Os antipianistas que me perdoem e que voltem noutro dia: hoje, mais uma vez, é dia de Chopin.
Tiete irremediável que dele sou, um verdadeiro “chopinete” com devoção quase patológica ao polonês genial, não foi à toa que o escolhi para minha estreia neste blogue, que ocorreu com duas postagens mamúticas do que eu afirmava ser a obra integral do polonês em instrumentos de época.
Sim, afirmava.
Sim, pretérito imperfeito.
ooOoo
Por algum motivo, não encontraram espaço naquela caixa de 21 CDs para estas transcrições dos concertos de Chopin para piano e quinteto de cordas. Ou talvez exista, sim, um bom motivo: o arranjo não é da lavra do próprio Chopin, mas de um certo Richard Hofmann, sobre o qual nada mais descobri, exceto o nome no frontispício da primeira edição do Concerto em Mi menor.
Tais arranjos eram muito populares naqueles tempos em que havia poucas orquestras profissionais, o que tornava os ensaios orquestrais muito dispendiosos. Ademais, ajudavam a popularizar a obra, libertando-a das salas de concertos e permitindo sua execução mesmo em domicílios ou nos salões aristocráticos notoriamente preferidos por Chopin.
Aqueles que não conseguem deglutir o que chamam de orquestração inepta de Chopin talvez apreciem seus Concertos nesta roupagem camerística, em que o pianista não só se exibe nos complicados solos, mas também assume algumas partes originalmente delegadas à orquestra, notoriamente aquelas das madeiras. A pianista Janina Fiałkowska pega leve nos fortes e fortissimos na parte solista e, assim, ajuda a preservar o caráter camerístico dos arranjos – que, se não chegam a se tornar sextetos com piano, pelo menos deixam estas muito conhecidas obras respirarem ar fresco.
FRYDERYK FRANCISZEK CHOPIN (1810-1849)
CONCERTOS PARA PIANO EM VERSÃO DE CÂMARA
Arranjos para piano e quinteto de cordas: Richard Hofmann
Concerto para piano no. 1 em Mi menor, Op. 11
01 – Maestoso
02 – Romanze: Larghetto
03 – Rondo: Allegro vivace
Concerto para piano no. 2 em Fá menor, Op. 21
04 – Maestoso
05 – Larghetto
06 – Rondo: Allegro vivace
Janina Fiałkowska, piano
Chamber Players of Canada:
Jonathan Crow e Manuela Milani, violinos
Guylaine Lemaire, viola
Julian Armour, violoncelo
Murielle Bruneau, contrabaixo
Vassily Genrikhovich
Isto deve ser lindo! ansioso por ouvir a Romanza do primeiro concerto neste arranjo. Como sempre e sempre, gratíssimo!
Duas coisas que adoro juntas: Chopin e música de câmara.
Espero que me permitam a reação lá não muito monástica, mas que, afinal, não dá pra dizer que descombina de Chopin: A-MEI!
Já comentei anteriormente (creio que na postagem da Rapsódia para Contralto de Brahms) que a idade vem pouco a pouco me tornando refratário ao som de grandes orquestras – não em 100% dos casos, mas de modo geral sim.
A transparência cristalina que essas peças ganharam ao serem reduzidas do tamanho de um grande rio ao de um riacho correndo por entre pedras no campo… pra mim nem se pode falar de “redução” e sim de “sublimação”, demanterialização pra se tornar algo ainda maior em alguma outra forma de ser… ainda que imaginária (o que também é uma forma de ser).
Obrigadíssimo por MAIS esta, meu caro!!
Também gostei muito, preferi à massa orquestral.