A Obra Completa de Béla Bartók (1881-1945) – Quarteto de cordas Nº 5 [Bartók – 6 String Quartets – Belcea Quartet] #BRTK140

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Erico Verissimo amava esses quartetos, porém, durante a Guerra do Vietnam, disse que não conseguia mais ouvi-los pois eles lhe evocavam um mundo rumando para a destruição. Imaginem se ele estivesse vivo, vendo o descaso de algumas pessoas em relação às mudanças climáticas e à ciência. Imaginem Erico e Bolsonaro…

Bem, não nos deprimamos. Os seis quartetos de Bartók podem ser misteriosos, íntimos, inovadores, transcendentes, francos ou terrenos e suas infinitas sutilezas mereces estudos e louvores de uma vida bem aproveitada. O Belcea Quartet tocou todos os quartetos de Bartók no Wigmore Hall. Lá, a primeiro violino Corina Belcea-Fisher comentou: “Quanto mais nos envolvemos nessas obras, mais beleza e riqueza descobrimos nelas e esperamos que esse apelo ainda aumente no futuro. porque definitivamente consideramos esses quartetos as maiores obras-primas do século passado”. Concordo.

O 1º Quarteto é o mais romântico em espírito e na verdade abriga uma história de amor. Ele marca uma retirada afetuosa de um fin-de-siécle romântico tardio. O 2º (1915-1917) leva-nos de alguma maneira em direção ao Bartók corajoso e contundente do meio da década de 1920. O 3º Quarteto de Bartók parece imitar uma rapsódia húngara (a alternância de música rápida e lenta), enquanto vai montando pequenas células temáticas, transformando-as em locais de fervilhante de atividade musical. Os próximos dois quartetos de Bartók são escritos de maneira não convencional em cinco movimentos e em desenho simétrico. O 4º (1928) tem em seu centro um exemplo evocativo, embora austero, da “música noturna” de Bartók que se abre com um solo de violoncelo, que imita o canto dos pássaros. O 2º e 4º movimentos deste quarteto são scherzi. O 5º Quarteto (1934) é construído em uma escala muito maior. Bartók modifica a forma do arco colocando um scherzo no centro, um movimento de dança que parece algo nordestino, cercado de dois movimentos lentos (2º e 4º) usando sequências de acordes semelhantes. O ar de tristeza infindável que paira sobre o último quarteto de Bartók (1938) reflete não apenas uma Europa doente, mas também uma tragédia pessoal: a jornada de sua mãe rumo à morte terminaria em dezembro de 1939. Todos os quatro movimentos se abrem com um mesto. Nunca um ciclo de quartetos terminou tão inequivocamente ou fez soou um aviso mais verdadeiro. Era o ano de 1938.

O Belcea, liderado pela romena Corina Belcea-Fisher, calibra muito bem os momentos de lirismo e selvageria destes quartetos. Gosto demais da versão deles dos quartetos. Mas nosso foco agora é o quinto.

O penúltimo quarteto de Bartók foi composto em 1934 por encomenda de Elizabeth Sprague Coolidge, na época a patrona musical mais proeminente dos EUA. Ele representa uma leve suavização do idioma de Bartók, os sons são menos dissonantes do que em seus quartetos anteriores, apesar da aspereza presente aqui e ali. Como gostava de fazer, Bartók usa uma forma de “arco” em 5 movimentos, há um scherzo central cercado por dois movimentos lentos, que por sua vez são limitados dois por movimentos rápidos e enérgicos. Ou seja, o Quarteto de Cordas nº 5 de Bartók é composto por cinco movimentos em uma grande estrutura na forma de um palíndromo.

