PQP Bach
12 anos de Prazer
Bem, voltei.
Nem tentarei explicar por que sumi por tanto tempo, pois, se começar, talvez eu suma antes mesmo de terminar.
Ensaiei, sim, vários retornos, mas estes não aconteceram pelas mais variadas faltas – de tempo, de élan e, por fim, do cacoete de chegar em casa, escrever e postar.
Muitos foram, também, os gentis convites para retornar. Nenhum deles, no entanto, surtiu efeito. Minha barriguda inércia não se impressionava muito com a sutileza. Sugeri a nosso patrão PQP, enfim, que me intimasse a voltar, e ele o fez, por repetidas vezes – até que o apelo do aniversário de doze anos deste fecundo blogue me fez livrar dessa nhaca inerte e voltar à ativa.
Depois de tanto tempo afastado dessa arena pequepiana, certamente me falta muito daquilo que acabei de chamar de cacoete, e que os boleiros conhecem por “ritmo de jogo”. Nos meus áureos tempos, bastava um espirro em frente ao teclado e já me saía um textículo todo marotinho. Agora, anos depois, me é como se meus dez dedos fossem oitenta, e muito hesitantes, e estranhassem completamente o teclado, o WordPress e aquele mesmo afã em que eram tão hábeis, o de rechear más linguiças temperadas com boa música.
Acho que acabei de rechear uma linguicinha, que já lhes poderei servir – só falta a música, que dispensa apresentações. Não lhes falarei de Wagner, nem da radicalidade de “Tristan und Isolde”, e de todos que a consideram uma das obras mais cruciais e influentes da Música Ocidental; não falarei daquele famoso acorde do terceiro compasso do Prelúdio, descrito sucintamente como uma quarta, sexta e nona aumentadas, e mais elaboradamente como um potente corrosivo da música tonal e propulsor de muito do que haveria na música do século XX. Tampouco tecerei loas à grandeza das vozes de Kirsten Flagstad e Ludwig Suthaus; não lhes contarei que eles já não estavam no auge, e que precisaram mesmo que a diva Elisabeth Schwarzkopf ajudasse Flagstad em alguns agudos no segundo ato; não comentarei que essa alegada decadência nunca me importou, pois a imensa sabedoria acumulada em carreiras wagnerianas tão distintas torna o duo imbatível, veramente incomparável; deixarei passar o detalhe de que o jovem Dietrich Fischer-Dieskau traz um toque de Lied a seu Kurwenal; não dependerão de mim, também, para se aperceberem da estranheza da escolha da Philarmonia Orchestra para uma obra de repertório que, para lhes dizer o mínimo, está em território estranho; e enfim, e não, mas não MESMO, ouvirão de mim que esta é uma das maiores gravações de todos os tempos, e talvez a melhor expressão da arte daquele gênio idiossincrático da regência, o lendário Wilhelm Furtwängler.
Nah, longe de mim isso tudo: prefiro parar por aqui, antes que canse outra vez, que pegue renovado nojo dessa vida de blogueiro e escolha sumir novamente no Éter para só voltar quando me apresentarem alguma gravação melhor do que esta que ora lhes apresento de “Tristan und Isolde”.
ooOoo
Wilhelm RICHARD WAGNER (1813-1883)
