As três obras desse disco foram compostas no final da carreira de Schumann, um pouco antes de seu internamento no hospício em que terminou seus dias. Elas, que são tudo o que Robert escreveu para violino e orquestra, foram decisivamente inspiradas por Joseph Joachim, amigo seu e de Clara, maior violinista da época e, claro, dedicatário delas.
A primeira delas a ser composta, e a única a ser tocada na vida do compositor, foi a fantasia em Dó maior, estreada por Joachim com imenso sucesso em 1853. Lamentavelmente, acabou por cair em esquecimento, muito por conta da tendência então prevalente de rejeitar as obras tardias de Schumann como fruto de insanidade, praxe reforçada por Clara, que escondeu muitas delas e destruiu algumas. Joachim, por sua vez, foi decisivo pelo chá de sumiço das duas obras restantes. Ele chegou a ensaiar o concerto em Ré menor, pelo qual nunca teve qualquer entusiasmo, para logo em seguida, ante a deterioração da saúde mental e subsequente tentativa de suicídio do compositor, escondê-lo para sempre. Já na velhice – na mesma época em que fez algumas gravações fonográficas – legou o manuscrito a uma biblioteca, com instruções expressas de que só viesse a público cem anos após a morte de Schumann. A redescoberta do concerto – uma trama inacreditável que envolve vozes do além, Yehudi Menuhin e as sobrinhas-netas de Joachim – parece produto de muita psilocibina e já foi descrita aqui. Pior sorte ainda teve o arranjo de Schumann de seu concerto para violoncelo, que aparentemente estava fora do alcance das vozes do além e foi tão bem escondido por Joachim que só foi descoberto em 1987 – ano em que o mundo estava mais preocupado em escutar isso:
E isso:
Para nossa sorte, leitores-ouvintes, há nesse globo cacofônico gente como Ulf Wallin, que estudou os manuscritos de Schumann e se esmerou para produzir estas gravações que, assegura, são tão fiéis às intenções do compositor quanto possível. Sua companhia aqui é muito boa: a Robert-Schumann-Philharmonie, uma ótima orquestra alemã sediada na cidade saxã de Chemnitz, que fica a um pulinho só de Zwickau, onde Robert veio ao mundo da manhã de 8 de junho de 1810.
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Concerto em Lá menor para violino e orquestra
(arranjo do compositor para seu concerto em Lá menor para violoncelo e orquestra, Op. 129)
1 – Nicht zu schnell
2 – Langsam
3 – Sehr lebhaft
Fantasia em Dó maior para violino e orquestra, Op. 131
4- In mässigen Tempo
Concerto em Ré menor para violino e orquestra, WoO 23
5 – In kräftigem, nicht zu schnellem Tempo
6 – Langsam
7 – Lebhaft, doch nicht schnell
Ulf Wallin, violino
Robert-Schumann-Philharmonie
Frank Beermann, regência
Vassily
Ai, Vassily!
Não menospreze (“isso”) Suzanne Vega.
É uma poetisa.
O próprio sucesso de 1987, ainda que em menor proporção, ilustra-o.
Schumann talvez teria gostado dela.
(eu gosto)
😉
Caro Rameau,
Hahaha, juro que não houve dolo. Pretendi que “isso” fosse tão só o que é – um pronome demonstrativo. Não conheço Vega além de seu sucesso grudento, e ela aqui está somente porque googleei “hits + 1987” e copiei os dois primeiros vídeos que apareceram. Certamente o “cacofônico” que vinha em seguida não ajudava, tampouco, a dar impressão melhor. Enfim, desagravo feito. Já tenho inimigos bastantes e não quero granjear outros entre os vegâmanos – enquanto, num gesto de bandeira branca, informo que escuto “Tom’s Diner” ao escrever-lhe isso 🙂
Cher Vassily,
Alegro-me com sua gentil explicação, que mostra a sua atenção para com um acompanhante modesto de suas postagens. Você sabe de música muitíssimo mais do que eu, que sou, além de leigo, experimental: ouço e vou gostando, ou não, sem poder guiar-me pela luz da teoria e da história da música.
Assim, obrigado, novamente, pela cortesia de sua resposta. Você já estava perdoadíssimo antes mesmo dela.
Depois me diga o que achou do quase hip hop da “Tom’s Diner” 😅🎵