Richard Wagner – Siegfried – Jess Thomas, Thomas Stewart, Helga Dernesch, Gerhard Stolze, Karl Ridderbusch, etc., Karajan, BPO

Vamos que vamos com o Siegfried, a terceira ópera do ciclo do Anel dos Nibelungos de Wagner, por sinal, Siegfried era o nome de meu falecido sogro. O texto abaixo, como nas postagens anteriores, é de autoria do colega Ammiratore. Os senhores irão reparar que este seu texto está um pouco mais leve, mais descontraído.

“Dentro da tetralogia de Wagner, o terceiro drama, Siegfried, pode ser o menos popular ou conhecido. Porém é o mais importante no estabelecimento de um equilíbrio dramático entre as quatro obras. Wagner interrompeu a composição em 1857 no final do segundo ato de Siegfried para escrever “Tristan und Isolde” e “Die Meistersinger von Nürnberg”, retornando a Siegfried sete anos depois para completar o terceiro ato em 1869. A estréia mundial foi em 16 de agosto de 1876.
Elementos dessas duas óperas alimentam Siegfried: apresenta a música mais leve do ciclo do Anel, acho que é uma celebração musical maravilhosa da natureza, tem o dueto de amor mais extático (influenciado pelo dueto de Tristan und Isolde), quando Brünhilde e Siegfried se descobrem. A principal tarefa dramática da obra está no estabelecimento do grande herói do “Ciclo do Anel”. Há muito menos peças reconhecíveis nesta ópera quando comparadas às outras três, mas “Siegfried” possui alguns grandes momentos. Uma das mais famosas é a música de forjamento, aonde Siegfried num número solo nos mostra imediatamente que Wagner exige uma grande disposição do intérprete com seu principal personagem. Outros momentos famosos são a breve passagem do pássaro na floresta e, mais notavelmente, o dueto de amor final entre Siegfried e Brünhilde. Como em Die Walküre, Siegfried é uma ópera gigantesca por si só. A natureza fantástica e mitológica da trama é uma das razões pelas quais a ópera dura bem mais de quatro horas. Vamos tentar resumir então (fiquei feliz pelos comentários das outras duas e farei uma abordagem, digamos, leve e alguns trechos foram inspirados na casabibliofilia.blogspot.com):

