BTHVN250 – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Sinfonia no. 7 em Lá maior, Op. 92 – Sinfonia no. 8 em Fá maior, Op. 93 – Arranjos para conjunto de sopros – Bläserensemble Sabine Meyer

A Sinfonia no. 7 foi, como já sabemos, um clamoroso sucesso e teve várias reapresentações nos meses que se seguiram à sua estreia. Beethoven estava ciente de que tinha ouro em mãos e por isso postergou sua publicação, para a aproveitar a exclusividade de execução e negociar em posição mais vantajosa com as editoras. Quando a Op. 92 enfim foi à prensa, em 1816 – quatro anos depois de sua composição e três depois da estreia -, rapidamente apareceram vários arranjos, como era a praxe da época para a divulgação de obras sinfônicas, que permitiam não só o estudo das mesmas, mas também sua execução por amadores em domicílios ou por conjuntos instrumentais menores, bem como a pirataria, preocupação recorrente do compositor, e sobre a qual não tinha o menor controle depois da publicação.

Um desses arranjos surgiu quase que simultaneamente à obra original, pelo que se infere que, mesmo que claramente não tenha sido feito por Beethoven, deve ter pelo menos contado com sua ciência e aprovação. Embora se desconheça o autor do arranjo, é bastante provável que ele seja da lavra do boêmio Wenzl Sedlák (1776-1851), que fez outras transcrições semelhantes de obras do renano para um octeto de sopros semelhante àquele para o qual Ludwig já escrevera música em Bonn, ao qual somou um contrabaixo.

Nesta gravação que lhes alcanço, o conjunto de sopros liderado pela sensacional Sabine Meyer preferiu, num ato escancarado de, ahn, nepotismo de naipe, trocar o contrabaixo por um contrafagote. O noneto resultante, como já ouvimos num outro disco, tem um som encantador. Há que, claro, se dar um desconto para ele na primeira audição, pois o portento que é a Sétima, toda cheia de cordas e de ferozes ataques a elas, não conseguiria ser transposto para um conjunto menor sem perdas. Quem superar o estranhamento e, talvez, a sensação de incompletude saboreará uma interpretação maiúscula, tanto nas execuções individuais quanto no conjunto. Não se pode deixar de comentar que Sabine Meyer, consagrada solista, tem amargas memórias do ano e pouco que passou como clarinetista da Filarmônica de Berlim, da qual foi uma das primeiras integrantes femininas e (supõe ela que por isso mesmo) defenestrada por votação dos demais músicos ao final do período de experiência. Ouvi-la liderar um conjunto numa execução tão competente duma obra sinfônica, portanto, agrada-me muito e, luvadas de pelica à parte, dá-me a certeza de que os filarmônicos berlinenses não lhe fizeram falta alguma.

Consta que Sádlak, o arranjador, transformou pelo menos seis das sinfonias restantes em nonetos. Seu arranjo para a Oitava, talvez a que mais se preste à formação e aquela que mais se adequa à longa tradição germânica da Harmoniemusik, foi infelizmente perdido. Assim, Sabine Meyer e seus sopristas encomendaram seu próprio arranjo, feito pelo catalão Joan Barcons, e que vocês também ouvirão a seguir.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Sinfonia no. 7 em Lá maior, Op. 92, em arranjo para noneto de sopros
Composta entre 1811-12
Publicada em 1813
Dedicada ao conde Moritz von Fries
Arranjo anônimo contemporâneo, provavelmente feito por Wenzl Sedlák (1776-1851)

1 – Poco sostenuto – Vivace
2 – Allegretto
3 – Presto – Assai meno presto
4 – Allegro con brio

Sinfonia no. 8 em Fá maior, Op. 93, em arranjo para noneto de sopros
Composta em 1812
Publicada em 1817
Arranjo de Joan Barcons (1942)

5 – Allegro vivace e con brio
6 – Allegretto scherzando
7 – Tempo di menuetto
8- Allegro vivace

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Sabine Meyer Bläserensemble
Diethelm Jonas e Thomas Indermühle, oboés
Reiner Wehle e Sabine Meyer,
clarinetes
Sergio Azzolini e Georg Klütsch,
fagotes
Klaus Frisch e Bruno Schneider,
trompas
Klaus Lohrer,
contrafagote


“Tudo o que você sempre quis saber sobre o contrafagote, mas tinha medo de
lhe baterem com um e preferiu não perguntar”

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

4 comments / Add your comment below

  1. Que trabuco esse contrafagote! E quantas informações interessantíssimas nesse post.
    Um banho de cultura pra começar bem o dia.
    Esses vídeos da OAE são muito bons, já tinha visto muitos, mas não esse do contrafagote.
    Vocês são mesmo demais de bom!

    1. Sensacional, né? Eu quase morro de rir com o contraste entre a calma didática do distinto cavalheiro em seu fleumático sotaque inglês e os sons cavernosos com que ele ilustra sua ótima apresentação. Quando ele mostra a diferença entre as palhetas, hahaha, eu me esborracho.

  2. Que coisa linda essa Sinfonia 7 tocada com sopros. Eu fiquei arrepiado com o Allegretto. No primeiro movimento, algumas vozes me soaram claras como nunca e reveladora de detalhes que eu nunca antes havia percebido!
    Confesso que nos últimos tempos tenho redescobrido a sétima (talvez a sinfonia menos ouvida por mim dentre as grandes sinfonias de Beethoven). Engracado como a idade muda a percepcao musical.

  3. Bom dia,
    Fantástico o vídeo… agora que conheço, vou respeitar o contrafagote…, mas o irmão dele (ou será o filho?) é que é sublime… que o diga, “una furtiva lacrima”.
    Bom retorno de quarentena a todos…

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