Alban Berg
Quarteto Op. 3
Suíte Lírica
Eu sou basicamente um conservador. Bem, eu quero dizer conservador quando se trata de gosto musical. Expandir meu, digamos assim, repertório, sempre exigiu um certo esforço, mas as recompensas sempre vieram e em abundância. Adoro essa palavra…
Custei muito a incluir as peças de Debussy e Bartók em minha dieta musical, mas hoje não vivo sem elas.
Atualmente tenho tentado navegar por águas um tanto geladas, mapeando os mares shostakovichianos, mas não fui muito além do famosíssimo quinteto para piano e cordas e dos concertos para piano, desde que interpretados pela belíssima Anna Vinnitskaya.
Pois assim, como parte das resoluções de fim de ano, decidi me aventurar mais por águas ainda não navegadas. Porém, antes de grandes arroubos, resolvi visitar algumas das minhas tentativas juvenis que haviam restado indecisas e ataquei de Alban Berg. Como tenho uma queda por quartetos de cordas, busquei na prateleira de baixo, aquela que precisamos abaixar e está mais empoeirada do que as outras, meu disco de Quartetos de Alban Berg.
Então, um álbum com música atonal. Sim, aquela que é impossível assobiar um pedaço depois de ouvi-la. Temeridades à parte, do triunvirato da Segunda Escola de Viena, acho Berg o mais acessível. E olha que o Quarteto Op. 3, obra que abre o disco, é a peça de maior fôlego, criado nesta forma de compor, produzida neste período. Veja o que Schoenberg disse desta peça: ‘Este quarteto surpreendeu-me de maneira mais incrível pela riqueza de sua linguagem e pala ausência de restrições, pelo ímpeto e segurança do discurso, pela sua cuidadosa elaboração e significante originalidade’. A apresentação deste quarteto em Salzburgo em 2 de agosto de 1923, durante um concerto realizado pela Sociedade Internacional de Música Contemporânea foi o primeiro grande sucesso de público de Alban Berg.
A Suíte Lírica é uma peça impressionante. Aqui a temos em sua forma original. O nome foi inspirado pelo nome de uma peça de Alexander Zemlinsky, a Sinfonia Lírica, de 1923. Apesar de atonal, a peça tem suas raízes nas tradições vienenses de quartetos de cordas, especialmente os últimos quartetos de Beethoven e na estrutura do Das Lied von der Erde, de Mahler, obra extremamente significativa do início do século XX. Veja que a peça é composta de seis movimentos.
A obra inicia com um Allegretto gioviale, mas se encaminha para um fim trágico, passando por um Presto delirando e desaguando em um Largo desolato. Pois é, acho que o pouquinho de romantismo que restou em Berg o faz assim, mais acessível aos ouvintes acostumados à música tonal. Vide seu deslumbrante Concerto para Violino. Mas, isto fica para outra ocasião! Quanto a você, fique com o convite de navegar estas águas menos percorridas, se é o seu caso. As recompensas podem ser surpreendentes.
Alban Berg (1885 – 1935)
Quarteto Op. 3
- Primeiro movimento
- Segundo movimento
Suíte Lírica
- Allegro gioviale
- Andante amoroso
- Allegro misterioso
- Adagio appassionato
- Presto delirando
- Largo desolato
Quatuor Arditti
Irvine Arditti, violino
David Albermann, violino
Levine Andrade, viola
Rohan de Saram, violoncelo
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FLAC | 199 MB
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MP3 | 320 KBPS | 111 MB
O Quatuor Arditti ou Arditti Quartet já não tem esta mesma formação. Aqui está um update dos membros que participaram desta gravação, mas não mais fazem parte do grupo. Página do segundo violino, agora com a grafia David Alberman pode ser acessada aqui.
Levine Andrade, que tocava a viola, faleceu em 2018. Você poderá ler um obituário aqui.
O violoncelista Rohan de Saram continua ativo e você poderá acessar sua página aqui.
A página do Arditti Quartet atual é esta aqui.
Usei Quatuor Arditti no lugar de Arditti Quartet porque o selo do disco da postagem é francês. Você poderá ler aqui uma entrevista com Irvine Arditti e David Alberman, feita por Bruce Duffie.
Há muitas explicações sobre as motivações para a composição da Suíte Lírica, que envolvem uma paixão impossível, motivos musicais construídos por letras dos nomes dos enamorados e um bocado de teoria musical. Você pode saber mais sobre isto aqui, o programa da peça segundo outro excelente conjunto musical. Mas hoje, as honras são para o ousado Quatuor Arditti.
Aproveite!
René Denon