W. A. Mozart
Concertos para Piano Nos. 1 a 4
Jenö Jandó
Ao chegar em casa após intensas reuniões tratando do planejamento das postagens do blog e de horas seguidas de audições dos arquivos postados pelos colegas, esperava apenas uma noite tranquila em frente à TV fazendo o leve exercício de entender os meandros e as sutilezas da política nacional. No entanto, ao abrir a caixa de correio, meu coração acelerou – envelope acolchoado com plástico de bolhas com clara indicação de ter chegado do exterior, enviado por um desconhecido Gidnek Selim. Quase não conseguia enfiar a chave no buraco da fechadura, com gana de abrir logo o teimoso envelope.
Alguns minutos depois e tudo foi se esclarecendo. O conteúdo do envelope era o CD que faltava à postagem da Integral dos Concertos para Piano de Mozart. Realmente, dias atrás, um atento leitor escreveu-me observando que, como num destes contos de Borges, havia uma lacuna e a minha postagem da Integral dos Concertos para Piano de Mozart restava incompleta. Mas como?, pensava eu, dez é o número da totalidade! Onde estão os quatro primeiros concertos?, insistia o leitor arguto. Argumentei que estes não eram exatamente concertos compostos por Mozart. Numa enciclopédia que imaginava ter consultado havia indicações de sonatas de Johann Christian Bach. Busquei a tal enciclopédia, mas as consultas feitas após a meia-noite são elusivas. O volume que eu buscava, com verbetes iniciados por Moz até verbetes iniciados por Rac estava desaparecido. Mais mistério. Iniciei buscas outras e até enviei alguns e-mails para um antigo endereço que Miles havia deixado na última vez que estivemos juntos.
Foi assim que descobri a existência de mais um volume da coleção por mim postada, o de número 11. Pronto, imagino que agora a saga dos Concertos para Piano estará, enfim, completa. Sem dúvida, Gidnek Selim é um ardiloso anagrama de Miles Kendig. Em se tratando de espiões e agentes secretos, mesmo aposentados, todo o cuidado é pouco. Meu caro Miles deve ter percebido a falha na postagem e enviou-me o CD que faltava. Ah, o que seria da vida sem os amigos…
Então, aqui temos a coisa toda, os Concertos para Piano de Nos. 1 a 4 realmente são pastiches de obras de compositores alemães que atuavam em Paris. Foi lá que Mozart os conheceu, assim como as suas obras, em suas viagens de 1763, 1764 e novamente em 1766.
Hermann Friedrich Raupach era um compositor alemão. Mozart e ele improvisavam juntos, ao piano, enquanto Mozart, uma criança ainda, sentava-se sobre seus joelhos. Mozart e Johann Christian Bach fariam o mesmo, em Londres.
Leontzi Honauer era músico de Strasburgo e tinha muitas obras publicadas em Paris.
Johann Schobert foi cravista e compositor muito admirado em Paris, que em 1767 teve a infelicidade de comer cogumelos envenenados. Mozart admirava sua música, que achava charmosa. Leopold, o pai de Mozart não o tinha em grande conta.
Johann Gottfried Eckard havia se mudado para Paris em 1758 e lá permaneceu até a sua morte em 1809. Eckard aprendera muito com CPE Bach e preferia o emergente piano em oposição ao cravo. Era excelente pianista e mestre na improvisação.
Fica então assim a distribuição dos compositores das peças usadas na moldagem dos concertos.
W. A. Mozart (1756 – 1791)
Concerto No. 1 em fá maior, K. 37
- Allegro (Raupach)
- Andante (Honauer)
- Allegro (Honauer)
Concerto No. 2 em si bemol maior, K. 39
- Allegro spiritoso (Raupach)
- Andante (Schobert)
- Molto allegro (Raupach)
Concerto No. 3 em ré maior, K. 40
- Allegro maestoso (Honauer)
- Andante (Eckard)
- Presto (CPE Bach)
Concerto No. 4 em sol maior, K. 41
- Allegro (Honauer)
- Andante (Raupach)
- Molto allegro (Honauer)
Jennö Jandó, piano
Concentus Hungaricus
Ildikó Hegyi, regente
Produção: Ibolya Tóth
Gravação de 1991
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
FLAC | 223 MB
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MP3 | 320 KBPS | 124 MB
Estes pastiches revelam a habilidade de Mozart em revestir peças originalmente escritas como música de câmera ou como sonatas na forma de concertos e permitiam assim a exibição de seus dotes como virtuose do piano. São peças típicas do estilo galante, desenvolvido pelos alemães e que tanto caíra no gosto dos parisienses. Segundo a revista Classic CD, “You are in for a treat!”
Como? Nova ligação de Miles, ainda mais concertos para piano de Mozart? Bom, essa vai ter que ficar para depois! To be continued…
René Denon
Não é à toa que o Blog PQPBach recebe tantos elogios. Sua equipe é composta de verdadeiros craques da música erudita. Eu considero o René Denon um cara(se me permite) completo. Suas postagens são extremamente esclarecedoras e criam na gente um suspense didático.
Obrigado pelo vosso esforço.
Amplexus!
Seus comentários me enrubescem, Manoel!
Obrigado pelas palavras elogiosas!
Forte abraço!
RD
Caríssimo Denon, muito obrigado por esta postagem. Quando indaguei ao PQP por esta lacuna, ele disse que não postaste porque não gostas destes concertos. Convenhamos que a história atual é bem mais convincente e bonita. E assim completamos o ciclo. Evoé!
Olá, Chico!
Recebi com prazer sua simpática mensagem! Eu não havia me dado conta da existência deste CD até receber a mensagem de alguém mencionando-o. A pessoa que me alertou não fala Português ou mesmo Espanhol. Vá saber, deve ser coisa do Miles…
Abração!
RD
Que história DELICIOSA, René Denon!
“Ah, o que seria da vida sem os amigos…” Se me permitem a audácia, vejo-os todos daqui como amigos que venho, já há alguns meses, diariamente encontrar…
Muitíssimo obrigado por compartilhar a boa música, mas, sobretudo, os textos das postagens!
😎