William Alwyn (1905-1985): Sinfonias nº 2 e nº 5, Concerto para Harpa

Esta é a era das novas invenções
Para matar corpos, e salvar almas,
Todas propagadas com as melhores intenções;
A lanterna de Sir Humphry Davy, com a qual
O carvão é extraído em segurança,
Viagens à África, expedições aos Polos,
São benefícios à humanidade, tão verdadeiros,
Talvez, como atirar nela em Waterloo.
(Lord Byron, Don Juan, 1819)

Lord Byron teve a genialidade de transformar o personagem do Don Juan, originalmente o grande conquistador triunfante, em um anti-herói libertino e perseguido pelo moralismo da Inglaterra capitalista. Ao contrário dos heróis guerreiros dos épicos gregos, o Don Juan de Byron, escravo dos seus sentimentos, vai sendo expulso por onde passa, cheio de paixões proibidas e de ilusões perdidas como as do Lucien de Rubempré de Balzac. Don Juan vai da Espanha à Turquia e à Inglaterra, mas não é o longo retorno de um vencedor como o Ulisses grego, é a sina de um libertino expulso a pedras como a Geni de Chico Buarque.

Em nossa saga, temos acompanhado a sinfonia, também apedrejada pelas vanguardas do século XX. Como diz Alex Ross em O resto é ruído: Wagner, Strauss e Mahler compensavam as sonoridades inovadoras com o uso intenso de acordes comuns; Scriabin manteve um sentido de centralidade tonal mesmo nas passagens de harmonia mais ousada. Schoenberg foi quem insistiu que era impossível retroceder. Com efeito, ele passou a dizer que a tonalidade estava morta – ou, como diria Webern mais tarde, “quebramos o pescoço dela”.

Essa citação de Schoenberg e Webern mostra, no meu entender, tudo que há de mais grotesco no século chamado de era dos extremos por Hobsbawn. Nunca antes desse século as ideologias e tecnologias permitiram que psicopatas sonhassem em acabar com uma raça ou cortar o pescoço da música tonal com sua tradição de séculos.

Nossa heroína, a sinfonia, precisou portanto correr como tantos outros exilados do século XX. Em dois lugares ela foi muito bem recebida, criou raízes e frutificou em abundância. Um deles, como vimos, foi a Rússia, com gênios de fama internacional. O outro foi a ilha que também recebeu o herói de Byron. Mas lá, a sinfonia evoluiu para se tornar uma subespécie raramente compreendida pelo mundo, mais ou menos como o sarcasmo inglês. Como o disco dos Arctic Monkeys de 2011, censurado em muitas lojas americanas por se chamar Suck it and see, expressão sem qualquer conotação sexual. O mundo pode até rir dos ingleses, mas eles riem do mundo e quem ri por último…

As sinfonias de William Alwyn, como as de Elgar, Vaughan Williams e Maxwell Davies, são raramente ouvidas no resto do mundo. Alwyn compôs cinco sinfonias, nas suas palavras são 4+1. As quatro primeiras formam um ciclo em que cada sinfonia, como um todo, tem o caráter de um movimento de sinfonia clássica à maneira de Haydn. A 1ª é como um Allegro, a 2ª tem o temperamento de um adagio, a 3ª o de um scherzo e a 4ª finaliza. A 5ª, composta décadas depois, homenageia o escritor Sir Thomas Browne (1605-1682) e sua elegia sobre a morte “Hydriotaphia: Urn Burial, or a Discourse of the Sepulchral Urns lately found in Norfolk”.

Gosto muito da segunda sinfonia de Alwyn. Os dois movimentos começam com um certo vigor e vão aos poucos se tornando mais tranquilos, culminando em um final (para cada movimento) calmo e pianissimo, com os instrumentos se retirando um a um e o som desaparecendo em um efeito de paz e plenitude similar ao dos finais dos adagios da Nona de Mahler e da Leningrado de Shosta.

Já ia me esquecendo: Alwyn, que compôs música para dezenas de filmes, faz música tonal sem vergonha nem medo de ser feliz. Os pretensiosos Schoenberg e Webern, que acreditavam ter assassinado a música tonal, quebraram a cara.

William Alwyn (1905-1985): Sinfonias nº 2 e nº 5, Concerto para Harpa “Lyra Angelica”

  1. Symphony No. 5, “Hydriotaphia”
  2. Harp Concerto, “Lyra Angelica”: I. Adagio
  3. Harp Concerto, “Lyra Angelica”: II. Adagio, ma non troppo
  4. Harp Concerto, “Lyra Angelica”: III. Moderato
  5. Harp Concerto, “Lyra Angelica”: IV. Allegro giubiloso – Andante con moto
  6. Symphony No. 2: I. Con moto – Molto moderato – Quasi Adagio molto calmato
  7. Symphony No. 2: II. Allegro molto – Moderato largamente – Molto

Royal Liverpool Philharmonic Orchestra

David Lloyd-Jones, Conductor

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Seja bem vindo ao PQP, William Alwyn!

Pleyel

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