Quem tem medo de Arnold Sch… ?
Bem não estou falando do austríaco fortão que ficou famoso como fisiculturista e ator, chegando a ser o governador da Califórnia, mas sim do outro Arnold, o Schoenberg, inventor de uma maneira totalmente nova de compor.
Podemos dizer que Arnold Schoenberg foi o compositor mais estudado e falado do século 20, mas também teve sua música bem pouco executada. Uma de suas peças bem conhecidas é o Sexteto de Cordas Verklärte Nacht (Noite Transfigurada), escrita em 1899 e se enquadra perfeitamente ao lado das peças da época – do romantismo tardio de Richard Strauss, por exemplo. Mesmo esta, que hoje poderíamos considerar peça comum nos programas de concertos e discos, foi recebida com pouco entusiasmo nos dias de sua composição.
Nesta época de vacas magérrimas, no primeiro quarto do século 20, quando sua própria música não tinha qualquer chance de ser executada, Arnold fez muitas adaptações e arranjos de música de outros compositores, regeu coros amadores e até orquestrou algumas operetas para compositores muito ocupados… Tudo para colocar das Brot auf den Tisch. Obras do escopo de Guerrelied estavam a caminho, mas tiveram que esperar. Quem sabe algum dos nossos colaboradores mais versados nas obras deste compositor e de seus discípulos se anime e prepare assim uma cesta básica para a iniciação nessas obras.
A motivação da postagem de hoje – 23 de dezembro de 2021 – é ilustrar uma parte mais intimista e mais acessível do Arnold, além de apresentar uma peça que estreou exatamente 100 anos atrás, no dia 23 de dezembro de 1921, a Weihnachtsmusik.
Como era essencialmente impossível ter suas peças apresentadas regularmente em Viena, no início do século 20, Schoenberg fundou em 1918 uma Sociedade para Performances Musicais Privadas, que oferecia concertos semanais de música de câmara para audiências que se subscreviam e estavam interessadas nas novidades.
As peças eram compostas ou arranjadas para os programas e estes arranjos eram feitos por diversos músicos, pois que havia um espírito de coletividade pairando sobre a sociedade, tudo sob a liderança do Arnold.
Este disco é uma boa mostra do que ocorria nestes concertos: obras de Mahler e Busoni ao lado de valsas de Strauss, Johann Strauss II. Com destaque para esta linda peça que Arnold compôs de olho no Natal de 1921.
Feliz Natal!
Arnold Schoenberg (1874 – 1951)
Weihnachtsmusik, para harmônio, piano e quarteto de cordas
Gustav Mahler (1860 – 1911)
Lieder eines fahrenden Gesellen
(arr. A. Schoenberg voz, piano, flauta, clarinete, harmônio e quarteto de cordas)
I Wenn mein Schatz Hochzeit macht
II Ging heut’ morgen ubers Feld
III Ich hab’ ein gluhend Messer
IV Die zwei blauen Augen
Ferrucio Busoni (1866 – 1924)
Berceuse élégiaque, Op. 42
(Arranjo para harmônio, flauta, piano, clarinete e quarteto de cordas)
Johann Strauss, II (1825 – 1899)
Kaiser-Walzer, Op. 437
(arranjo para piano, flauta, clarinete e quarteto de cordas)
Rosen aus dem Süden, Op. 388
(Arranjo para piano, harmônio e quarteto de cordas)
Jean-Luc Chaignaud, barítono (Mahler)
Isabelle Berteletti, percussão (Mahler)
Louise Bessette, piano
Hakon Austbo, harmônio
Michel Moragues, flauta
Paul Meyer, clarinete
Arditti Quartet
Irvine Arditti e Avid Alberman, violinos
Levine Andrade, viola
Rohan de Saram, violoncelo
Michel Béroff, direção
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MP3 | 320 KBPS | 158 MB
Olá, Obrigado
Não conheço as composições de Schoenberg.
No post diz: “inventor de uma maneira totalmente nova de compor.”
Qual é essa maneira nova?
Olá, Sanetha!
Schoenberg introduziu uma nova concepção para compor, o dodecafonismo ou música atonal. Como podemos adivinhar, a música mais comum é tonal, baseada em uma nota dominante. Por isso, títulos como Concerto para Piano em sol maior. Wagner foi um dos primeiros compositores a compor música na qual não se definia um tonalidade, ao compor o Prelúdio da ópera Tristão e Isolda.
Isso é bem técnico e eu certamente não tenho formação suficiente para explicar, mas você poderá descobrir essas coisas ouvindo algumas das peças de Schoenberg, Webern e Berg, que são os principais representantes deste tipo de composição, do início do século XX.
Aqui tem um artigo que pode acrescentar mais algumas coisas…
https://manifestasol.wordpress.com/2010/11/30/musica-atonal-e-o-dodecafonismo/
A brincadeira com o outro Arnold é por que a música atonal, por ser bastante diferente da música que mais comumente ouvimos, pode espantar os ouvintes.
Talvez, para apreciar mais, deve-se começar aos poucos e com alguma abertura de mente…
Uma das brincadeiras é que seria impossível ‘assobiar’ uma peça deste tipo de música.
Espero que você se divirta explorando essas peças…
Abraços e Feliz Natal!
RD
Só pra ajudar na resposta ao/à Sanetha,
Autores como Liszt (últimas obras incluem uma “Bagatelle sans tonalité”), Wagner, Debussy e Scriabin, às vezes também Mahler e L.Boulanger, tatearam a música atonal em vários momentos, seja com muitos sons alterados (sustenidos e bemóis) seja com modulações sem parar (modulação é quando muda o tom, como por exemplo no final daquelas músicas pop tipo Celine Dion / música gospel, em que sobe o tom pra dar mais emoção). Nas obras desse pessoal entre 1880 e 1920, muitas vezes a tonalidade ficava bem difícil de achar…
Schoenberg, então, é um dos vários pais (e algumas mães) da música atonal ocidental. O dodecafonismo sim ele inventou: é uma forma bem específica de se escrever música atonal.
Eu pessoalmente gosto mais de obras que usaram o dodecafonismo tempos depois, com mais distanciamento, usando as regras mais no espírito “para serem quebradas” como Messiaen, Almeida Prado e Lutoslawski.
Em todo caso, sempre podemos rever nossas preferências e essa música de Natal do austríaco, que eu não conhecia, é um bom momento pra isso.
Boas festas pros amigos!