Schubert (1797–1828): SCHUBERT SESSIONS – Lieder com Violão – Philippe Sly & John Charles Britton

 

 

SCHUBERT SESSIONS

 

 

 

A minha concepção de Lied sempre foi de uma canção com acompanhamento de piano. Mahler expandiu este modelo colocando uma orquestra como a acompanhamento da voz. Quando vi este disco gostei bastante da seleção das canções, todas muito representativas da arte de Schubert e uma mais bonita do que a outra. Mas fiquei um pouco preocupado com o tal do acompanhamento com o violão. Mas a preocupação logo se desfez nas primeiras canções. O álbum é excelente.

O libreto lembra a frugalidade da vida de Schubert, que em muitas ocasiões dividiu a morada com amigos e nem sempre tinha um piano a sua disposição, um luxo com o qual nem sempre podia contar. O autor menciona que Schubert aprendeu a tocar violão ainda bem jovem e que ao longo da vida possuiu vários destes instrumentos, que eram bem populares em Viena. Assim, não é difícil imaginar a visita de amigos e uma nova canção sendo apresentada com o acompanhamento de um violão.

As canções deste disco foram preparadas e arranjadas para acompanhamento de violão pelo ótimo violonista John Charles Britton, que nasceu no Texas e estudou em São Francisco com Sérgio Assad. Ele tem colaborado com o canadense Philippe Sly já há alguns anos e creio que boa parte da beleza deste álbum vem desta vivência. O violão certamente ajuda a criar um ambiente bastante intimista e lírico. Isto não quer dizer que os momentos mais arrojados sejam diminuídos, muito pelo contrário.

Mas a coleção de canções é definitivamente espetacular. Seis delas são dos três grandes ciclos, duas de cada um deles – Die Schöne Müllerin, Winterreise e Schwanengesang. Estas canções e mais as outras dez formam um ótimo painel que exprime o quanto se desenvolveu com Schubert a arte da canção.

Auf dem Wasser zu singen e Der Müller und der Bach fazem alusão à água corrente, ao riacho que dita o ritmo e sempre dava grande inspiração a Schubert.

Erlkönig e Der Tod und das Mädchen são baladas cheias de tons fantasmagóricos nas quais o cantor precisa interpretar diferentes vozes. São duas das canções mais conhecidas de Schubert.

Ständchen (Serenata) e Der Lindenbaum são canções dos ciclos Schwanengesang e Winterreise que se destacam dos ciclos e certamente tem suas melodias reconhecidas em todas as partes.

Wohin, a segunda canção do Die Schöne Müllerin trata de um tema caro à cultura germânica, que reúne o amor pela natureza e a compulsão por seguir caminhando – Para onde?

Du bist die Ruh, Du liebst mich nicht e Der Jüngling an der Quelle são lindas canções de amor e de um pouco de dor de cotovelo. Afinal, o Franz sabia dessas coisas. O tema da água está aí de novo, na Quelle. Aqui, a dificuldade apresentada ao cantor(a) é manter um legato e produzir um som, assim, que traga paz…

Der Leiermann, Der Doppelgänger e Des Fischers Liebesglück são canções compostas no fim da vida e atingem uma profundidade especialmente tocante e com tons bastante sombrios. São canções bem sérias.

An die Musik só poderia ter sido composta por alguém que tinha uma intimidade enorme com a música. Os versos são simples, mas a arte de Schubert os eleva muito, muito.

Du holde Kunst, ich danke dir dafür,
Du holde Kunst, ich danke dir!

As duas canções que ainda não mencionei têm nomes de mulheres. An Sylvia é uma tradução para o alemão de um texto de Shakespeare, que cria assim uma conexão entre as canções de Schubert e de Dowland. Conexão esta que fica reforçada nesta interpretação com acompanhamento de violão. Finalmente a canção que eu gostei mais no disco, Alinde! Esta é a segunda faixa do disco e como ficou bonito o acompanhamento do violão. Esta merece bis, quando terminares de ouvir o álbum.

Coloquei na pasta uma faixa extra, uma gravação bastante antiga desta canção, na voz do ótimo Hans Hotter, com acompanhamento de piano. Fica aí uma possibilidade de comparar.

Ouça tudo umas quatro ou cinco vezes e depois me conte se não é mesmo uma beleza de disco. Este vai para a minha retrospectiva deste ano que começa a desenhar seu fim, mas ainda com muitíssimas preocupações e angústias.

Franz Schubert (1797 – 1828)

  1. Auf dem Wasser zu singen, D774
  2. Alinde, D904
  3. Du bist die Ruh D776
  4. An Sylvia, D89
  5. Erlkönig, D328
  6. An die Musik D547
  7. Ständchen ‘Leise flehen meine Lieder’, (No. 4 do Schwanengesang, D957)
  8. Wohin (No. 2 do Die schöne Müllerin, D795)
  9. Der Müller und der Bach (No. 19 do Die schöne Müllerin, D795)
  10. Der Leiermann (No. 24 do Winterreise, D911)
  11. Der Doppelgänger (No. 13 do Schwanengesang, D957)
  12. Der Lindenbaum (No. 5 from Winterreise, D911)
  13. Der Jüngling an der Quelle, D300
  14. Du liebst mich nicht D756
  15. Des Fischers Liebesgluck, D933
  16. Der Tod und das Mädchen, D531

Philippe Sly, barítono

John Charles Britton, violão

  1. Alinde, D904

Hans Hotter, barítono

Geoffrey Parsons, piano

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FLAC | 258 MB

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MP3 | 320 KBPS | 151 MB

O estúdio do PQP Bach está precisando de uma pequena reforma…

As opiniões sobre o álbum foram muito elogiosas:

“Philip Sly possesses a fine, velvet bass-baritone voice, clear diction and splendid, true intonation.” – Gramophone Magazine 2014

This is an amazing collection of Schubert for guitar and low voice. Phillipe and John compliment each other well and the blend they achieve is superb.

Philippe Sly hat eine phantastisch klare Stimme, gute Diktion, einen guten Gitarrenbegleiter… und trifft, wie ich meine, genau das, was Schubert ausdrücken wollte: Romantik pur. Bin begeistert.

Eu também me emocionei! E você?

Aproveite!

René Denon

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