O movimento de abertura inicia freneticamente com um tema todo quebrado. A coisa é vigorosa. Com seus motivos rítmicos batendo fortemente, há uma muito clara ideia de espelho. O primeiro movimento já em si é um palíndromo, pois os três temas da exposição são reafirmados na recapitulação na ordem inversa e, bem, de cabeça para baixo! Essas técnicas são mais aparentes no papel do que para o ouvinte. Para nós, fica a ideia de um belíssimo, complexo e robusto movimento de abertura, algo quase impossível de ser reproduzido por nossa imaginação.

Depois vem um delicado segundo movimento, cheios de frases curtas e hesitantes sobre harmonias suaves. É como se estivéssemos no Adágio do Quintetão de Schubert. É um exemplo hipnótico da música noturna de Bartok. Aqui e no quarto movimento, aparecem sons realmente da noite, tais como insetos, pássaros e talvez sapos.

E então chegamos a um Scherzo dito em “estilo búlgaro”, mas que parece nordestino. Muito nordestino. Eu me transporto para o sertão ali depois de 1min45 de música. Mas desde o começo também. Confiram!

O quarto movimento, como o segundo, apresenta harmonias quase amorosas quando os violinos tocam acordes delicados com intervenções da viola.

O final é furioso, com momentos zombeteiros e atrevidos. Perto do final, onde esperaríamos um clímax, a música parece ser um carrossel fora de sintonia. Entra uma melodia evidentemente bobinha, com o quarteto sendo orientados a tocar “com indiferença”. Uma obra-prima!

O Belcea Quartet

Béla Bartók (1881-1945): Os Quartetos de Cordas 1-6

CD1:
1. String Quartet No. 1 in A minor, Sz. 40, BB 52 (Op. 7): 1. Lento
2. String Quartet No. 1 in A minor, Sz. 40, BB 52 (Op. 7): 2. Allegretto
3. String Quartet No. 1 in A minor, Sz. 40, BB 52 (Op. 7): 3. Introduzione (Allegro) – Allegro vivace

4. String Quartet No. 3 in C sharp major, Sz. 85, BB 93: 1. Prima parte: Moderato
5. String Quartet No. 3 in C sharp major, Sz. 85, BB 93: 2. Seconda parte: Allegro
6. String Quartet No. 3 in C sharp major, Sz. 85, BB 93: 3. Ricapitolazione dell prima parte: Moderato – Coda: Allegro molto

7. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 1. Allegro
8. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 2. Adagio molto
9. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 3. Scherzo (Alla bulgarese) – Trio
10. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 4. Andante
11. String Quartet No. 5 in B flat major, Sz. 102, BB 110: 5. Finale (Allegro vivace)

CD2:
1. String Quartet No. 2 in A minor, Sz. 67, BB 75 (Op. 17): 1. Moderato
2. String Quartet No. 2 in A minor, Sz. 67, BB 75 (Op. 17): 2. Allegro molto capriccioso
3. String Quartet No. 2 in A minor, Sz. 67, BB 75 (Op. 17): 3. Lento

4. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 1. Allegro
5. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 2. Prestissimo, con sordino
6. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 3. Non troppo lento
7. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 4. Allegretto pizzicato
8. String Quartet No. 4 in C major, Sz. 91, BB 95: 5. Allegro molto

9. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 1. Mesto – Vivace
10. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 2. Mesto – Marcia
11. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 3. Mesto – Burletta (Moderato)
12. String Quartet No. 6 in D major, Sz. 114, BB 119: 4. Mesto

Belcea Quartet:
Corina Belcea-Fisher, violino
Laura Samuel, violino
Krzysztof Chorzelski, viola
Antoine Lederlin, violoncelo

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Quem seria?

PQP

2 comments / Add your comment below

  1. Seria possível -peço com todos os por favores possíveis – disponibilizar aqui no site os quartetos de cordas do Bartok executados pelo Juilliard String Quartet em 1963? Pleeaase…obrigado.

  2. PQP,
    Você é um amor!
    Obrigado por mais estes quartetos… que bem poderiam ter recebido o título dado por Messiaen ao seu.
    Tristes tempos, bela música!!!

Deixe um comentário