Dias atrás, revalidei o link de um CD postado pelo Carlinus com este mesmo concerto. Não creio que alguém vá se incomodar com a repetição da dose, agora com Pollini — meu pianista preferido — e Thielemann. Este concerto de belíssimo e um tanto fantasmagórico primeiro movimento é das absolutas preferências dos membros do PQP. Ao menos é o que parece. Baixe agora porque vale a pena.
Abaixo copio para vocês um post deste blog:
A tentativa de suicídio do Sr. Pollini
Defina arte. Se você puder. O momento exato em que um objeto, um som, uma imagem ou um poema deixam de ser somente um objeto, um som, uma imagem e um poema, para adquirir um status outro. Ou adquirir um significado novo. Mesmo, que você reconheça o objeto, o som, a imagem ou o poema, existe algo que naquele instante modifica esses elementos e traz uma concepção ou um sentimento inesperado.
Ontem, por volta das 5 da tarde, em NY, o Sr. Pollini tentou o suicídio na minha frente. Em pleno Carnegie Hall lotado. E acredite, isso foi inesperado. Pollini tem 68 anos de idade, uma carreira internacional consolidada (que começou aos 18 anos, após vencer o Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia) e o status de lenda. Um dos últimos grandes pianistas do século passado ainda em atividade. O Sr. Pollini não precisa provar a ninguém o quão grande ele é (apesar de ser baixinho). Mas, intencionalmente, após um recital de quase duas horas de duração – o terceiro e último de uma série que relembrou os 200 anos da morte de Chopin – o Sr. Pollini tentou o suicídio.
Críticos do pianista não cansam de anunciá-lo como um intérprete seco, rígido e sem emoção. Enganam-se em suas análises. Toda a contenção em Pollini tem um propósito. Toda a contenção em Pollini direciona-se à verdade da escrita musical. Toda energia contida é liberada no momento certo, na proporção exata e isso é arte. Não é possível negar o lirismo nos Noturnos Op.55 ou na Barcarolla Op.60 (e ele não nega). Mas quem mais, nessa faixa de grandeza, pode apresentar uma Berceuse Op.57 tão límpida e plácida? Pollini toca a Berceuse como se estivesse tocando um dos estudos para piano de Ligeti – total independência rítmica e melódica. De fazer a inveja a qualquer um dos pretensos superpianistas chineses atualmente “disponíveis no mercado”.
A última peça do programa foi a última sonata escrita Chopin, Op.58, obra de sua maturidade. Novamente, impressiona a precisão, a clareza e velocidade com que a música flui. Público uivando de felicidade ao fim do concerto, aplaude de pé o pianista. Ele volta ao palco e após três tentativas de escape, engata – como encore – a terceira Balada. Corajoso, diriam muitos. Novamente o público agradece com aplausos e gritos de “bravo”. Parecia já ter terminado, após quase duas horas de música, quando o pianista retorna mais uma vez para agradecer e inspirado, decide se suicidar. Joga-se ao piano sem aviso prévio à audiência, e ataca o temido Estudo Op.10 no.4 – o mais difícil de toda a safra de estudos para piano escrita por Chopin. Poucos o tocam dentro de um programa bem planejado. Ninguém toca algo assim como encore. Só ele. Ao término, sorrindo, agradece à plateia emudecida e o confessa a tentativa de suicídio. É o inesperado que faz a arte. O mundo precisa demais desses loucos pianistas suicidas.
Johannes Brahms (1833-1897): Concerto para Piano Nº 1, Op. 15
1. Piano Concerto No.1 in D minor, Op.15 – 1. Maestoso – Poco più moderato 21:02
2. Piano Concerto No.1 in D minor, Op.15 – 2. Adagio 12:31
3. Piano Concerto No.1 in D minor, Op.15 – 3. Rondo (Allegro non troppo) 11:56
Maurizio Pollini, piano
Staatskapelle-Dresden
Christian Thielemann, conductor
PQP
Este é um dos melhores blogs que eu conheço. Agradeço ao PQP Bach por me revelar tantos tesouros da música erudita. Muito obrigado mesmo!
De nada, Stálin!
HAHAHAHAHAHA
Bem, eu não só já ouvi, como também pude assistir a essa parceria na televisão. Muito boa, de alta qualidade (“Deus em ação”, não é?…)
Uma curiosidade, será que com Deus ao piano, PQP conseguiria apreciar Chopin ou o concerto de piando de Dvorak?
Ótimo CD.
Já ouvi Chopinho com deus e achei um desperdício de pianista. (Não chego a detestar Chopin, deixo isso para Rachmaninov). Concerto de Dvorak… Brincadeira, né?
Achava uma bela merda esse concerto. Ouvi há um tempo a versão do Richter com Kleiber e mudei de idéia, mas é a única gravação que gosto. Se ainda não conhecer e tiver estômago, postarei no meu blog mais cedo ou mais tarde.