“Mais uma vez nos encontramos com Wotan, agora chamado de Wanderer – que deixamos no final de Die Walküre , chateado com o destino de sua filha amada, Brünhilde. Como o próprio Wagner escreveu ao músico alemão August Roeckel, “depois da despedida de Brünhilde, Wotan realmente não é mais do que um espírito sem luz”. O Wotan de Siegfried é um deus velho e cansado, que perdeu o poder de comandar, que está disposto a deixar que os acontecimentos sigam o seu curso e está contente em desistir. O foco principal de “Siegfried” não é Wotan, mas o lendário personagem nórdico Sigurd, um herói nacional representado em todos os tipos de formas de arte. O personagem Siegfried de Wagner, diferente de outras versões, é filho de Siegmund com sua irmã (os dois são volsungos, ou Wälsung), o que faz de Siegfried neto de Wotan duas vezes (por parte de pai e de mãe). Entre as histórias de “Die Walkürie” e “Siegfried”, Sieglinde é encontrada por Mime na floresta, o anão ferreiro a leva para a caverna onde habita. Ali nasce Siegfried, mas Sieglinde morre: na agonia declara o nome escolhido para o filho e relata quem era o pai. Mime cria o menino, que cresce cheio de vigor e torna-se um rapaz de temperamento ousado, qualidade que vem bem a calhar aos desígnios de Mime: espera que seja Siegfried aquêle a cujos pés Fafner cairá morto, trespassado pela espada (“Nothung”) que, feita em pedaços, recebeu das mãos de Sieglinde. Mime deseja que Siegfried pegue o anel de Fafner e depois planeja matá-lo.
Primeira cena do primeiro ato. Mime está com raiva pois está preparando uma espada para Siegfried, mas sabe que o jovem quebrará a arma assim que estiver pronta. Tem forjado outras espadas, Siegfried as quebrou todas com uma só pancada, entre risos e palavras de zombaria. O nibelungo sonha obter o Anel e o Tarnhelm (aquele elmo que transforma), e para isso precisa de Siegfried. O jovem chega com um urso encoleirado, e brinca com o urso como se este fosse um Yorkshire Terrier. Depois ele quebra a espada pronta como se fosse uma vareta de bambu, o que deixa Mime muito azedão. O anão lamenta-se de tamanha ingratidão. Diz-se injustiçado, ele que criou Siegfried com todo desvelo. Mime conta a história de Siegfried, mas sem lhe contar a história do pai, mostra os fragmentos da Excalibur … ops, digo, Notung, e Siegfried fica animado, pedindo para que Mime reconstrua a espada.
Duas coisas podemos perceber a partir da leitura e audição da primeira cena. A primeira é que “Siegfried” não é tão monumental musicalmente quanto “Die Walkürie”, e que a dramatização é mais importante do que as narrativas e lirismo. É a obra mais dramática das quatro óperas, e ao mesmo tempo a mais épica. A segunda é que Siegfried é o herói com mais testosterona da história da literatura nórdica. Não é qualquer um que brinca com um ursinho de estimação e quebra uma espada de metal feita por um nibelungo como se fosse de bambu.
Na segunda cena Wotan, disfarçado como andarilho, aparece e provoca Mime, o desconhecido insiste e propõe, para provar sabedoria, que Mime lhe faça três perguntas. Se não as responder, dará sua cabeça em troca. Mime concorda e, tendo o outro se havido bem, deve admitir que lhe subestimara a capacidade. Só não esperava de Wotan (a quem ainda não reconheceu) a exigência de submeter-se a igual desafio. Sente-se aliviado ao responder às primeiras duas perguntas: “Qual a raça marcada pela cólera de Wotan, embora êste a amasse mais que a própria vida?” (OS Wilsungos); “Que espada poderá ser o instrumento da morte de Fafner?” (a Nothung). Para a terceira questão, porém, não encontra resposta: “Quem saberá retemperar a espada?” dizendo ao final que apenas quem não conhece o medo poderá forjar a espada Notung , e assim passa para a 3ª cena, onde entra Siegfried e pede a espada, que Mime não conseguiu forjar. Como Siegfried não conhece o medo, ele mesmo forja a espada e para testá-la parte uma bigorna ao meio (quanta testosterona!!!).
No segundo ato, Alberich espreita Fafner (na forma de um dragão), quando surge Wotan e avisa a Fafner que vem alguem matá-lo. Fafner não se importa e na segunda cena Mime conduz Siegfried as proximidades da caverna onde Fafner dorme sobre o tesouro. Desperto pelo som da trompa do rapaz, o dragão deixa seu abrigo. A luta é breve: agonizante, Fafner adverte Siegfried que se acautele, pois quem o induziu a esse ato assassino também trama sua morte e o dragão conta sua história. Após o dragão morrer Siegfried com a mão suja de sangue a leva a boca e acaba por ingerir o líquido que lhe dá o poder clarividente de falar com as aves. Siegfried então descobre o que Mime planejava e mata-o, em seguida conversando com uma ave ela fala sobre Brünhilde. Siegfried se prepara para mais uma prova de bravura.
Na primeira cena do último ato, Wotan invoca a deusa da Terra e conversa com ela. Esse diálogo é muito legal de se ler (o libreto em português está AQUI no link), mas ele não cria mudanças significativas no enredo. Na segunda cena, Siegfried encontra Wotan, e há uma discussão entre eles. Wotan afirma que já quebrou a Notung uma vez e pode fazê-lo novamente, mas Siegfried quebra a lança e Wotan recolhe os pedaços tranquilamente e desaparece. Na última cena, por fim, Siegfried encontra Brünhilde tal como Wotan a deixara no final da “Die Walkürie”, e não sabe o que fazer com ela (pois nunca viu uma mulher na vida). Um pequeno parêntesis, tá bom perdoo o Siegfried, pois quando era mais novo, com uns 14 – 15 anos, provavelmente não saberia o que fazer se uma Valkíria caísse nos meus braços, provavelmente a chamaria para jogar Enduro ou River Raid, tomar um suquinho ouvindo na vitrola um Vivaldi… sei lá… . Após o beijo, Brünnhilde acorda e pergunta quem é o herói, que prontamente se identifica. Brünhilde conta que salvou a vida dele antes, e Siegfried cogita ser ela sua mãe, o que é logo desmentido. Brünhilde ainda faz-se de difícil por um tempinho, mas logo rende-se ao amor do guerreiro volsunga cheio de testosterona, um estereótipo de super-guerreiro-bombado.