TRISTAN UND ISOLDE, ópera romântica em três atos com libreto do compositor
DISCO 01
01. Vorspiel
02. Westwärts schweift der Blick
03. Brangäne, du? Sag – wo sind wir?
04. O weh! Ach! Ach, des Übels, das ich geahnt!
05. Frisch weht der Wind der Heimat zu
06. Mir erkoren, mir verloren
07. Hab acht, Tristan! Botschaft von Isolde
08. Darf ich die Antwort sagen?
09. Weh, ach wehe! Dies zu dulden!
10. Wie lachend sie mir Lieder singen
11. Von seinem Lager blickt’ er her
12. O Wunder! Wo hatt’ ich die Augen?
13. Da Friede, Sühn’ und Freundschaft
14. O Süße, Traute! Teure! Holde! Goldne Herrin!
15. Ungeminnt den hehrsten Mann
16. Kennst du der Mutter Künste nicht?
17. Auf! Auf! Ihr Frauen!
18. Herrn Tristan bringe meinen Gruß
19. Nun leb wohl, Brangäne!
20. Langsam Listen
21. Begehrt, Herrin, was ihr wünscht
22. Da, du so sittsam, mein Herr Tristan
23. Nun will ich des Eides walten
DISCO 02
01. War Morold dir so wert
02. Ho! He! Ha! He! Am Obermast die Segel ein!
03. Du hörst den Ruf?
04. Auf das Tau! Anker los!
05. Tristan!… Isolde!
06. Was träumte mir von Tristans Ehre?
07. Schnell, den Königsschmuck!
08. Vorspiel
09. Hörst du sie noch?
10. Der deiner harrt – o hör mein Warnen!
11. O laß die warnende Zünde
12. Und mußte der Minne tückischer Trank
13. Isolde! Geliebte!… Tristan! Geliebter!
14. Das Licht! Das Licht!
15. Der Tag! Der Tag
16. In deiner Hand den süßen Tod
17. O nun waren wir Nacht-Gweihter!
18. O sink hernieder, Nacht der Liebe
19. Einsam wachend in der Nacht
20. Lausch, Geliebter!
21. Unsre Liebe? Tristans Liebe?
DISCO 03
01. Doch unsre Liebe
02. So stürben wir, um ungetrennt
03. Habet acht! Habet acht!
04. O ew’ge Nacht, süße Nacht!
05. Rette dich, Tristan!
06. Tatest du’s wirklich?
07. Wozu die Dienste ohne Zahl
08. Dies wunderhehre Weib
09. Nun, da durch solchen Besitz mein Herz
10. O König, das kann ich dir nicht sagen
11. Wohin nun Tristan scheidet, willst du, Isold’, ihm folgen?
12. Als für ein fremdes Land
13. Verräter! Ha! Zur Rache, König!
14. Hirtenreigen auf einer Schalmei
15. Kurwenal! He! Sag, Kurwenal!
16. Öd’ und leer das Meer!… / Hirtenreigen auf einer Schalmei / Die alte Weise
17. Wo du bist? In Frieden, sicher und frei!
18. Dünkt dich das? Ich weiß es anders
19. Scene 1. Isolde noch im Reich der Sonne!
DISCO 04
01. Noch losch das Licht nicht aus
02. Mein Kurwenal, du trauter Freund!
03. Hirtenreigen auf einer Schalmei / Noch ist kein Schiff zu sehn!
04. Nein! Ach nein! So heißt sie nicht!
05. Der Trank! Der Trank! Der furchtbare Trank!
06. Mein Herren! Tristan! Schrecklicher Zauber!
07. Das Schiff? Siehst du’s noch nicht?
08. Wie sie selig, hehr und milde
09. Hirtenreigen auf einer Schalmei / O Wonne! Freude! Ha! Das Schiff!
10. O diese Sonne! Ha, dieser Tag!
11. Ich bin’s, ich bin’s, süßester Freund!
12. Die Wunde? Wo? Laß sie mich heilen!
13. Kurwenal! Hör! Ein zweites Schiff
14. Sie wacht! Sie lebt! Isolde!
15. Mild und leise wir er lächelt
16. Heller schallend, mich umwallend
Josef Greindl, baixo (Rei Marke)
Kirsten Flagstad, soprano (Isolde)
Dietrich Fischer-Dieskau, barítono (Kurwenal)
Edgar Evans, tenor (Melot)
Blanche Thebom, soprano (Brangäne)
Rudolf Schock, tenor (jovem marinheiro – pastor)
Rhoderick Davies, barítono (timoneiro)
Chorus of the Royal Opera House, Covent Garden
Wilhelm Furtwängler, regência
Gravado em 1952
Wilhelm Furtwängler: talento proporcional à cervical
Vassily
Se o post já está bom assim sem falar muito, imagina se tivesse falado!
Volte sempre.
O sofrimento e o devaneio de Tristan no Ato 3, interpretado por Ludwig Suthaus, me deixam sem palavras. Ainda uma gravação relevante.