Ao comemorarmos estes 15 anos de P.Q.P. Bach, ressaltamos nossa paixão pela música. E assim, como todos os entusiastas, nestes momentos, somos invadidos por certa nostalgia… Pelos caminhos que percorremos, movidos pela curiosidade e imaginação, e que levaram a tantas descobertas…
Segue “Hedwig’s Theme”, do filme “Harry Potter”, com a grande Anne-Sophie Mutter, John Williams e “Vienna Philharmonic”…
Certamente, guardamos incríveis experiências… De como fomos surpreendidos com seus truques e como esta arte nos capturou, tornando-se indispensável à existência e cotidiano… Reservei nesta publicação, algumas lembranças que representam tais descobertas, moldando o aprendizado e gosto pessoal… E procuramos mesclar o repertório, entre o leve e o denso, visto que música pode nos emocionar de diversas formas e cores interiores…
Segue “Mon cœur s’ouvre à ta voix”, da ópera “Samson et Dalila” de Saint-Saëns, na belíssima voz de Shirley Verrett…
Em geral, as primeiras experiências vem da infância e do ambiente familiar. Afinal, somos embalados com música desde que nascemos… E meu pai se esforçava na velha “canção da cavalaria”, um canto sóbrio e dolente… E nosso universo familiar incluía também tangos argentinos – “Silencio” e “Cuesta Abajo”, de Gardel; ou canções como “Maria Bethânia” de Capiba, na bela voz de Nelson Gonçalves…
Também intenso foi o contato com o folclore pernambucano. Sobretudo no carnaval de Recife, onde o frevo revelava a energia e rica polifonia das bandas de sopros. Gostava tanto de música, que ficava à frente da eletrola trocando os discos e selecionando o que mais me agradava… Nesta época, também fomos impactados pelos “Beatles” e pela “Jovem Guarda”… E lembro de cantar em quarteto vocal, na escola, “Quero que vá tudo pro Inferno”, de Roberto e Erasmo Carlos…
A seguir, “Moraes é Frevo” (Spok), com “SpokFrevo Orquestra”…
Em casa apreciava-se música, popular e erudita. E aquela eletrola, meu pai carregava desde os primeiros anos de casamento… Um belo dia, quando morávamos em Porto Alegre, final dos anos 60, apareceu com a coleção da “Reader’s Digest”… E passou a ouvir Franz Suppé, “Cavalaria Ligeira” e “O Poeta e o Camponês”, ou Johann Strauss, “Marcha Radetsky” e as famosas valsas… Enfim, eram horas de gravações com variado e acessível repertório, que ouvíamos juntos…
Segue “Festival de Música Leggera”, da “Reader’s Digest”, com 12 LPs, 1961, que permitiu a tantos iniciarem-se no repertório clássico…
Nesta época, ocorriam os “Festivais da Record” e empolgava-nos aquela nova geração de músicos, com Chico Buarque e Nara Leão, Geraldo Vandré, Vinícius, Edu Lobo e Elis Regina; até Milton Nascimento, Caetano, Gil e os Mutantes, e por aí vai… Além disto, caminhando pela av. Osvaldo Aranha, ouvíamos, das lojas de discos e dos bares, a voz de Mick Jagger em “Satisfaction”, “California Dreamin” dos “The Mamas and the Papas”, ou “América” do musical de Bernstein. A indústria fonográfica proporcionava aquela explosão cultural, conectando e mudando o mundo…
Época das primeiras “reuniões dançantes”, quando arriscávamos os primeiros passos, tocados por canções como “Sentado à beira do Caminho” e outras. Pouco depois, iniciaria os estudos de música, aos 14 anos…
Finalmente, perdi a inibição e tomei a iniciativa de ouvir LPs eruditos. À época, talvez algo incomum entre adolescentes… Assim, me encantei com o colorido sonoro da “Abertura 1812”, o toque de trompete que abre o “Capricho Italiano”, de Tchaikovsky, ou o vibrante fandango asturiano do “Capricho Espanhol” de Rimsky-Korsakov… E passei a ir na “Casa Beethoven” procurar partituras e, na “King’s Discos”, adquirir LPs, então, apresentando, a meu pai, obras que ele desconhecia…
Assim, conheci as célebres sonatas “patética” e “ao luar”, com Walter Gieseking. Ou as sonatas para violino – “Primavera” e “Kreutzer” – com Yehudi e Hephzibah Menuhin. Claudio Arrau, no LP duplo de Liszt, com “Anos de Peregrinação”, “Ballades”, “Sonata em si menor” e outras… E tantas obras sinfônicas e corais, como o “Réquiem” de Mozart e cantatas de Bach… Até os quartetos de cordas de Beethoven, através da magnífica programação da “Rádio da Universidade”, divulgada diariamente pelo jornal “Correio do Povo”…
