Acrescentar obras novas de Beethoven a um acervo como o do PQP Bach é dureza, ainda mais quando se tem como colegas uns celerados com discografias nababescas como nosso patrão e o ilustre FDP Bach. No entanto, acho – ACHO – que esta ainda não apareceu por aqui: o arranjo para piano e orquestra, feito pelo próprio compositor, de seu célebre Concerto para violino.
Como era habitual a Beethoven, gênio tão ruminativo quanto pessoa proverbialmente desorganizada, a versão original do Concerto foi concluída em cima da hora para a estreia, muito pouco ensaiada, e o solista – um certo Franz Clement – teve que ler boa parte do solo à primeira vista. A relação do público na première, claro, foi uma geleira, e a obra foi esquecida durante muitas décadas, até ser ressuscitada pelo jovem Joseph Joachim em meados do século XIX. Numa tentativa de resgatá-la do ostracismo, Beethoven arranjou-a como um Concerto para piano, quase rasgando suas costuras ao tentar torná-la mais idiomática ao teclado. Fê-lo, aparentemente, com muito entusiasmo, a julgar pela curiosíssima, hiperativa cadenza que escreveu para o Allegro non troppo, que conta com uma nada sutil participação dos tímpanos – os mesmos que abrem, em discreto pulsar, o primeiro movimento.
O finlandês Mustonen é um bom pianista e muito aventureiro na exploração do repertório. Para acompanhar a curiosa reinvenção de Beethoven, escolheu um dos concertos de Bach, para o qual dá uma interpretação correta, tanto ao teclado quanto na regência.
BEETHOVEN – PIANO CONCERTO (VIOLIN CONCERTO ARR. BEETHOVEN)
BACH – CONCERTO BWV 1054
OLLI MUSTONEN
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Concerto em Ré maior para piano e orquestra, Op. 61a (transcrição do Concerto para violino, Op. 61, feita pelo próprio compositor)
01 – Allegro non troppo
02 – Larghetto
03 – Rondo: Allegro
Olli Mustonen, piano
Deutscher Kammerphilarmonie
Jukka-Pekka Saraste, regência
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Concerto em Ré maior para piano, orquestra de cordas e contínuo, BWV 1054
04 – [sem indicação de andamento]
05 – Adagio e piano sempre
06 – Allegro
Olli Mustonen, piano e regência
Deutscher Kammerphilarmonie
Caro Vassily, ouvir Beethoven é sempre um privilégio, ainda mais em uma interpretação primorosa como essa. Mas a versão para piano do concerto não é novidade no blog. Há uma versão com Ronald Brautigam e outra, postada em 2011, interpretada por Schoonderwoerd.
Essa interpretação de Mustonen encara a peça como um concerto para piano e nos faz esquecer a versão original para violino. Uma das melhores gravações que já ouvi dessa peça!
Rapaz, nem sei o que eu tinha na cabeça lá em 2015 para dar tanta barrigada nas postagens. Só sei que, ao republicá-las, os leitores-ouvintes estão detectando as barrigadas e gentilmente apontando-as. Fico com cara de tacho e mais um pouco, por conta dos juros do tempo em que elas ficaram ali, esperando correção. Tenho realmente que revisar tudo antes de republicar. Grato pelo reparo, que indica que não só houve publicações anteriores deste concerto, como foram precedentes muito ilustres.
Quanto a Mustonen, concordo com você. Ele realmente encara este concerto como se nunca tivesse ouvido o original para violino e orquestra. Mustonen andou pelo Brasil mês passado, mas pelo que soube só tocou (e regeu) em BH.