Tanto esperei por que chegasse a vez de postar meu concerto para piano favorito que, quando ela enfim chegou, eu mal acho o que lhes escrever. Já escutei tantas vezes o maravilhoso Op. 58 que não consigo mais pensar criticamente em suas qualidades: eu simplesmente as sorvo e com elas me delicio. E tanto o amo, e tão imenso é meu amor por ele, que não conseguirei deixar-lhes somente uma interpretação – serão algumas entre minhas preferidas, ao longo dos próximos dias, porque – bem, eu já lhes disse que é amor?
O início do primeiro movimento – que Beethoven, num gesto sem precedentes, deixa a cargo do solista – costuma dar-me a tônica de cada gravação. Alguns pianistas entram portentosamente, e terminam incongruentes com os comentários da orquestra, que se seguem. Outros acanham-se demais, talvez por medo de serem pervasivos nessa pérola em que solista e conjunto jamais duelam. E há Emil Gilels, que, a despeito de tudo que já se falou da têmpera leonina com que encarava os desafios mais furiosos da literatura para piano, acerta em cheio em timbre e pulso com seus acordes murmurantes. A parceria com Leopold Ludwig, um regente com larga experiência em ópera, e talvez por isso mesmo, funciona à perfeição – o pathos do Andante, um tenso diálogo entre piano e cordas, só poderia vir do mais lírico dos pianistas soviéticos e de um consumado, sensível acompanhador. Os dois oferecem-nos, entre todas as versões que conheço do Op. 58, aquela mais afim à obra-prima seguinte, o concerto para violino que também amo demais, que também se desenrola com serenidade a partir de uma célula rítmica expressa logo no primeiro compasso – aqui, pelo piano, e lá, pelos tímpanos. Atrações adicionais são as cadenze escolhidas por Gilels, que foram fornecidas pelo compositor, mas são muito menos tocadas que aquelas que vocês provavelmente conhecem, as dos longos trinados. Completando o disco, um “Imperador” que poderia ter mais pujança rítmica, ainda que lhe sobre garbo e, no Adagio muito mais lento que o habitual, uma mágica entrada do solista que, sozinha, vale toda a gravação.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto para piano e orquestra no. 4 em Sol maior, Op. 58
Composto entre 1804-1807
Publicado em 1808
Dedicado ao arquiduque Rudolph da Áustria
1 – Allegro moderato
2 – Andante con moto
3 – Rondo – Vivace
Concerto para piano e orquestra no. 5 em Mi bemol maior, Op. 73, “Imperador”
Composto em 1809
Publicado em 1810
Dedicado ao arquiduque Rudolph da Áustria
4 – Allegro
5 – Adagio un poco mosso
6 – Rondo: Allegro
Emil Gilels, piano
Philarmonia Orchestra
Leopold Ludwig, regência
Vassily
Simplesmente amei esse registro dos dois concertos. Do começo ao fim, todo. Ao escutá-lo pela segunda vez já o coloquei, resoluto, para fazer companhia aos álbuns que me são especiais. Obrigado, Vassily, não fosse a postagem, provavelmente eu jamais teria conhecido essa maravilha.
A postagem é perfeita, uma de minhas favoritas do blog; não precisa de complementos ou murmúrios. De todo modo, e embora não afeito a preciosismos técnicos em relação aos arquivos, deixo aqui o álbum no formato FLAC. Muito me emociona esse registro. Que parceria assustadoramente perfeita entre os artistas! O rico pulsar rítmico, poesia pura…
https://www.dropbox.com/sh/3xwf6zrowbv8gkb/AACMipZ-wdu0NNlLmm_LKrJAa?dl=0