Segue “Adagio molto e mesto” do “Quarteto Razumovsky op. 59 n°1” de Beethoven, com “Belcea Quartet” …
Tivemos vida itinerante, dado a atividade de meu pai, militar formado em letras, que lecionou francês e português nos colégios militares de Curitiba, Recife e Porto Alegre. O que nos levou interagir com algumas diversidades regionais… E lembro, vagamente, de atravessarmos o pantanal mato-grossense, final dos anos 50, num trem em direção à Corumbá, onde moramos por um ou dois anos… E podem crer, à época, aquilo parecia bem distante e isolado. Lá, conhecemos o histórico “forte de Coimbra” e ouvimos relatos, tais como de sucuris que “visitavam” a pequena vila e, por vezes, adentravam as casas… O que nos levou refletir sobre o pioneirismo e contribuição de Villa-Lobos na projeção desta imensa diversidade, através de linguagem originalíssima, unificando e conectando o país…
Seguem as “Bachianas Brasileiras n° 5” de Villa-Lobos, com o soprano Ana Maria Martínez, direção de Gustavo Dudamel e a “Berliner Philharmoninker”…
E mais tarde, em férias, pudemos retornar à Recife e visitar o bairro Parnamirim, após 20 anos, onde passei a infância. Quando vivíamos na rua, subíamos em árvores para colher mangas e jambos, ou compartilhávamos as “festas juninas”, com suas quadrilhas, fogueiras e balões, hoje proibidos… Além do convívio amiúde com lagartixas e formigas saúva, abundantes na época, usando simples sandálias havaianas e, nos fins de semana, indo à belíssima “Boa Viagem”…
Época em que emocionava-nos o alegre “Gaúcho de Passo Fundo” e a aterrorizante “Coração de Luto”, do compacto de Teixeirinha; os belos vocais do “Conjunto Farroupilha”; ou “Samba em Prelúdio” de Baden e Vinícius, e “Desafinado” de Tom Jobim… Imensa gama de descobertas e estilos…
Primeira experiência erudita, ao vivo, foi com o “2º concerto para piano” de Brahms, com solo de Jacques Klein. Obra desafiante, à época, que mais tarde descobri e me encantei… Ou o belo recital de Alicia de Larrocha, na reitoria da UFRGS, com peças de Manuel de Falla…
Também marcantes foram “Prelúdio e morte de Amor”, da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner, e o “1º concerto” de Brahms, com Jean Louis Steuerman, ao piano. Obras fabulosas que conheci ao vivo e que muito me impressionaram, nas belas programações da OSPA… Nesta época, também a “Discoteca pública Natho Henn” disponibilizava amplo acervo aos aficionados e iniciantes de música. Daí a importância de políticas de estado no fomento e preservação da cultura…
Segue link do “Concerto n° 1 para piano” de Brahms, com Bruno-Leonardo Gelber, direção de Franz-Paul Decker e “Munich Philarmonich Orchestra” – “Grand prix du disque”, 1966…
Segue “Mild und Leise” (cena final, “morte de Isolda”), da ópera “Tristão e Isolda” de Richard Wagner, com o soprano Nina Stemme…
Outra escuta surpreendente foi a primeira audição da “Sagração da Primavera” de Stravinsky, inicialmente desconcertante, mas, nas audições seguintes, ganhando forma e sentido, na gravação de Pierre Boulez… Além da intensa emoção dos quartetos com piano de Schumann e Brahms, da sinfonia de Cesar Franck e a descoberta de “Reflets dans l’eau” e do “Quarteto op. 10”, de Debussy e todo aquele universo sonoro… Ravel veio mais tarde, com as obras para piano e o fabuloso trio, dos concertos e “Daphnis e Chloé”…
Segue “Reflets dans l’eau”, Images vol.1, de Claude Debussy, com Emil Gilels…
À época, havia certo distanciamento – espécie de “apartheid” – entre os ambientes de música erudita e as demais atividades, fossem na escola, no dia a dia, nas amizades em geral e mesmo na televisão e no rádio… De outro, aproximei vários amigos adolescentes do repertório erudito. Alguns, inclusive, passaram a me acompanhar nos concertos da OSPA, onde faziam divertidas observações, fosse pelo repertório, fosse pelo ambiente e personagens, por vezes, um tanto excêntricos e frequentadores de tais espaços… Ou mesmo, quando me acompanharam no teste do Instituto de Artes, onde segui os estudos de piano – sem contar outras estripulias, de que vou me abster…
