Mais de cinco anos depois da primeira publicação, e de pelo menos duas republicações de todas as postagens anteriores por conta de colapsos em servidores, poderia até parecer que eu me tivesse esquecido da série sobre o Mestre Esquecido. Não foi o caso: depois de tanto fosfato dedicar a Beethoven, voltam-me tempo e vergonha na cara bastantes para tentar concluir nossa sincera, ainda que morosa, homenagem ao maravilhoso Antonio Guedes Barbosa.
Diferentemente de suas demais gravações de Chopin, a versão de Barbosa para as polonaises não me cativou imediatamente. Veteranos de seus desesperados scherzi e de suas lépidas valsas, meus ouvidos estranharam seu rubato e a aparente preferência pela tonitruância em detrimento da clareza, especialmente nas primeiras obras da série. Aos poucos, percebi que Antonio – assim como o próprio Chopin, acredito – não encarava as polonaises como danças e não fez questão de aderir estritamente a seu ritmo. Em lugar disso, preferiu usá-lo tão só como plataforma de lançamento para a exploração das ousadias harmônicas propostas por Chopin, com o colorido timbrístico que lhe era tão peculiar, e que aqui lembra, talvez mais que em qualquer outra de suas gravações, o de Horowitz. Não por acaso, revisito mais suas leituras das três grandes polonaises finais, especialmente a extraordinária Polonaise-Fantaisie em que a dança polonesa é tão só um pretexto para a uma das mais radicais criações do mestre polonês, a última obra-prima que concluiria, e para a qual Barbosa deu minha interpretação favorita.
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
Duas polonaises para piano, Op. 26
1 – No. 1 em Dó sustenido menor
2 – No. 2 em Mi bemol maior
Duas polonaises para piano, Op. 40
3 – No. 1 em Lá maior, “Militar”
4 – No. 2 em Dó menor
Polonaise para piano em Fá sustenido menor, Op. 44
5 – Moderato
Polonaise para piano em Lá bemol maior, Op. 53, “Heroica”
6 – Maestoso
Polonaise-Fantaisie para piano em Lá bemol maior, Op. 61
7 – Allegro maestoso
Antonio Guedes Barbosa, piano
LP da Connoisseur Society, lançado nos Estados Unidos em 1972 – e, para variar, nunca lançado no Brasil
Vassily
Thank you so much for this review and providing an opportunity for us to listen to this recording.
You are most welcome!
Que grande disco! Não havia escutado ainda as polonaises representadas de forma tão singular, que, sem o habitual virtuosismo espetaculoso como fim, exprimem passagens puramente líricas. Obrigado. Não paro de ouvir.