada com essa do aniversário do compositor norueguês.
Nascido Max Jakob Pressler em Magdeburg (Alemanha) em 16/12/1923, o pianista era filho de um casal judeu que teve sua loja de roupas destruída na Kristallnacht em 1938. Fugiram dos nazistas em 1939 e Max mudou seu primeiro nome para Menahem, sem dúvida para fugir da sonoridade alemã. Seus avós e tios morreram em campos de concentração.
O primeiro sucesso de Pressler foi ao vencer um Concurso Debussy de piano em San Francisco em 1946. No ano seguinte, tocaria o Concerto de Schumann no Carnegie Hall com Eugene Ormandy. Em 1955, participou de um festival com o violinista Daniel Guilet e o violoncelista Bernard Greenhouse. Chamados para gravar trios de Mozart, eles adotaram o nome Beaux Arts Trio: com um início modesto, o grupo foi ganhando o respeito do público e foi extremamente longevo, durando até 2008 (Pressler foi o único membro que não mudou).
Terminado esse período de mais de 50 anos com o trio, Pressler não se aposentou: gravou Debussy e Ravel pela DG (e recebeu o prestigioso selo de IMPERDÍVEL de PQP Bach), se apresentou em grandes salas sozinho e ainda acompanhou o cantor Mathias Goerne. Vejamos a crítica de um recital de Lieder de Schumann por Pressler/Goerne em 2015 no Wigmore Hall, Londres:
Não é muito comum ver subir no palco um artista de 91 anos. (…) Menahem Pressler não é um acompanhador qualquer, evidentemente. É só ele colocar as mãos sobre o teclado que somos inundados pela emoção, a emoção que sai sai de seus dedos para instantaneamente invadir toda a sala. Seu toque é entrelaçado por uma multidão de intenções musicais, variadas, sutis, revelando uma inventividade e uma inspiração sem fim. Sentimos a malícia em Pressler, uma vontade mais forte que tudo de tocar, mas sobretudo uma sensibilidade enorme, perceptível em tudo, seu fraseado, sua concentração, seu olhar muito vivo e rápido.
Nas gravações do CD de hoje, feitas em Viena quando Pressler era relativamente jovem (cerca de 40 anos), ele mostra algumas dessas qualidades que iriam maturar com as décadas, especialmente um fraseado com intenções sutis, sem clamar por atenção mas povoando a música de Grieg de discretas invenções aqui e ali, o que ele também fez em suas dezenas de gravações de música de câmara. E o concerto de Mendelssohn? Prefiro nem comentar muito, mas acho sem graça, sem as belas melodias das suas Canções sem palavras nem a orquestração mais interessante da Sinfonia Italiana ou Sonho de uma noite de verão.
Edvard Grieg: Piano Concerto in A Minor (1868)
I. Allegro molto moderato
II. Adagio
III. Allegro moderato molto e marcato – Quasi presto – Andante maestoso
Felix Mendelssohn Bartholdy: Piano Concerto in G Minor (1831)
I. Molto Allegro Con Fuoco
II. Andante
III. Presto – Molto Allegro Vivace
Menahem Pressler, piano
Wiener Festspielorchester – Jean-Marie Auberson, conductor (Grieg)
Orchestra Of The Vienna State Opera – Hans Swarowsky, conductor (Mendelssohn)
Original LP releases: 1964 (Mendelssohn), 1965 (Grieg)
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Pleyel