Ravel
Miroirs – Le tombeau de Couperin
Direto do Tunel do Tempo, este disco é bem típico dos anos 70, um compositor, duas obras (uma para cada lado do LP), uma intérprete especialista neste tipo de música. Com pouco mais de 50 minutos de música, demandava uma virada de disco entre uma peça e a outra. Isto incluía levantar-se do sofá ou da poltrona, levantar o braço da vitrola, virar o disco e, com muito cuidado, colocar o braço novamente sobre o disco em movimento.
Este ritual todo, em alguns casos, incluía uma esfregadela da flanela no LP, para garantir o bom desempenho de todo o (agora aparentemente) tosco mecanismo. Também fazia com que mergulhássemos por uns minutinhos em algum silêncio, muito adequados para uma pequena reflexão sobre o que acabávamos de ter ouvido.
Os CDs, e agora as novas mídias, permitem que ouçamos ininterruptamente horas (se aguentarmos, é claro) de música. Isso é uma boa deixa para a reflexão de cada um… Como você ouve música hoje? Como você ouvia música (digamos) há um terço, um quarto de seu tempo de vida já passada?
Mas vamos a música, pois afinal de contas, isso é o que interessa. Temos duas lindas suítes escritas por Maurice Ravel, para piano solo. Ou seja, dois conjuntos de peças com um fio condutor ligando-as. Isso não impede que uma ou outra destas peças apareça em algum outro contexto, desatacada da suíte.
Miroirs é a mais antiga das duas. Foi escrita entre 1904 e 1905 e estreada em 1906 pelo pianista e muito amigo de Ravel, Ricardo Viñes.
Cada movimento desta suíte foi dedicado a algum amigo de Ravel que fazia parte do grupo de artistas autointitulado ‘Les Apaches’, entre eles o próprio Ricardo Viñes, ao qual foi dedicado a linda peça ‘Oiseaux tristes’.
A outra suíte, ‘Le tombeau de Couperin’, foi composta entre 1914 e 1917, período terrível, durante a Primeira Grande Guerra. Nesta, Ravel perdeu vários amigos e cada movimento da suíte é dedicado a algum deles. A ‘Toccata’, o último movimento da suíte, por exemplo, foi dedicado a Joseph Marliave, que foi musicólogo e marido de Marguerite Long.
A suíte é inspirada nas suítes barrocas de danças do século XVII. A palavra ‘tombeau’ no título era usado naquela época para indicar uma homenagem, um memorial a quem for nomeado. No caso, Couperin pode ser considerado uma homenagem aos músicos franceses daquela época, por que além do grande François Couperin, havia muitos músicos nesta família.
Eu gosto particularmente da Forlane, movimento que já foi postado aqui na interpretação de Rubinstein, no seu álbum sobre música francesa.
A intérprete deste típico LP é a pianista Anne Queffélec, que graduou-se com láurea no Conservatório de Paris e especializou-se em Viena com a trinca Paul Badura-Skoda, Jörg Demus e Alfred Brendel. Teve sua carreira definitivamente deslanchada depois de ganhar as competições para piano de Munique (1968) e Leeds (1969). É ativa desde então e tem discos gravados recentemente sendo lançados.
Veja o que ela disse da suíte Miroirs, em uma entrevista dada a propósito de uma apresentação sua em Londres, em 2018: ‘A segunda metade de meu recital é dedicada a Reflets dans l’eau, de Debussy, e Miroirs, de Ravel, pois eu amo estas peças maravilhosas’. Ao programar Reflets e Miroirs juntas sinto estar conectando a esta ideia de ‘reflexos’, mesmo que a própria música na suíte de Ravel, nos títulos individuais das cinco peças, não nos dê a chave para o nome global Miroirs. Isto permanece um mistério. Temos que ser como Alice no País das Maravilhas e concordar em seguir Ravel e passar através dos espelhos a nossa volta’.
Maurice Ravel (1875-1937)
Miroirs
- Noctuelles
- Oiseaux tristes
- Um barque sur l’ocen
- Alborada del gracioso
- La vallée des cloches
Le tombeau de Couperin
- Prélude
- Fugue
- Rigaudon
- Menuet
- Toccata
Anne Queffélec, piano
Disco de 1977, com gravação de Pierre Lavoix
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FLAC | 400 MB
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MP3 | 320 KBPS | 181 MB
No nosso caso, além dos espelhos, passamos também pelo Túnel do Tempo!!
Aproveite!
René Denon