A curiosa música para Die Geschöpfe des Prometheus (“As Criaturas de Prometeu”) é tão singular quanto as circunstâncias que levaram à sua criação. Quando a famosa companhia de balé de Salvatore Viganò chegou a Viena, em 1801, logo recebeu o convite para se apresentar para a corte imperial. O napolitano Viganò, sobrinho de Luigi Boccherini, normalmente compunha a música para suas próprias coreografias e imaginou um algo ambicioso libreto baseado no mito de Prometeu. Julgando a ocasião e a complexidade da proposta além de suas habilidades como compositor, convidou o ainda entusiasmado Beethoven pré-Heiligenstadt para contribuir com a produção. Ludwig respondeu de maneira pouco usual, escrevendo a música com rapidez e atendendo todos os prazos, de maneira que, quando da estreia no Burgtheater, a obra estava totalmente completa, sem a necessidade do tradicional expediente beethoveniano de copiar as partituras na penúltima hora lá nas coxias.
O enredo conta a história de Prometeu como criador da civilização. No primeiro ato, instila vida em duas estátuas de argila, gerando os primeiros homens, para no segundo ato apresentá-las às artes através de entidades como Apolo, Orfeu, Pã e Baco. As danças coletivas alternam-se com solos – alguns até hoje indicados pelos nomes de seus criadores (Gaetano Gioia, Maria Casentini e o próprio Viganò), até que a musa da Tragédia mostra a que veio e mata Prometeu, demostrando a todos a inevitabilidade da morte. Thalia e Pã não se fazem de rogados e trazem o falecido titã de volta à vida, e todos dançam festivamente num inacreditável, mas previsível final feliz.
Escrita para um conjunto orquestral pequeno e notavelmente mais leve que as outras obras para o palco de Beethoven, Prometheus inclui partes para o corno di bassetto e para a harpa – instrumentos que, sinceramente, não me lembro de ouvir noutras obras beethovenianas – e alguns proeminentes solos para flauta e violoncelo. E a dança final, uma contradança reaproveitada duma composição da juventude e que ressurgiria também nas variações para piano, Op. 35, ficaria célebre como o tema do colossal finale da sinfonia Eroica – talvez uma citação proposital do criador mitológico da Humanidade numa obra originalmente destinada a Napoleão, que Beethoven considerava até então um herói libertador e inimigo dos déspotas.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Die Geschöpfe des Prometheus, música para o balé em dois atos de Salvatore Viganò, Op. 43
Composto entre 1800-1
Publicado em 1804
Dedicado à princesa Christiane von Lichnowsky
ATO I
2 – Introduzione: La Tempesta. Allegro non Troppo – attacca:
3 – No. 1: Poco Adagio
4 – No. 2: Adagio – Allegro con brio
5 – No. 3: Minuetto
ATO II
6 – No. 4: Maestoso – Andante
7 – No. 5: Adagio – Andante quasi allegretto
8 – No. 6: Un poco Adagio – Allegro
9 – No. 7: Grave
10 – No. 8: Allegro con brio – Presto
11 – No. 9: Adagio – Allegro molto
12 – No. 10: Pastorale
13 – No. 11: Andante
14 – No. 12: Maestoso (“Solo di Gioia”)
15 – No. 13: Allegro – Comodo
16 – No. 14: Andante – Adagio (“Solo della Casentini”)
17 – No. 15: Andantino – Adagio (“Solo di Viganó”)
18 – No. 16: Finale
Orpheus Chamber Orchestra
Vassily
Já li em algum lugar que é a única composição dele com harpa.
Gosto dos momentos mais pastorais dessa obra, onde a harpa se destaca, por outro lado ela é um pouco longa…
Há um CD de aberturas de Beethoven por Marriner/RSO Stuttgart que inclui um “best of” de Prometheus com 6 movimentos, muito recomendável.
Acho que tenho esse CD do Marriner. Aliás, essa fase dele em Stuttgart tem gravações espetaculares.
Essa, salvo engano meu, é a gravação que consta da coleção “Complete Beethoven Edition”, mais de 150 CDs com toda, ou praticamente toda, a obra do Beethoven. Faz parte do volume 3, “Orchestral Works – Music for the Stage”. Muito boa gravação. Tenho uma outra, que creio foi disponibilizada aqui, com o Sir Charles Mackerras à frente da Scottish Chamber Orchestra. Excelente postagem!