.: interlúdio :. Billie Holiday (1915-1959): All or nothing at all – Songs for Distingué Lovers & Body and Soul (Produção de Norman Granz – Verve) ֍

All or nothing at all

Songs for Distingué Lovers

Body and Soul

Billie Holiday, vocals

Harry “Sweets” Edison, trumpet

Bem Webster, tenor sax

 

Jimmy Rowles, piano

Barney Kessel, guitar

Red Mitchell or Joe Mondragon, bass

Alvin Stoller, drums

 

Ela nasceu Eleanora Fagan, em 1915. Tornou-se Billie Holiday, cantora inovadora e precoce. Viveu num período difícil de ser mulher negra americana e teve uma vida cheia de relacionamentos complicados, com pessoas e substâncias. Ganhou de seu amigo e parceiro musical Lester Young o (lindo) apelido Lady Day. É uma das cantoras americanas mais incônicas e ao ouvir sua voz você entenderá a razão. Seu legado é apaixonante.

Suas principais inspirações, segundo ela mesma, foram Louis Armstrong e Bessie Smith, que ela conheceu ouvindo seus discos nos lugares onde viveu, trabalhou e começou a cantar. Ela tentava fazer com sua voz aquilo que ouvia Louis fazer com seus solos de trompete e de Bessie admirava a maneira intensa como ela cantava blues e como usava as suas características vocais.

Billie viveu 44 anos, dos quais muitos foram minados pelos seus problemas pessoais, mas seu legado é enorme. Aos 23 anos já havia gravado ou se apresentado com personalidades do jazz tais como Duke Ellington, Count Basie, Lester Young, Teddy Wilson, Benny Carter, Artie Shaw, entre outros.

Lester ‘Prez’ Young

Seu estilo de cantar se concentrava nas palavras, nas letras das canções, sua dicção e a maneira como apresenta a canção são inesquecíveis. Nesta postagem apresentaremos música que ela gravou em dois períodos (principais) de sua carreira. Por sete anos, iniciando em 1935, gravou lindas canções acompanhadas do pianista Teddy Wilson e seus músicos. Entre essas teremos as típicas I’ll Never Be the Same e Mean to Me, gravações onde poderemos ouvir o saxofone de seu amigo Lester Young, que ganhou dela o apelido de President, Prez… O estilo de Lester Young contrastava enormemente dos saxofonistas famosos daquela época, como Coleman Hawkins, por adotar uma maneira mais relaxada de tocar, mais cool, usando sofisticadas harmonias.

Norman Granz, produtor (Verve)

A partir de 1952 Billie Holiday gravou muitas canções para o selo Clef (posteriormente Verve) do produtor Norman Granz, culminando com uma série de seções em agosto de 1956 e janeiro de 1957.

O contraste entre as gravações feitas com Teddy Wilson e as gravações no selo Verve é grande. Muitos preferem as primeiras, onde a voz de Billie está em boa forma e as canções são dançantes e alegres. Nas gravações posteriores, a voz da cantora já apresentava o desgaste resultante de sua vida difícil. Por outro lado, a qualidade das canções escolhidas é espetacular assim como o acompanhamento musical, sem contar a qualidade sonora. Além disso, as interpretações certamente amadureceram com a cantora que ainda contava com perto dos 40 anos.

Ben Webster, sax tenor nas gravações da Verve

Escolhi três discos (CDs) para a postagem. Um disco de banca, da Coleção da Folha de São Paulo, trazendo 10 canções com produção de Norman Granz, gravadas principalmente em 1952, e 3 canções cujos acompanhamentos são de Teddy Wilson, gravadas na década de 1930.

Os outros dois CDs formam o Volume 7 da Billie Holiday Story na Verve. Esse conjunto reúne 26 canções que foram gravadas nas das seções de 1956 e 1957 e foram lançadas em três LPs – Body and Soul (1957), Songs for Distingué Lovers (1958) e All or Nothing at All (1959).