Cosima-Siegfried-Richard

Um caso curioso é que presentes de aniversário vêm em todas as formas e tamanhos. Cosima Wagner quando acordou em 25 de dezembro de 1870 para celebrar seu 33º aniversário, um grupo de 17 músicos se reuniu nas escadas que levavam ao seu quarto. Com Richard Wagner regendo, os músicos tocaram “uma saudação de aniversário sinfônica”. Wagner posteriormente mudaria o nome da composição para o conhecido “Siegfried Idyll”.

Siegfried, personagens e intérpretes:
O elenco é absolutamente de primeira linha. O Mime de Gerhard Stolze transmite a malícia revoltante do anão maligno de maneira mais convincente, lembrando que Wagner pediu uma voz “dura e rouca”, uma exigência impossível. Thomas Stewart é novamente um Wotan impressionante e usa sua esplêndida voz com grande efeito. Ridderbusch é um Fafner menos aterrorizante, mas ainda não é uma fera que alguém gostaria de encontrar! Oralia Dominguez transmite bem o mistério de Erda. Catherine Gayer, bom, achei que o seu pássaro esta com uma voz excessivamente trêmula. Gostei imensamente do bombadão Siegfried de Jess Thomas. Ele é excelente em seu total desprezo por Mime. No dueto final, ele mostra que percebeu rapidinho os encantos de uma mulher e canta lindamente para ela. Dernesch tem uma voz adorável, pura e uniforme com um registro baixo e quente, sua Brünnhilde é muito convincente quando acorda para o amor humano, ela canta lindamente o seu despertar. Siegfrid, filho de Wagner nasceu na época em que compôs a parte do dueto final, podemos ouvi rWagner e Cosima evocando o amor de forma intensa. Karajan tinha à sua disposição uma esplêndida orquestra. Como sempre regendo com clareza, intensidade e ritmo!”

Wagner – Siegfrid

Jess Thomas – tenor – Siegfried
Thomas Stewart – baritono – Der Wanderer
Gerhard Stolze – tenor – Mime
Helga Dernesch – soprano – Brünnhilde
Karl Ridderbusch – baixo – Fafner
Oralia Dominguez – mezzo – Erda
Catherine Gayer – soprano – Waldvogel
Berlin Philharmonic Orchestra / Herbert von Karajan

CD 1 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD 2 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD 3 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD 4 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

3 comments / Add your comment below

  1. Oi! Muito obrigado por postar novamente o Siegfried. Tinha baixado no antigo blog, mas acabei perdendo. Estou ouvindo aqui e parece que tem uma confusão a partir do segundo ato, com os títulos das faixas trocados. E no CD 3 parece estar faltando o Siegfrieds Hornruf e a batalha com Fafner. Agradeço ainda mais se puder checar. Um abraço!

  2. Bom dia Arthur. Muito obrigado pelo comentário.

    Você tem razão, as faixas do CD2 e CD3 estão fora de ordem….. e ainda falta a faixa da batalha!
    Quando fizemos a conversão em mp3 do álbum não reparamos, as vezes o programa de ripagem “tem vontade própria”…..

    Agora os links estão refeitos e testados !!!

    Muito obrigado !

    1. Eu que agradeço! Não apenas pela checagem do post, mas por todo o acervo disponibilizado no blog. Construí muito do meu ouvido musical por aqui. Valeu!!

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