Há um ano, Rosana Martins nos deixava. Muito querida por todos que a conheceram, ela teve um papel muito importante na história do piano brasileiro, tanto por seu trabalho junto ao selo Connoisseur Society, responsável pela maior parte das gravações do grande Antonio Guedes Barbosa (1943-1993), quanto como produtora de “Meu Piano”, a memorável coleção de 41 CDs gravados por Arthur Moreira Lima que levou um vasto repertório pianístico, a preços muito acessíveis, a um público brasileiro que o desconhecia. Rosana tinha estreito contato com grandes nomes da música em todo mundo, e era especialmente próxima de Nelson Freire, a quem muito apoiou como empresária e grande amiga.
Meu contato com Rosana, ainda que breve e estritamente virtual, deixou-me as melhores lembranças: foi uma das primeiras integrantes de um grupo que criei na internet para lembrar Antonio Guedes Barbosa, que abastecia com memórias de seu contato com o extraordinário artista pessoense. Quem frequentava os fóruns sobre piano nas redes sociais não demorava a encontrar suas contribuições e fascinantes mementos de outros encontros memoráveis.
Nossa homenagem a Rosana, no entanto, traz um precioso registro de sua própria carreira como pianista. Criança-prodígio, ela venceu, aos doze anos, o Concurso Internacional das Juventudes Musicais em Berlim, o que acabou por lhe abrir portas para estudos no exterior. Não lhes saberei contar a trajetória tão bem quanto ela própria nessa entrevista ao incansável, indispensável Alexandre Dias, diretor do Instituto Piano Brasileiro (você ainda não apoia o IPB? Pois deveria):
Rosana deixou os estudos pianísticos aos 18 anos, para dedicar-se a seus outros interesses, mas voltou ao teclado aos 21 para fazer a gravação que lhes alcançamos agora. Realizada pelo selo Connoisseur Society, e tendo como engenheiro de som Péter Bartók (o filho do próprio), este registro de duas das mais célebres sonatas de Amadeus recebeu resenhas entusiasmadas e láureas quando de seu lançamento, em 1969. Permaneceu no limbo por décadas – assim como permanece, inexplicavelmente, quase todo precioso acervo da Connoisseur Society – até vir à tona novamente há alguns anos, num popular canal pianístico do YouTube, atestando a grandeza da mui modesta Rosana como pianista, para os tantos que, como eu, a desconheciam. A leitura, como ouvirão, é extraordinária – clara, transparente, impecável! -, e aqui está, creio, numa qualidade sonora melhor que a de todas outras fontes disponíveis nas redes: a digitalização, feita a partir dum LP que estava lacrado até o ano passado, foi-me alcançada por um generoso melômano e leitor-ouvinte dos Estados Unidos, que escolheu permanecer anônimo e a quem agradeço demais pela contribuição à memória de Rosana e para o deleite de PQPianos de todo mundo!
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Sonata para piano em Lá maior, K.331
1 – Andante grazioso
2 – Menuetto
3 – Alla turca – Allegretto
Sonata para piano em Fá maior, K.332
4 – Allegro
5 – Adagio
6 – Allegro Assai
Rosana Maria Martins, piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (MP3, 90,8 MB)
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (FLAC, 155 MB)
BÔNUS: O triunfo da menina Rosana no concurso da FIJM em Berlim levou-a a gravar Schumann (Papillons, Op. 2) e Debussy (“Poissons d’Or”) com a Deutsche Grammophon em Hannover, para o álbum comemorativo. Para escutar o prodígio de doze anos, clique AQUI.
[em tempo: no mesmo concurso e na categoria etária imediatamente acima daquela de Rosana, a medalha de prata foi para uma garota portuguesa chamada… Maria João]
Vassily
Olá, Conde Vassily!
Obrigado pela postagem… Já estou baixando o arquivo flac!
Olha, o tamanho da mão dela, na foto com a Martha, é impressionante.
É claro que as fotos podem dar uma impressão errada, mas mesmo assim…
Forte abraço do
René
Salve, Arquiduque Denon!
As mãos, naquela foto, também chamaram-me a atenção. Como as mãos de Martha, sabidamente pequenas, também parecem avantajadas, imagino que seja algum efeito de perspectiva.
Tenho certeza de que vai gostar do que baixou: Rosana deixou-nos um Mozart para a eternidade.
Um abraço!
O primeiro movimento da primeira sonata, com as variações, está maravilhoso…
Essas coisas faz-nos pensar nas mulheres pianistas e como são excelentes, tenham mãos grandes ou pequenas. Certamente o que importa é o que vai n’alma…
Abração!!
RD
As mãos de Martha são médias… Pequenas mesmo são as de Maria João Pires.
Vendo essas fotos com Martha e Rubinstein, com mãos e corpos colados que transbordam afetos, me deu saudades dos tempos pré-pandemia, parecem tão distantes!
Nossa, muitas saudades também desses tempos que parecem pertencer a priscas eras!
Olá, obrigado por esse post, não conhecia a Rosana. Mas me chamou a atenção a mencionada série “Meu Piano”, com o Moreira Lima. Está disponível aqui no PQP? Abraços.
Olá, Silvio!
A mencionada série ainda não está aqui no PQP. Ela foi lançada em fascículos pela Editora Caras há talvez uns vinte anos, e acabei por adquirir apenas o repertório que me interessava na época. Alguns discos reeditavam gravações anteriores de Moreira Lima para outros selos (notavelmente CBS e Discos Marcus Pereira), e outros eram registros feitos especialmente para a coleção, produzidos pela Rosana e gravados em Londres. Vi parte dessas gravações ressurgir nos aplicativos de áudio sob os títulos “O Piano de Arthur Moreira Lima” e “O Piano Brasileiro de Arthur Moreira Lima”.
a legenda da foto diz “em companhia de um velhinho”, só pode ser brincadeira pois o velhinho e RUBINSTEIN !
Olá, Paulo José!
Você acertou: a legenda só poderia ser, como de fato é, uma brincadeira. Afinal, eu não só sei muito bem quem é o “velhinho, aí” como sou fã dele desde que me conheço por ouvinte (e digo o mesmo da senhora argentina que aparece na outra foto, a que “dizem que toca direitinho”). E veja que feliz coincidência: o Instituto Piano Brasileiro, que está digitalizando o acervo da saudosa Rosana, publicou ontem mesmo mais fotos dos encontros dela com o titã polonês. Ei-las, se quiser conferi-las: https://www.facebook.com/share/p/15WCJeR6jx/