 

O primeiro CD dá um panorama desses dois períodos e contém algumas pérolas musicais, como Blue Moon, Love for Sale e How Deep is the Ocean? As outras músicas que formam os três LPs lançados entre 1957 e 1959 são verdadeiras joias musicais e formam um conjunto de canções americanas praticamente insuperáveis. Todos os monstros sagrados da música americana as gravaram e vários deles se declararam influenciados pelas interpretações de Billie Holiday. Você encontrará essas músicas associadas a nomes como Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, entre outros. Os músicos que a acompanharam nestas gravações eram os melhores e todos se conheciam muito bem. No libreto descobrimos que essas gravações pareciam ser apenas ‘one more for the road’ – apenas uma saideira, até a próxima seção, mas tornaram-se muito especiais. Nestas canções, a cantora deu uma dimensão a mais, devido às suas experiências pessoais e com a música. Como disse Miles Davis: ‘Sometimes you can sing a song words every night for years, and all of a sudden it dawns on you what the song means’ (Você pode cantar as palavras de uma canção por anos a fio, e assim como que de repente, o significado da canção se revela para você). Ele certamente disse com bastante mais poesia…

Se você não conhece a língua inglesa, mas tem alguma curiosidade, vale a pena penetrar em algumas dessas canções. Eu sou fascinado por elas e acho que merecem nossa atenção por si só, mas a interpretação da Billie joga ainda mais beleza sobre elas.

Os compositores e letristas desse conjunto de canções formam um grupo formidável, como os irmãos Gershwin, Irving Berlin, Cole Porter, Kurt Weil e Duke Ellington, alguns dos mais conhecidos. Muitas delas foram escritas para musicais da Broadway e algumas foram cantadas pela primeira vez por Bing Crosby, no palco e nos filmes. As letras são a um tempo imaginativas e cativantes. Uma boa maneira de penetrar na língua inglesa, pelo menos como é falada na terra do Tio Sam.Se você tiver pouco tempo para essa coisa das letras, escolha algumas poucas e faça uma tentativa. As recompensas podem ser enormes. Veja, por exemplo, Let’s Call The Whole Thing Off, de George e Ira Gershwin. A canção é uma enorme brincadeira sobre as diferentes maneiras de pronunciar as palavras, dependendo do sotaque: you say ‘ider’ and I say ‘aider’, you say ‘nither’ and say ‘naither’… Adorable! Essa canção também faz parte do repertório de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, jogando um para o outro…

Outra letra adorável é Comes Love, de Lew Brown. Diante de qualquer eventualidade, mesmo uma dor de dente, você já sabe o que fazer… mas quando é amor, nothing can be done! Nada se pode fazer. Ah, e a música! Solos de guitarra, de sax, intermediados com as letras. Você precisa ouvir muitas vezes.

Há canções que contam uma pequena história, ou narram uma cena, coisa de crônica. Veja, por exemplo, A Foggy Day, ainda dos irmãos Gershwin. Em poucas palavras descobrimos que a americana está em um nublado dia em Londres, se arrastando pelo Museu Britânico, mas o dia se torna ensolarado (metaforicamente, dã…) com a presença de ‘alguém’… E lá está, de novo, a música do pequeno enorme conjunto musical. Outra pequena crônica está em One For My Baby (And One More for the Road). O pobre garçom do bar tem que ouvir mais uma história…

Aqui LD ao lado de Jimmy Rowles, o pianista das gravações para a Verve

Todas as letras dessas canções estão ao alcance de seus dedos, na internet, e se você se der ao trabalho, dobrará ainda mais o prazer de ouvir a maravilhosa Lady Day, acompanhada por Ben Webster, ora por Lester Young ou Oscar Peterson e tantos outros.

Moonlight in Vermont e Stars Fell on Alabama são também inesquecíveis. Na verdade, não se pode deixar qualquer uma de fora.

 

Solitude (Coleção Folha de S.Paulo)

  1. Solitude (Ellington/Mills/De Lange)
  2. Blue Moon (Rodgers/Hart)
  3. East of the Sun (Bowman/Brooks)
  4. These Foolish Things (Link/Marvell/Strachey)
  5. Tenderly (Gross/Lawrence)
  6. Autumn in New York (Vernon Duke)
  7. Love for Sale (Cole Porter)
  8. Stormy Weather (Arlen/Koehler)
  9. Yesterdays (Kern/Harbach)
  10. How Deep Is the Ocean? (Irving Berlin)
  11. I’ll Never Be the Same (Kahn/Malneck/Signorelli)
  12. Mean to Me (Turk/Ahlert)
  13. Miss Brown to You (Rainger/Robin/Whiting)

Billie Holiday, vocals

Faixas 1 a 6: Charlie Shavers (trompete); Flip Phillips (sax tenor); Oscar Peterson (piano); Barney Kessel (guitarra); Ray Brown (baixo); Alvin Stoller (bateria); Norman Granz (1952)

Faixa 7: Oscar Peterson (piano); Norman Granz (1952)

