Tudo em família.
Quando as irmãs coreanas Kyung-wha (violinista) e Myung-wha Chung (violoncelista) precisam de um pianista, simplesmente olham para o irmão, Myung-whun, e tocam em trio – chamado, que surpresa, Trio Chung. Quando alguma delas precisa de um regente, elas também olham para Myung-whun, que é tão competente ao pódio que é responsável pela melhor interpretação da complicadíssima Turangalîla de Messiaen que há no mercado.
E quando precisam dum flautista e dum fagotista? Bem, como faltam-lhes irmãos para tanto, então os Chung importam da França os irmãos Gallois.
As famílias reúnem-se nesse disco em diferentes formações para abordar repertório beethoveniano. Passaremos ao largo da boa interpretação que os Chung dão para o Concerto Triplo (que será ouvido pela quarta vez nesta nossa série, da qual já é um arroz de festa), e dos dois bonitos Romances com a ótima Kyung-wha. Nossa postagem de hoje foca novamente numa peça diminuta, enigmática e fragmentária: o Romance cantabile que Beethoven escreveu provavelmente em 1786 para a peculiar combinação de piano, flauta e fagote, com acompanhamento de dois oboés e orquestra de cordas. O conjunto de solistas, semelhante àquele do trio WoO 37, sugere que o Romance tenha tido os mesmos dedicatários: o conde Westerholt-Gysenberg, que tocava fagote, tinha um filho flautista, e cuja filha estudava com o garoto Ludwig, então organista na corte do Eleitor de Colônia. Supõe-se que a breve obra seja parte dum concerto, ou talvez duma sinfonia concertante cujas demais partes foram perdidas, ou talvez nunca completadas. A melancólica tonalidade de Mi menor – à qual Beethoven voltaria em obras concertantes somente no soberbo Andante do Concerto no. 4 para piano – empresta-lhe um caráter elegíaco, que é passageiramente diluída pelos diálogos entre a flauta e o piano. É bem possível que o jovem compositor tenha abandonado a peça por ter caído em desgraça com o conde, quando este soube de suas intenções amorosas com a filha, ou que a tenha deixado de lado em função de sua primeira viagem a Viena, para a qual partiu com a intenção de encontrar Mozart, e da qual voltou precipitadamente por conta da doença que mataria sua mãe. O fato é que do Romance cantabile chegou a nossos tempos somente um fragmento, que foi completado pelo musicólogo suíço Willy Hess – responsável por um dos mais importantes catálogos da beethoveniana e orquestrador do concerto para piano que escutamos há alguns dias.
A boa leitura de Chung com os irmãos Gallois pareceu-me um tanto suntuosa (e também untuosa) para uma pecinha tão despretensiosa. Assim, resolvi acrescentar uma versão alternativa, mais camerística, à qual se soma uma gravação de outra obra incompleta, o concerto para violino em Dó maior, que também foi iniciado em Bonn e igualmente abandonado por conta de uma viagem – nesse caso, a segunda e definitiva viagem a Viena.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto em Dó maior para violino, violoncelo, piano e orquestra, Op. 56
Composto entre 1803-05
Publicado em 1807
Dedicado a Joseph Franz Maximilian, príncipe Lobkowitz
1 – Allegro
2 – Largo (attacca)
3 – Rondo alla polacca
Chung Trio:
Myung-whun Chung, piano
Kyung-wha Chung, violino
Myung-wha Chung, violoncelo
Philharmonia Orchestra
Myung-whun Chung, regência
Romance no. 1 para violino e orquestra em Sol maior, Op. 40
Composto em 1802
Publicado em 1803
4 – Adagio cantabile
Romance no. 2 para violino e orquestra em Fá maior, Op. 50
Composto em 1798
Publicado em 1805
5 – Adagio cantabile
Kyung-wha Chung, violino
Philharmonia Orchestra
Myung-whun Chung, regência
Romance cantabile em Mi menor, para piano, flauta e fagote, com acompanhamento de dois oboés e orquestra de cordas, WoO 209 (Hess 13)
Completado por Willy Hess (1906-1997)
Provavelmente composto entre 1786-1787
6 – Romance cantabile
Patrick Gallois, flauta
Pascal Gallois, fagote
Philharmonia Orchestra
Myung-Whun Chung, piano e regência
FAIXAS-BÔNUS:
Romance cantabile em Mi menor, para piano, flauta e fagote, com acompanhamento de dois oboés e orquestra de cordas, WoO 209 (Hess 13)
1 – Romance cantabile
Johanna Haniková, piano
Martina Čechová, flauta
Filip Krytinář, fagote
Czech Chamber Philharmonic Orchestra, Pardubice
Marek Štilec, regência
Concerto em Dó maior para violino e orquestra, WoO 5 (fragmento)
Composto provavelmente entre 1790-92
2 – Allegro
Jakub Junek, violino
Czech Chamber Philharmonic Orchestra, Pardubice
Marek Štilec, regência
Vassily