A coisa é meio cômica — o fato é que Haydn sempre foi “acusado” de ser muito alegre em suas Missas e Oratórios. Bem, eu não sou nada religioso e acho que um oratório que faz o elogio das realizações divinas ao criar o mundo deveria ser mesmo meio alegre. Afinal, foram seis dias de muito trabalho. Não há árias ou corais que eu considere memoráveis, mas o Oratório é sempre bom. A Representação do Caos — bem no início da obra — é certamente um de seus pontos mais altos. McCreesh é um excepcional maestro para este tipo de repertório e não decepciona com sua turma historicamente informada.
A Criação (originalmente Die Schöpfung, aqui traduzido para o inglês como The Creation) é um oratório dividido em três partes, escrito em 1797 por Haydn. Seu texto, com versões em alemão e inglês, é baseado no livro do Gênesis, no livro de Salmos e no poema O Paraíso Perdido, de John Milton. Este oratório, que faz parte do Classicismo, apresenta algumas semelhanças com o período Barroco devido ao uso do contraponto em várias passagens, como pode ser constatado nos coros Stimm an die Saiten, ergreift den Leier! (um dos mais famosos do oratório), na primeira parte, e Singt den Herren, alle Stimmen, que encerra o oratório. Ao mesmo tempo, muitos musicólogos veem também neste oratório um prenúncio do Romantismo, especialmente na abertura sinfônica, chamada A Representação do Caos, utilizando estruturas melódicas adotadas mais tarde por Richard Wagner, bem como a dramaticidade instrumental de algumas passagens, típicas dos poemas sinfônicos de compositores como Hector Berlioz.
F. J. Haydn (1732-1809): A Criação (McCreesh)
Part One
The First Day
1-1 Introduction: The Representation Of Chaos 6:19
1-2 Recitative And Chorus : “In The Beginning God Created The Heaven And The Earth” 3:11
1-3 Aria And Chorus : “Now Vanish Befor The Holy Beams” 4:07
The Second Day
1-4 Recitative : “And God Made The Firmament” 2:02
1-5 Solo With Chorus : “The Glorious Heav’nly Hierarchy” 2:16
The Third Day
1-6 Recitative : “And God Said : Let The Waters ..” 0:39
1-7 Aria : “Rolling In Foaming Billows” 4:10
1-8 Recitative : “And God Said: Let The Earth Bring Forth Grass” 0:30
1-9 Aria : “With Verdure Clad The Fields Appear” 5:12
1-10 Recitative : “And The Heavenly Host The Third Day Proclaimed” 0:11
1-11 Chorus: “Awake The Harp, The Lyre Awake” 2:10
The Forth Day
1-12 Recitative : “And God Said : Let There Be Light.. ” 0:40
1-13 Recitative : “In Brightest Splendour Rises Now The Sun” 3:06
1-14 Chorus And Trio : “The Heavens Are Telling The Glory Of God” 4:09
Part Two
The Fifth Day
1-15 Recitative : “And God Said : Let The Waters Bring ..” 0:31
1-16 Aria : “On Mighty Pens Uplifted Soars The Eagle” 8:10
1-17 Recitative : “And God Created Great Whales” 2:38
1-18 Recitative : “And The Angels Struck Their Immortal Harps” 0:18
1-19 Trio And Chorus : “Most Beautiful Appear, With Verdure Young Adorn’d” 6:53
The Sixth Day
1-20 Recitative : “And God Said : Let The Earth Forth The Living Creature” 0:24
1-21 Recitative : “Straight Opening Her Fertile Womb” 3:27
1-22 Aria : “Now Heaven In Fullest Glory Shines” 3:38
1-23 Recitative : “And God Created Man” 0:49
1-24 Aria : “In Native Worth And Honour Clad” 3:54
1-25 Recitative : “And God Saw Everything That He Had Made” 0:21
1-26 Chorus And Trio (Gabriel, Uriel, Raphael): “Achieved Is The Glorious Work” 9:43
Part Three
2-1 Recitative : “In Rosy Mantle Now Appears” 4:22
2-2 Duet With Chorus : “By Thee With Bliss, O Bounteos Lord” 10:32
2-3 Recitative : “Our Duty Have We Now Perform’d” 2:16
2-4 Duet : “Graceful Consort!” 8:03
2-5 Recitative : “O Happy Pair” 0:33
2-6 Chorus: “Praise The Lord, Uplift Your Voices” 3:43
Baritone Vocals – Peter Harvey
Bass Vocals – Neal Davies
Choir – Chetham’s Chamber Choir
Conductor – Paul McCreesh
Contralto Vocals – Ruth Massey
Orchestra – Gabrieli Consort, Gabrieli Players
Soprano Vocals – Miah Persson, Sandrine Piau
Tenor Vocals – Mark Padmore
PQP
Caro PQPBACH, uma vírgula aqui faz toda diferença: “não, há árias ou corais memoráveis” ou “não há árias ou corais memoráveis”? Embora eu torça que você tenha pensado a primeira versão, com a vírgula, o fraseado me sugere que você vai pela segunda: que pena… Para mim, aficcionado pelo mestre desdenhado por Beethoven (ao menos por um tempo), “A criação” é toda memorável, e se destaques há, estão nos corais, todos, principalmente os que fecham cada uma das três partes em que a obra se divide (o final da segunda parte é o ponto alto, para mim; o Aleluia de Haydn; não há o de Handel?). A “Representação do caos” é a joia da coroa, espetacular, que se entrega já no início, com seus fragmentos musicais desalinhados de forma tão ordenada. Um espetáculo, que a execução de McCreesh não compromete, mas está longe, sempre na minha modesta avaliação, de ser a referência. Grande abraço.
Fiz a correção, infelizmente. Abraço!
É que esta obra me pega, desde quando tomei contato com ela, parcialmente na adolescência, por inteiro na execução de Karajan por ocasião dos 250 anos do mestre. É o conjunto, por inteiro, que pega com eloquência; e uma execução historicamente orientada não pode perder em volume e densidade, que é o que falta um tanto na leitura de McCreesh, a meu ver. Spering dá conta brilhantemente deste desafio que não é pequeno. Mas como gosto é gosto e pegada é pegada, fica meu outro abraço!