Faixas 8 e 9: Joe Newman (trompete); Paul Quinichette (sax tenor); Oscar Peterson (piano e órgão); Freddie Green (guitarra); Ray Brown (baixo); Gus Johnson (bateria); Norman Granz (1952)

Faixa 10: Charlie Shavers (trompete); Oscar Peterson (piano), Herb Ellis (guitarra); Ray Brown (baixo); Ed Shaughnessy (bateria). Norman Granz (1954)

Faixas 11 a 13: Teddy Wilson (piano); Buck Clayton (trompete, 11 e 12); Roy Eldridge (trompete, 13); Buster Bailey (clarinete, 11 e 12); Benny Goodman (clarinete, 13); Lester Young (sax tenor, 11 e 12); Ben Webster (sax tenor, 13); Freddie Green (guitarra, 11); Allan Reuss (guitarra, 12); John Trueheart (guitarra, 13); Walter Page (baixo, 11); Artie Bernstein (baixo, 12); John Kirby (baixo, 13); Jo Jone (bateria, 11); Cozy Cole (bateria, 12 e 13) – (1937, 11 e 12; 1935, 13)

Lester ‘President’ Young

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MP3 | 320 KBPS | 96 MB

Body and Soul

  1. Body And Soul (John W. Green – Edward Heyman – Robert Sour – Frank Eyton)
  2. They Can’t Take That Away From Me (George e Ira Gershwin)
  3. Darn That Dream (James Van Heusen – Edgar de Lange)
  4. Let’s Call The Whole Thing Off (George e Ira Gershwin)
  5. Comes Love (Lew Brown – Sam H. Stept – Charles Tobias)
  6. Gee, Baby, Ain’t I Good To You (Donald Matthew “Don” Redman – Andy Razaf)
  7. Embraceable You (George e Ira Gershwin)
  8. Moonlight In Vermont (Karl Suessdorf – John Blackburn)

Songs For Distingué Lovers

  1. Day In, Day Out (Rube Bloom – John Herndon “Johnny” Mercer)
  2. A Foggy Day (George e Ira Gershwin)
  3. Stars Fell On Alabama (Frank S. Perkins – Mitchell Parish)
  4. One For My Baby (And One More For The Road) (Harold Arlen – Johnny Mercer)
  5. Just One Of Those Things (Cole Albert Porter)
  6. I Didn’t Know What Time It Was (Richard Rodgers – Lorenz Hart)

All or Nothing at All

  1. Do Nothin’ Till You Hear From Me (Edward Kennedy “Duke” Ellington – Bob Russell)
  2. Cheek To Cheek (Irving Berlin)
  3. Ill Wind (You’re Blowin’Me No Good) (Harold Arlen – Theodore “Ted” Koehler)
  4. Speak Low (Kurt Weill – Ogden Nash)
  5. I Wished On The Moon (Ralph Rainger – Dororthy Parker)
  6. But Not For Me (George e Ira Gershwin)
  7. All Or Nothing At All (Arthur Altman – Jack Lawrence)
  8. We’ll Be Together Again (Carl Fischer – Frankie Lane)
  9. Sophisticated Lady (Duke Ellington – Mitchell Parish – Irving Mills)
  10. April In Paris (Vernon Duke – E. Y. “Yip” Harburg)
  11. Say It Isn’t So (Irving Berlin)
  12. Love Is Here To Stay (George e Ira Gershwin)

Billie Holiday, vocal

Harry Edison, trumpet

Ben Webster, tenor saxophone

Jimmy Rowles, piano

Barney Kessel, guitar

Red Mitchell, double bass

Alvin Stoller, drums

Joe Mondragon, double bass

Larry Bunker, drums

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

MP3 | 320 KBPS | 311 MB

Billie Holiday, a Lady Day!

Aproveite!

René Denon

10 comments / Add your comment below

      1. Olá RD, Você estaria interessado nisso? Emil Gilels – Gravações inéditas de-Yokohama-e-Tóquio-1984 – Brahms – Mendelssohn – Schumann Flac

          1. Obrigado René. Vou ouvir isso hoje à noite com o meu café depois do jantar. Gilels sempre me impressiona. Ele é um dos grandes do piano. ☺☺☺

          2. Caro René, Obrigado, obrigado, obrigado por esta gravação surpreendente de Emil Gilels. É uma pena que Beethoven não tenha podido estar presente para ouvir este concerto de Emil Gilels. Certamente o melhor Waldstein de todos os tempos. @}–>->-| abraços, Albert

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