E novas emoções viriam com os recitais da associação “Pró Arte”, no antigo “Theatro São Pedro” e no “Teatro da Assembleia”, onde assistimos grandes nomes do piano brasileiro, como Antônio Guedes Barbosa, Arthur Moreira Lima e Nelson Freire, todos oferecendo variado repertório, de Bach, Mozart e Beethoven; passando por Chopin, Schumann, Brahms e Liszt; até Debussy, Ravel, Scriabin e Prokofiev. Sem esquecer Villa-Lobos e Ernesto Nazareth…
Segue link de Nelson Freire, na “Melodia de Orfeu e Euridice”, de Gluck-Sgambati…
Com o tempo, o cinema aproximou a música erudita do grande público. Tivemos “2001, uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica” e outros, de Stanley Kubrick; “Apocalipse now”, com música de Wagner; ou “Excalibur”, popularizando “Carmina Burana” de Carl Orff… Além de diretores como Bergman, Tarkovsky e Eisenstein. E descobrimos filmes da década de 50 e 60, como o lindo “Rapsódia”, com Elizabeth Taylor e Vittorio Gassman; ou “Sonho de Amor” e “À noite Sonhamos”, seguido do LP de Jose Iturbi, com música de Chopin… Além dos musicais e o mundo de Disney, com “Fantasia” e tantos desenhos cativantes…
Especialmente empolgantes eram as trilhas sonoras originais, de filmes épicos e românticos, “western” e suspense, espionagem e outros, que nos fascinavam e aguçavam a imaginação… E a lista de compositores é imensa, desde Chaplin, Bernard Hermann, Richard Rogers, Morricone, Mancini, Miklós Rózsa, até John Williams, Maurrice Jarre, John Barry, Lalo Schifrin, Gabriel Yared e muitos outros…
Segue “Scene d’amour”, composta por Bernard Herrmann para o filme de Hitchcock, “Vertigo”, com a “Philarmonic de Los Angeles”, dirigida por Esa-Pekka Salonen…
Finalmente, a ópera e a descoberta do canto. De início, o canto coral é atividade muito gratificante, onde experimentamos os efeitos da harmonia, da polifonia e das cores vocais… E, depois, adentramos o repertório lírico e as grandes vozes… Assim, tivemos “Tannhauser” e “Lohengrin”, de Wagner, “Carmem” de Bizet, e “La Traviata” de Verdi, encenadas pela OSPA, nos anos 70… Além do “Centro Musical da PUC”, que manteve, ao longo dos anos, uma variada programação com coro e orquestra…
Segue “Ah, dite alla giovine”, da ópera “La travita” de Verdi, com Ermonela Jaho (soprano) e Dmitri Hvorostovsky (barítono)…
Numa época em que o acesso à literatura, às partituras e gravações era bem limitado e dispendioso, apenas com o tempo, à exemplo da antiga “Reader’s Digest”, surgiram novas coleções, mais acessíveis e disponibilizadas por editoras brasileiras, além de programas de televisão com excelente programação… Hoje, a internet mudou tudo e incrível acervo está disponibilizado em tempo real, levando à novas formas de fazer e ouvir música…
Por fim, compartilhamos trecho final da “Grande Missa de Réquiem”, de Verdi, cujo texto diz: “Libera me, Domine, de morte æterna, in die illa tremenda” (Livra-me, senhor, de morte eterna, naquele dia terrível), um dos monumentos da arte musical…
Seguem os dois links de “Libera me”, do “Réquiem” de Verdi, com Violeta Urmana (soprano) e direção de Semyon Bychkov. A gravação contou também com Olga Borodina (mezzo-soprano), Ramón Vargas (tenor) e Ferruccio Furlanetto (baixo), além da “WDR Sinfonieorchester Köln”, “WDR Runfunkchor Köln”, “NDR Chor” e “Chor des Teatro Regio Turin”…
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Parabenizamos o P.Q.P. Bach pelos 15 anos de atividade!
“Música é vida interior. E quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão.” (Artur da Távola)
Alex DeLarge
BRAVO! BRAVÍSSIMO!
Muito obrigado, Anon!
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Obrigado, Vassily! Grande abraço!