A melhor de todas as sonatas para violoncelo e piano? Eu acho, e com muita folga. Independentemente de minha desimportante opinião, a Op. 69 foi a primeira obra do gênero a colocar os dois instrumentistas em pé – ou deveríamos dizer em espigão? – de igualdade, mais ou menos como aquela sonata-que-não-vou-chamar-de-Kreutzer fizera com as sonatas para violino, alguns anos antes. Assim como a não-Kreutzer, composta na mesma tonalidade de Lá maior, a Op. 69 também começa, num gesto sem precedentes em seu gênero, com um solo do instrumento de cordas. A atmosfera, claro, é muito diferente: não há aqui os ferozes voos concertísticos da obra para violino, e a escrita é muito mais econômica, inclusive de comparada às duas sonatas para violoncelo anteriores, aquelas do Op. 5. Os dois instrumentos colaboram, comentam-se e sublinham-se até o irresistível finale, com sua expressiva coda e resoluta conclusão.
A dupla Wispelwey/Lazić, de já tão emblemática atuação nas sonatas Op. 5, sai-se aqui ainda melhor. É fenomenal o grau de precisão que eles conseguem em sua colaboração na intrincada, e falsamente descontraída, Op. 69, e o tom na visionária dupla do Op. 102 me soou perfeito às demandas do Beethoven tardio. Reclamo, tão só, da escolha por encerrar o disco com as bonitinhas e pouco estimulantes variações de juventude sobre uma ária d’A Flauta Mágica, que aqui soam anticlimáticas. Sugiro que comecem por elas, prossigam com as Op. 102 e concluam com a eudaimônica Op. 69 – e sejam felizes.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata em Lá maior para violoncelo e piano, Op. 69
Composta em 1807
Publicada em 1809
Dedicada ao conde Ignaz von Gleichenstein
1 – Allegro ma non tanto
2 – Scherzo. Allegro molto
3 – Adagio cantabile – attacca:
4 – Allegro vivace
Duas sonatas para violoncelo e piano, Op. 102
Compostas em 1815
Publicadas em 1817
Dedicada à condessa Anna Maria von Erdődy
No. 1 em Dó maior
5 – Andante
6 – Allegro vivace
7 – Adagio – Tempo d’andante
8 – Allegro vivace
No. 2 em Ré maior
9 – Allegro con brio
10 – Adagio con molto sentimento d’affetto – attacca:
11 – Allegro – Allegro fugato
Sete variações em Mi bemol maior sobre a ária “Bei Männern, welche Liebe fühlen”, de “Die Zauberflöte” de Mozart, para violoncelo e piano, WoO 46
Compostas em 1801
Publicadas em 1802
Dedicadas ao conde von Browne
12 – Thema: Andante
13 – Variation I
14 – Variation II
15 – Variation III
16 – Variation IV
17 – Variation V
18 – Variation VI
19 – Variation VII
Pieter Wispelwey, violoncelo
Dejan Lazić, piano
#BTHVN250, por René Denon
Vassily