Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos (para piano, clarinete, violino e violoncelo)


IM-PER-DÍ-VEL !!!

O Quarteto para o Fim dos Tempos foi estreado diante de todos os prisioneiros no pátio gelado do campo de concentração de Stalag VIII A de Görlitz, na fronteira sudoeste da Polônia. Era o dia 15 de janeiro de 1941 e nevava. Menos de dois anos antes, em setembro de 1939, a França entrara na Segunda Guerra Mundial. Messiaen fora chamado para servir o exército e, poucos meses depois, em maio de 1940, durante uma ofensiva alemã, foi capturado e levado para o campo de concentração.

O Quarteto foi estreado por Messiaen ao piano, mais Henri Akoka (clarinete), Jean le Boulaire (violino) e Étienne Pasquier (violoncelo). Nenhum dos três era músico profissional. Acontece que o oficial nazista responsável pelo Stalag gostava de música e, quando soube da presença de Messiaen, deixou que o compositor trabalhasse a fim de fazer um concerto. Seu nome era Karl-Albert Brüll, um apreciador da música do compositor. Ele proporcionou a Messiaen “condições ‘excepcionais” de trabalho. Deu-lhe lápis, borrachas e papel de música. Também foi-lhe permitido isolar-se num quarto vazio com um guarda de plantão à porta a fim de evitar que fosse incomodado.

Messiaen escreveu, para os únicos outros instrumentistas que lá estavam presos (um violoncelista, um violinista e um clarinetista), um breve trio que foi posteriormente inserido na obra como quarto movimento. Depois, com a chegada de um piano, Messiaen compôs o resto da obra, assumindo o instrumento.

O católico Messiaen propôs que sua obra fosse uma meditação sobre o Apocalipse de João (10, 1-7). A partitura é encabeçada com o seguinte excerto: “Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo, quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.

A estruturação do Quarteto em oito movimentos é explicada por Messiaen da seguinte forma: “Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo Sábado divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz inalterável”.

Olivier Messiaen (1908-1992): Quarteto para o Fim dos Tempos
(para piano, clarinete, violino e violoncelo)

1. Liturgia de cristal 3:01
2. Vocalise, para o anjo que anuncia o fim dos tempos 5:30
3. Abismo dos pássaros 8:48
4. Intermezzo 1:48
5. Louvor à eternidade de Jesus 9:58
6. Dança da fúria para as sete trombetas 5:40
7. Turbilhão de arco-íris, para o anjo que anuncia o fim dos tempos 8:19
8. Louvor à imortalidade de Jesus 9:14

Gil Shaham, violino
Paul Meyer, clarinete
Jian Wang, violoncelo
Myung-Whun Chung, piano

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Messiaen: obra-prima escrita num campo de concentração
Messiaen: obra-prima escrita num campo de concentração

PQP

11 comments / Add your comment below

  1. Parabéns pela postagem, mas não consigo acessar o link. Recebo uma mensagem que o arquivo não está mais lá (e nunca tive problemas semelhantes neste glorioso site).
    Um abraço!!!

  2. Não sei se foi apenas comigo. Tentarei baixar mais tarde, mas a faixa 3 está com problemas na hora de descompactar.

    Obrigado pela bela postagem!

  3. Não sabia dessa história fantástica sobre a composição de tal obra. Realmente é imperdível, tão somente pelo conteúdo histórico.
    Obrigado.
    Abraço.

  4. Este site é mesmo maravilhoso! Além de disponibilizar as obras, o que já seria fantástico, ainda nos brinda com esses contextos em que as obras foram criadas. E em português! Pena não ter descoberto este site antes.
    Um afetuoso abraço a todos os seus colaboradores. Tudo gente fina.

  5. Ouvi 3 vezes essa composição Histórica de Messiaen.
    Os 4 instrumentos estão tristes,inconformados e desolados.
    Um lamento lancinante daquele horror.Grato.Abraço do Dirceu.

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